quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Costa/Costa; Macbeth/Macbeth


"Eis, amigos, o círculo vicioso da pequenez: o Benfica a jogar como clube pequeno; o funcionário a escrever como funcionário de clube pequeno; o Presidente a resguardar-se como líder de clube pequeno; o gesto do apagamento como táctica de clube pequeno

A partir de que momento é que o Benfica, maior entre maiores, passa a ser um clube pequeno?
A resposta é: provavelmente, nunca. Tem demasiados adeptos, demasiadas taças, demasiada história. É grande demais para o encolhimento formal. Mas isso não impede que a dúvida se instale quando, três dias depois de ter jogado como visitante — em casa — contra o Sporting, Nuno Costa, o chefe de gabinete do Presidente do Benfica tenha escrito no Linkedin como escreve o funcionário de um clube pequeno. Disse “funcionário”? Disse a verdade — mas disse pouco. Deveria ter acrescentado: “um Costa ao quadrado, um Costa por cima de outro Costa.”
Aqui há tempos, em Maio, fiz-nos o favor de confundir o Presidente do Benfica com Macbeth. O tema era o final da época e a convicção que tinha de que ele deveria saber ler os sinais e demitir-se, em vez de se manter isolado no alto do seu castelo. Não aconteceu. Rui Costa continua, assim, a ser Macbeth, mas num novo acto da trama. Está agora naquela parte em que, depois de coroado, descobre que não sabe o que fazer com a coroa, como se a legitimidade dos 65% não o salvasse, mas apenas o fixasse num enredo trágico. E — é aqui que começa tudo — a força que move este novo Macbeth não está nele, mas na figura que, atrás da cortina, sussurra estratégias, alimenta ressentimentos, empurrando o protagonista quando o protagonista hesita. A força motriz chama-se, perdoem-me a precisão, Lady Macbeth, isto é, Nuno Costa.
Se Macbeth reinou porque alguém reinou por ele, também Rui Costa lidera porque alguém lhe empresta o faro político que ele não tem. Vem de longe, esse olfacto: dos confins dos gabinetes de Isaltino Morais e de Luís Filipe Vieira, por onde o actual chefe de gabinete do Presidente do Benfica passou, tornando-se, assim, especialista em navegar estruturas fechadas e personalistas.
Então, quando a massa adepta começa a habituar-se a mostrar gratidão por não perder em casa, o poder percebe imediatamente. É instintivo, quase biológico. E é por isso que o tal texto do chefe de gabinete não caiu do céu numa Segunda-feira qualquer. Foi um gesto oportuníssimo. Nuno Costa escreveu o que escreveu porque intuiu que podia escrever. Porque percebeu que o Benfica estava cabisbaixo. E quando o destinatário está assim derrotado — acreditando em teses mirabolantes do tipo “a segunda parte do derby foi uma quase vitória moral” — qualquer sermão soa a ordem natural das coisas.
Aquela repetição — “no Benfica, mandam os sócios” — não tinha intenção de esclarecer; tinha intenção de domesticar. É o tipo de frase que só se usa quando se sabe que repetir a autoridade dos outros é sempre a forma mais subtil de afirmar a própria. E, dizendo o que Rui Costa não consegue dizer, atacando quem Rui Costa não pode atacar, definindo a fronteira entre “nós” e “eles” que Rui Costa não quer definir, escrevendo assim o que deveria ser dito — mas nunca poderia ter sido dito — pelo Presidente, Nuno Costa pratica aquilo a que se poderia chamar “coragem delegada”. E isso é, como se sabe, Lady Macbeth pura.
Dessa maneira, Nuno Costa protege Rui Costa da percepção de fraqueza. Cria inimigos externos para desviar responsabilidades e unir a corte; transforma a contestação legítima em “ruído”; valida o poder falando em nome dos “sócios”. É o escudo psicológico do Presidente. Mas um escudo que, por revelar a sua dependência, o enfraquece ainda mais.
O próprio gesto de o apagar é calculado (sim, o texto foi apagado). E se não for, é como se fosse. É que, assim, estaria a jogar em dois tabuleiros ao mesmo tempo. Primeiro, dizia o que queria dizer — ou o que achava que deveriam querer que dissesse —, deixando a mensagem espalhada, comentada, e fixada em centenas de capturas de ecrã. Depois, com o apagamento, tratava de sacudir a água do capote quando toda a gente já estava encharcada. É a velha arte de dizer sem dizer, de simular recuo para preservar o avanço. O texto cumpre a função política; o apagamento cumpre a função estética de inocência, e todos saem a ganhar (menos o Benfica).
Rui Costa disse, em 2020, numa entrevista a este jornal: “Não permito que me considerem um banana.” (Quando um homem tem de dizer que não é banana, é porque já brilha, amarelíssimo e viçoso, em pleno bananal.) Ora, dois dias depois do jogo com o Sporting, quem mandou não foi o Presidente; foi o seu chefe de gabinete. O texto não é só uma imprudência, mas a versão institucional de Macbeth deixado sozinho enquanto Lady Macbeth age em seu lugar.
Eis, amigos, o círculo vicioso da pequenez: o Benfica a jogar como clube pequeno; o funcionário a escrever como funcionário de clube pequeno; o Presidente a resguardar-se como líder de clube pequeno; o gesto do apagamento como táctica de clube pequeno. É uma estrutura que se dobra sobre si própria como o tal texto do Linkedin, repetitivo, litânico, claustrofóbico. Um poder que se fecha numa capicua perfeita — quase cómica — a girar em torno de si mesma como num poema à abjecção:
Costa / Costa
Macbeth / Macbeth
No Benfica mandam os sócios
Está bem, abelha"

1 comentário:

  1. Por acaso, ao contrário deste palerma, tudo quanto foi escrito merece o meu aplauso. Quem é este animal, para despejar bosta em forma de prosa neste jornal de merda? Quando é que o Benfica, fecha às notícias a estes bostas de pseudo-jornalistas?

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