quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Variações sobre autogolos e Jamor

"Já o Joãozinho poderá um dia contar aos netos que fez um autogolo em Vila do Conde exactamente no dia em que Cristiano Ronaldo fez um autogolo em Granada. A perfeição continua a não existir.

A final da Taça de Portugal é no Jamor. Grande novidade? Nem por isso. Nos seus anos primitivos e final da Taça jogou-se nos há muitos demolidos campos das Salésias e do Lumiar. A primeira edição decidida no Jamor aconteceu em 1946 e até 1961 não houve outro palco para o acontecimento.
Em 1961 os finalistas foram o FC Porto e o Leixões e a final da Taça disputou-se nas Antas por ser mais perto para ambos, presume-se. As estradas era más e nem se chegou a equacionar a hipótese de uma viagem marítima, a vapor, com saída do porto de Matosinhos rumo à gare da Rocha do Conde de Óbidos, em Lisboa, e volta.
A Rocha do Conde Óbidos, por ser de um conde, da nobreza, estava portanto muito associada ao Sporting e o desembarque e posterior embarque em território do inimigo não pareceu nada aconselhável aos dirigentes do FC Porto de então. Outros tempos, não duvidem.
O Leixões, embalado pelas ondas e pelo sonho de poder aterrar com a Taça dos braços directamente em casa, aceitou logo como boa ideia da viagem a vapor Matosinhos-Lisboa-Matosinhos, sempre junto à costa. Mas para o FC Porto era impensável. Condes e viscondes, nem vê-los. Realizou-se, deste modo, o jogo no Estádio das Antas e, algo surpreendentemente  terminou com a vitória do Leixões por 2-0 nessa edição de 1961 da Taça de Portugal.
Um pequeno à parte para contar aquela que não terá sido a melhor anedota desta final. Tratou-se de uma gaffe que ficou histórica nos anais da imprensa em Portugal. Confiante na vitória do FC Porto e de tão crente no resultado final,  Norte Desportivo - hoje extinto - pôs a circular uma primeira edição com uma bonita primeira página expressando a estrondosa vitória do FC Porto sobre o Leixões por 4-2. Houve que esperar pela segunda edição para saber o resultado de verdade.
Vem isto a propósito da recente gaffe cometida pelo site da Liga, no final do último clássico, dando a vitória por 3-2 ao Benfica quando, na verdade, o jogo de recepção ao FC Porto terminou empatado 2-2. Houve quem se indignasse e, certamente, com razão. O importante é todos termos consciência de que o futebol é como na vida: o que para uns é crime para outros é poesia e vice-versa.
Depois da final de 1961, nas Antas, a festa do futebol voltou ao Jamor e houve que esperar mais uma década para vê-la a voltar a sair da sua casa. Aconteceu em três edições sucessivas, nos anos que se seguiram à revolução dos cravos e porque o recinto se encontrava em obras de «desfascização ideológica», e, por isso mesmo, fechado ao público.
Não me venham dizer que a palavra 'desfascização» não existe porque estamos no mundo do futebol onde até os jogadores se «desposicionam-se» e «temporizam» a toda a hora.
Adiante:
Em 1975, a final da Taça de Portugal realizou-se em Alvalade e o Boavista ganhou ao Benfica, em 1976 realizou-se nas Antas e o Boavista ganhou ao Vitória de Guimarães e em 1977 voltou a realizar-se nas Antas e o FC Porto ganhou ao Sporting de Braga.
Curiosamente, nem ao antigo regime nem neste que está em vigor, conseguiu o Benfica que alguma vez se marcasse uma final da Taça para o seu Estádio da Luz, ao contrário dos seus maiores rivais que receberam o evento nas suas casas, aproveitando ou não o ensejo como lhes coube aproveitar.
De 1977 até hoje só por mais uma vez a final da Taça saiu do Jamor. Em 1983, e por muita insistência do FC Porto, a final voltou pela terceira vez ao Estádio das Antas e pela segunda vez o FC Porto perdeu uma Taça de Portugal em casa, desta feita para o Benfica que venceu o jogo por 1-0, golo de Carlos Manuel. Ainda bem que o Benfica em quase oitenta edições da prova nunca insistiu para jogar uma final em casa porque coisas destas acontecem a todos que a tal se arriscam.
Este ano houve dúvidas sobre a realização da final da Taça de Portugal no Jamor. Por razões de segurança, entenda-se. O futebol e o país mudaram muito desde os tempos em que os adeptos dos clubes finalistas rumavam ao Jamor de manhã cedinho de bandeira e lancheira, famílias inteiras fornecidas para os épicos piqueniques que antecediam a final. Era todo um ambiente de confraternização entre adversários à sombra da mata do Jamor, um vai-vem de petiscos acabados de cozinhar, um toma-lá-dá-cá que fez da final da Taça de Portugal uma romaria, uma festa popular que até culminava num jogo de bola.
Pessoas credenciadas que expuseram dúvidas sobre a realização da final no Estádio Nacional em 2013, apontaram, em benefício do Jamor, o caso evidente de estar afastada a hipótese de uma final entre clubes grandes, todos rivais uns de outros, embora haja uns mais rivais do que outros como é de conhecimento geral.
Nos tempos que correm, foi esta a mensagem transmitida, seria impossível garantir a segurança dos adeptos e dos utensílios do piquenique se a final fosse um Benfica-FC Porto ou um Sporting-Benfica. Já se fosse um FC Porto-Sporting, aparentemente, nada havia a temer pela saúde dos comensais sendo certo que os sportinguistas forneciam os ingredientes e os portistas forneciam o lume e os abanicos.
Nos tempos modernos, com a exacerbação de tudo o que ao futebol diz respeito, organizar um final da Taça de Portugal entre arqui-rivais no Jamor é um risco, consideram alguns. Penso que um dia, para o ano talvez, valerá a pena correr esse risco sem necessidade de arame farpado a dividir a mata do Jamor. Há que confiar.

CANTO de Nolito, Ronaldo de cabeça, golo. Resultado: 1-0. Foi excelente a estreia de Nolito ao serviço do Granada. Nunca lhe terá passado pela cabeça que haveria um dia de centrar uma bola tão perfeita, tão perfeita, que desviando na cabeça do astro português acabasse por entrar que nem um tiro na baliza do Real Madrid.
Foi o primeiro autogolo da carreira de Cristiano Ronaldo e com que desalento viveu esse momento o único jogador que vem disputando com Lionel Messi o ceptro de melhor do mundo. Normalmente, na Liga espanhola, quando o argentino marca 2 golos o português responde com 3 e vice-versa, quando o português responde com 3, o argentino contrapõe com 4 e vice-versa. Andam nisto há umas quantas temporadas para gáudio dos aficionados de todo o mundo.
Se em vez de ser um tipo de feitio bisonho, Messi tivesse a personalidade de um grande artista, descomplexado, maior do que a sua própria lenda, teria com certeza respondido ao autogolo de Cristiano Ronaldo com, pelo menos dois autogolos, no jogo do Barcelona que se seguiu. Era disso que eu estava à espera. Paciência. A perfeição não existe.
Já o Joãozinho poderá um dia contar aos netos que fez um autogolo em Vila do Conde exactamente no mesmo dia em que Cristiano Ronaldo fez um autogolo em Granada. A perfeição continua a não existir.

GODINHO LOPES tentou a última cartada de confiança junto dos adeptos do Sporting utilizando o nome do Benfica e do presidente do Benfica para reganhar créditos da forma mais rasteira. O Benfica reagiu oficiosamente chamando mentiroso ao ex-presidente do Sporting. Não era preciso.
Só é pena que entre tantos jornalistas que tiveram oportunidade de ouvir Godinho Lopes não houvesse um que lhe recordasse que, ao contrário do que diz, o primeiro mandato de Vieira rendeu um campeonato  uma Taça de Portugal e uma Supertaça e que, também ao contrário do que diz, na época de 1976/1977 o Sporting esteve fora da Europa por ter sido o 5.º classificado na temporada anterior e por não ter ganho a Taça de Portugal, à época a segunda porta de acesso às competições da UEFA. Seria assim tão difícil?"

Leonor Pinhão, in A Bola 

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