"Causa estranheza vê-lo a suplente contra Nápoles, quiçá mais ainda no próprio Vangelis Pavlidis que, regressado à titularidade, fez um hat-trick na vitória (0-4) do Benfica em Moreira de Cónegos, onde foi buscar todos os golos aos erros que forçou no adversário com a sua pressão alta. Mourinho terá mais uma oportunidade para criticar quem comenta os jogos dos encarnados, o Moreirense será alvo de comentários sobre a insistência em sair a jogar curto lá de trás
É curioso constatar como José Mourinho foi, ou melhor, está ser, há pouco mais de duas semanas: uma versão sua belicosa, em assunção quase plena do nós-contra-eles, com modo cerco ligado no seu palavreado público. Não foi de repente, os sintomas progrediram, mas, superado o Nacional na Choupana, o treinador visou diretamente com indiretas a falta de “comentários absolutamente fantásticos” para o Benfica, feito o empate com o Sporting disse que “uma coisa é jogar, outra é comentar” e, ultrapassado o Nápoles, alfinetou como “os experts” teriam “dificuldades em atacar” a sua equipa que “leva paulada de tudo quanto é lado”.
Mais eriçada, esta conhecida faceta do treinador despertar agora tem um quê de singularidade por coincidir com a melhor fase dos encarnados com o treinador. Eram quatro vitórias em cinco tentativas desde a paragem de seleções, ganhador a duplicar na Liga dos Campeões, ao entrar no adverso relvado do Moreirense, uma das equipas de classe média mais complicadas deste campeonato, decidida a prová-lo de início, esticando a pressão logo na saída de bola do Benfica, decidida a chatear nos primeiros passes e Vasco Botelho da Costa em pé, a gesticular ordens do banco.
Um dos mais novos (36 anos) técnicos da I Liga urgia os seus jogadores a reagirem rápido, mal perdessem a bola, visão também curiosa, porque rara, já que os 20 minutos iniciais tiveram várias posses de bola largas dos anfitriões, Benny e Vasco Sousa a serem duas pulgas dinâmicas a manobrarem os passes no centro e o avançado, Guilherme Schettine, a fugir aos centrais para servir de plataforma para se lançarem as corridas de Dinis Pinto na direita. O primeiro remate deles foi, vindo da cabeça de Gilberto Batista, num canto. O Moreirense queria jogar e incomodar, mostrava-se competitivo na montra do canal aberto.
As partidas caseiros do clube são transmitidos pela TVI e neste a bola corria, as equipas a dividiam-se no bom ritmo de um jogo vivaço, com poucas paragens até à meia-hora, se bem que sem muito de balizas. O Benfica padecia de mais opções de passe pelo miolo, Barreiro perdia-se nas curtas desmarcações entre defesas, Sudakov pouco ia espreitar ao centro do campo, por ali os corpos do Moreirense controlavam a relva. Só pela direita, quando Amar Dedić atacou o espaço com a bola nas chuteiras ou a pedi-la, os encarnados se aproximaram da área.
Ou quando o Moreirense, fiel à vontade em atrair a pressão, trocou passes entre os centrais e André Ferreira, guarda-redes que tão apertado ficou que errou uma bola mais longa, ela chegou a Vangelis Pavlidis, o remate deu um canto que nada deu, mas, na reciclagem posterior ao lance, Fredrik Aursnes tabelou com Tomás Araújo, central com cabeça e pés de médio, para cruzar pelo ar. O golo (36’) castigou os resquícios do primeiro erro grosseiro do Moreirense no jogo.
Foi breve, troca de cinco minutos, mas o calvo norueguês que preferiu dedicar-se ao Benfica abdicando de idas à seleção iria depois para a esquerda do ataque, onde a sua bota direita tirou mais cruzamentos venenosos, pista valiosa: através dele, os encarnados dispunham de um atalho rumo à área. Ao intervalo, Mourinho experimentou ter outro no miúdo Ricardo Rego, posto à direita para Aursnes ir jogar mais ao centro, consigo levando a sua capacidade de pressionar.
Podia e pôde o Benfica avançar o bloco, incomodar a saída do Moreirense mais à frente, inverteram-se os papéis, era a visita agora a querer atazanar os primeiros passes e o visitado imutável na intenção. O erro de Diogo Travassos, extremo a jogar no seu próprio meio-campo, perto da área, veio daí para rapidamente ir ter com Pavlidis, em nada misericordioso: eficaz a aproveitar o que lhe chega, o grego fez (57’) o segundo golo no jogo, expert predileto dos encarnados para machucar balizas alheias.
Nem com o requinte jovem de Afonso Assis na posição seis, o seu pé esquerdo disponível para pincelar com cor o início das jogadas, o Moreirense se livrou de emperrar. Era-lhe mais difícil evadir a pressão do Benfica, os seus extremos tocavam menos vezes na bola, os médios eram obrigados a jogar de costas para os adversários, Aursnes era uma formiga de trabalho a chateá-los. Mais pressionada, a equipa de Vasco Botelho da Costa mais dependente ficou da habilidade dos seus homens mais recuados e a de Gilberto Batista engoliu pirolitos quando insistiu em ter o passe curto arriscado do que procurar outra solução.
E quem haveria de ser, Pavlidis intercetou a intenção, de pronto se virou rumo ao alvo e, de pé esquerdo, repetiu (70’) o seu papel de carrasco contra o Moreirense repleto de boas intenções, mas falível a tentar executá-las. O tridente de golos do grego estatelou de vez um Moreirense a fazer vista grossa ao que tão flagrante era a traí-lo. Pouco tardou até André Ferreira, noutra tentativa de a equipa ser malabarista com a pressão alta, tentar um passe curto para quem estava tapado, Aursnes ser a portagem no caminho e inventar auto-oferecer-se uma recompensa: um chapéu posto (76’) ao guarda-redes.
Descontraídos e fáceis foram os derradeiros 15 minutos, o Benfica abrandou na gestão, Manu Silva foi a jogo prosseguir a sua aclimatização de volta à competição e José Neto apertou as chuteiras para ter mais uns quantos minutos de ensino ainda em idade de escolaridade obrigatória. A réplica do Moreirense esfumou-se na sua fidelidade ao plano, dogmático na intenção, a equipa deu luta e, tantos foram os erros, terá agora a devolução de quem comenta e sai vorazmente da toca sempre que se vê um coletivo a sucumbir com as suas ideias.
Mas pronto, já dizia José Mourinho, dias antes, exaurido a desabafar que “se fosse comentador, também seria bom”. O Benfica foi golear a Moreira de Cónegos, quem não viu o jogo e mirar o resultado pensará que os encarnados tiveram supremacia constante, um domínio absoluto. Não foi bem assim, mas cuidado com os comentários."

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