quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Vacas magras

"A tão badalada e enaltecida organização estrutural do FC Porto desta vez ficou em xeque: deixar para os últimos dias ou horas duas importantes operações de mercado (a contratação de um ponta-de-lança e a venda de Álvaro Pereira), ambas falhadas, foi uma amostra de que tem poucos fracos. Para já não falar da inesperada surpresa que foi a deserção de Villas-Boas. Refiro o caso Álvaro Pereira porque no mundo-cão do futebol não há lugar para caprichos ou pequenas vindictas. Uma oferta de 20 milhões de euros por um defesa lateral é sempre irrecusável e duvido que volte a surgir outra igual. Por outro lado, partir para a Liga dos Campeões com o inexperiente e inadaptado Kléber como única referência para o eixo do ataque é entregar de antemão o ouro ao bandido.

A Série A despede-se do mercado com um saldo desolador: 56 milhões de euros gastos. É esta a diferença líquida entre as receitas arrecadadas com vendas e as despesas feitas com compras, o que dá um média ponderada de 2,8 milhões por cada uma das 20 equipas! Longe vão os tempos áureos das décadas de 80 e 90 em que não se olhava a meios para recrutar as estrelas mais rutilantes. Quem mais investiu foi a Juventus (40 milhões) mas, em compensação, também houve quem somasse lucros de 57 milhões, como a Udinese da família Pozzo que está declaradamente no futevol com fins lucrativos e que é co-proprietária do Granada, da I Liga espanhola. Um dos grandes males do futebol italiano são os elevados salários. Vejam a sua trajectória alucinantes nos últimos 50-60 anos: Valentino Mazzola, capitão do Torino e da squadra azzurra, morto tragicamente com toda a equipa em 1948 num desastre aéreo em Superga, ganhava 8 contos/mês (5 vezes mais que um operário); hoje, Ibrahimovic, por exemplo, ganha 950 mil euros de vencimento-base (950 vezes mais do igual operário)!"


Manuel Martins de Sá, in A Bola

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