terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Sentado no sofá a ver filmes de Natal? Não, a ver jogos da CAN


"Houve tempos da minha existência em que, a cada ano par, o interminável mês de janeiro significava uma e apenas uma coisa: chegar a casa da escola, atirar a mochila e o casacão para uma qualquer cadeira, fazer o lanche, ligar a televisão e ver jogos da Taça das Nações Africanas.
A CAN era o antídoto para o futebol moderno. Não dava num canal xpto. Havia cor nas bancadas, nos equipamentos. E improviso e caos em campo, onde a codificação por vezes tão chata do futebol europeu ainda não tinha licença para entrar. A fantasia ganhava à tática, um esburacado relvado não impedia a feérica alegria de quem ainda mantinha uma certa pureza no jeito. De certa maneira, era o romantismo de que todos necessitávamos para encarar mais um ano.
Hoje, o entusiasmo do desconhecido, de descobrir este ou aquele jogador, aquele avançado que era uma estrela em África, mas um anónimo em outras latitudes, continua a existir, mas desvaneceu-se. A imensa evolução do futebol africano terminou com algum lirismo, é certo, mas não nos podemos esquecer que o desporto é uma indústria movida a vitórias e não tem de andar a fazer as vontades aos nossos sonhos mais sentimentais.
Marrocos, país anfitrião da edição 2025/26, que já arrancou, foi uma das melhores equipas do último Mundial. No Catar, o Senegal foi uma das seleções que mais encantou. Derivando da tradição, fizeram-no com treinadores locais. Alguns dos melhores futebolistas da última década são africanos, de Mohamed Salah a Sadio Mané, de Victor Osimhen a Achraf Hakimi. Há países a investir fortemente no futebol - à cabeça, Marrocos, que será um dos organizadores do Mundial 2030. A diáspora assegura formação académica de qualidade a boa parte das seleções. Ainda bem que assim é.
Mas é também por isso que esta edição da CAN será, muito provavelmente, decidida entre gigantes, ficando o tal apelo do desconhecido confinado a algumas, já poucas, seleções com menor tradição. Sudão, Ilhas Comores, Botsuana, Tanzânia, pouco mais. Não haverá lugar a grandes surpresas. Os jogos terão qualidade, técnica e tática. Talvez não haja tantas histórias curiosas, tanto nascimento de figuras míticas como em outras CANs, ainda que esta até tenha começado com um golo de pontapé de bicicleta no jogo inaugural.
Ficam, para sempre, as memórias de um tempo em que não era necessário pagar um serviço premium para ver a CAN. De quando o Egito era aquela equipa que vencia sempre a competição e depois, irremediavelmente, falhava a ida ao Mundial (saudades Hossam Hassan, El Hadary, Aboutrika); das camisolas sem mangas dos Camarões em 2002, tristemente proibidas pela FIFA para o Mundial; de Kapango, o corpulento, digamos assim, guarda-redes do Moçambique em 2010, dado a movimentos mais acrobáticos e potencialmente perigosos; de Robert Kidiaba e sua dança da galinha ou daquele jogo de abertura em 2010, em Luanda, quando Angola, a ganhar por 4-0, se deixou empatar em 20 minutos frente ao Mali. Dos comentários de Olivier Bonamici. Da vitória da Costa do Marfim em 2023, depois de ter despedido o selecionador a meio da prova. Ou do surpreendente e emocional triunfo da Zâmbia, dos irmãos Katongo, em 2012, num estádio em Libreville, no Gabão, a poucos quilómetros de onde boa parte da seleção do país havia morrido em 1993, num trágico acidente de aviação.
Este ano, a competição traz a particularidade de se jogar em dois anos: arrancou em 2025 e só vai terminar em 2026. O que significa que, no Dia de Consoada, por exemplo, haverá nada mais, nada menos do que quatro jogos para animar as festividades. Quer uma desculpa para não ir comprar aquele último presente? Há um Burquina Fasso-Guiné Equatorial às 12h30. Sem vontade de se deslocar até ao supermercado para comprar as couves que ficaram esquecidas? Siga o Argélia-Sudão às 15h. Um argumento para não conseguir ajudar a meter o bacalhau e as batatas ao lume? O Costa do Marfim-Moçambique das 17h30. Sem paciência para ouvir aquele familiar chato no jantar de Natal, que não se cansa de dizer que antigamente havia mais respeito? Fuja para ver o Camarões-Gabão, às 20h.
A Taça das Nações Africanas está aí para nos dar conforto nesta época de picos emocionais. É possível que, pelo caminho, se tenha rendido ao futebol moderno, mas ainda assim não a desaproveitemos.

O que se passou
Confirmou-se a então inusitada promessa de Luís Montenegro no verão e a Fórmula 1 vai mesmo regressar a Portimão em 2027 e 2028. Com promessas de retorno económico.
Na Taça de Portugal, Benfica, Sporting e FC Porto seguiram em frente. Uns com mais e outros com menos polémica.
Ainda por cá, uma surpresa de Natal: aos 41 anos, Thiago Silva é reforço do FC Porto.
Ousmane Dembélé juntou o prémio The Best, da FIFA, à Bola d’Ouro, coroando um grande ano com o Paris Saint-Germain.
O Benfica conquistou a Supertaça de basquetebol, ao bater o FC Porto, em Coimbra. Fernando Gomes, antigo presidente da FPF, liderou a entidade entre 2011 e 2025"

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