quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Democracia versus Populismo

"A matriz democrática do Benfica acompanha-o desde o seu nascimento, resistiu à ditadura, e precedeu à liberdade trazida pelo 25 de Abril. É por isso algo que, enquanto benfiquistas, nos deve orgulhar, por muito que outros tentem reescrever a história à medida das suas conveniências.

Essa Democracia ficou expressa nos diversos actos eleitorais que escolheram líderes e trilharam o rumo do Clube, sempre de acordo com a vontade das maiorias, mesmo quando essas escolhas se revelaram erradas - como, por exemplo, em 1997, quando uma maioria circunstancial se deixou seduzir pela demagogia, à revelia dos que, corajosamente, mas sem sucesso, tentavam avisar para os perigos de tal escolha.

A vontade dos sócios é, pois, o alicerce em que o nosso Clube sempre estabeleceu, e continuará a ser ela a determinar o futuro, mesmo num contexto fortemente mercantilizado como o do Desporto actual.

Não podemos, porém, confundir as coisas. De um lado está a soberania dos sócios, que escolhem os dirigentes de forma democrática e livre. De outro está a legitimidade que, a partir daí, esses dirigentes têm para tomar decisões que lhes cabem, e sobre as quais irão ser responsabilizados a seu devido tempo.

Temos um bom exemplo, nos nossos vizinhos e rivais, de como um clube gerido de fora para dentro pode resultar numa manta de equívocos de inclinação suicida. Recordemos como fecharam a porta a um treinador chamado José Mourinho, e como, anos mais tarde, também deitaram fora o actual seleccionador nacional. Em ambas as situações, o poder da rua sobrepôs-se ao poder eleito, criando um caldo onde a gritaria epidérmica levou a melhor sobre a ponderação sensata. Obviamente, o grande prejudicado foi o clube.

Não é isso que queremos para o Benfica. Aqui decide quem foi eleito para o fazer, até porque mais ninguém tem o conhecimento integral dos dados relativos a cada decisão. Numa altura em que há assuntos importantes sobre a mesa, é também importante que não nos esquecemos dos exemplos aqui evocados."


Luís Fialho, in O Benfica

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