quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

O futebol da televisão


"Já em textos prévios fiz referência às dificuldades que a Liga Portugal tem manifestado no agendamento de jogos das suas competições. Acrescentei a isso o facto de o SC Braga ter realizado sete dos seus primeiros 11 jogos do campeonato no horário das 20h30 de domingo.
Eis que na 12.ª jornada o clube foi presenteado com o agendamento de um jogo em Arouca a uma segunda-feira, feriado nacional (1 de dezembro), às 20h15, sem que existisse qualquer outro jogo da principal divisão agendado para o mesmo dia. Em cima da mesa estava, portanto, uma viagem de mais de 100 km, debaixo de um clima desfavorável, para aqueles bravos adeptos braguistas que quisessem manifestar apoio à sua equipa, que tanto tem feito por merecê-lo.
Depois de concluída a viagem, e sem pretender desvalorizar as condições do estádio do Arouca, seguiam-se 90 minutos numa bancada descoberta, sujeitando os presentes a quaisquer que fossem as condições meteorológicas. A chuva e o frio não deram tréguas e terminado o jogo era hora de regressar a casa, com mais uma centena de quilómetros em perspetiva e uma chegada a casa já noite dentro, em véspera de dia de trabalho.
O cenário descrito é facilmente compreendido como desagradável e pouco convidativo, sendo, entre outros, um motivo importante e justificador dos 29% de ocupação do estádio. Uma visita tipicamente simpática ao concelho de Arouca, em dia de feriado, transformada numa viagem dantesca para aqueles que se dispõem a sofrer pelo clube do coração, cumprindo-se o objetivo de satisfazer os interesses do canal televisivo responsável pela transmissão, em coadunação com a Liga Portugal.
De fora desta equação ficam, mais uma vez, os interesses daqueles que preenchem as bancadas e que, em última análise, deveriam ser o principal beneficiado destas decisões. Que se salve o futebol no estádio e quem dele faz parte, porque o futebol da televisão não tem futuro nem emoção.
No relvado, e porque também isso deve ser alvo de análise, o SC Braga venceu o Arouca confortavelmente, beneficiando para isso de uma primeira parte, no mínimo, caricata. Uma expulsão com dois amarelos praticamente consecutivos e displicentes, uma grande penalidade da qual resultou, oficialmente, um autogolo do guarda-redes, e um segundo autogolo ao terminar a primeira parte. Seguiu-se uma segunda parte de gestão, na qual se ampliou a vantagem.
Seria difícil imaginar um cenário melhor, que permitiu regressar às vitórias fora de casa no campeonato, algo que já não era conseguido desde a longínqua segunda jornada, em Alverca.
Dias mais tarde, o SC Braga visitou Famalicão com o objetivo de conquistar três pontos e ultrapassar esse adversário na tabela. Perspetivavam-se dificuldades, conforme tem sido habitual neste confronto, apoiadas na atual classificação pontual. Eis que a turma de Carlos Vicens voltou a exibir-se em alto nível, mostrando sobriedade, consolidação de um processo coletivo assinalável e muita capacidade de ter bola e de saber o que fazer com ela. Uma vitória tangencial, que peca por escassa, viu o clube atingir o quinto lugar.
Os sinais recentes são sobejamente positivos e animadores para o médio e longo prazo, já com impacto na classificação, onde se tem restabelecido alguma normalidade. Segue-se na quinta-feira novo confronto europeu, em Nice, frente a um adversário que atravessa um período conturbado e agitado, inclusive na relação entre adeptos e equipa.
Com 10 pontos amealhados, o cenário de eliminação na fase de liga parece afastado, mas florescem expectativas de qualificação direta, pelo que este jogo em França, contra um rival que tem zero pontos e que está arredado da competição, acresce de importância. Que a estabilidade recente continue a evidenciar-se ao longo deste complicado e longo mês de dezembro."

Diogo Costa, in A Bola

Quotas para jogadores formados em Portugal? Sim, por favor


"Na sexta-feira passada, os miúdos acordaram a falar do jogo. Na véspera, ao serão, tinham estado a pintar cartazes de apoio ao Sporting e a ver vídeos com os golos de dérbis antigos. Para ajudar a criar o espírito certo, conversei com eles sobre o mítico 7-1, falei-lhes dos cinco violinos, de Manuel Fernandes, de Iordanov e até de László Boloni ('je suis tres content parce que'). Quando chegou a hora de irem para a cama, o João pediu que cada um de nós fizesse uma previsão do resultado. A deles, cheia de fé, atirou bastante ao lado. A minha, mais racional, revelou-se certeira.
Mas voltando ao dia do jogo, vocês nem imaginam a excitação com que os miúdos andaram todo o dia. E como estas coisas acabam por ser contagiosas, até eu dei por mim num frenesim, a despachar o banho da bebé mais cedo do que o habitual, para conseguir estar no sofá sem mais preocupações uns minutos antes do apito inicial.
E depois sabem o que aconteceu? Dei por mim a pensar que, de facto, a expectativa é a mãe de todas as desilusões. Porque Deus nos ajude se o jogo não foi do mais pobrezinho que me lembro de ver entre as duas equipas. «Ah, mas pelo menos houve dois golos», dirão alguns. E sim, houve, de facto. Acontece que mesmo os golos foram um espelho do que se passava em campo e, portanto, ambos umas autênticas misérias. E às páginas tantas, com o entusiasmo quase morto — e só não digo totalmente porque, nestas coisas, há sempre uma esperança que nos faz resistir —, acabei por me ir focando noutros aspectos do encontro como, por exemplo, o número de jogadores portugueses em campo.
Do lado dos da casa, no onze inicial, apenas António Silva. Entraria depois em campo, já ao cair do pano, Manu Silva. E isto, note-se porque será relevante mais à frente nesta crónica, na equipa que tem nove jogadores na Seleção Nacional de sub-17 que ainda agora se sagrou campeã do Mundo. Do lado do Sporting, as contas foram melhores: com Rui Silva, Gonçalo Inácio, Francisco Trincão e Pedro Gonçalves no onze inicial, entraram ainda em jogo João Simões e Giovanni Quenda, o que perfaz um total de seis jogadores portugueses utilizados.
E ao ver estes números e os de outros jogos que, entretanto, fui analisar, confesso ter alguma dificuldade em perceber porque é que não começamos definitivamente a adoptar estratégias que protejam os jogadores portugueses e o investimento na formação.
Reparem, a criação de uma quota mínima de jogadores portugueses ou formados em Portugal seria altamente positiva, em distintas áreas, para os clubes, para os jogadores e para a Federação. Para os clubes porque, apostando mais em jogadores formados localmente, as despesas com contratações tenderiam necessariamente a diminuir. Além disso, e olhando já pelo prisma dos jogadores, com mais visibilidade e tempo de jogo estes acabariam por ter também mais oportunidades para se valorizarem e, assim, chegarem ao mais alto nível — o que, porque tudo está interligado, aumentaria também os rendimentos dos clubes portugueses em transferências futuras.
Já para a Federação, esta medida seria vantajosa porque criaria uma base de recrutamento mais sólida e alargada para as seleções: mais jogadores portugueses a jogarem de forma regular seriam sinónimo de aumento da quantidade de opções para os selecionadores (e talvez até da qualidade porque, criando-se um ambiente mais competitivo do ponto de vista interno, certamente elevar-se-ia também o nível técnico e tático dos atletas).
Um bom modelo que podíamos replicar para a nossa realidade é aquele que já acontece em Inglaterra e que determina que todas as equipas da Premier League têm de ter uma quota mínima de oito homegrown players por cada vinte e cinco jogadores. E o que são estes homegrown players? São nada mais nada menos do que jogadores formados num clube de Inglaterra ou do País de Gales, por um período mínimo de três anos, no período compreendido entre os quinze e os vinte e um anos de vida. E não, esta medida não é discriminatória — até porque os homegrown players são definidos por formação e não por nacionalidade —, é, antes, uma medida altamente protetora da formação e um garante de que os clubes não deixam de investir em jovens com potencial e talento.
Em Portugal, sabemos bem, demasiadas vezes os clubes optam por comprar jogadores formados noutros países, que já cá chegam feitos, em detrimento de apostarem nos talentos da sua formação. E isto é uma pena e faz com que, em demasiados casos, nunca cheguemos a conhecer completamente o potencial de alguns jogadores: os clubes acabam por desistir deles porque é mais fácil ir buscar lá fora alguém já pronto para o lugar.
Permitam-me, contudo, lembrar que esta estratégia dos clubes não é propriamente isenta de custos. Creio que não existirão esses dados listados para consulta, mas gostava mesmo de saber quanto é que os clubes portugueses já gastaram em jogadores estrangeiros que depois se revelaram um flop, tendo alguns com mais qualidade e potencial na sua formação. Eu, só assim de cabeça, consigo dar um exemplo paradigmático de contratação milionária falhada, com melhores opções dentro de casa, para cada um dos três grandes: David Carmo, por quem o FC Porto pagou €20 milhões, Raúl de Tomás, por quem o Benfica pagou €20,8 milhões, e Pongolle, por quem o Sporting pagou €6,5.
Mas voltando agora ao caso que abordei no início da crónica, pego novamente no exemplo da Seleção de sub-17 para dizer que quero ver quantos daqueles nove miúdos da formação do Benfica vão chegar à equipa A do clube nos próximos anos e contribuir para lhe dar campeonatos. Porque, e já uma vez escrevi isto neste jornal, de nada interessa gabarmo-nos de ter a melhor formação do mundo se, depois, os talentos que formamos ou são tão desaproveitados que caem no esquecimento ou vão enriquecer clubes estrangeiros antes de contribuírem efetivamente para conquistas reais no sítio onde foram formados.
Antes de terminar esta crónica, deixem-me fazer uma ressalva: defender uma quota mínima de jogadores portugueses ou formados em Portugal não está em nada relacionado com sentimentos de desvalorização de atletas estrangeiros. O futebol português, felizmente, sempre teve e continuará a ter espaço para a diversidade. Mas aqui, na questão da quota que defendo, o que está em causa é a necessidade de garantir condições justas para que o talento nacional, formado nos nossos clubes e academias, possa ter uma verdadeira oportunidade de crescer e competir. Promover o jogador português não é excluir ninguém. É simplesmente fortalecer o futuro.

No pódio
A Seleção Nacional feminina de futsal sagrou-se vice-campeã mundial, após derrota por três-zero com o Brasil, na primeira edição do FIFA Futsal Women's World Cup. Com uma estreia a golear por 10-0 e um pleno de vitórias na fase de grupos, foi notória a ambição das jogadoras portuguesas desde o primeiro minuto. No caminho até à final, a Seleção derrotou ainda a Itália e a Argentina, tendo realizado um percurso absolutamente brilhante e que nos enche a todos de orgulho. Parabéns, miúdas!

Na bancada
Elie Katoa, jogador de rugby, foi o centro das atenções quando, a 2 de Novembro, durante as Pacific Championships, após três golpes na cabeça, começou a convulsivar no banco. Tendo sido transferido para o hospital, foi-lhe diagnosticada uma hemorragia cerebral que o impedirá de voltar a jogar durante, pelo menos, todo o ano de 2026. Na bancada não sento, obviamente, o jogador, mas os médicos da equipa, que, soube-se esta semana, foram negligentes logo após o primeiro golpe e não seguiram os protocolos definidos para lesões de cabeça/concussões. Serão agora, e muito bem, suspensos pela National Rugby League durante dois anos."

Entre o relvado e as filmagens: tudo se vê, nem tudo é crime


"Na UEFA Europa League o Estugarda defrontou os Go Ahead Eagles. Um jogo em modo morno que apimentou quando, durante uma confusão entre os jogadores das duas equipas, Edvardsen gozou com o nariz de Angelo Stiller. Alguns dos caros leitores leram sobre o caso, outros procurarão na internet o episódio e o dito nariz, igual a tantos outros, e diferente de outros tantos.
Depois do jogo Wesley Sneijder, antigo internacional neerlandês, deixou duras críticas ao jogador do Estugarda, acusando-o mesmo de bullying. Mas será?
Nos relvados de futebol passam-se muitas coisas que não são visíveis ou audíveis. É uma competição e vale muita coisa, dentro das regras, para desconcentrar ou desmoralizar o adversário. Gozar com o nariz de um jogador, insultar ou mesmo intimidar fisicamente acontece. Não é bonito, mas é a realidade.
Agora, caro leitor, tem a lei desportiva portuguesa, e a penal, resposta para o suposto bullying? Não. Pensemos: com os telemóveis a filmarem tudo, há cada vez mais comportamentos dentro do jogo que são conhecidos. E analisados à lupa. É uma VAR não oficial do comportamento dos jogadores, que permite juízos de valor, críticas e julgamentos populares!
O que não podemos descurar é que julgar a sério custa caro e não faz sentido as autoridades, mesmo as desportivas, intervirem num caso como este. As ações ficam com quem as pratica. E sim, gozar com características físicas dos outros é feio, muito feio. Mas é só isso, feio.
Em Portugal, bullying não é crime por si. E não precisa de ser. Para isso já existem crimes como injúrias ou ofensas corporais. Repito as vezes que forem precisas: os tribunais não podem ser usados para bagatelas. Edvardsen devia pedir desculpa. Ele próprio disse que o faria se encontrasse Angelo Stiller. Mas a má criação não é crime, apesar de poder ser infração disciplinar. Mesmo assim, neste caso, não creio que se justifique a intervenção das autoridades desportivas.

As dores nas costas mais caras da Turquia
Rafa, antigo jogador do Benfica, tem dores nas costas e não pode jogar e treinar com os colegas do Besiktas. O jogador quer, aparentemente, sair do clube turco, mas o clube comunica que após vários exames não foi revelada qualquer patologia que explique essas dores.
O antigo internacional português reafirma que as dores são reais, ou seja, um imbróglio. Em Portugal — desconheço as leis desportivas na Turquia — o jogador tem o dever de «prestar a atividade desportiva para que foi contratado (…)», com «aplicação e diligência».
Agora, analisemos de novo: com dores? Como já vimos com o dito caso Gyokeres, os jogadores podem alegar tudo o que quiserem para não comparecer ao trabalho para o qual são muito bem pagos. Em Portugal, como em todo o mundo, os clubes acabam normalmente por tentar encontrar uma solução. Vamos ver o que acontece desta vez porque, como diz o povo, quem tem as dores é que as sente.
O Direito ao Golo desta semana — escrevo antes do dérbi —, vai para o Vitória de Guimarães. Fez justiça ao cognome conquistadores, vencendo um dragão, que tem estado em grande forma, por 3-1, na casa deste. E para Abel Ferreira, no Brasil. Este ano não ganhou, mas em cinco anos venceu 10 grandes títulos."

Portugal nos Jogos Olímpicos de Inverno: o futuro já começou


"A aproximação aos Jogos Olímpicos de Inverno de Milão Cortina-2026 marca um momento decisivo para os desportos de inverno nacionais. Portugal tem já três vagas garantidas (duas no esqui alpino e uma no esqui de fundo), mas continua a lutar pela qualificação na patinagem de velocidade no gelo e no bobsleigh para tentar voltar a estar presente nos Jogos Olímpicos de Inverno nestas modalidades, depois de Calgary-1988 (bobsleigh) e Nagano-1998 (patinagem de velocidade no gelo).
O caminho está também a ser feito no desporto adaptado, onde pela primeira vez Portugal tem hipóteses reais de qualificar um atleta de snowboard para os Jogos Paralímpicos de Inverno.
É o culminar de vários anos de trabalho baseados numa estratégia estruturada e ambiciosa, para transformar modalidades tradicionalmente um pouco mais afastadas da nossa realidade climática e desportiva, em modalidades com representação internacional consistente.
Desde a participação de Duarte Espírito Santo em Oslo-1952 e ao longo de décadas, a presença portuguesa nos Jogos de Inverno foi discreta, mas a partir de Sochi-2014 começou a ganhar novo impulso. Esta mudança não é casual, é fruto de um plano federativo que apostou na deteção de talentos, na criação de condições de treino e na capacitação técnica de atletas que, até há poucos anos, não encontrariam em Portugal estrutura para evoluir.
O exemplo mais atual e transformador é o futuro pavilhão de desportos de inverno, previsto para o Seixal, já com terreno cedido pelo município e com abertura estimada para os próximos anos. Esta infraestrutura, inédita em território nacional, será sem dúvida um ponto de viragem das modalidades de gelo em Portugal, permitindo treinos regulares, captação de atletas e a criação de um ecossistema desportivo próprio, libertando os atletas e treinadores nacionais da dependência permanente de estágios no estrangeiro. Será também um sinal interno de ambição: Portugal quer deixar de ser visitante e passar a ser residente no mapa competitivo dos desportos de inverno internacionais.
Os últimos anos foram marcados por um crescimento consistente. Há hoje mais atletas, mais clubes e mais modalidades. Esta dinâmica surge da vontade de construção de um futuro sustentável para os desportos de inverno em Portugal. Um futuro onde cabem também a inclusão e o impacto social, materializados em projetos como o PAIS – Participar, Aprender, Integrar e Socializar, o Ski4All, o Ice4All, O Learn to Play Hóquei no Gelo ou o Curling@Schools. Iniciativas que mostram como o desporto pode ser um catalisador de desenvolvimento humano e de integração social.
A mesma ambição revela-se também na vontade de ampliar horizontes e criar novas oportunidades competitivas para os nossos atletas, como por exemplo na organização de uma liga ibérica de hóquei no gelo, em colaboração com a nossa congénere espanhola.
É assim que FDI-Portugal tem demonstrado que tem visão estratégica no panorama desportivo português numa estrita relação com o IPDJ, com o Comité Paralímpico e com o Comité Olímpico de Portugal, cujo apoio ao desenvolvimento das modalidades de inverno tem sido fundamental e constante, bem como em articulação com as federações internacionais, no reforço na formação técnica e aposta em atletas das camadas de formação da federação e de atletas lusodescendentes, residentes em comunidades onde os desportos de inverno são desporto nacional. E aqui não se trata de importar talento, mas de acelerar uma cultura desportiva que precisa de exemplos e referências para crescer.
É evidente que o caminho ainda é longo. As condições naturais do país não mudaram, e a massa competitiva interna ainda não é a ideal. Mas o desporto nacional tem vivido tantas décadas a ouvir falar do que falta, que vale a pena sublinhar o que já existe: visão, trabalho e resultados desportivos que começam a aparecer, como o título mundial obtido por Jéssica Rodrigues no Campeonato do Mundo júnior de patinagem de velocidade no gelo, em fevereiro de 2025.
Os desportos de inverno em Portugal deixaram apenas de ser desportos que os portugueses praticam nas férias ou gostam de ver na televisão, para se tornarem projetos concretos, com equipas técnicas, planeamento e atletas que se qualificam para as mais importantes competições mundiais de inverno.
O entusiasmo é reforçado pelo Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo, apresentado pelo Governo no passado dia 20 de novembro e pensado para um horizonte temporal de 12 anos. Pela primeira vez, Portugal olha para este setor não como exceção, mas como um investimento estratégico.
Milão Cortina-2026 será, assim, mais do que um evento desportivo: será um espelho do que Portugal está a tentar construir. Independentemente do número final de atletas apurados ou das classificações obtidas, o país chega a estes Jogos com algo muito mais valioso, uma estratégia bem defendida, uma Federação e um Comité Olímpico mobilizados e uma comunidade que começa a acreditar.
Depois de Milão Cortina, o foco vira-se para os Alpes Franceses-2030, já com jovens atletas de várias modalidades a preparar esse caminho.
E quando um país se permite sonhar com o que antes parecia improvável, a vitória começa muito antes do início dos Jogos."

A obrigação de ganhar


"1. O árbitro nomeado para o dérbi é o mesmo árbitro que, na temporada passada, se celebrizou descortinando aquele penálti-cometido-com-a cabeça por Otamendi deitado no chão na parte final do jogo Benfica-Arouca no nosso estádio. É de acreditar que muitos benfiquistas se arrepiaram quando a meio da semana ouviram ou leram que o dito árbitro viria uma vez mais a nossa casa, desta vez para apitar o dérbi.

2. Não se arrepiem, não vale a pena arrepiarem-se com tanta antecedência.

3. Confiemos na nossa equipa, e nos nossos técnicos, e nos nossos tratadores da relva, e nos nossos técnicos de equipamentos, e nos nossos apanha-bolas, e, com tanta confiança dispensada a tanta gente, tudo concorrerá para que a noite do dérbi seja uma noite feliz. Eu, aviso já, confio numa noite inspirada e inspiradora. E aposto que, desta vez, não vai haver penáltis-cometidos-com-a-cabeça por um jogador nosso que esteja estatelado no chão. Se perder a aposta, olhem, nem sei o que vos diga…

4. Antes de chegar ao dérbi, teve o Benfica de passar pela ilha da Madeira, de onde saiu moralizado por uma vitória obtida em circunstâncias altamente dramáticas. Nada que se compare a grandes penalidades-cometidas-pela-cabeça nem outras originalidades competitivas, tratou-se apenas de futebol. E foi lindo. Que a reviravolta no marcador da Choupana nos minutos finais do jogo com o Nacional, que todo aquele frenesim emocional, que todos aqueles abraços trocados entre jogadores, técnicos e adeptos em delírio perdurem no espírito de uma equipa que sabe que o resultado só pode ser um, a vitória das nossas cores. Por quantos, é o que menos interessa.

5. Voltado à nomeação para o dérbi do árbitro do penálti-cometido-com-a-cabeça por um jogador estatelado no chão, é caso para uma pessoa se interrogar. Será que o Conselho de Arbitragem está a gozar connosco? E será que esta interrogação produzida em voz alta por milhões de benfiquistas pode acarretar sanções disciplinares ao cidadão comum sem responsabilidades, mas com as quotas em dia? Com esta gente nunca se sabe.

6. Portugal é campeão do mundo de sub-17 com o auxílio de uma “armada” de 9 jovens jogadores do Benfica. É assim que se faz o caminho.

7. Na próxima quarta-feira, volta o Benfica à Liga dos Campeões. O adversário é o Nápoles, e o jogo é em nossa casa. Vencendo o Nápoles, estamos autorizados a sonhar até janeiro. Vencendo o Nápoles, pomos cobro a uma série inadmissível de maus resultados em casa para a Liga dos Campeões.

8. Vencendo o Nápoles, no fundo, não fazemos mais do que a nossa obrigação, que é a obrigação de ganhar, não fosse isto o Benfica."

Leonor Pinhão, in O Benfica

Treinador de avental


"O COZINHEIRO DO HOTEL EM QUE O BENFICA ESTAVA INSTALADO QUIS ESTAR ASSOCIADO AO PRIMEIRO TRIUNFO EUROPEU DO CLUBE

No futebol, há sempre dois treinadores principais no relvado, mas nas bancadas e em frente à televisão somam-se milhares de técnicos que juram conhecer a estratégia perfeita. Muitos nunca treinaram uma equipa, talvez nem tenham jogado futebol, mas isso não os impede de comentar, opinar e criticar. E quanto mais decisivo for o jogo, maior é o coro de palpites, porque todos procuram um lugar na história, mesmo que seja só para dizer que lá estiveram.
Em maio de 1961, o Benfica preparava-se para aquele que seria um dos momentos mais marcantes da sua existência: a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, apenas na sua segunda presença numa competição que começara em 1955/56. Depois da eliminação precoce de 1957/58, os encarnados chegavam à decisão do título.
Com a partida a ser disputada na Suíça e por forma a prepará-la da melhor forma, a comitiva benfiquista viajou uma semana antes, instalando-se no Hotel Eden, em Spiez. Nessa instância foram recebidos com uma enorme bandeira portuguesa. A hospitalidade foi uma constante ao longo dos dias, até que algo inesperado aconteceu.
Horas antes de disputar a sua primeira final europeia, enquanto Béla Guttmann observava os seus jogadores, aproximou-se o chef da unidade hoteleira. Trazia um papel e, com a discrição de quem entrega um segredo, explicou que “como já tinha visto, pela televisão, jogar o Barcelona mais do que uma vez, pretendia, por questão de simpatia, indicar ao técnico dos portugueses a táctica que devia empregar”.
Não se sabe ao certo se Guttmann levou a sério aquelas considerações. O que é certo é que, nesse dia, o Benfica contrariou os prognósticos de grande parte da Europa que atribuía o título aos catalães e escreveu o seu nome na história. Os blaugrana, favoritos, entraram de forma fulgurante no encontro e marcaram primeiro, no entanto, os benfiquistas reagiram ainda antes do intervalo e deram a volta ao marcador. Na segunda parte, aumentaram a vantagem para 3-1. O Barcelona reduziu, mas o apito final confirmou a surpresa: o Benfica era campeão europeu.
Saiba mais sobre esta brilhante conquista na área 12 – Honrar o País, no Museu Benfica – Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

O Benfica fica!


"Por onde passamos e levamos a solidariedade benfiquista, não o fazemos por circunstância, muito menos por objetivos de comunicação ou ativações de marca, como agora é usual um pouco por todo o lado. Fazemo- -lo porque o Benfica e os benfiquistas querem estar em toda a parte, nas coisas boas e, se necessário for, também nos momentos piores, quando um abraço amigo e sobretudo uma ajuda solidária podem fazer toda a diferença. Dizia o velho capitão Mário Wilson que “só nós sentimos assim”. Esta frase emblemática da mística benfiquista é por si só uma fantástica síntese do que é a Fundação Benfica, do que faz, e do que motivou o Sport Lisboa e Benfica à sua criação.
Por isso, quando, em 2017, Portugal, e sobretudo a região centro, ardeu a uma escala bíblica, acordando o país para as suas fragilidades e para a dura realidade do aquecimento global, fomos para o terreno ajudar, e, desde então, continuamos a apoiar ativamente a maternidade de árvores autóctones da Lousã, criada e mantida no alto da serra pela Lousitânea, numa aldeia isolada, mas na primeira linha do repovoamento da montanha. Esta associação cria 10 000 árvores por ano desde 2018 com o apoio da Fundação Benfica e promove a reflorestação da região com espécies adequadas envolvendo crianças e comunidades escolares em ações de plantio, de prevenção e educação ambiental. É um trabalho profundo e continuado que se desenvolve ao longo de todo o ano, discretamente, longe dos holofotes mediáticos, mas perto do coração dos portugueses, que sabem e reconhecem que o Benfica não chega e vai, o Benfica fica, solidário, sólido e fiável como os benfiquistas querem e sentem!"

Jorge Miranda, in O Benfica