segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ética e carácter

" «O FC Porto não está interessado em ganhar a Taça dos Campeões com ética.»
Vítor Serpa, editorial de 'A Bola'

Ah! Pois não caro Vítor. Tanto assim que não ganhou. Ou terá havido ética em todo aquele comportamento histérico num célebre empate em Manchester obtido à custa de um tal de Ivanov, árbitro russo entretanto desaparecido em combate (não sem antes ter tentado chutar Portugal para fora do Mundial de 2006), e que teria certamente muito para contar se se decidisse a fazê-lo.
Não, o FC Porto não está interessado em ganhar a Taça dos Campeões com ética. Nem sequer o Campeonato Nacional, ou a Taça de Portugal...
Se estivesse, não tinha um presidente que recebeu árbitros em casa na véspera de um jogo (terá sido só um?).
Se a ética os preocupasse, não tínhamos assistido às cenas deprimentes de outro árbitro a ser preseguido pelo campo fora por uma equipa inteira. Nem a pedras e bolas de golfe atiradas para dentro do relvado no decorrer de um jogo.
Ora bem! Ética! E um saco de calhaus lançado sobre o carro de um presidente adversário do alto de um viaduto? Será isto ética? E prostitutas enfiadas à sorrelfa nos quartos de mais árbitros? Ah! Os árbitros! Sempre o fascínio dos árbitros! Viagens ao Brasil, envelopes com dinheiro... Os árbitros outra vez!
E a ética? Onde fica? Fica perdida por entre jornalistas espancadas, ameaçados, por entre fotógrafos atropelados? Frase tão mortífera, tão assassina esta: «O FC Porto não está interessado em ganhar a Taça dos Campeões com ética». Pois não. Definitivamente não!
A ética pertence ao campo do carácter. E há gente para a qual nem uma coisa nem outra têm significado."

Afonso de Melo, in O Benfica

Calabote não morre

"Há uma semana, muito ao estilo do 'quem não chora, não mama' até houve quem passasse de beato a burro, depois daquela 'só os burros falam de arbitragem'. A lamúria portista foi um desplante, acaso o Benfica - FC Porto havia legitimado semelhante carpideira? O ano passado, sim. Um golo decisivo, em claro fora-de-jogo, deu um triunfo imoral e, se calhar, um Campeonato. Quem era burro até virou beato, até virou santo...
Agora, o pranto é derramado em Braga, onde o Benfica joga o seu próximo compromisso. É só uma casualidade. O líder local queixa-se da expulsão (incorrecta) de um defesa, sugerindo que o árbitro, Duarte Gomes, agiu propositadamente. Por que não se queixa da exibição de mero cartão amarelo (incorrecto) a um dos seus jogadores, depois de uma cotovelada que só poderia conduzir de imediato para o banho?
Pior, muito pior, trouxe à colação Calabote, assumindo arqueológicas dores portistas. Ainda pior, muito pior, não deve saber do que fala. Esclareça-se que o FC Porto até venceu essa edição do Campeonato, que Inocêncio Calabote foi irradiado, que nada sucedeu ao outro árbitro que, nesse mesmo dia, expulsou dois jogadores do Torriense, facilitando o decisivo triunfo azul e branco com dois golos obtidos nos últimos instantes da partida.
Calabote é um história velha, propositadamente mal contada. A pressão sobre as arbitragens é uma história outra vez nova, propositadamente acelerada. Razão? O Benfica. O Benfica e a sua (dolorosa para eles, claro) vertigem ganhadora."

João Malheiro, in O Benfica

Pinto da Costa na corda bamba

"1. A utilização irregular de três jogadores pode valer ao FCPorto a desqualificação na Taça da Liga. É uma notícia, para lá de surpreendente, inimaginável, tratando-se do clube mais organizado de Portugal. Até ali, o stress da gestão e muita incompetência traíram uma máquina julgada infalível. Diz o povo que quando a nódoa cai no melhor pano, os danos são sempre mais visíveis e as consequências sobrevalorizadas. É o caso.
2. Sabe-se como às vezes a aplicação da lei em Portugal é um exercício difícil, em que na maioria dos processos quem julga olha ao nome, ao estatuto e ao volume dos apoios de quem é julgado, e o resultado final, a pena, não reflecte exactamente o que está regulamentado. Esperemos então para ver, porque o assunto está entregue aos advogados de FC Porto, V. Setúbal (parte interessada na desqualificação portista) e ao Conselho de Disciplina. Um cocktail explosivo, é o que é.
3. Aconteça o que acontecer, este caso é um tremendo aborrecimento para a recandidatura de Pinto da Costa. O presidente do FC Porto levantou recentemente a hipótese de dar o lugar a outro, depois de se ter tornado no dirigente mais titulado do Mundo, mas, subitamente, entrou um grão de areia na engrenagem e o que pode acontecer é ter mesmo de se ir embora, mas empurrado por associados e accionistas em fúria com a eliminação da equipa. Na Alemanha, em Inglaterra ou nos Estados Unidos seria assim. Mas estamos em Portugal. E é a FPF liderada por Fernando Gomes que está a julgar o caso. Calma.
4. O Benfica, de Jorge Jesus, ganhou pela primeira vez em Braga. Foi uma vitória conseguida a tremer e ninguém deixou de notar que o treinador das águias mudou a equipa em função do adversário. Medo ou inteligência? Quem quer ser campeão não pode confundir demonstrações de superioridade com necessidade de ganhar.
5. É um dos maiores enigmas do Benfica. Não é do Benfica B, é do Benfica mesmo. Por que é que Miguel Rosa não merece de Jesus o mesmo tratamento que é dispensado a André Gomes e a André Almeida? Enfim, há sempre uns mais iguais do que outros.
6. Apesar do festival de desmentidos, tem-se tornado evidente que José Mourinho não passa nem mais um Natal em Madrid. Aos 50 anos, que mais pode ele desejar do que ganhar a Liga dos Campeões para oferecer a tantos e bons “amigos” espanhóis que tem?
7. As provas começam a cair, uma aqui, outra ali, à medida da vergonha de cada um: a União Ciclista Internacional encobriu um teste positivo de Lance Armstrong, no Tour de 1999; a somar a outro conhecido na Volta à Suíça, já são dois. Quem reescreve a história?

UM CASO SÉRIO
O conceito de carreira no futebol profissional é muito vago. Extremamente vago, até. O que é de certo modo incompreensível quando os “gestores de carreira” pululam de lés a lés. Grosso modo, a carreira é um período profissional onde se tenta conjugar o sucesso desportivo – a obtenção de títulos colectivos – com as vantagens financeiras que daí podem advir. Enfim, se estas duas dimensões puderem coexistir, é a felicidade absoluta. Também aqui cada um tem a que pode.
Mas o que se verifica cada vez mais é que este conceito de carreira se resume às finanças. Vejam-se os casos de Bruno César e Insúa. O primeiro era um dos futebolistas em ascensão no Corinthians, com vontade de vencer na Europa. Bastaram uns petrodólares para que fosse contratado pelos árabes. Para ganhar o quê? Justamente petrodólares. Insúa veio do Liverpool para relançar a carreira em Alvalade. Sai agora, e tanto lhe fazia que fosse para o Grémio, no Brasil, ou o Atlético Madrid, em Espanha. É a carreira. 

MVP: Ricardo Santos
Em 2012 foi uma das grandes revelações do golfe profissional, tendo-lhe sido atribuída a qualificação de estreante do ano. Agora conseguiu uma classificação relevante em Abu Dhabi, onde para trás ficaram vedetas como Rory McIlroy e Tiger Woods. Finalmente, em Portugal o golfe não se limita aos belos campos.

A FRASE: «Estou no topo do futebol português» (por Joãozinho)
O diminutivo não faz do novo lateral-esquerdo do Sporting um jogador acanhado. Ele sabe o que significa passar do Beira-Mar para o luxo da academia leonina. E também não é o gigantismo desta suficiente para o obrigar a mudar de identidade. João é Joãozinho, pois."

Strong

"A recente confissão de Lance Armstrong sobre as práticas de dopagem que  o levaram a tornar-se num dos mais bem sucedidos desportistas de sempre, chocou o Mundo, e, em particular, os fãs do Ciclismo, como é o meu caso.
Na verdade, ao longo da sua triunfante carreira, o hepta-campeão do Tour de France foi objecto de centenas de análises para despiste do consumo de substâncias proibidas, e nenhuma delas acusou qualquer ilegalidade. Só a denúncia de antigos colegas de equipa desencadeou o processo - que terminou agora, com o ex-campeão de joelhos perante o Mundo.
Se a história do Ciclismo tem sido fértil em casos de doping, também é justo dizer-se que a modalidade tem estado quase sempre na vanguarda da luta contra ele. De recolhas sanguíneas surpresa efectuadas durante as férias, até aos chamados 'passaporte biológicos' (onde vão sendo registadas as variações hematológicas de cada atleta), tudo tem sido feito para combater a fraude, pelo que não deixa de causar alguma inquietação a forma como foi possível, ainda assim, alguém enganar tudo e todos durante quase todo o tempo.
Ora, sabendo-se que o tipo de controlo aplicado ao Futebol, comparado com o do Ciclismo, não passa de uma mera e inocente formalidade, a suspeita de que a verdade desportiva nos relvados não passe, também ela, de um embuste, torna-se dramaticamente verosímil. Até porque os muitos milhões de euros envolvidos - bem mais suculentos do Desporto-Rei - são o convite que normalmente seduz os infractores.
Em Portugal, temos casos comprovados de tentativas de falsear a verdade desportiva por outros meios, nomeadamente através da corrupção de árbitros. Ninguém me convencerá facilmente que, esses mesmos corruptores, na ânsia de ganhar a qualquer preço, não se sirvam também de outros expedientes que a fragilidade de vigilância lhes coloca à disposição.
Não me surpreenderia, pois, que um dia o Futebol português revelasse um monstro de dopagem à medida de Armstrong. E com muito mais do que sete títulos para devolver."

Luís Fialho, in O Benfica

Futebol com palavra

"Aquele depoimento do Zé Maria, descendente de pescadores, antigo jogador do Varzim, ficou nos anais da bola, no anedotário da coisa. «O André é o melhor trinco do mundo, eu sou o melhor trinco da Europa.»  
Tenho-me lembrado dessa frase nos últimos tempos, para justificar uma que venho repetindo com frequência. «O Pedro Proença é o melhor árbitro do mundo, exceptuando Portugal». Anedota? Laracha? Porque não realidade? O futebol, nos últimos anos, mudou muito. A bola está mais culta, esperta, fala melhor. Expressões como “chutei com o pé que tinha à mão” ou “estou com uma lesão de stress no joelho” são peças arqueológicas. Hoje, os protagonistas, jogadores e treinadores, têm discurso, muitas vezes escorreito, sumarento, vivificante.
Nos anos 60, os atletas da Académica eram quase excepção num panorama medíocre, sempre que a bola se dava à conversa. Legitimava-se, jocosamente, a ideia de que os futebolistas só tinham inteligência na ponta das chuteiras. Manuel António, Mário e Vítor Campos, Gervásio ou Artur Jorge grifavam a diferença. Na actualidade até nas televisões, antigos executantes cujas carreiras se concluíram há pouco, nada ficam a dever a muitos intelectuais que debitam sobre o universo futebolístico.
As gentes da bola estão a ganhar um novo campeonato, o da palavra, das ideias, da sabedoria. As chuteiras não deixaram de falar, mas as bocas abrem-se para análises com agilidade mental e sem autogolos na língua-mãe. Ainda assim insisto que «Pedro Proença é o melhor árbitro do mundo, exceptuando Portugal»."

A eficácia vital

"Passar em Braga era vital para as aspirações do Benfica na corrida pelo título. Jorge Jesus, finalmente, ganhou no Minho. Embora num jogo que até começou com uma aparente simplificação, mas que se complicou quando o Benfica já julgava tê-lo na mão. Só que os encarnados têm melhores valores individuais, setor a setor. E isto notou-se.
Arrancar a partida praticamente a ganhar é sempre uma vantagem suplementar que conta bastante. Mesmo sem Cardozo, o Benfica deixou Lima na frente, Salvio e Ola John nas alas, mas dispôs de um Gaitan "multiusos" que acabaria por ser determinante em quase tudo o que o movimento ofensivo dos encarnados fabricou. Além de outras situações, vincou-se nos dois golos, em que o argentino é o desequilibrador numérico no lance do primeiro, e o motor de uma jogada de contra-ataque puro no segundo.
No entanto, outras diferenças houve. Uma delas, incontornável, tem a ver com o eixo defensivo. Nos bracarenses, quando se temia que Sasso pudesse ser o problema, afinal foi Haas o elo mais fraco. Ele "está" nos dois golos, se bem que, no segundo, Beto também não fica isento de responsabilidades. O contraponto esteve do outro lado, pois a dupla Luisão/Jardel - e até mais este do que aquele - seria responsável por negar a concretização de jogadas, algumas delas bem construídas pelos minhotos, em especial durante a primeira metade. Enfim, os centrais e Artur.
É verdade que Ruben Amorim, Hugo Viana e Mossoró (e até Alan, enquanto teve alguma velocidade para tal) fizeram o que lhes era possível, simplesmente houve muita elaboração e pouquíssima consequência. O Braga pode sustentar que teve mais cantos e mais remates, só que isto de nada serve se o grau de eficácia é diminuto. O curioso é que a equipa de Peseiro só "saltou" a barreira da inconsequência depois da entrada de João Pedro, o que terá levado Jesus a reformular o meio campo com o trio André Almeida/Enzo/Matic, na expetativa de gerir uma vantagem que, apesar disto, acabaria reduzida.
A expulsão de Haas, em cima dos 85 minutos, "aliviou" a luta dos encarnados na zona central do terreno, se bem que a sucessão de substituições, para ambos os lados, e uma (ainda) maior descida da cadência de jogo, tornasse a parte final da partida em pouco mais do que fazer correr o tempo.
Nota acrescida : insólita a declaração de José Peseiro, que falou de um Braga "sempre prejudicado" nos confrontos com os grandes. Que me lembre, nunca o tinha ouvido falar de uma forma tão abrangente. 
Agora, o Benfica fica à espera do desfecho do desafio entre FC Porto e Gil Vicente, embora não espere, certamente, que algo vá mudar em relação ao duelo que continuará a manter com os dragões. Já o Braga, depois desta derrota, tem o objetivo no campeonato totalmente definido, se é que ainda pensava noutra hipótese : o terceiro lugar é um tesouro a defender firmemente."

72 horas

"Definitivamente, a fórmula “72 horas” entrou no léxico do futebol desta época. Em face das notícias provenientes do Conselho de Disciplina (CD) da FPF, parece que alguns andavam atentos às implicações jurídicas dessa fórmula e outros se distraíram fatalmente.
O conceito terá sido importado das necessidades fisiológicas de recuperação muscular dos atletas entre jogos sucessivos e foi plasmado, expressamente, no art. 23º do Regulamento de Competições da Liga (regras de fixação do dia e hora dos jogos das competições oficiais) e no art. 13º do “Regulamento das Equipas ‘B’” da Liga (regras de utilização dos jogadores na equipa principal e na equipa B).
Esta semana, o CD olhou para este preceito (não sabemos se motivado por denúncia de terceiros), consultou as fichas dos jogos e, por um lado, castigou sumariamente a equipa ‘B’ do Braga e o seu jogador utilizado em violação desse art. 13º e, por outro, instaurou processo disciplinar contra a FC Porto SAD (e, presume-se, contra os seus jogadores). Em causa estão sanções graves: derrota nos jogos e subtracção de pontos para o clube; suspensão de 1 a 4 jogos para os atletas.
Está pois encontrada a “lei desportiva” do momento. “Qualquer jogador apenas poderá ser utilizado pela equipa principal ou equipa ‘B’, decorridas que sejam 72 horas após o final do jogo em que tenha representado qualquer uma das equipas, contadas entre o final do primeiro jogo e o início do segundo”. O Braga ‘B’ não cumpriu o “prazo mínimo” com um jogador no mais recente jogo da II liga e o FCPorto não terá cumprido com três jogadores no último jogo da fase de grupos da Taça da Liga. Agora esperamos por novas “descobertas” noutros jogos…
Os casos lembram-me o “processo Meyong/Belenenses” decidido há uns anos pela Comissão Disciplinar: então, o jogador do Belenenses tinha sido inscrito e registado uma terceira vez e utilizado pelo clube, sem que esta terceira utilização fosse permitida. Então como agora o ilícito é o mesmo: “inclusão irregular de jogadores”. Então como agora as questões são sensivelmente as mesmas (para além da dúvida em computar no “intervalo” os jogos da Taça de Portugal).
Se houver mais do que um jogador envolvido, haverá uma só ou várias infracções disciplinares do clube? Deverá ou não o juízo de ilicitude dirigido ao jogador ser menorizado? Tendo havido erro indesculpável na gestão de equipas profissionais, quem deve ser responsabilizado nas organizações internas? Então como agora, prevejo que, no fim, as “narrativas” se preparem para culpar a Liga, o CD e, quiçá, os relógios…"

De Joãozinho a Godinho, só preocupações

"O Sporting somou a sua terceira vitória de rajada, pequena proeza, é certo, mas nunca vista nem saboreada no decorrer da temporada. Esta “normalização” da equipa de futebol pode ajudar Godinho Lopes a sobreviver aos movimentos de oposição ao seu mandato, nascidos e caldeados pelas patéticas prestações da equipa de futebol até ao momento em que Jesualdo Ferreira deixou de ser o “treinador dos treinadores” para passar a ser o treinador dos jogadores.
O Sporting não é um clube “diferente” dos demais. Tem uma massa adepta que exige resultados e para quem o resto são pormenores contabilísticos e dispõe de uma massa crítica de ex-futuros-dirigentes (ou futuros-ex-dirigentes…) para quem os balancetes são tudo o que há de mais importante. Sobretudo quando, à míngua de resultados, se propiciam revoluções.
Independentemente do que vier a acontecer na propalada assembleia geral de Fevereiro – no caso de se realizar -, sobreviva ou não o presidente levado ao colo pelo treinador e pelos animadores resultados da equipa de futebol, é caso para se dizer que, vistas as coisas com frieza e distância, este modo corrente de funcionar do Sporting não vai longe.
Não pode ir longe. Nem merece ir longe porque uma gestão que, no centro de um vendaval, se preocupa politicamente com futilidades idiotas em nome da suposta superioridade classista do tal clube “diferente” está condenada ao fracasso. Isto para não dizer que está condenada à galhofa. O último ensaio de futilidade correu mal aos ideólogos e propagandistas de Godinho Lopes e teve resposta na hora. Por entenderem que Joãozinho não é nome de jogador de futebol que se possa apresentar em Alvalade – por ser excessivamente popularucho, adivinha-se – quiseram mudar o nome profissional do rapaz emprestado pelo Beira-Mar. Mas o dito Joãozinho não foi nisso, não se atemorizou com os aristocratas de serviço e, pelas suas palavras, pôs um “ponto final” no assunto. Tem personalidade o rapaz, bravo! Pena só que este episódio do diminutivo “inho” tenha servido para explicar a dois dos heróis da equipa B – Zézinho e Betinho – que não têm hipóteses de chegar à equipa A por uma questão de “classe”. O próprio Godinho devia repensar o seu nome, ou não?

ERRAR É HUMANO
Sanduiches só nas rulotes
Perdoem-me os meus amigos benfiquistas, e também os do Vitória de Setúbal, mas a arbitragem de Pedro Proença no Bonfim não teve nada de épico ou de escandaloso que deslustrasse o bom nome do melhor árbitro português. Proença limitou-se a fazer cumprir as leis do jogo. A sucessão de cartões amarelos que levaria às expulsões de Bruno Gallo e de Jorginho obedeceu aos mandamentos disciplinares da FIFA – entradas duras e simulações – e a grande penalidade foi bem apontada. Como é do conhecimento geral, o futebol não permite “sanduiches”. E foi isso mesmo que Pedro Santos e Miguel Lourenço fizeram a Varela. 
Em futebol são só permitidas sanduiches ao balcão das rulotes à entrada dos estádios. No relvado, dentro das quatro linhas, é proibido ensanduichar o adversário. O inevitável ruído em torno da arbitragem de Pedro Proença em Setúbal não passa disso mesmo: folclore do momento. No entanto, há jogos que não acabam quando o árbitro apita para o fim. E o jogo de Setúbal, na noite de quarta-feira, será um deles. Com isenção ou facciosismo, o público já julgou a actuação de Proença. Falta saber como julgarão a mesma actuação os observadores da Liga a quem Proença, recentemente, passou um atestado de suspeição que vai continuar a fazer furor.

POSITIVO
Jackson a somar
O avançado colombiano do FC Porto voltou a liderar a tabela dos goleadores da Liga depois dos dois golos que assinou em Setúbal e que permitiram ao FC Porto tornar fácil uma viagem que se previa difícil. Chapéus há muitos Lima, o brasileiro que o Benfica foi buscar ao Braga, está a especializar-se em golos de chapéu. Marcou um à Académica, para a Taça, e outro ao Moreirense para a Liga. Veremos o que faz no sábado na sua antiga casa.

NEGATIVO
Mistério Leonardo
Permanecem misteriosas e envoltas numa onda de boataria as circunstâncias em que Leonardo Jardim foi despedido do Olympiakos, o líder isolado do campeonato grego com uma margem confortável de avanço. 

PÉROLA
"Seremos líderes em breve", Helton
O guarda-redes do FC Porto não tem dúvidas sobre quem será o campeão este ano e anunciou que o mano-a-mano com o Benfica está para terminar. Para que os seus planos se concretizem convirá a Helton, no entanto, não repetir as suas saídas da área a driblar adversários como aconteceu em Setúbal. Um susto."

No aproveitar esteve o ganho

"Benfica passou tormenta mas "matou o borrego"
Para a enorme tarefa que jogar em Braga sempre implica, Jesus apostou no atrevimento ofensivo e não se deu mal com isso. Em geral, estas missões de maior perigo convidam a uma maior toada de contenção, dentro daquele espírito comezinho do "devagar que tenho pressa" ou do ainda mais irritante "cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém". Como se esse expediente não fosse, muitas vezes, o escape, não do cauteloso, mas do indeciso ou até mesmo do ignorante, que não sabe o que há de fazer. 
Jorge Jesus, porém, sabia muito bem qual a receita a aplicar. Sem Cardozo, lesionado, embora contasse com Rodrigo no banco, o técnico encarnado, com apenas uma unidade mais destacada na frente (Lima), não deixou, contudo, de optar pelo ataque declarado, mas com epicentro no miolo, em cuja zona se colocaram Sálvio e Ola John, nas alas, e ainda Gaitán, no meio. Enquanto isso, à retaguarda, para lá do quarteto habitual, o Benfica apresentava uma dupla de trincos constituída por Matic e Enzo Perez.
Foi assim artilhado e vocacionado para a luta que os encarnados se lançaram sobre a baliza contrária, marcando logo ao minuto 5, por Sálvio, com algumas culpas para Beto, que não segurou, e muitas mais para Haas, a deixar-se antecipar na recarga que se seguiu. Estava dado o mote, já que o 0-2 (Lima, 35') também surgiu de brinde, mas aqui de exclusiva responsabilidade do guardião da casa.
Isto numa altura em que a partida dava já então mostras de um maior equilíbrio no chamado jogo-jogado em todo o terreno, pois que em matéria de ocasiões (e de perigo) para o Braga, essas houve-as também de início, com Haas e Mossoró como protagonistas, a que Artur, ao contrário de Beto, sempre se opôs com segurança. A diferença esteve foi nos guarda-redes e na consequente capacidade de aproveitamento dos dois ataques.
Na 2ª parte, o Braga mostrou-se naturalmente mais insatisfeito, a equipa subiu no terreno, num mais claro apoio a Éder, com o Benfica a dar-se ao luxo de controlar a situação, o que sempre fez com acerto. Peseiro fez então a primeira mudança, com a troca de um médio (Amorim) por um avançado (João Pedro), numa tentativa de reforçar o jogo de ataque. Jesus respondeu com a entrada de André Almeida para o lugar de Ola John, o que fez alterar o posicionamento e, com ele, as funções de Gaitán e dos trincos.
O Braga ganhou com a troca e não apenas pelo golo que o mesmo João Pedro conseguiu aos 77', relançando a partida, mas porque os da casa se mostravam mais ameaçadores e surgiam com mais insistência e mais espaços nas linhas recuadas da Luz. Ficou a ideia de que Peseiro, perdido por um, perdido por mil, tardou em fazer entrar Ruben Micael (isso só aconteceria aos 86') ou até mesmo José Luís  para tirar partido da nova situação.
Valeu aos encarnados a expulsão de Haas (por suposto derrube a Lima), o que retirou todas as reservas que ainda restavam à formação bracarense, obrigando nesta a compensação à retaguarda (recuou Custódio), quando o objectivo era então o assalto em força às redes de Artur, em busca da igualdade. Como se não tivessem bastado os lapsos nos golos, a abrir o jogo, esta exclusão ainda estava no programa, a fechá-lo.
Pelo pragmatismo e dinâmica imprimida de início por Jesus, que se revelaram determinantes, o Benfica fez jus ao triunfo, mas o Braga, obrigado logo a abrir a lutar pela recuperação, não teve tarefa fácil e foi adversário bastante meritório. Para um candidato ao pódio, porém, cometeu erros grosseiros e comprometedores em demasia."

Gaita(n) é outra música

"O Benfica entrou na pedreira a cortar pedra. Como se sabe, Jesus apresenta uma estratégia diferente para cada jogo e ontem repetiria a equipa de Moreira de Cónegos se Cardozo não se tivesse lesionado. Obrigado a alterar, Jesus acabou por criar outro estratagema, que assentou que nem uma luva a Gaitan, um autêntico Fórmula 1 entre dois carros de baixa cilindrada, (H. Viana e Custódio).
Aliás, Gaitan foi o motor da equipa na primeira parte. Período onde o Benfica impôs o seu futebol dominante.
Apesar dos golos do Benfica terem sido marcados em dois contra ataques eficazes, Gaitan foi o principal protagonista na elaboração dos mesmos. No primeiro golo isolou Sálvio, no segundo solicitou Lima.
 No futebol, o mérito de uns usufrui do demérito de outros. Já realçamos a importância da elaboração e da finalização, mas os centrais do Braga, e Beto, ao não abordaram os lances correctamente foram cúmplices nos golos que sofreram.
Mas se ambas as equipas jogaram em 4x3x3, pergunta-se então porque é que o Benfica foi superior na primeira metade. A resposta esteve na liberdade de acção de Gaitan, que com a sua velocidade, técnica, e inteligência acabou por abrir buracos no sector defensivo do Braga, algo que o seu homólogo Mossoró, apesar de se ter esforçado, não conseguiu fazer perante a rapidez do trio intermédio das águias. Outra das causas para a vantagem do Benfica na primeira parte, foi a falta de incisão dos laterais bracarenses, que só se preocupavam em defender sem seguir os alas dos encarnados quando estes inflectiam para o centro.
No decorrer da segunda parte tudo mudou. Jesus surpreendeu, e ao contrário da regra (ataque) avançou com a exceção (defesa). Com essa intenção, tirou Ola John aos 67 minutos e colocou André Almeida no meio campo. Mas neste esquema, uma equipa que tem uma filosofia atacante e é obrigada a jogar contra natura acaba por sentir dificuldades com uma postura defensiva. O SC Braga na etapa final veio com outra atitude e aproveitou o espaço que o Benfica lhe proporcionou. Com a entrada de João Pedro os arcebispos imprimiram outro ritmo, passaram de dominados a dominantes e acabaram por marcar um golo. De saudar ainda o facto da equipa de Peseiro conseguir manter a pressão ofensiva mesmo reduzida a 10 unidades. E não foi por acaso que o Braga foi superior na estatística.
O Benfica continua imparável, e ao somar três pontos em Braga consolidou a manutenção da liderança. Venceu com todo o mérito, e demonstrou durante todo o jogo, que está muito forte na organização colectiva  na acção das contínuas, e sincronizadas movimentações dos jogadores! Se na primeira parte a tendência atacante cativou os apaixonados do futebol, também a segurança pragmática da vitória satisfez os adeptos do Benfica."