quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ricardo Gomes

"Ainda na esteira do que ontem escrevi, tenho presente um desportistas que atravessa uma grave situação de doença: Ricardo Gomes.

Enquanto jogador do Benfica foi um dos que mais me impressionaram pela sua completude. Atleta invulgar, de uma extrema lealdade, desportista sereno e culto, colega solidário, deixou para a história do clube a sua participação sempre eficaz e campeã em várias épocas. Foi, aliás, o primeiro capitão encarnado não português. Numa dupla incomparável com Mozer e a que se juntaria ainda um outro jogador de eleição, Valdo.

Na final europeia de 1990, em Viena, contra o Milan, recordo-me de ter falado com ele, imediatamente após o jogo que o Benfica havia perdido por um a zero. Li-lhe nos olhos e nas palavras, uma melancolia profunda e, ao mesmo tempo, apaziguadora do dever integralmente cumprido. Disse-lhe, então, que perdera aquela final, mas que ainda tinha o Mundial um mês depois para tentar vencer pelo Brasil, ao que me respondeu que essa «lei das compensações» não lhe esbatia a dor.

Nunca foi, como jogador ou agora como treinador, homem de polémicas inúteis, de jogos de bastidores, de desrespeito pelos adversários, de mediatismos bacocos. Simplesmente, uma pessoa profissionalmente plena e eticamente irrepreensível.

Actualmente técnico do Vasco da Gama e aos 46 anos de idade, Ricardo enfrenta um decisivo desafio contra a doença e a sempre frágil fronteira entre a vida e a morte.

Fica aqui, singelamente, a manifestação do desejo do seu regresso rápido à vida activa para continuar a singrar através da maior das vitórias desportivas: a da exemplaridade numa actividade, às vezes, tão desumanamente predatória."


Bagão Félix, in A Bola

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