quarta-feira, 14 de março de 2012

A gravidez da liga

"Aí está a 1.ª Liga de esperanças, fruto de uma gravidez prematura. Por inseminação artificial ou reprodução eleitoralmente assistida para parir mais dois primodivisionários. Na Liga - a barriga de aluguer - já se iniciou o trabalho de parto.

Um parto que resulta de uma gravidez de risco e não (parcialmente) desejada. Uma gravidez batoteira e impúdica da qual, milagrosamente, não haverá verdadeiros nasciturnos porque a comissão de protecção de menores em risco vai impedir que dois filhos enjeitados pelas actuais regras domésticas continuem no seu seio a receber abono de família e rendimento mínimo. Filhos que, neste fim da gravidez, até não têm que se preocupar com nada, só têm que se equipar e acompanhar a grávida Liga... Assim se processa uma fertilização que até ignora os embriões excedentários da abortada liguilha.

Insolitamente, esta gravidez também tem efeitos retroactivos! É que em vez de os progenitores (creio que não incógnitos) esperarem pelos nove meses de gestação, decidiram antecipar-se e ir à conservatória registar a prole completa. Creio que é caso virgem, que nem a mais avançada biotecnologia justifica. Nem a patriarca UEFA o faz: quando muda uma regra define o período de abstinência e evita a promiscuidade de certas relações.

Enfim, vai ser uma festa de arromba: 304 encontros em vez de 240 (mais 27,5%). Uma inseminação in vitro que pode acabar numa disseminação de vitrina ou de... vitrolas.

Resta a esperança que, por razões de saúde pública e de objecção de consciência, os obstetras FPF e Conselho Nacional do Desporto abortem e produto desta relação incestuosa."


Bagão Félix, in A Bola

Lixívia Extra-Forte XXII

Tabela Anti-Lixívia Extra-Forte:
Benfica.......52 ( -8)...60
Corruptos...53 (+4)...49

Braga..........52 (+7)...45
Sporting.......41 (-1)...42


...continuação da roubalheira!!! A vergonha já foi perdida à muito tempo... Mas quando após uma das mais descaradas arbitragens anti-Benfica de sempre, ainda existem animais, que conseguem ir para os jornais e para as televisões defender que afinal o beneficiado supostamente teria sido o Benfica!!!!!!!!!!!!!!!! Noutro contexto até podia ter alguma graça, mas neste momento, nenhum de nós, tem vontade de rir, são muitos anos de pouca-vergonha...!!!

Tenho lido, ouvido e visto muitas análises à arbitragem do jogo de Paços, mas ainda ninguém teve a coragem de compilar todos os erros. 'Só' ficaram 5 penalty's por marcar a favor do Benfica!!! 'Cinco' !!! Não me enganei:
-Jardel agarrado. Não existe agarrão duplo. O defesa agarra, e o Jardel tenta libertar-se. O Jardel tenta jogar a bola, sempre com os 'olhos' na bola, apesar de agarrado ainda consegue cabecear (torto), o defesa nem sequer olha para a bola. Penalty óbvio.
-Saviola é pontapeado. Em cima da linha da grande área, Saviola toca na bola, e é violentamente pontapeado. Em cima do risco. Dentro da área. Seria penalty. Nem sequer marcou falta!!!
-Bruno César atropelado. Um dos mais penalty's mais nítidos algumas vezes cometidos, em qualquer Campeonato, em qualquer parte do Mundo...!!!
-Nelson Oliveira rasteirado. Compreendo que o árbitro não tivesse marcado, a exagerada queda do Nelson 'engana'. Mas é inaceitável que alguém vendo a repetição na televisão, não veja o toque claro na perna direita do Nelson...!!!!
-Novo derrube ao Nelson. Este é mais duvidoso, admito que não me pareceu penalty 'ao vivo', mas depois de visionar algumas repetições, parece-me evidente a falta. Não foi um empurrão, nem uma rasteira, foi uma 'paralítica'!!! O jogador do Paços, acerta na parte posterior da perna/anca/'bunda' do Nelson com a sua perna/joelho direito!!!
Além destas grandes penalidades - com uma enorme influência no desenrolar do jogo - ainda tivemos que 'aturar' um critério disciplinar absurdo. Principalmente na primeira parte, tudo foi permitido aos jogadores do Paços. Só o Michel (um avançado) foi amarelado (se calhar injustamente), mas aos defesas Pacenses tudo foi perdoado, alguns deviam ter sido expulsos antes do intervalo, em sentido contrário o Javi Garcia sem fazer qualquer falta, é amarelado logo no início do jogo. Intimidando toda a equipa do Benfica. Sim, muitos dos contra-ataques que o Benfica sofreu, só foram perigosos porque os jogadores do Benfica, 'entravam' aos lances com muita 'delicadeza', porque sabiam que facilmente seriam expulsos. Em sentido contrário, a confiança dos jogadores do Paços era ilimitada, sentiam-se impunes... Se calhar por isso - o sentimento de impunidade -, quando o Benfica 'matou' o jogo - com o 2º golo - as entradas assassinas continuaram e o árbitro foi obrigado a expulsar os Pacenses - até porque assim teve a oportunidade de 'limpar' a sua imagem -, e lá foi 'alegremente' expulsando jogadores do Paços!!! O primeiro é mais do que evidente; o vermelho directo na 2ª expulsão foi exagerado, se tivesse sido por palavras até podia aceitar (mas não foi), como não houve contacto, seria só amarelo. O Ricardo não tinha amarelo antes, mas já deveria ter tido - por exemplo no penalty sobre o Bruno!!! - portanto este erro acaba por corrigir um erro anterior!!!

O único erro em beneficio do Benfica, foi o cartão amarelo perdoado ao Bruno César. Sim, amarelo, e só amarelo. Sendo que o primeiro foi altamente injusto, nunca seria expulso. Os habituais propagandistas defendem o vermelho directo, mas as imagens não mentem: o Bruno inicialmente joga só a bola, e só a bola, quem tem uma entrada perigosa é o jogador do Paços. A bola ressalta na perna de apoio do adversário, e quando o Bruno muda de direcção, aí sim, o Bruno pisa o jogador do Paços, provavelmente poderia ter evitado o contacto, mas também não 're-pisa', não 'puxa a culatra atrás', parece-me sinceramente mais acidental do que maldosa... Agora. apesar deste erro, transformar esta arbitragem vergonhosa anti-Benfica, numa arbitragem pró-Benfica, é o cumulo do absurdo!!!


Sempre que oiço os Corruptos a 'chorarem' por causa dos árbitros sinto alguma náusea, não o consigo evitar!!! Curiosamente (ou não) o primeiro grande erro, foi um penalty a favor da Académica!!! Álvaro Pereira tenta evitar que o adversário chegue à bola, fazendo um bloqueio 'estilo' basket. O Academista tenta só chegar à bola, não faz qualquer falta, Álvaro Pereira cai, e no chão derruba claramente o adversário: penalty claro. No final da primeira parte é tirado um fora-de-jogo erradamente ao Givanildo, seria golo quase de certeza. Este é o único erro, importante, contra os Corruptos, na minha opinião. Mais tarde Givanildo cai na área, existe contacto com Nivaldo, mas a queda é totalmente criada pelo Givanildo, aliás o agarrão no braço, deveria inclusive impedir a queda do 'bébé chorão', é um lance no limite, admito, mas não acho que seja falta. Os Corruptos pediram mais 3 penalty's, todos eles inexistentes: no 1º a falta é cometida fora da área, o braço na bola não é deliberado; no 2º com o Sapunaru também não me parece que existiu intencionalidade; no 3º mergulho evidente do James. O penalty marcado no final da partida, que dá o golo do empate, é bem marcado. O jogador do Académica é ingénuo, como viu que não chegava à bola, fez uma 'defesa' à guarda-redes de Andebol!!!

Em Braga o tivemos uma arbitragem que 'virou' um resultado, completamente!!! Anulando um golo limpo ao Leiria, e não assinalando um penalty contra o Braga!!!

Os lagartos golearam bem, uma amostra da equipa que à pouco tempo derrotou o Benfica!!! Sem casos...

Anexos:

Benfica1ª-Gil Vicente(f) E(2-2), João Ferreira, Nada a assinalar
2ª-Feirense(c) V(3-1), Hugo Pacheco, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
3ª-Nacional(f) V(0-2), Soares Dias, Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
4º-Guimarães(c) V(2-1), Duarte Gomes, Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
5ª-Académica(c) E(4-1), Vasco Santos, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
6ª-Corruptos(f) V(2-2), Jorge Sousa, Nada a assinalar
7ª-Paços de Ferreira(c) V(4-1), Bruno Esteves, Prejudicados, Sem influência no resultado
8ª-Beira-Mar(f) V(0-1), Paulo Baptista, Prejudicados, Sem influência no resultado
9ª-Olhanense(c) V(2-1), Marco Ferreira, Prejudicados, Sem influência no resultado
10ª-Braga(f) E(1-1), Proença, Prejudicados, (0-2), -2 pontos
11ª-Sporting(c) V(1-0), Capela, Prejudicados, Sem influência no resultado
12ª-Marítimo(f) V(0-1), Sousa, Nada a assinalar
13ª-Rio Ave(c) V(5-1), Bruno Esteves, Nada a assinalar
14ª-Leiria(f) V(0-4), Cosme, Nada a assinalar
15ª-Setúbal(c) V(4-1), Malheiro, Prejudicados, Sem influência no resultado
16ª-Gil Vicente(c) V(3-1), Marco Ferreira, Nada a assinalar
17ª-Feirense(f) V(1-2), Rui Costa, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
18ª-Nacional(c) V(4-1), Jorge Sousa, Prejudicados, Sem influência no resultado
19ª-Guimarães(f) D(1-0), Xistra, Prejudicados, (0-0), -1 ponto20ª-Académica(f) E(0-0), Hugo Miguel, Prejudicados, (0-3), -2 pontos
21ª-Corruptos(c) D(2-3), Proença, Prejudicados, (2-0), -3 pontos
22ª-Paços de Ferreira(f) V(1-2), Bruno Esteves, Prejudicados, Sem influência no resultado


Corruptos1º-Guimarães(f) V(0-1), Olegário, Beneficiados, (0-0), +2 pontos
2ª-Gil Vicente(c) V(3-1), Rui Silva, Beneficiados, Impossível contabilizar
3ª-Leiria(f) V(1-4), Capela, Prejudicados, Sem influência no resultado
4ª-Setúbal(c) V(3-0), Marco Ferreira, Beneficiados, Sem influência no resultado
5ª-Feirense(f) E(0-0), Bruno Esteves, Beneficiados, (1-0), +1 ponto
6ª-Benfica(c) E(2-2), Jorge Sousa, Nada a assinalar7ª-Académica(f) V(0-3), Paulo Baptista, Nada a assinalar
8ª-Nacional(c) V(5-0), Cosme Machado, Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
9ª-Paços de Ferreira(c) V(3-0), Hugo Miguel, Beneficiados, Sem influência no resultado
10ª-Olhanense(f) E(0-0), Capela, Prejudicados, (0-1), -2 pontos
11ª-Braga(c) V(3-2), Soares Dias, Prejudicados, Sem influência no resultado
12ª-Beira-Mar(f) V(1-2), Xistra, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
13ª-Marítimo(c) V(2-0), Duarte Gomes, Prejudicados, Sem influência no resultado
14ª-Sporting(f), E(0-0), Proença, Nada a assinalar
15ª-Rio Ave(c), V(2-0), Marco Ferreira, Nada a assinalar
16ª-Guimarães(c), V(3-1), Hugo Miguel, Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
17ª-Gil Vicente(f), D(3-1), Bruno Paixão, Prejudicados, Impossível contabilizar
18ª-Leiria(c), V(4-0), Rui Silva, Beneficiados, Impossível contabilizar
19ª-Setúbal(f) V(1-3), Paulo Baptista, Prejudicados, Sem influência no resultado
20ª-Feirense(c) V(2-0), Jorge Ferreira, Beneficiados, Impossível contabilizar
21ª-Benfica(f) V(2-3), Proença, Benefeciados, (2-0), +3 pontos22ª-Académica(c) E(1-1), Marco Ferreira, Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar

Sporting
1ª-Olhanense(c) E(1-1), Xistra, Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
2ª-Beira-Mar(f) E(0-0), Fernando Martins, Nada a assinalar
3ª-Marítimo(c) D(2-3), Proença, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
4ª-Paços Ferreira(f) V(2-3), Paulo Baptista, Prejudicados, Sem influência no resultado
5ª-Rio Ave(f) V(2-3), Hugo Miguel, Beneficiados, Prejudicados, Impossível contabilizar
6ª-Setúbal(c) V(3-0), Cosme Machado, Nada a assinalar
7ª-Guimarães(f) V(0-1), Bruno Paixão, Nada a assinalar
8ª-Gil Vicente(c) V(6-1), João Capela, Beneficiados, Sem influência no resultado
9ª-Feirense(f) V(0-2, Gralha, Prejudicados, Beneficiados, Impossível contabilizar
10ª-Leiria(c) V(3-1), Manuel Mota, Beneficiados, Impossível contabilizar
11ª-Benfica(f) D(1-0), Capela, Beneficiados, Sem influência do resultado
12ª-Nacional(c) V(1-0), Vasco Santos, Nada a assinalar
13ª-Académica(f) E(1-1), Rui Costa, Nada a assinalar
14ª-Corruptos(c) E(0-0), Proença, Nada a assinalar
15ª-Braga(f) D(2-1), Capela, Nada a assinalar
16ª-Olhanense(f) E(0-0), Vasco Santos, Nada a assinalar
17ª-Beira-Mar(c) V(2-0), Duarte Gomes, Nada a assinalar
18ª-Marítimo(f) D(0-2), Cosme, Nada a assinalar
19ª-Paços de Ferreira(c) V(1-0), Jorge Ferreira, Prejudicados, Sem influência no resultado
20ª-Rio Ave(c) V(1-0), Paulo Baptista, Prejudicados, Beneficiados, Sem influência no resultado
21ª-Setúbal(f) D(1-0), Gralha, Prejudicados, Beneficiados, (1-1), -1 ponto
22ª-Guimarães(c) V(5-0), Soares Dias, Nada a assinalar

Braga
1ª-Rio Ave(f) E(0-0), Duarte Gomes, Beneficiados, (1-0), +1 ponto2ª-Marítimo(c) V(2-0), Soares Dias, Beneficiados (1-0), Sem influência
3ª-Setúbal(f) V(0-1), Hugo Miguel, Beneficiados (0-0), +2 pontos
4ª-Gil Vicente(c) V(3-1), Rui Costa, Nada a assinalar
5ª-Guimarães(f) E(1-1), Pedro Proença, Nada a assinalar
6ª-Nacional(c) V(2-0), Xistra, Nada a assinalar
7ª-Leiria(f) D(1-o), Marco Ferreira, Nada a assinalar
8ª-Feirense(c) V(3-0), João Ferreira, Nada a assinalar
9ª-Académica(f) E(0-0), Jorge Sousa, Nada a assinalar
10ª-Benfica(c) E(1-1), Proença, Beneficiados, (0-2), +1 ponto
11ª-Corruptos(f) D(3-2), Soares Dias, Beneficiados, Sem influência no resultado
12ª-Paços de Ferreira(c) V(5-2), Marco Ferreira, Nada a assinalar
13ª-Olhanense(f) V(3-4), João Ferreira, Nada a assinalar
14ª-Beira-Mar(f) V(1-2), Rui Costa, Nada a assinalar
15ª-Sporting(c) V(2-1), Capela, Nada a assinalar
16ª-Rio Ave(c) V(2-1), Sousa, Prejudicados, Sem influência no resultado
17ª-Marítimo(f) V(1-2), Bruno Esteves, Nada a assinalar
18ª-Setúbal(c) V(3-0), Hugo Pacheco, Nada a assinalar
19ª-Gil Vicente(f) V(0-3), Hugo Miguel, Nada a assinalar
20ª-Guimarães(c) V(4-0), Capela, Nada a assinalar
21ª-Nacional(f) V(1-3), Vasco Santos, Nada a assinalar
22ª-Leiria(c) V(2-1), Xistra, Beneficiados, (2-3), +3 pontos

O maior perigo

"Invertidas as posições na frente da tabela classificativa, e perdida uma vantagem pontual que chegou a parecer confortável, ao Benfica não resta outra opção que seja lutar bravamente para vencer todos os jogos das nove jornadas que faltam realizar, e esperar que o principal adversário tropece em duas delas, para assim poder ainda chegar ao título.

Gigante em dimensão, e em ambições, o Benfica tem, porém, um problema com que costuma defrontar-se perante este tipo de cenário. Se na hora das vitórias a nossa força é normalmente avassaladoras, quando chegam as derrotas, o risco de desmobilização é, também ele, quase sempre muito grande. Este parece ser o maior perigo que resulta do desaire da sexta-feira passada.

O Benfica como qualquer outro clube, trata de afectos. Mas, neste momento, o que há pedir aos sócios e adeptos é, sobretudo, frieza, coisa que contraria a tendência natural de qualquer benfiquista calorosamente apaixonado. Esta antinomia é perigosa, e pode ser-nos fatal.

Independentemente das hipóteses que ainda nos restem de alcançar o título nacional - e, à luz da objectividade, as possibilidades matemáticas não são assim tão poucas -, o Campeonato apresenta-nos ainda outros objectivos de importância assinalável. Falo designadamente do acesso directo à Liga dos Campeões, que, sobretudo no plano financeiro, será crucial para fazer face a um contexto de crise económica, do qual, naturalmente, não nos podemos alhear.

Ignoro, no momento em que escrevo, o desfecho da eliminatória europeia com o Zenit. O nosso grau de militância não lhe será certamente indiferente, mas, mesmo na pior das hipóteses, não poderemos cometer o erro de dar a época por terminada.

Ainda que um 2-º lugar jamais possa ser objectivo particularmente estimulante para os benfiquistas, é imperioso que não desmobilizemos. Com toalhas no chão, não só estaremos a fechar a porta na cara de eventuais contingências da fortuna, como caminharemos rapidamente para um descalabro de consequências perigosas e imprevisíveis."


Luís Fialho, in O Benfica

A mentira continua

"Uma vez mais, a história repete-se. Como tantas vezes nos últimos trinta anos, o Benfica viu-se afastado do primeiro lugar por erros alheios, e absolutamente inaceitáveis, cometidos por quem teria a missão de fazer cumprir as regras do jogo. Foi assim nos Campeonatos de 1986, 1990, 1992, 1993, 1998, 2002, 2004, 2006, 2009 e 2011, para citar, de memória, aqueles em que os aspectos paralelos assumiram maior preponderância no balanço final.


A história repete-se

Nem é necessário irmos a tempos mais antigos. Ainda nos lembramos bem do que foi o início da temporada passada, e da sequência de jogos (curiosamente, Académica, Nacional e V. Guimarães) em que o Benfica foi espoliado dos pontos a que, mesmo sem jogar bem, tinha pleno direito. Depois foi a desmoralização e a descrença dos nossos, foi o empolgamento e a confiança do rival, e a época estava, num ápice, toda ela condicionada. E se dezoito vitórias consecutivas ainda ameaçaram a empreitada, rapidamente a coisa se compôs em Braga, com a expulsão caricata de Javi Garcia, e mais um resultado falseado. Não foi preciso fazerem mais nada.

Nesta época, as coisas até nem estavam a correr pelo por. No final de Janeiro, uma derrota do FC Porto em Barcelos deixou-nos com uma vantagem de cinco pontos na frente da tabela, e terá feito soar, em certas cabeças, as campainhas do alarme. O que se passou desde então para cá?

Logo após essa jornada, começou a pressão habitual sobre os árbitros, e sobre a opinião pública. Um 'escândalo', um 'atentado', um 'crime', e o 'diabo a sete', num jogo em que uma arbitragem infeliz prejudicou as duas equipas, com erros para ambos os lados. Mais do que os pontos perdidos, interessava-lhes criar, desde logo, um caldo onde cozer o clássico que se aproximava. E tal como nos anos anteriores, o FC Porto tinha de vir à Luz em vantagem pontual e psicológica, de modo a não correr riscos de montra.


Série negra

A sequência posterior é elucidativa. Logo na jornada seguinte, vimos Jorge Jesus assinalar, no nosso estádio, um penálti totalmente despropositado a favorecer o Nacional, que felizmente não teve consequências (a grande exibição do Benfica sobrepôs-se a elas), mas deixou o aviso daquilo que se seguiria. A altura, já preocupado, escrevi nestas páginas: 'daqui até final, nem todas as exibições do Benfica resistirão a erros tão absurdos como o penálti de sábado passado'. Não sou adivinho. Para o escrever, apenas precisei de andar de olhos abertos ao longo dos últimos trinta anos.

Infelizmente, estava carregado de razão. Em Guimarães, na ronda seguinte, Rodrigo foi pontapeado dentro da área vimaranense, mas Carlos Xistra ignorou o caso. A ser concretizada a respectiva grande penalidade, o Benfica poderia, pelo menos, ter mantido a invencibilidade, e, sobretudo, a moral em alta, mesmo não tendo jogado bem. Em Coimbra, mais dois penáltis por assinalar, um deles absolutamente claro e inequívoco sobre Pablo Aimar, que provavelmente nos teria permitido chegar à vitória. Duas exibições do Benfica menos conseguidas, que poderiam ainda assim ter valido 4 pontos, mas não resistiram a erros graves dos árbitros, lançando a nossa equipa nos mares da intranquilidade e da descrença. Metade do trabalho estava feito. O FC Porto voltava à liderança


O golpe final?

E eis que chegámos ao grande clássico da Luz, que poderia recolar as contas a nosso favor. Depois de um jogo disputado e equilibrado, com alguma infelicidade pelo meio (duas substituições por lesão), chegámos aos minutos finais com um empate que se ajustava ao desempenho das equipas, e deixava tudo na mesma. Desse mofo, ficava a faltar-lhe o golpe fatal, e a oportunidade surgiu quando, na sequência de um livre, um jogador do FC Porto em claro fora-de-jogo saltou com Artur, desviando a bola para dentro da nossa baliza. Impunha-se, naturalmente, que o golo fosse anulado. Mas, quem acompanhe o Futebol português sabe que isso jamais sucederia.

Da mesma forma que há três anos - quando Lisandro se atirou para o chão em lance com Yebda, e este mesmo árbitro entendeu assinalar grande penalidade, retirando na altura o Benfica da liderança -, o clássico, e o Campeonato, ficaram manchados pela ilicitude. Em quatro jornadas, percebeu-se porque o motivo é mais fácil, para qualquer treinador, ser campeão no FC Porto."


Luís Fialho, in O Benfica

Ordinary People

"A tradução vai a trouxe-mouxe, mas vulgar não chega. E assim sempre dá um ar cinematográfico com Robert Redford e tudo. Se um menino pequeno me estende a mão, eu dou-lhe a minha, feliz. É assim que se responde à ternura dos meninos. Se não responder ao seu gesto inocente e infantil, não sou vulgar, sou ordinário. Mas autorizo-vos a insultarem-me do pior. Escolham, no dicionário, os adjectivos que mais jeito vos derem: reles?, chulo?, desprezível?, pulha?, rasca?, vil?, escroque?, abjecto?, abominável? (este não que é ligeiramente simpático desde que meta neve), imundo?, infame?, miserável?, nojento?, patife?, salafrário?, repulsivo?, torpe?, velhaco?, Aceitemos, portanto, que qualquer destas definições casam na perfeição com qualquer sabujo que se recuse dar a mão a um menino que lha estende.

Agora, imaginemos que em vez de um são onze, os imundos. Não se trata de um grupo nem de um conjunto: é uma cáfila. Não deitem ainda fora o dicionário, pode vir a revelar-se muito útil. Quando alguém querido do meio morre, é habitual respeitar-se num espectáculo um minuto de silêncio em sua memória. Só que há gente que não tem respeito nenhum por coisa nenhuma. Gente ordinária, lá está. Se eu enlouquecer de repente e me apanharem a assobiar ou a soltar palavrões no decorrer de um minuto de silêncio, seja em alma de quem for, estão autorizados a considerar-me um ser inferior, um macaco, um cerdo, um tramposo, um marrancho, um lapuz e um esterco humano, todo junto. E eu nem reclamarei porque vocês têm toda a razão e cabe-me ir grunhir para uma cova sem fundo na qual caibam todos os cochinos do velho império, que são muitos.

Quando alguém abusa da pseudo-autoridade que um apito lhe confere para esculhar uns a torto e a direito e beneficiar outros como um capacho, sabendo que os uns serão sempre os mesmos uns e os outros sempre os mesmos outros, como poderemos classificar tamanho sevandija? De gente ordinária, claro está!"


Afonso de Melo, in O Benfica

O Madaleno vem à cidade

"O Madeleno está feliz. Volta e meia, o Madaleno está feliz porque vem à cidade. Parolo, semi-analfabeto, põe-se à estrada cantarolando musiquinhas ordinárias e recitando poemas que não sabe e nem sequer sabe que não sabe. A alegria do pacóvio estende-se à comitiva que o acompanha. Todos eles vão soltando umas porcarias avulsas à medida que a carroça tange pela velhinha Estrada Nacional 1, valentemente puxada por uma junta de vacas, uma de raça cachena e outra barrosã, animais tão servis e bem dotados de chavelhos como aqueloutros que se debruçam sobre o Madaleno, babando-lhe a fatiota grotesca, feita à medida para a cerimónia da viagem.

O Criado vem pendurado sobre uma das rodas, vomitando de quando em vez, por via do enjôo das curvas, as tripas enfarinhadas do almoço, enquanto repete para si próprio, como se rezasse o terço: «é um génio, é um génio, é um génio...» O Adiposo Sebento esforça o bestunto na invenção de mais boatos escabrosos. O Baladeiro de Tiques Afeminados, atira a melena para trás e ameaça trautear desafinadamente com a sua voz esganiçada. O Copiador de Livros Alheios grunhe o ódio que lhe atormenta mais o fígado e o baço do que as garrafas de uísque barato que costuma ingerir de golada. O Merceeiro Aldrabão vai de borco, encantado com a companhia do Madaleno que confunde erradamente com Deus, disponibilizando-se de dois em dois minutos para lhe engraxar os sapatos de pegamóide e gáspias brancas.

Parece um circo de aldeia com o palhaço na frente. O povo sai à rua para os ver passar, mas não se ri. Não suscitam alegria, provocam piedade. Vêm de véspera como os gaiteiros. Vão em charamela à bruxa da Rua da Primavera ver se todos juntos conseguem desvendar desgraças alheias. Porque, com o tempo, os homenzinhos de cócoras ficaram cada vez mais exigentes e não tarda muito já não haverá no País marafonas que chegue."


Afonso de Melo, O Benfica