quinta-feira, 1 de maio de 2025

Do Arsenal de Arteta ao cantinho do Bruno Lage


"Mikel Arteta está a protagonizar uma verdadeira revolução na forma como o futebol de topo encara as bolas paradas.
Ontem tivemos mais uma demonstração de posicionamentos e movimentos contra-intuitivos no momento da marcação da bola parada e quando mesmo todos parecemos adivinhar o que irá acontecer, o sucesso da ação é muito difícil de contrariar.
Sob a batuta do especialista Nicolas Jover, os Gunners tornaram este momento do jogo numa arma letal, marcando 30 golos de bola parada (excluindo pênaltis) em 2023/24 — mais do que qualquer equipa nas principais ligas europeias. 22 desses golos surgiram de cantos, fruto de ensaios meticulosos e de um aproveitamento cirúrgico dos pontos fortes individuais.
Este ano o impacto ainda está a ser maior sendo que por via do acerto dos marcadores de livres - com destaque para Declan Rice - os números do Arsenal colocam o clube de Londres como o clube mais eficiente da Europa na cobrança de bolas paradas.
Por cá, a realidade começa lentamente a evoluir — e, curiosamente, quem mais se aproxima da visão estratégica do Arsenal é Bruno Lage. Numa liga onde a inovação escasseia, Lage volta a evidenciar sensibilidade táctica e uma atenção à preparação dos pormenores do jogo que no final das contas fazem toda a diferença. Sob a sua liderança, os encarnados aumentaram dramaticamente a eficácia nas bolas paradas, com 31% dos golos na Liga a surgirem por essa via, combinando movimentações inteligentes e variações criativas que espelham o estudo e a intenção das mesmas.
Imagem de marca deste Benfica começam a ser os cantos curtos batidos a 3 momentos com a penetração de um terceiro homem no espaço entre os laterais ou extremos adversários que saltam à pressão dos marcadores dos cantos. Este movimento origina um desequilíbrio que coloca a defesa adversária em inferioridade numérica num sector sensível da área, o que origina o desmontar da defesa à zona perante a necessidade de um reposicionamento brusco tentando bloquear um potencial cruzamento ou penetração com bola que é feito muitas vezes já bem dentro da própria área e a partir da linha de fundo.
Mas se o Benfica demonstra estar quase ao nível do Arsenal no capítulo das bolas paradas, FC Porto e Sporting parecem viver ainda na pré-história do futebol. O FC Porto de Vítor Bruno pecava por uma abordagem aos livres e cantos que podemos qualificar como "de cartilha", sem o elemento surpresa. Com Anselmi, nota-se a inovação sem no entanto haver registo de um aumento da eficácia tal o desajuste entre o que é pedido e aquilo que os jogadores são capazes de executar. Já no Sporting é de notar alguma melhoria na era Rui Borges, essencialmente pela aposta em novos batedores que revelaram ser verdadeiros especialistas como o são Debast (mais longe da baliza) e Gyorkeres (livres diretos frontais).
Certo é, que num futebol onde os detalhes decidem campeonatos, continuar a tratar as bolas paradas como meros lances "de inspiração" é um luxo que custa caro. O exemplo do Arsenal e a inteligência renovada de Lage devem servir de alerta: quem dominar o jogo parado, controla o imprevisível — e, por isso mesmo, fica muito mais próximo de ganhar!"

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