"Estalou o verniz no Brasileirão. O Fla-Flu do fim de semana desencadeou um processo em tribunal, que devia envergonhar quem o pediu!
O Flamengo está a disputar o título com o Palmeiras e jogou frente ao grande rival carioca. Venceu por 2-1, mas os três pontos, que o deixam a quatro do Palmeiras, estão em suspenso.
O caso é este: Henrique, do Fluminense, marcou um golo em fora de jogo. O árbitro assistente assinalou a infração. Foi pressionado pelos tricolores e hesitou. O árbitro principal, de repente, assinalou golo. Foi pressionado pelos rubro-negros. Entretanto, disseram-lhe que a TV mostrava que o golo era ilegal. O que só por si é ilegal também. O juiz voltou à decisão inicial, a correta em campo. No entanto, o Flu quer a anulação do encontro porque o árbitro Sandro Meira Ricci decidiu após recurso a imagens televisivas.
Sempre achei que a jogada mais fácil para um assistente observar um fora de jogo é o livre lateral.
A bola está parada e, regra geral, a defesa está em linha. Quem ataca também se posiciona da mesma forma. E basta uma boa comunicação para saber-se quando a bola parte, sem ser necessário estar com um olho no peixe e outro no gato, como dizem pela América Latina.
Dificilmente o jogo dá melhores condições do que esta a um bandeirinha.
Isso não invalida o erro.
Mas o assistente do Fla-Flu não errou.
Pode ser acusado de falta de coragem. Mas antes falta de coragem do que falta de vergonha.
E o que a direcção do Fluminense quer nos tribunais é ter o direito de marcar um golo ilegal.
Nenhuma dúvida há de que se recorreu a imagens de TV. Por isso, várias questões se levantam. Porque é que tal aconteceu, mesmo sabendo que tal não é permitido? Porquê neste jogo e não em outros?
São interrogações legítimas, claro, mas um valor mais alto se levanta. A tal coisa que todos os clubes apregoam, que é a Verdade Desportiva, mas que escolhem quando ela lhes convém.
Dura lex, sed lex? Nem pensar!
Num processo na justiça civil, a angariação de prova tem de ser cuidada, de modo a proteger-se o cidadão, a sua privacidade. É por isso que muitas escutas são consideradas ilegais, por exemplo.
Mas esta questão de recolha de prova [neste caso, de que o lance é ilegal] não me parece que possa ter equivalente num golo que todo o Brasil, e agora o resto do mundo, viu! Não faz sentido, pois não?
Convenhamos que decidir sobre um golo, e é isso que está em causa, não tem a mesma importância do que julgar a prisão de alguém.
A FIFA proíbe que se recorra a imagens televisivas para decisões de arbitragem. Mas a FIFA também é (ou devia ser) a principal guardiã dos valores e princípios de Fair-Play e Verdade Desportiva.
E é esta última que tem de prevalecer sobre todas as outras. Como a Justiça, aquilo que é de facto justo, tem de se sobrepor.
O Fluminense é culpado de ter marcado um golo ilegal. Mas ao recorrer para tribunal da decisão, ou do processo de decisão, de Sandro Meira Ricci está a querer inverter o que é justo. E a «atirar um inocente para a cadeia»."
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