terça-feira, 23 de dezembro de 2025

O mercado de inverno dos três maiores


"Não esperem grandes contratações no próximo mês, embora o FC Porto já tenha contratado um quarentão com 31 títulos no bolso. Mesmo com Bednarek, Kiwior e Prpic, Thiago Silva vem para somar...

A recauchutagem chega dentro de dias: mercado de janeiro. É a altura em que os clubes tentam remediar aquilo que consideram ter falhado desde setembro. É tema que os treinadores, sobretudo das principais equipas, não gostam de abordar em público. «Um ou dois jogadores-chave para limitações-chave. Não pedi jogadores a ninguém, nem ninguém me disse que ia dar jogadores», disse José Mourinho em outubro. «Não penso mesmo no mercado. Acho que o mercado de janeiro é muito enganoso. Os melhores não saem de lado nenhum», acrescentou.
ui Borges, pouco depois. «Queremos tornar a equipa mais equilibrada, mas estamos onde estamos com estes jogadores. Quem vier tem de vir com o desejo de ajudar e de meter o interesse do clube acima», garantiu Farioli. Rui Borges e Francesco Farioli, com maiores ou menores limitações, têm o plantel que ajudaram a construir em julho e agosto. José Mourinho, não. Tem o plantel arquitetado por Bruno Lage e já disse várias vezes, embora possa ser visto como contradição relativamente ao que disse antes dos jogos entre Benfica e Fenerbahçe, que existem lacunas a preencher. Para já, ainda sem Lukabakio, o Benfica precisa de dois extremos, um para a direita e outro para a esquerda. Talvez de um quarto central (se António Silva ou Tomás Araújo saírem). De um lateral-esquerdo, caso José Neto ainda precise de ganhar corpo e maturidade para jogar nos seniores com maior assiduidade. E ainda de um ponta de lança.
Francesco Farioli acaba de receber Thiago Silva: top-top-top, apesar dos 41 anos. E, sem Luuk de Jong e com Samu e Gul, deve precisar de mais um ponta de lança. Rui Borges ainda não tem Nuno Santos, Daniel Bragança e Debast; pode não ter Diomande e Catamo até 19 ou 20 de janeiro e Geovany Quenda e Pedro Gonçalves durante mais umas semanas. Um extremo, de imediato; um central seria muito bem-vindo e, caso Morita saia já em janeiro, um médio-centro.
São, porém, escassas as contratações de inverno que revolucionaram os plantéis dos três grandes. Futre chegou em fevereiro de 1993, quando o Benfica estava a quatro pontos do FC Porto e terminou, ainda assim, a dois. Grimaldo chegou em janeiro de 2016 e foi importante entre 2017 e 2023, mas não teve impacto imediato. O Sporting teve, em César Prates, André Cruz e Mbo Mpenza (2000), Matheus Reis e Paulinho (2021) e Rui Silva (2025), as únicas contratações de janeiro com impacto imediato. O FC Porto pode falar em Carlos Alberto (2004) e Galeno (2022). Nem o enorme Pepe (2019) trouxe benefícios de curto prazo ao FC Porto. Assim, meus caros, não esperem grandes coisas do mercado de janeiro. Embora o FC Porto, para já, tenha contratado um quarentão com 31 títulos no bolso. Mesmo com Bednarek, Kiwior e Prpic, Thiago Silva vem para somar. Se somará ou não, os dragões terão de aguardar."

A segunda vida de Grealish


"Qual é a primeira coisa em que pensamos quando ouvimos o nome de Jack Grealish? Imaginamos uma foto tremida, à porta de um bar, olhos semicerrados, discurso arrastado. Comportamentos que o foram afastando da equipa principal do Manchester City. Mas há algo a mudar.
Aos 30 anos, andou apenas 50 quilómetros mais para a esquerda no mapa de Inglaterra e reencontrou-se por empréstimo no Everton. Teve impacto imediato e foi eleito em agosto, pela primeira vez na carreira, o melhor jogador do mês da Premier League; vem sendo titular em quase todos os jogos.
Está na altura de sermos inundados pelos anúncios e iniciativas de Natal de empresas e clubes. O Everton sabe a gema que tem e colocou Grealish numa escola a surpreender um menino de 8 anos com uma história dura: perdeu o pai em bebé, recentemente uma avó e a mãe foi diagnosticada com cancro.
Jack levou o melhor sorriso e convidou o menino, Georgie, para ser mascote no jogo frente ao Arsenal. «Nem tens de entrar comigo, mas gostava muito», soltou-lhe perante uma sala cheia. «Somos melhores amigos, não vos disse?» Ao fazer Georgie feliz, fez também o avô, a mãe, e todos os que ficaram tocados pela ação. Não custa muito.
Contratado ao Aston Villa logo após o Euro 2020 (disputado no verão de 2021) Grealish chegou logo com rótulo: um investimento de cerca de 117 milhões de euros, recorde de transferências em Inglaterra. Uma etiqueta pesada, que custou a aguentar: 39 jogos e 6 golos, na primeira época, depois 50/5, depois 36/3, por fim 32/3, em ano de fim de linha com Guardiola, números misturados com aquelas tais fotos de garrafa na mão.
O extremo admitiu que o comportamento fora das quatro linhas não lhe trouxe benefícios. «As pessoas dizem: 'ele gosta de sair, gosta de festas', e é verdade. Quero poder divertir-me. Provavelmente não escolhi os momentos certos. No City, houve alturas em que não me ajudei, admito-o, mas também não creio que a culpa tenha sido toda essa», disse à Sky Sports.
Perdeu, entretanto, o comboio da seleção de Inglaterra, mas parece no Everton mais feliz do que nunca, confortável com o treinador David Moyes e unânime nas bancadas do estádio Hill Dickinson.
Já circula o meme ‘nunca te apaixones por um jogador emprestado’, mas talvez seja tarde de mais para os adeptos dos ‘toffees’."

Fórmula 1: o negócio mais rápido do mundo


"A Fórmula 1 entrou em 2025 como um dos produtos desportivos mais valiosos e globalizados do planeta. Aquilo que durante décadas foi visto apenas como competição automóvel é agora um ecossistema comercial sofisticado, onde media, tecnologia, marcas de luxo e entretenimento se cruzam numa plataforma global com impacto económico crescente.
De acordo com o relatório Business of Formula One 2025, a competição deverá gerar 677 milhões de dólares em patrocínios. A nível das equipas, o valor é ainda mais impressionante: os títulos de naming sponsorship dos dez construtores totalizam 433,42 milhões de dólares esta época, e esta é apenas a parte superficial de um negócio cuja expansão comercial parece não conhecer limites.
A transformação acelerou depois da entrada da Liberty Media em 2017. Desde então, a Fórmula 1 tornou-se um fenómeno de cultura global. Em 2024, as equipas geraram 2,04 mil milhões de dólares em patrocínios, um crescimento que colocou a F1 ao nível da NFL e acima da maioria das grandes ligas mundiais em valor médio por contrato. Para 2025, estimativas independentes projetam que o total combinado do campeonato e equipas ultrapasse os 2,9 mil milhões de dólares em patrocínios, um recorde histórico para a modalidade.
Por detrás destes números está uma estratégia clara: transformar a Fórmula 1 numa plataforma cultural e tecnológica. O crescimento explosivo nos EUA é o melhor exemplo disso. Em 2025, o calendário inclui três Grandes Prémios em território norte-americano, consolidando uma aposta que começou com “Drive to Survive” e que levou a F1 a competir diretamente com a NBA e a NFL pelo “prime time” do entretenimento global.
O poder das marcas também revela a direção estratégica. Sectores como tecnologia, luxo, energias verdes e serviços financeiros tornaram-se protagonistas. LVMH, Lenovo, Aramco, Santander, Oracle ou AWS não procuram apenas visibilidade: procuram aliar-se a um desporto que simboliza inovação, performance e engenho humano. Isto explica por que razão os pontos de maior visibilidade – sidepods, airbox e asa traseira – atingem valores entre 5,3 e 7,5 milhões de dólares por época, ultrapassando largamente os equivalentes das ligas norte-americanas.
A vertente mediática também está em expansão. A F1 continua dominada pelo modelo de pay-TV, liderado por Sky Sports e ESPN, mas a audiência global continua a crescer graças às redes sociais, onde equipas e pilotos acumulam centenas de milhões de seguidores. Segundo os relatórios de 2025, os indicadores digitais de pilotos como Hamilton, Verstappen e Leclerc ultrapassam as métricas combinadas de várias ligas desportivas europeias, reforçando o estatuto da F1 enquanto produto de geração digital.
Mas talvez o indicador mais relevante seja outro: a F1 deixou de ser apenas desporto. Tornou-se plataforma cultural global, onde música, moda, lifestyle, gaming e tecnologia convivem com velocidade e engenharia. O paddock é hoje espaço de ativação multimédia, onde marcas apresentam coleções, celebridades fazem conferências e tecnológicas testam soluções de IA, sustentabilidade e novos formatos de broadcasting.
A Fórmula 1 continua a acelerar – mas agora acelera receitas, audiências, tecnologia e cultura. É, provavelmente, o melhor exemplo de como um desporto pode reinventar-se e transformar-se num dos negócios mais valiosos do mundo. É tudo isto que vamos ter o prazer de voltar a receber em Portugal."