quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Votaram neles, não é? Então não se queixem... (ou o Benfica tal como o País)

"O FC Porto não vai na frente isolado por ter mais e melhor miolo do que o Benfica, mas porque em Coimbra, houve Xistra. Um aborrecimento, isto de os árbitros serem humanos.

O Benfica deixou dois pontos em Coimbra por culpa própria ou por culpa do árbitro? - eis a questão que vai dilacerar a opinião pública até ao próximo jogo dos eternos candidatos ao título, que é já amanhã em Paços de Ferreira e não se advinha nada fácil.
O FC Porto já lidera isolado a tabela por mérito próprio ou graças ao trabalho do árbitro Carlos Xistra em Coimbra? - eis outra questão do momento e também ela suficientemente dilacerante, sobretudo para os lados da Luz.
Falemos com franqueza. Postos perante a sangria de Agosto que levou os nucleares Javi Garcia e Witsel para longe, postos perante a suspensão de dois meses ao seu capitão Luisão, postos perante a falta de rodagem de Matic, postos perante as intermitências clínicas do genial Pablo Aimar e do valoroso Carlos Martins, poucos são os irredutíveis benfiquistas que olham para a presente Liga com o espírito a transbordar de optimismo.
Ninguém lhes pode levar a mal, em nome do bom senso, embora ser do Benfica é ter a alma a chama imensa como reza a nossa canção.
De estranhar apenas que o FC Porto tivesse demorado quatro jornadas a fugir do inimigo. Ao contrário do Benfica, o FC Porto, que perdeu Hulk mas parece ter arranjado substituto de mérito em Jackson Martinez, tem um meio campo suficientemente com gente variada como João Moutinho, Lucho González, Fernando, James Rodríguez, ou Defour.
Sendo no meio que está a virtude, o avanço que o FC Porto já leva do Benfica à 4.ª jornada poder-se-ia explicar simplesmente com questões práticas como esta, facilmente identificáveis até pelos adeptos do clube rival que olhando para o miolo da casa e para o miolo do adversário logo verão, e com muita pena, as diferenças.
Infelizmente para a paz social, não foi por aqui que o campeonato conheceu este fim de semana a significante alteração no topo da tabela de que toda a gente fala.
Houve Xistra, outra vez.
E só isso bastou para que uma multidão de críticos profissionais e amadores concluíssem cheios de moral que uma equipa que manda três bolas ao poste não tem o direito de se queixar de um árbitro que inventa duas grandes penalidades e não vê uma terceira, essa sim, a sério.
O Benfica, pelo que jogou, poderia ter saído de Coimbra com uma goleada tranquila e saiu indignado, exactamente como saiu no ano passado do mesmo estádio e por razões parecidas.
E poupem-nos, por favor, a ter de ouvir os nossos dirigentes proclamar que até foram avisados do que se ia passar e a falar mal, tarde e a más horas sobre a premente questão da proverbial incompetência de quem não sabe pôr trancas à porta, como reza o ditado popular.
O Benfica está indignado, está como o país. E tal como acontece no país, apetece dizer:
-Votaram neles, não é? Andam há anos a votar neles, não é? Então do que é que se queixam?

HULK marcou o seu primeiro golo ao serviço do Zenit de São Petersburgo. Witsel ainda não teve grandes hipóteses de conquistar com o seu indiscutível talento os adeptos do clube porque, a contas com uma mazela, não tem jogado.
O primeiro golo de Hulk no campeonato russo foi apontado ao Krylya Sovetov e foi uma bomba. Um remate de fora da área, com o brasileiro descaído sobre o lado direito a fuzilar a baliza do adversário. A bola embateu com estrondo na barra e ressaltou para dentro da baliza. Sorte de um campeão.
Na noite de domingo, em Coimbra, os avançados do Benfica que não devem nada a Hulk em termos de talento, embora disponham de reportórios diferentes, fartaram-se de acertar nos postes da baliza de Ricardo e nunca tiveram a felicidade de um ressalto favorável.
Deixemos Coimbra e regressemos à Rússia.
A bomba de Hulk permitiu que o Zenit iniciasse a recuperação de uma desvantagem de dois golos com que se viu surpreendido face ao modesto e remediado Krylya Sovetov. O Zenit esteve a perder por 2-0 mas lá acabou por empatar o jogo, à rasquinha, com um golo de Shirokov perto do fim. Na estreia a marcar noutras paragens, Givanildo assinou um golo à Hulk e golos à Hulk foi coisa que vimos muitas vezes quando Hulk jogava no campeonato português ao serviço do FC Porto.
Acontece que o poderoso Zenit ainda não ganhou um jogo desde que o brasileiro que foi comprar ao FC Porto e o belga que foi comprar ao Benfica aterraram na Rússia. A imprensa local avançou com uma explicação bastante prosaica para o caso. Os altos salérios que Hulk e Witsel auferem estarão a provocar revolta, indignação, inveja no balneário de São Petersburgo onde avultam uma mão cheia de internacionais russos com folhas salariais bem menos espampanantes.
A explicação tem a sua lógica. E confesso que me veio à ideia assistindo pela televisão à goleada que o Málaga impôs ao Zenit no jogo inaugural da fase de grupos da Liga dos Campeões, antes mesmo de a imprensa de São Petersburgo vir a público com a justificação. É que não se mexiam os bons dos russos em campo. E com Hulk sozinho, torna-se tudo mais difícil como, por exemplo, Vítor Pereira sabe muito bem.
A desigualdade nunca traz nada de bom, nem no futebol nem na vida. Há muitas anos, pela final da d´cada de 70, tive a oportunidade de entrevistar um Otto Glória já velhote, de passagem por Lisboa a caminho de um qualquer destino europeu de que já não me recordo.
Já nem sei como é que a conversa evoluiu para o assunto mas do que me lembro e bem foi do que o treinador brasileiro me disse a propósito das desigualdades salariais nas equipas por onde passara e de como era fundamental para ele manter, perante os jogadores, a superioridade hierárquica reflectida no salário.
- Nunca aceitei nem nunca aceitarei trabalhar num clube onde haja um jogador que ganhe mais um tostão do que eu.
Estávamos ainda na época dos tostões, como se depreende.
E Otto Glória explicou-se-me muito bem explicadinho:
- É a primeira pergunta que faço aos presidentes dos clubes que me querem contratar. Quanto ganha por mês o vosso jogador mais bem pago? Então eu vou exigir sempre ganhar mais um tostão do que a maior vedeta da equipa.
Otto Glória era um tipo prático e inteligente.
- Como é que me posso fazer respeitar num balneário onde há jogadores com idade para serem os meus filhos que ganham mais do que eu?
Voltemos uma vez mais à Rússia e ao tempo presente.
Desconhece-se de Luciano Spalleti se encontra formalmente entre o grupo de indignados do balneário do Zenit. Mas é de admitir que os recém-chegados de Portugal a peso de ouro ganhem um bom bocado mais do que o treinador italiano. E, assim, sendo, de acordo com o evangelho de Otto Glória, o pobre do Spalleti perder a autoridade sobre a equipa.
Será precisamente isso que os últimos resultados e as derradeiras exibições do Zenit nos querem dizer?
Ou é tudo apenas uma questão de tempo?
Passemos para Paris onde os factos parecem querer desmentir o preceito anteriormente referido. A sensacional e milionária chegada de Zlatan Ibrahimovic ao PSG só fez tremer os egos do balneário do Parque dos Príncipes durante as três primeiras semanas. Com o ex-Milan em campo, o PSG empatou nas primeiras três jornadas do campeonato francês mas esses eventuais maus humores estão já mais do que ultrapassados. O PSG encarreirou, já soma a terceira vitória consecutiva e na última transcendeu-se numa goleada por 4-0 ao Bastia, com o dito milionário sueco a marcar por duas vezes.
Ibraihmovic já leva 7 golos no campeonato, o seu PSG já subiu ao terceiro lugar da tabela e um eventual mau ambiente na equipa só poderá voltar se o seu caríssimo avançado de 30 anos desatar a acertar nos postes e na barra com as bolas que tão paulatinamente tem vindo a descartar para dentro das balizas dos adversários.
É assim o futebol. Tudo se resolve com golos. Daí o preço dos goleadores."

Leonor Pinhão, in A Bola

Uma lição para Portugal


"O clima de suspeição que continua a grassar no futebol português provoca danos, quiça irreparáveis, na indústria que envolve o desporto-rei.
A opacidade dos métodos, a impossibilidade de serem conhecidos os fundamentos das decisões dos árbitros, ou mesmo as notas que lhes são atribuídas após cada desempenho, contribuem decisivamente para que, passadas que foram as gerações dos «quinhentinhos» ou do «apito dourado», não haja melhoria significativa nem na imagem dos árbitros, nem no nível de contestação. E quando se fala em contestação, pelo exemplo que representa a capa do New York Post, compreende-se como Portugal ainda vai pautando as suas manifestações desagrado pela cartilha dos brandos costumes.
Nos Estados Unidos perceberam há vários décadas que, neste ramo, não há negócio que floresça sem verdade desportiva, sem transparência, sem dúvidas para lá da natureza humana e mesmo assim esta é mitigada pelo auxílio dos meios tecnológicos.
Por cá os responsáveis continuam cegos, surdos e... mudos."

José Manuel Delgado, in A Bola

Mundo de sombras na arbitragem

"A questão dos erros de arbitragem no futebol não pode ser vista, apenas, como uma questão de inevitabilidade do erro humano. O futebol move multidões de pessoas e de interesses e não pode permitir-se a ser uma indústria de má fama. Precisa por isso que o sector da arbitragem, que é decisivo na qualidade e na credibilidade do jogo, não se limite a ser sério, mas também o pareça ser.
Não pretendemos entrar, aqui e agora, na discussão particular do jogo de Coimbra e da arbitragem de Xistra. O que se procura é chamar a atenção, com a veemência que a situação actual exige, para a necessidade dos responsáveis federativos passarem a ter, de uma vez por todas, a lucidez e a sensibilidade de admitir que o mundo dos árbitros não pode continuar a ser um mundo de sombras e de silhuetas difusas, protegido por uma quixotesca guarda pretoriana que desata a espadeirar contra tudo e contra todos os que se atrevem a proclamar a necessidade de uma mudança efectiva, que responsabilize quem erra de forma grosseira e que torne transparente aos olhos dos adeptos de futebol - a verdadeira e única razão de existência do jogo - o enevoado sistema que analisa, classifica e valoriza a prestação dos homens que no centro do terreno ou nas linhas laterais dirigem o jogo.
Ninguém, até prova em contrário, deve pôr em causa a seriedade dos árbitros, mas também ninguém tem o direito de pôr em causa a seriedade do futebol. É preciso ser pragmático e perceber, sem escândalo, que as tentações são muitas e as pressões ainda maiores. A convicção de que todos os árbitros são homens preparados para resistir a tudo é generosa, mas não é suficiente. Há que garantir, pois, que o sistema de controlo seja eficaz e reconhecimento honesto."

Vítor Serpa, in A Bola

Quem protege quem no País do Apito Dourado?

"Não há condições, em Portugal, para a arbitragem ser independente. É um jogo de equilíbrio, semana a semana. O rato parido pelo Apito Dourado continua no topo da montanha a fazer estragos. Não há coragem. Há apenas ‘teatro’ e hipocrisia.

O presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, Vítor Pereira, não se cansa de repetir que ‘o sector é dirigido por um responsável, de dentro para fora, sem intromissões’. Disse-o agora mas já o tinha dito noutras fases mais quentes do seu mandato.
Foram necessárias apenas 4 jornadas para o ambiente se (re)acender. Carlos Xistra é nomeado para o Académica-Benfica, depois das críticas de dirigentes ‘leoninos’ à actuação de Xistra no Marítimo-Sporting. Aqui, o problema não é apenas o da amplificação dos erros. É uma questão de competência. Xistra não é competente e por isso mais facilmente cometerá erros.
Defendo há muitos anos alterações ao nível da regulação desses lapsos, em tempo útil. Com apoio tecnológico. Não vejo outra maneira de reduzir o número de erros grosseiros. Com apoio tecnológico -- e só a título de exemplo -- o penálti assinalado por Xistra a castigar falta de Maxi sobre Makelele fora da área, daria lugar a um livre directo. Porque a televisão mostra aquilo que os árbitros não vêem ou dizem não ver.
O FC Porto também já teve grandes penalidades não assinaladas a seu favor. Nos jogos com o Gil Vicente e V. Guimarães. O Sporting também contestou a arbitragem no Funchal e a expulsão de Labyad, neste último jogo com o Gil Vicente.
Em Portugal, não há a mínima tolerância para o erro. Porque já ninguém acredita em ninguém. Porque quase todos pressupõem que os erros resultam dos magistérios de influência que se constroem em redor do sector da arbitragem. E, nalguns casos, parece ser assim... Muitas das críticas são manifestamente exageradas e o Benfica, neste particular, já perdeu muitas vezes o equilíbrio. Até porque já não sabe muito bem o que fazer... Mas, em relação a Coimbra, tem razão, apesar de poucos terem apontado o problema da falta de eficácia...
O terceiro jogo da Liga, realizado a 18 de Agosto, trouxe logo os primeiros problemas com arbitragens. O Benfica-Sp. Braga, dirigido por Artur Soares Dias, esteve envolto em polémica: primeiro, com a expulsão de Douglão (em vez de ‘amarelo’ a Custódio) e depois com a anulação daquele que seria o terceiro golo do Benfica, num lance em que Cardozo não faz falta sobre Beto, apesar do impacto da queda do guarda-redes dos minhotos. Um Benfica-Braga é, no quadro actual de competitividade do futebol luso, um dos 10 jogos mais importantes da Liga portuguesa. Era o arranque da prova. Se a arbitragem fosse dirigida ‘de dentro para fora, sem intromissões’, eu diria, sem provocações mas com coragem e independência, Vítor Pereira teria nomeado Pedro Proença para o primeiro grande embate da Liga 2012-13. Porquê?
1. Porque Pedro Proença ainda gozava dos efeitos de ter dirigido as finais do Euro-2012 e da Liga dos Campeões.
2. Porque o segundo grande jogo da Liga, envolvendo os ‘encarnados’, está marcado, em calendário, para Janeiro de 2013 (Benfica-FC Porto), e, regulamentarmente, se fosse essa a vontade do nomeador, nada obstaria a que ‘o melhor árbitro português’ da actualidade fosse o escolhido para dirigir a partida mais importante da ronda inaugural da Liga.
Isto prova a falta de independência. Alguns dirão que se tratou apenas de bom-senso para não ‘assanhar’ (ainda mais) o Benfica. Então, se foi bom-senso, assuma-se que o veto do Benfica produziu efeitos. Assuma-se que o ruído produz efeitos. Dir-se-á que se tratou de critério. Mas então o melhor critério não é reservar os melhores árbitros para os jogos mais importantes?
Preto no branco: nem sequer há condições para a arbitragem ser independente. Quem protege quem, no país do Apito Dourado?
A arbitragem em Portugal continua a ser aquilo que o Apito Dourado não matou. Não matou as influências, os medos, as represálias e o clima de coacção, directa ou indirecta. Não há é coragem de o assumir.
Foi Vítor Pereira quem disse, numa das suas aparições públicas -- quando aparece, sai quase sempre borrasca... -- que esta ‘não é a geração dos quinhentinhos’. Quis dizer, portanto, que houve uma ‘geração dos quinhentinhos’. E quem, dentro da arbitragem, denunciou aqueles que fabricaram essa geração? Como é que se pode acreditar em alguém com o currículo de Vítor Pereira que faz uma acusação deste jaez e não se lhe conhece uma manifestação de denúncia? Vítor Pereira sempre foi assim. Jorge Coroado era melhor árbitro, mas não tinha a viscosidade e poder de sedução (junto das elites) que Pereira sempre alardeou. Quis dar uma imagem de ‘grande democrata’ quando se pôs a analisar -- com a ajuda do vídeo -- os desempenhos dos seus nomeados. Deu raia, como diz o povo. E não repetiu a democrática experiência. Depois disso, começou a ter reuniões com dirigentes de clubes. Mas alguém independente, com o papel de nomear, tem reuniões com dirigentes de clubes? Não há intromissões? A arbitragem é dirigida de dentro para fora? Não brinque connosco, caro Vítor Pereira. Agora tirou da cartola a solução dos árbitros estrangeiros. Mais uma ‘promessa’ para dar raia? Alguma vez Vítor Pereira explicou em que condições vai (?) nomear árbitros estrangeiros? Com que garantias de equidade? A única coisa que Vítor Pereira fez bem até ao momento foi a promoção dos árbitros portugueses no espaço internacional. E isso corresponde á obtenção de bela$ mordomia$, que todavia não chegam para manter o sector pacificado.
É também uma forma de equilíbrio. Ou instinto de sobrevivência."

Perseguição

"Vamos no início da época e o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol já castigou o presidente, o treinador e o capitão da equipa do Benfica. Por este andar, esta temporada não será necessário validar golos irregulares contra o Benfica - como aconteceu no ano passado - nem invalidar golos regulares ao Benfica - como já aconteceu este ano. Esta temporada, pelo que estamos a assistir, joga-se no Conselho de Disciplina.
Nenhum outro clube regista em tão curto espaço de tempo um cadastro de tal monta - sejam hooligans incendiários, ou manipuladores trapaceiros.
Nenhum dos castigos tem a mínima razão de ser. O presidente do Benfica foi punido por ter criticado o facto de adeptos do Sporting terem pegado fogo a uma bancada do Estádio da Luz. O Sporting queixou-se e o Conselho de Disciplina castigou o presidente do Benfica. Clube vitima do hooliganismo. Jesus foi castigado por ter criticado a validação de um golo irregular contra o Benfica que decidiu o resultado de um jogo e encaminhou a decisão de um Campeonato.
Que o golo foi irregular até o presidente do Conselho de Disciplina o reconheceu, quando votou vencido contra a Jorge Jesus. Agora, Luisão. Para castigar o capitão do Benfica o Conselho de Disciplina teve que considerar que houve uma agressão da parte do jogador ao árbitro alemão. O Conselho de Disciplina da Federação foi mais papista que o Papa para castigar o atleta do Benfica. Em ponto algum do relatório do próprio árbitro alemão este usa a expressão ou o conceito de agressão para classificar o alegado incidente com o capitão do Benfica.
A actuação do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol configura uma perseguição ao Benfica."

João Paulo Guerra, in O Benfica

Um clube diferente

"Foi idealizado e criado por viscondes e mantém as pretensões aristocráticas em que sempre alicerçou a sua identidade. Afirma-se diferente, afirma-se distinto, repetindo até à exaustão que suspeitas, incumprimentos, ilegalidades e desconfianças, são coisas dos outros, dos plebeus, dos saloios, da populaça, e, como tal, não se passam lá por casa.
Acontece que, mesmo com o cheiro a perfume caro que normalmente emana dos sovacos das suas principais figuras, a realidade vai desmentindo, com demasiada frequência, a ideia que nos pretendem impingir. Ora são dirigentes que depositam dinheiro na conta de fiscais-de-linha (e, já agora, criam condições de conflitualidade que levam a situações como o incêndio de bancadas em estádios de Futebol), ora são directores que patrocinam e/ou participam em processos pouco transparentes de evasão fiscal, ora é o próprio clube a constar da lista negra da UEFA, por incumprimento das suas obrigações contratuais. os episódios vão sendo muitos.
Se é verdade que até trânsito em julgado ninguém é definitivamente culpado de nada, diz a sabedoria popular que não há fumo sem fogo. Em muitos casos (no Futebol e não só!), existem por vezes suspeitas demasiado fortes para que os intrincados labirintos da Justiça (e os hábeis advogados que neles navegam, e deles se servem) as possam dissipar por via de meros formalismos jurídicos. Veja-se o que (não) aconteceu no caso Apito Dourado, em que um País inteiro ouviu de viva voz aquilo que os tribunais, com base em critérios herméticos e de materialidade duvidosa, ignoraram, deixando de crimes sem o correspondente castigo.
Nestes casos em concreto, importa salientar desde já que a auto-proclamada virgindade sportinguista em matéria de suspeições ficou irremediavelmente perdida. Não se trata, pois, de um clube 'diferente'. Trata-se, sim, de um clube com cada vez maiores semelhanças àquele com quem tantas vezes tem emparceirado, e a quem tanta vassalagem tem prestado, com os pobres resultados que se conhecem."

Luís Fialho, in O Benfica

PS: Nestes últimos dias o tal parceiro dos Lagartos - os Corruptos - também viveram momentos 'diferentes':
- No sorteio da Taça de Portugal voltaram a ter 'sorte', jogando contra uma equipa da 3ª Divisão, recentemente promovida dos Regionais!!! Mas mesmo assim parece que não chega!!! Pois ameaçam transferir o jogo para o Dragay!!!
- Também ficámos a saber com mais pormenor os valores exactos com qual os contribuintes Portugueses, pagaram a construção do Centro de Estádio Corrupto, através da Fundação Porto/Gaia: €4.234.931 !!! Isto depois de o Tribunal de Costas ter confirmado o Roubo perpetrado durante a construção do Dragay, avaliado em €279.000.000 (com valores de 2004)!!!
- Depois do vergonhoso Roubo que o Benfica sofreu em Coimbra, com o Xistrema a repetir uma receita antiga, ficámos a saber que afinal o Presidente do Conselho de Arbitragem da FPF gosta de conviver em privado com delinquentes condenados, como veio noticiado no Correio da Manhã de hoje: O Clube Assumidamente Corrupto 'exige' não ser apitado pelo Bruno Paixão e pelo Duarte Gomes!!!
É a mesma coisa que um ninfomaníaco compulsivo dizer que não aprecia putas com um sinal na nádega esquerda!!!
Como se pode observar por este curto exemplo (usando somente notícias de última hora), os Lagartos ainda têm que comer muitos cereais!!!

Asneiras

"Nas televisões, nas rádios e nos jornais vale tudo. Vale o que não devia valer. Vale ver gente a debitar sobre Futebol com escrita, voz ou pose autoritária. Gente que jamais deu um pontapé (bem dado) numa bola, gente que jamais entrou num balneário, gente que jamais ouviu os profissionais de Futebol de orelhas atentas e com a humildade de quem não domina o ofício.
Há dias, num diário desportivo, o reputado médico e não menos histérico sportinguista, Eduardo Barroso, escorreu prosa contra Jorge Jesus, a propósito do castigo que foi aplicado ao nosso treinador, em consequência as declarações que proferiu no termo do Benfica-FC Porto da pretérita temporada.
Recorde-se que o terceiro golo portista, que resultou no triunfo azul, foi marcado num fora-de jogo escandaloso (estavam 2 jogadores deslocados), sem que o assistente de Pedro Proença tenha assinalado a correspondente infracção.
Jorge Jesus disse que o árbitro auxiliar viu. E só podia ter visto. Ele e todos os que estavam no anfiteatro da Luz. Eduardo Barroso considera que a crítica de Jesus é a mais dura e desapropriada de que tem memória, sugerindo que ao treinador do Benfica deveria ter sido aplicada uma pena de muito maior severidade.
Barroso nada disse sobre o lance. Barroso nada disse sobre a incompetência do juiz. Barroso não disse, mas farta-se de berrar por justiça quando o seu Sporting está em causa. Importante? Nada disso, apenas revelador. É que Barroso, bem vistas as coisas, percebe tanto de bola como eu de medicina."

João Malheiro, in O Benfica

Tanta aldrabice

"1. Que o árbitro alemão que nos calhou no jogo particular em Dortmund é um aldrabão já se viu, não só pela espalhafatosa queda mas também pelos relatórios médicos posteriores. Para azar nosso, o Conselho de Disciplina da FPF arranjou outra aldrabice: que Luisão agrediu o árbitro. 'A qualificação como agressão pressupõe internacionalidade directa em agredir. E esta todo o mundo viu que não existiu', explicou o juiz Rui Rangel no Record se sábado passado. Claríssimo. Depois há muito quem não queira ver e ainda venha dizer que o castigo foi pequeno. O melhor é nem ligar. Agora só temos um caminho: ganhar os jogos todos em campo.

2. O Sporting, que nunca conseguiu vender bem nenhum dos seus jovens jogadores e agora não os tem para vender (ou, se os tivesse, receberia apenas uma percentagem pois boa parte deles pertencem a fundos) veio, pela voz de um seu dirigente, falar nos valores das vendas de Hulk e Witsel. Têm uma grande moralidade para falar, depois da fuga ao fisco protagonizada por dirigentes seus aquando da contratação de João Pinto (um deles é agora figura bem importantes da SAD...) e das muito mal explicadas dívidas (pelos vistos várias) que levaram a UEFA a colocar o clube na lista negra...

3. Os árbitros Pedro Proença, Duarte Gomes, Bertino Miranda e Ricardo Santos foram homenageados pela Associação do Porto, presidida, não o esquecemos, por Lourenço Pinto. Motivo: a sua presença nas finais europeias. Em tempos fora homenageada a equipa de Olegário Benquerença. Curiosamente, nem uns nem outros pertencem à Associação do Porto, embora sejam por lá muito bem vistos. Enfim, não viria mal ao mundo se...

4. A terminar, duas agradáveis notícias da semana passada:
- Num estudo de uma empresa especializada para a Liga de Clubes, tendo em vista os direitos televisivos dos clubes nacionais, envolvendo 1517 pessoas, 39% disseram-se adeptos do Benfica, mais que FC Porto (20%) e Sporting (17,7%) juntos.
- Segundo outro estudo de uma agência argentina, com consultoras em vários países, o Benfica é o segundo clube com maior percentagem de adeptos em relação à população do país: 38,8 por cento. Só é superado pelo Boca Juniores, clube de 46,8 por cento dos argentinos.
Isto causa inveja a muita gente, mas é a realidade..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Futepolitiquês

"Nas últimas semanas mais quatro expressões se acasalaram no léxico político: modelar, modular (estes dois confundindo-se amiúde na ignorância de quem os escreve), calibrar e reescalonar. Assim se juntando ao horroroso verbo (des) alavancar, ao galicismo de mau gosto, alocar e, claro, aos insuportáveis implementar (que nada significa, por tudo querer dizer) e despoletar (que significa o contrário do que se quer dizer).
Que tal unir o singular futebolês ao quase compulsivo politiquês?
Por exemplo: Jorge Jesus tenta calibrar a coluna dorsal do Benfica depois de a direcção ter sido obrigada a desalavancar a folha salarial. Vítor Pereira vai reescalonar Atsu para fazer esquecer Hulk, ainda que alocados a partes distintas do campo. E Sá Pinto esforça-se por modelar o fio de jogo apesar de o seu capital estar desalavancado por modestos resultados. Todos eles são pagos para, em módulos, modelar a época que querem suficientemente calibrada.
Já na política, evidentemente dependendo da temática, da problemática e da sistémica, há quem diga que o governo ou os partidos estão bem e recomendam-se e há governantes que, qual formiguinhas, deixam a pele no gabinete e comem a relva (no singular, entenda-se). A troika é soberana, tal qual o árbitro. Há quem diga que se governa mais (sem) coração do que com cabeça. Por isso, de vez em quando, os extremos tocam-se. Mas logo se retorquirá: não há quem baixar os braços, os protestos são normais. O receio é que queimem tempo e chutem para onde estão virados.
E é claro, nesta narrativa (como agora está na moda dizer) tudo se implementando, depois de despoletado."

Bagão Félix, in A Bola