quinta-feira, 21 de maio de 2015

Nós só queremos o Benfica campeão e os bandidos na prisão

"Como a gravação das imagens de Guimarães por um operador de câmara da CMTV não foram autorizadas por um juiz é provável que tudo isto fique sem castigo.

Parabéns, Benfica!
O meu gato só tem dois anos e já é bicampeão nacional.
Tudo é relativo, portanto.

NO domingo passado, consumada a revalidação do título, toda a ênfase foi posta no facto, indesmentível, de o Benfica ter demorado 31 anos para repetir esta singela proeza de se sagrar campeão em duas temporadas consecutivas.
Ficou, no entanto, por assinalar uma outra efeméride não menos significante em termos sociais. Há 31 anos que o Benfica não sabia o que era ser bicampeão mas há 34 anos que uma festa de um campeonato ganho pelo Benfica não era interrompida pela polícia de forma tão absurda e «desproporcionada», para utilizar o eufemismo hoje corrente.
O Benfica ganhou o campeonato de 1980/1981 e festejou-o na Luz depois de uma vitória robusta sobre o Vitória de Setúbal a que se sucedeu a tradicional e pacífica invasão de campo pelos adeptos. A festa, no entanto, foi surpreendentemente interrompida por uma inenarrável carga da polícia de choque que levou tudo à frente.
A brutalidade das imagens e o número de feridos levou o incidente de 1981 até à Assembleia da República e aos protestos de César Oliveira, deputado socialista:
- O desejo de bater e de aleijar igualou ou excedeu a mais violenta repressão policial de Salazar e Caetano não poupando mulheres e crianças.
O presidente do Benfica em 1981 era Ferreira Queimado que, injustamente, haveria de ser responsabilizado e penalizado pelos sócios do Benfica perdendo as eleições, que se realizaram poucos dias depois, para Fernando Martins.
O presidente do Benfica em 2015 é Luís Filipe Vieira que teve imediatamente o bom senso de defender o nome do clube e de condenar, na mesma penada, os «vândalos profissionais» que em Guimarães e em Lisboa frustraram os desejos de uma noite tranquila.
A verdade é que até ao momento o único vândalo profissional identificado parece ser um polícia de Guimarães. Pelo seu punho, no auto de ocorrências, contou que se viu obrigado a espancar um cidadão à frente dos filhos porque o referido sujeito, tendo noção de que estava a ser filmado, quis «tirar proveito da situação».
Como a gravação das imagens por um operador de câmara da CMTV não foram autorizadas por um juiz é provável que tudo isto fique impune.
Faltam identificar mais uns quantos, muitos, delinquentes amadores ou profissionais que destruíram e saquearam instalações no estádio do Vitória. E mais outros tantos vândalos profissionais ou amadores, à civil ou fardados, que em Lisboa esperaram pacientemente pela chegada da equipa ao palanque para começar a distribuir pancada indiscriminadamente.
O presidente do Benfica assumiu na hora perante os adeptos do clube e o país em geral que o Benfica tudo fará para colaborar com as autoridades na identificação dos delinquentes de Guimarães e de Lisboa.
Não demore, senhor presidente. A ver se ainda somos mais lestos do que o Ministério da Administração Interna que deu um confortável prazo de um mês para a conclusão dos inquéritos.
Rapidez, acção, decência. É isto, no fundo, que se exige e se agradece a um presidente do Benfica.
Porque nós só queremos o Benfica campeão e os bandidos na prisão.

QUE bem assenta ao Benfica o título de campeão nacional de 2014/15. Este ano foi tudo muito diferente do ano anterior porque o Benfica vendeu metade da equipa no Verão, perdeu jogadores importantes meses a fio por causa de lesões e ninguém acreditava muito na equipa.
Foi bonita a festa dos jogadores junto da bancada repleta de benfiquistas em Guimarães e voltou a ser como sempre, empolgante, a magnífica e pacata romaria que leva até ao Marquês gente de todas as idades e de todas condições só pelo prazer de estar em família num dia bom. É, basicamente, o nosso Natal móvel benfiquista. Todos juntos numa praça da cidade. Oxalá possamos voltar a celebrá-lo no próximo ano.
Mas de todas as festas de domingo a melhor, a mais nossa, só nossa, foi a vivida na cidade do Porto e por todos os caminhos que levaram milhares e milhares de adeptos até ao Aeroporto onde a equipa embarcou rumo a Lisboa.
Talvez por não ter havido organização e se ter deixado a criatividade do momento entregue às massas tudo correu maravilhosamente, sem um incidente, com os adeptos sempre perto dos jogadores e os jogadores sempre perto dos adeptos ao logo e no fim de um percurso exaltante. Em Lisboa, pelo contrário, houve organização a mais com tanta montagem, tanto corredor de segurança, tanto andaime circular, tanta passadeira vermelha, tanto protocolo, tanta distância entre jogadores e adeptos em nome da segurança que, nem de longe, se comparou o acontecimento deste último domingo à fabulosa comunhão com a equipa e à genuinidade popular dos festejos de 2010 e de 2014 no mesmo local e sem tendas VIP.

NÃO façamos confusões. O ajoelhar de Lopetegui no domingo passado não é comparável ao operático colapso de Jesus há dois anos.
Isto da dignidade trágica não é para qualquer um.
Ficou-se pelo patético o ajoelhar de Lopetegui no Restelo. E o que mais ressalta da imagem, que logo correu o mundo, não é de todo a dor de um homem injustiçado pelo destino. O que mais ressalta é o facto indiscutível de que Lopetegui tem um belíssimo par de sapatos de camurça de cor castanha que não devem ter sido nada baratos.
No entanto, e a propósito de Lopetegui de joelhos, já ouvi muitos benfiquistas entregarem-se deleitados - pudera! - à conclusão errada de que a famosa organização do Porto já não é nada daquilo que em tempos chegou a ser.
E dizem, excessivamente optimistas:
- Então o homem sabia falar latim, sabia todos os cargos ministeriais do Rui Gomes da Silva, sabia quem era o Capela e o Barbas, sabia a data da fundação do Orfeão do Benfica e não sabia que nunca jamais em tempo algum se podia ajoelhar!?
Outros interrogam-se pasmados:
- Mas ninguém levou o homem a visitar o acervo audiovisual do Museu do Dragão?
E dizem estas coisas como se uma falha dessas fosse finalmente possível naquela velha e sólida organização de meter inveja. Julgo, francamente, que se estão a precipitar embora a natural euforia da revalidação do título possa servir como atenuante para estes erros de avaliação.
É claro que Julen Lopetegui teve consciência do que estava a fazer quando levou um joelho ao chão no Restelo.
Lopetegui sabe que o presidente do Benfica não hesitou em renovar contrato com Jesus depois de o nosso treinador se ter ajoelhado. Entendeu Lopetegui, naquele minuto fatal do Restelo, que se fizesse o mesmo, se ajoelhasse, o presidente do Porto não hesitaria, contra tudo e contra todos, em mantê-lo ao serviço seguindo o exemplo vitorioso do presidente do Benfica.
Lopetegui não se ajoelhou no domingo nem por ignorância, nem para exibir o bonito calçado, nem para dar motivos gáudio aos benfiquistas. Ajoelhou-se muito simplesmente porque quer continuar a ser o treinador do Porto e também porque agora desconfia de que nunca foi o favorito do seu presidente.

CALMA! O Tiago Caeiro não é o nosso Kelvin.
E, no entanto, o Benfica deve-lhe muito mais do que a efémera alegria de um golo que selou o título.
O Benfica deve a Tiago Caeiro ter-nos poupado o constrangimento de uma semana com o Marquês de Pombal com andaimes à vista de todos e à espera da festa que não era certa porque dependeria sempre de uma vitória no jogo com o Marítimo.
Tiago Caeiro, qual manto protector, poupou-nos, no mínimo, a uma semana de angústias e de anedotas. E isso não tem preço.

O jogo do título, em Guimarães, não tendo golos não teve heróis. Excepção feita, naturalmente, ao jogador do Belenenses que marcou um golo a 350 quilómetros de distância, não houve nenhum outro nome de jogador que justificasse as aclamações benfiquistas pela importância da sua contribuição na penúltima e decisiva jornada.
À falta de heróis do dia souberam-nos ainda melhor, à noite, os vídeos caseiros de parabéns que alguns jogadores, que já não são nossos, enviaram para a nossa festa com as suas declarações de amor ao clube e aos adeptos.
Aimar, Matic, David Luiz, Saviola, André Gomes, Rodrigo, Javi Garcia, Fábio Coentrão, Witsel, Siqueira, Oblak, Dí Maria... foram tantos que responderam ao desafio. E sem que nada nem ninguém os obrigasse a tal gesto de imensa simpatia.
Ainda não há muitos anos era sina nossa ouvir antigos jogadores a falar mal do Benfica assim que se viam da Luz para fora. Agora não. Uma pessoa fica sempre contente quando vê as coisas a mudar para melhor. Para muito melhor.

BOA notícia para o Benfica é a assinatura do contrato com a Emirates. É de altíssimo gabarito a marca do nosso patrocinador até 2018.
Boa notícia também para o Sporting de Braga é a certeza de que na final do Jamor não levará com Carlos Xistra a apitar visto que Xistra foi o árbitro do Sporting-Sporting de Braga do último fim de semana com grande prejuízo para a verdade desportiva.

PS - Sobre o notório diferendo entre os Superdragões e o Dragão Diário gostaria de dizer que a minha simpatia vai toda para os Superdragões porque, tal como William Faulkner rematou o seu romance Palmeiras Bravas, também eu «entre a dor e o nada, escolho a dor.»"

Leonor Pinhão, in A Bola

PS: Em 1981, no Benfica-Setúbal, jogo do título, que terminou com cenas de violência, completamente desnecessárias, devido à actuação policial, eu, estive presente. Tinha 6 anos. E vi com os meus olhos tudo, em directo. Estava sentado na 3.ª fila, junto à relva, na linha Central, local 'reclamado' pelos Diabos Vermelhos na época seguinte. Vi putos da minha idade a levarem bastonadas, vi um velhote, que tinha dificuldades de locomoção, a decidir ficar sentado na bancada, aquando da carga do CI: levou com os bastões até já não conseguir sequer ter reacções defensivas!!! Ainda antes da 'varridela' nas bancadas, vi o PSP no relvado apontar uma arma para a bancada... só quando um superior chegou ao pé dele, é que a recolheu...!!! Levei com garrafas (Coca-cola, vidro grosso!!!) nas pernas, lançadas do 3.º anel contra a Polícia, que 'falharam' o alvo!!! E quando pensei que já estava safo, em plena 2.ª circular, já dentro do carro, levámos com gás lacrimogéneo... Foi um dia com muito calor, as janelas do carro estavam todas abertas, o gás entrou dentro do carro, ficámos todos praticamente 'cegos' com a irritação do gás!!! Chorei durante mais de 1 hora, tal a inflamação com que fiquei nos olhos!!!
Portanto, nada disto é novo. Na altura, talvez porque a liberdade ainda era uma novidade, houve uma onda de indignação contra a actuação da PSP, mas hoje cada vez mais se houve: "se levaram no lombo, é porque fizeram alguma coisa para o merecer"!!!

Operação Marquês 34 (II)

"1. O Benfica ficou sem Garay, Rodrigo, Markovic, Siqueira, Oblak e Enzo, para além de Cardozo e A. Gomes. Houve lesões prolongadas de Fejsa, Rúben Amorim e dos superdotados Salvio e Gaitán. Jogadores decisivos como J. César e Jonas já entraram no decorrer da Liga. Outros tiveram que ser adaptados a lugares inabituais: Samaris, Pizzi, Talisca e o sempre disponível André Almeida. Jardel fez esquecer Garay. A idade não conta para Luisão, Maxi e Lima. A continuidade de Jorge Jesus foi decisiva para reconstruir uma equipa vitoriosa. L. Filipe Vieira assegurou a estabilidade e a capacidade estratégica indispensáveis.
2. Espero que J. Jesus continue. E que haja fortes incentivos a atletas dos escalões jovens. Custa-me ver sair um talento benfiquista como Bernardo Silva, ainda que perceba a lógica financeira.
3. No meio da alegria, sinto a amargura de ter havido energúmenos a provocar distúrbios, destruição e vandalismo. Senti-me revoltado com a desproporcionada reacção da polícia no caso da família atingida em Guimarães. A medida de autoridade não se aprende pelos livros. Adquire-se pela inteligência e sensatez. Como alguém disse: «A violência é o último refúgio do incompetente». Aquela criança indefesa viu ruir, num instante, o direito a ser criança.
4. No domingo, lembrei-me dos grandes Eusébio e Coluna. E de Miki Fehér, que jogou os seus últimos instantes no relvado onde o SLB festejou o seu bicampeonato.
5. Desde que nasci, o Benfica conquistou 28 campeonatos (dos 34). Cada novo título é ainda mais saboroso. O amor ao meu clube não esmorece com a idade. Pelo contrário."

Bagão Félix, in A Bola

O Médio Oriente mesmo ali à mão

"Discurso do presidente do Benfica apontou às conquistas europeias, mas a componente de negócio desta ligação à Emirates é, provavelmente, bem maior.

Luís Filipe Vieira disse ontem, na apresentação do novo patrocinador, que o Benfica tinha passado a fazer parte de "um restrito grupo na elite mundial". Referia-se aos clubes patrocinados pela Emirates e que incluem o pioneiro Arsenal, então campeão inglês e que até o nome do estádio vendeu à companhia aérea, PSG, Milan, Hamburgo, Olympiacos e Real Madrid.
Embora nascida no ano passado e tendo começado pelo futebol de formação, esta parceria entre os encarnados e a empresa do Golfo Pérsico foi anunciada num timing altamente oportuno - na "ressaca" do bicampeonato, qual cereja no topo do bolo, uma prova de que nem as recentes campanhas europeias, incluindo as finais perdidas, beliscaram o reconhecimento internacional do clube...
Numa altura em que a transportadora aérea portuguesa vive momentos de grande incerteza, não deixa de parecer um sinal o facto de Benfica ter escolhido 'voar' com uma companhia estrangeira. No mínimo, é uma visão mutualista que vai muito além-fronteiras. Na perspectiva da Emirates, foi a vasta base de apoio popular dos encarnados que aguçou o apetite; na destes, além do previsível reforço do plantel - e voltando às palavras do seu presidente -, trata-se igualmente de um projecto expansionista do futebol-negócio, com a mira posta no rico mercado do Médio Oriente."

Paz e amor, Vieira

"O que se passou no estádio em Guimarães e no Marquês em Lisboa estragou quase tudo. Como diz Luisão, "o Benfica não é isso, não", mas aquela vergonha aconteceu. O caso do pai espancado por um polícia à frente dos filhos é, no entanto, diferente. Fez muito bem o presidente do Benfica ao convidar aquela família para o jogo de sábado. Pode fazer ainda melhor.
Não há lugar na força policial para agentes que abusam da força, espancando quem não põe em causa a ordem pública nem oferece ameaça. Não pode haver clemência. Mas da mesma maneira que os benfiquistas não são representados por gente que pilha, destrói e atira garrafas, os polícias também não são representados por aqueles que açoitam pais de família em frente aos seus filhos.
Vieira teve um gesto de humanidade ao convidar aquela família, propondo uma exaltação inesquecível em campo a quem dias antes pode ter ficado traumatizado para sempre. Vieira pode fazer mais: falar ao estádio sobre respeito das autoridades mas também pelas autoridades como demonstrações de benfiquismo. E, depois de explicar que uma árvore não faz a floresta, fazer entrar a família... ao lado de agentes policiais.
É um movimento arriscado, porque muitos estão furiosos. Mas é apaziguador. E é uma lição até àqueles miúdos, que depois de conhecerem a maldade conhecem a bondade; que depois da fúria há pacificação; e que justiça é punir culpados mas também absolver inocentes - e a maioria dos agentes da polícia é do lado do bem.
Levar a família é um gesto de amor; juntar os polícias é um gesto de paz. Vieira sairia como Gandhi desta história. E mostraria a grandeza do Benfica."

A renovação

"Conquistado o bicampeonato, indiscutivelmente o grande objectivo da época, a SAD prepara o futuro que se prevê de grande renovação. E fá-lo com tempo, evitando atropelos. Luís Filipe Vieira será, por estes dias, um presidente a desdobrar-se entre compras e vendas, e os milhões que consegue tirar a uns negócios para compensar outros. As saídas são inevitáveis. Sempre, mas ainda mais num ano em que o financiamento é escasso. O crescimento passa muito por alargar horizontes e continuar a expandir a marca Benfica para mercados que não sejam apenas os europeus, pelo sucesso desportivo na Champions, pelo rigor orçamental e, muito, pela venda de activos. São milhões de euros em causa e Vieira tem seguido, sem hesitações, o rumo que traçou para o clube. Tem contado com vários aliados, um dos quais o treinador, que tem mostrado que no futebol quase tudo se reinventa."

Vanda Cipriano, in Record

De Jardel a Jorge Jesus

"Para além de ter sido em Alvalade, o Kelvin do Benfica, Jardel fez esquecer Garay! Jesus: o seu salário... ou o próximo plantel?

Jardel foi, neste campeonato, o Kelvin de há dois anos... Quanto a golo inesperado, e decisivo!, nos derradeiros segundos de jogos que marcaram a história na conquista do título.
Aquele remate de Kelvin, tão surpreendentemente inspirado, ao minuto 90+2 de FC Porto-Benfica na penúltima jornada, virando tudo do avesso, fica na memória do país futebolístico e será eterno na memória portista; ainda mais crucial do que o lendário golo de Madjer que embalou o FC Porto para o seu primeiro título de campeão da Europa.
Aquele pontapé de Jardel, explodindo raiva a fechar Sporting-Benfica, terá sido mais decisivo do que possa parecer ainda na terceira jornada da segunda volta. Sem empate assim arrancado (num dia importantíssimo também para o Sporting, cuja candidatura a campeão ali de vez se evaporou...), o Benfica veria reduzida a metade a vantagem de 6 pontos sobre o FC Porto com que concluíra a primeira volta, e, sobretudo, sofrendo segunda derrota em três jogos (quase na passada de Vila do Conde), muito poderia abanar psicologicamente. Não existe qualquer vislumbre de outra sintonia entre Kelvin e Jardel...
O extremo portista acabara de ser posto em campo num tudo por tudo roçando desespero do treinador Vítor Pereira. Somava temporadas sem sequer ser primeiro suplente...; e aquela tamanha proeza não o lançou para superior nível; praticamente não voltaria a jogar, apesar da mudança de líder técnico, um ano depois confirmou-se ser dispensável (sempre flagrante défice de firmeza em estrutura competitiva) e, mais um ano decorrido, dele não há boas notícias vindas do Brasil... Fogo fátuo naquele inspiradíssimo pontapé...
O defesa central Jardel define-se pelo oposto de Kelvin: muito forte estrutura competitiva. Foi suplente da magnífica dupla Luisão-Garay, mas um suplente com muito boa resposta sempre que chamado, nomeadamente por castigos e lesões de Luisão. Para esta temporada, pesadíssima responsabilidade: preencher a vaga aberta pela transferência de senhor titular na selecção da Argentina. Poucas vezes alguém se lembrou de que Luisão já não tinha ao seu lado a classe com nível mundial, de Garay... Apetece dizer que só numa noite: primeiro jogo da Champions, na Luz, perante Zenit com Garay, Javi, Witsel...; derrota por 2-0, duas fífias de Jardel (o jogo que terá levado Jorge Jesus a 'desistir' da Champions; mas essa minha ideia será explicada noutro dia).
A forte estrutura competitiva de Jardel muito mais veio ao de cimo no rescaldo dessa noite desastrada que poderia tê-lo afundado. Não se ganha campeonatos sem jogadores (e, óbvio, treinadores) mentalmente pujantes na reacção a graves erros. Que campeonato, que temporada, Jardel veio a fazer! Concentradíssimo, eficaz. E com notório progresso na qualidade técnica, progresso que já expressara enquanto primeiro suplente. O seu mais poderoso trunfo já era conhecido: não há em Portugal defesa central mais rápido do que ele. Crucial na recuperação face a adversários que se escapam nas costas de cobertura defensiva, inclusive nas dobras a laterais ultrapassados. E essa velocidade de Jardel torna-se ainda mais importante ao lado de Luisão, o grande líder não especialista em rapidez a recuperar terreno. Jardel; decisivo no precioso empate, para o Benfica, em Alvalade, foi fulcral na consistência defensiva do campeão.  
Jesus continuará no Benfica? Muito se tem falado da questão financeira: aceitar, ou não, menor salário em novo contrato (insólita redução para quem é bicampeão e soma 6 temporadas a valorizar jogadores à escala de larguíssimo milhões em mais-valias).
Sim, esse poderá ser obstáculo a 4.º contrato no Benfica. Mas será mesmo o maior? Talvez outro... Decerto com muita razão, Luís Filipe Vieira faz questão fechada em orçamento substancialmente ainda mais baixo (já diminuído para esta época, vide perda de mais de meia equipa), mais, quase de certeza, continuidade de forte receita em transferência (s). Jorge Jesus, que pode sair em grande, com 3 títulos e mais 6 troféus (veremos se 7) em 6 anos, perguntará: que plantel para a próxima temporada? Exigência de novo milagre? Talvez aqui resida a questão chave."

Santos Neves, in A Bola