quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

As intrigas de Trigo


"No início do concerto, o maestro Silva caiu sobre o pódio, sem pulso. O homicida disparou um dardo envenenado de uma pequena zarabatana. Os suspeitos eram o trompetista profissional Carlos Camacho, que esteve no palco minutos antes do homicídio, e Raul Bártolo, que também esteve no palco na mesma altura, porque tinha amigos no Coliseu. Quem matou o maestro?… Ninguém, pois o relato é o sonho ficcional de Alexandre de Sousa, jornalista e personagem principal no cânone de Mistério Ilustrado.
O Mistério Ilustrado foi uma secção policial na revista O Benfica Ilustrado, orientada por Álvaro Trigo. Consistia na publicação de crimes fictícios ligados ao mundo desportivo, acompanhados por fotografias encenadas, produzidas pela equipa responsável por esta secção. Os fãs disponham de 30 dias, desde a publicação do texto, para enviarem uma carta indicando quem cometeu o crime e como.
A secção começava com Alexandre de Sousa a recontar um caso em que participou ou de que ouviu falar. Apresentava o crime, as testemunhas e, por fim, o interrogatório aos criminosos. Os mistérios eram variados, como o homicídio de um promissor jogador de futebol que ia assinar com o Benfica, o rapto de José Águas com Otto Glória como testemunha, ou o roubo da carteira de José Lisboa. As fotografias e as histórias por vezes contavam com a participação de atletas de várias modalidades, como o José Lisboa, no caso do mistério apontado acima, ou o Alberto Ló.
Durante o período de publicação do Mistério Ilustrado, foram realizados seis campeonatos: o primeiro torneio, o segundo torneio, o terceiro torneio, a Taça de 1960, o Circuito da Europa (consistindo nas aventuras de Sousa em diversas capitais europeias) e a Taça de 1963. Os concorrentes foram agrupados dois a dois, e desse par quem passava para a próxima fase era o que tinha a resposta “mais certa” e mais bem fundamentada. O processo repetia-se até sobrarem dois concorrentes. O vencedor ganhava uma taça, o finalista recebia dois livros de mistério, os dois semifinalistas e os cinco primeiros solucionistas obtinham um livro.
O último Mistério Ilustrado, que não foi solucionado, foi publicado na edição n.º 91 de O Benfica Ilustrado. O quadro O Desporto na Antiguidade (fictício) foi roubado de um proeminente museu de arte localizado em Berlim Ocidental. O ladrão passou-o ao jovem Charles Dupond, artista ambulante, que o transportou para Paris. Dupond levou um tiro, disparado de um Renault-Dauphine vermelho, perto do rio Sena. Os suspeitos eram Marie Claude Parizet, que afirmou que o quadro ainda estava em Berlim, pois ninguém ia ter coragem de passar pela fronteira, e Hans Kleinfeldt, que discordou de Parizet, porque ninguém “se lembraria de abrir a parte da frente de um automóvel só para ver se lá iria uma tela volumosa”. Quem roubou o quadro e matou Charles Dupond?
Se quer mergulhar mais a fundo no mundo literário benfiquista, convidamo-lo a explorar a área 16 – Outros Voos, no Museu Benfica – Cosme Damião."

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