terça-feira, 30 de dezembro de 2025

CAN 2025: Chiquinho e os seus pupilos


"A participação de Moçambique na CAN 2025 está a ganhar contornos históricos. Após uma estreia competitiva, apesar da derrota frente à Costa do Marfim (0–1), a seleção moçambicana respondeu com personalidade e escreveu uma das páginas mais marcantes da sua história na competição.
Sob o comando de Chiquinho Conde, os Mambas entraram no torneio com uma ideia clara: competir com organização, coragem e identidade. Frente aos campeões em título, Moçambique mostrou-se disciplinado, compacto e emocionalmente ligado ao jogo, sofrendo apenas um golo e mantendo-se competitivo até ao apito final.
Na segunda jornada, chegou o momento que ficará para sempre na memória do futebol moçambicano: vitória por 3–2 frente ao Gabão, a primeira vitória de sempre de Moçambique numa fase final da Taça Africana das Nações. Um jogo intenso, emocional e decidido no detalhe, onde a equipa mostrou capacidade para sofrer, reagir e acreditar.
Geny Catamo teve um papel determinante, assumindo responsabilidade ofensiva e participando diretamente nos momentos-chave. A vitória não foi apenas fruto do talento, mas sobretudo da confiança coletiva e da clareza no plano.
Há também um valor humano muito forte neste grupo. A presença de jogadores experientes dá estabilidade emocional à equipa. O médio-centro ofensivo Domingues, com 42 anos, é um caso raro de longevidade competitiva no futebol africano. A sua serenidade, liderança silenciosa e leitura do jogo têm um impacto que vai muito além dos minutos jogados.
Esta identidade não surge por acaso. Aquando da minha passagem pelo V. Setúbal, na Primeira Liga, tive a oportunidade de conhecer o mister Chiquinho Conde, uma referência do futebol moçambicano e um representante africano em Portugal marcado pela qualidade e arrojo técnico. No Vitória, era treinador dos Sub-23.
Vi e analisei muitos jogos da sua equipa e havia algo que se repetia constantemente: união, espírito coletivo e crença até ao fim. Hoje revejo exatamente isso nesta seleção.
Mais tarde, ao serviço da Seleção Nacional da Nigéria, voltámos a cruzar-nos. A sensação foi imediata: a qualidade do trabalho mantinha-se. Uma equipa sempre crente, sempre ligada ao jogo até ao último minuto. Ganhámos o jogo amigável, mas o encontro começou com um golo de Geny Catamo e foi uma preparação muito interessante para a CAN. Nesse jogo, destacou-se um jogador pela qualidade técnica e pela visão no último passe: Domingues, na altura com 40 anos. Um craque.
O próximo jogo frente aos Camarões será determinante. Uma seleção com mais tradição e valor individual, mas que também sente dificuldades quando o jogo não se resolve cedo. Para Moçambique, o desafio passa por manter aquilo que o trouxe até aqui: organização, rigor, paciência e identidade emocional.
Na CAN, nem sempre vence quem tem mais talento ou maior valor de mercado. Muitas vezes vence quem acredita, quem respeita o jogo e quem transforma um sonho em realidade. Moçambique está a fazê-lo."

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