domingo, 7 de julho de 2024

Época...

Os verdadeiros culpados...

A Lista!

Idolatria!

Portugal: é preciso coragem para ver além de um penálti e do maior da história


"Há de haver um dia em que a Seleção joga como em 2000 e ganha como em 2016

João Félix falhou um penálti e Portugal saiu do Euro 2024. Quis o futebol que fosse assim. Que um jogador como Félix, que vive entre o que o futebol te dá e o que o futebol te exige, talento e compromisso, fosse o português determinante na noite de Hamburgo. Sobre Félix há de escrever-se muito neste verão e muito neste fim de semana. Mas é preciso ver além do Viriato de Ouro, galardão que Viseu lhe deu aquando da mudança milionária para o At. Madrid. É esse além, mais do que o próprio João, sobre o qual é necessário refletir, até porque o penálti de Félix caiu, como nódoa no melhor pano, no melhor Portugal.
Há quem só consiga ver virtudes e há quem consiga ver apenas defeitos. Mas a crítica não pode ser tão ‘cega’. Já o escrevi e repito. Portugal é uma potência mundial em seleções. O respeito que a França teve com a seleção foi um sinal claro. A sobranceria futebolística francesa acabou naquele 2016, em que Portugal igualou uma vantagem psicológica. Em Hamburgo, foram tantos os franceses a ter fé nas penalidades como os portugueses. O que nos leva às questões restantes.
Na primeira fase do jogo, vi um Portugal com Bruno Fernandes, mas sobretudo Bernardo Silva, mais influentes. Esses foram sinais de que Roberto Martínez também viu o que de mal fora feito com a Eslovénia. Podia falar também de Pepe, Nuno Mendes, João Palhinha, Vitinha – o futuro e presente da seleção está mesmo aqui – e do bom que fizeram. E Ronaldo? A pergunta que todos se fazem, o homem em quem todos acreditavam – e isso é culpa exclusiva dele, pelos seus feitos – mas que redunda num número: seis horas, zero golos de Portugal.
Ronaldo fez o seu melhor jogo do Euro com a França, ainda que tenha sido o elemento mais discreto. O capitão soube jogar com os colegas, foi mais altruísta que nos oitavos, procurou apoiar, mas vítima ou não, acabou por não se destacar. Repito agora: seis horas de Portugal sem marcar um golo. Quem viveu os anos 90 da seleção não se surpreenderia. Mas Cristiano Ronaldo foi o mais prolífico dos avançados do século XXI, pelo que ter tantas horas de futebol sem golo e, incrivelmente, sem um golo de Cristiano deve fazer toda a gente refletir: sobre a seleção, sobre o espaço de Cristiano Ronaldo, sobre as opções de Martínez. Para mim? Simples, à partida para este Europeu. Ronaldo tinha, obrigatoriamente, de estar. Não tinha, obrigatoriamente, de ser titular ou jogar 90 minutos.
Agora que acabou o Euro 2024 para Portugal, é preciso, então, ver para lá do penálti de Félix. Sobre a seleção, cabe-me dizer isto: há muito, muito tempo que não via tanto espírito de adepto em torno da equipa. É preciso manter o cântico, é preciso manter o cortejo, é preciso que Bernardo Silva e Bruno Fernandes se mantenham ‘jovens’. A Argentina também perdeu antes de ganhar, mas foi sempre cantando. Chamem-me romântico, otimista, mas eu até acho que se está a construir qualquer coisa. É preciso é ter coragem para ver para lá de um penálti, ou da maior figura da nossa história. Há de haver um dia em que Portugal joga como em 2000 e vence como em 2016."

Por uma questão de estatuto


"O único que tinha mesmo estatuto de insubstituível era Ronaldo. Mas esse Martínez sempre assumiu. Apesar de, como se viu, estar errado

Portugal foi eliminado do Europeu. A primeira conclusão a tirar é a de que Roberto Martínez não teve razão e a sua teoria estava manifestamente errada. Pode parecer brutal esta maneira tão nua e tão crua de analisar a presença portuguesa no Euro da Alemanha, mas a verdade é que não conheço outra mais concreta, mais real, mais objetiva.
Fernando Santos tinha toda a razão e todos os seus críticos, que o acusavam de ser demasiado defensivo e nada arriscar, não tinham. Porque a seleção de Fernando Santos, que não tinha a mesma constelação de estrelas desta seleção de Martínez, foi campeã da Europa e a de Martínez ficou-se pelos quartos de final. E Martínez também não teve razão nas substituições que fez e, sobretudo, nas substituições que não fez. Basta lembrar que meteu o João Félix de propósito para marcar penáltis e ele, de tantos escolhidos, foi o único que falhou.
A verdade é que analisar o futebol fica mais simples se apenas considerarmos a questão do resultado final. É o que a maioria dos comentadores faz e, assim, não corre riscos. Ninguém se lembra daquilo que um comentador encartado diz na televisão antes dos jogos. Pode não acertar uma, que a memória dos espectadores não se lembrará de nada. E por isso pode-se sempre brilhar depois dos jogos, dizendo o que está certo e o que está errado.
Em voga, nas críticas a esta seleção, sempre esteve a questão do estatuto. Martínez tinha jogadores intocáveis. Um deles era Bruno Fernandes. Pois bem. Se o médio do Man. United fosse mesmo intocável tinha continuado até ao fim do prolongamento e marcado o penálti que Félix desperdiçou.
Julgo, para ser sincero, que Martínez apenas sentia uma única obrigação nesta equipa de Portugal. Quando fazia o onze, partia do princípio de que era o Cristiano e mais dez. Podemos discordar, e eu discordo, de ter um jogador, mesmo que seja Cristiano, absolutamente intocável. Porém, Martínez desde a primeira hora que deixou muito claro que no capitão não se mexe.
É aceitável pensar que se Cristiano esteve longe de ser Cristiano em todos os jogos da primeira fase, dificilmente haveria de ressuscitar nos jogos decisivos e frente a seleções do top mundial, como a França. Era confiável nos penáltis, admite-se, mas para uma seleção que adotou como estratégia libertar Rafael Leão de funções mais defensivas, para o aproveitar melhor no contra ataque, tornava-se perigoso ter Cristiano Ronaldo como ponta de lança inamovível durante duas horas de um jogo de futebol ao mais alto nível competitivo. Certo, que tivemos Pepe e sem razões de queixa, mas central não é ponta de lança.
Perdemos, então, o nosso lugar no Euro por causa da teimosia em manter Cristiano Ronaldo, fizesse chuva ou sol, jogássemos com a famigerada Chéquia ou com a França? Não, necessariamente. Poderemos apenas conjeturar e especular que, a dada altura do impasse atacante, talvez Gonçalo Ramos ajudasse a criar mais espaços, fosse mais ativo a atacar a bola jogável nas linhas atrasadas francesas, pudesse, até, acertar um pontapé à Éder e dar mais uma alegria aos portugueses. Não se sabe, nem nunca se saberá.
Cada português terá a sua legítima opinião sobre esta Seleção Nacional. A minha opinião é a de que enquanto não tivermos uma equipa que jogue com altos índices de personalidade, enquanto não tivermos uma equipa capaz de impor o seu ADN competitivo, enquanto não tivermos uma equipa que entre em campo e se imponha ao adversário sem recorrer ao jogo do gato e do rato nunca seremos, de facto, um candidato."

Meias-finais trocadas


"Alemanha e Espanha dariam dois bons semifinalistas, França e Portugal nem por isso

Quem teve a felicidade de ver o Espanha-Alemanha, perto do final da tarde de sexta-feira, deu o tempo por bem empregue.
Quem quis seguir a magia do Europeu e viu o Portugal-França terá chegado ao intervalo a pensar a que horas iam bater os penáltis. Assim como assim metia-se a hora de jantar, abria-se um buraco no estômago, se calhar dava tempo para encomendar qualquer coisa, ou ir ao restaurante ali perto até haver alguma coisa de interessante no jogo.
Estava na cara que o interesse estaria no desempate por pontapés da marca de penálti, como se diz tecnicamente. Ainda bem que pudemos utilizar aqui algo relacionado com técnica, porque o que se viu em 120 longos e penosos minutos em Hamburgo foi um enjoo de tática que nos perseguirá até ao final dos nossos dias.
Portugal perdeu por uma bola no poste. Podia ter ganho. Cá para mim passavam a Espanha e a Alemanha. Esta derrota com a França não entra, definitivamente, na galeria das outras.

De chorar por mais
Jogaço nas meias-finais de ontem entre as duas melhores equipas deste Europeu. Disputado até ao último minuto. Isto é futebol.

No ponto
A exibição superlativa de Nuno Mendes podia ter tido um corolário de sonho naquela última tentativa de chegar ao golo. Foi pena.

Insosso
Toni Kroos merece quase todos os elogios. Mas não merecia ter terminado o jogo frente a Espanha, tantas as faltas que cometeu.

Incomestível
Vamos continuar a fingir que está tudo bem no ciclismo quando pessoas dizem em tribunal que o doping «é transversal»?"

Portugal v France: a galactic battle lost in the black hole of one man’s ego


"This Euro 2024 clash could have been an all-time great quarter-final, and instead a part of it was stolen

Even his absence feels like a kind of presence. The cameras continue to seek him out. The fans in the stands in their replica Manchester United tops screech a little louder, scowl a little harder. The less he does, the more important he becomes. The more he disappears into this game, the heavier it feels, like a black hole sucking everything into its vortex.
And ultimately Portugal too. The sabotage is complete. One of the most talented squads ever assembled at this level of football disappears into that self same black hole, a Vegas-era Elvis act ultimately notable only for its ability to make us gawp and keep gawping. It’s too awful to watch. It’s too awful not to watch. The clock ticks into its third hour, the second quarter-final suspended like a sentence that can never end, and yet with the knowledge of exactly how it ends. Meanwhile, Gonçalo Ramos and Diogo Jota sit on the bench.
This was not a bad game of football. No game with this many spellbindingly brilliant players on the pitch can ever be truly tedious. Indeed, the talent is a kind of protagonist in its own right. It was a game that felt – for better and worse – like a final, every action and decision dancing on the cusp of instant disaster. Football with maximum context: every pass and tackle freighted with meaning and intent, every shot on goal like a death.
Some of the finishing is truly awful. Some of the defending is gladiatorial. Early in the game Randal Kolo Muani picks up the ball just outside the area and Pepe just puts him into a taxi, bundles him aside like a vengeful father. Pepe will end the game with 152 touches, more than anyone else on the pitch. Pepe will sprint stride for stride with the substitute Marcus Thuram – a man to whom he is giving 15 years and 90 minutes in the legs – and put the ball out for a corner. Pepe will block a shot from Kylian Mbappé and celebrate it like an Olympic gold medal.
Rúben Dias will make a crucial block on Kolo Muani as he goes through on goal. Nuno Mendes will slide in on Mbappé just as the great man is about to pull the trigger. At the other end Eduardo Camavinga will make a brilliant sprawling tackle on a rushing Rafael Leão, a fraction of a second before he shoots from a tight angle. William Saliba will just be quietly brilliant. This is not the stuff of highlights reels and social media gold-dust. But it is, in its own way, the very highest form of footballing heroism.
The temptation is to point at this French side, with their semi-final berth and their zero goals from open play, and to remark sardonically that Didier Deschamps has finally managed to create a team perfectly in his own image. This is, of course, unfair. Deschamps was ruthlessly selfless as a player, his every action oriented towards the collective. France, on the other hand, have the feel of a team being held together by success alone. Get enough talent in there, and maybe the teamwork takes care of itself. No wonder they finally seemed to free up when penalties arrived: a series of simple individual battles, a test of personal skill, no tactics, no complications.
And yet even Deschamps has the presence to withdraw Mbappé in the 106th minute when it becomes clear that it’s not going to be his night. He was outrun by João Cancelo, couldn’t convert any of his five shots, and if Mbappé can’t sprint and can’t shoot, then frankly all you really have left is a man in a mask pointing into spaces. He sees out the closing minutes sat on the bench, an ice pack pressed to his nose.
But at least France know how to function without their captain. Portugal, by contrast, are still wedded to theirs, the chain-wrapped anvil that will eventually bring them all down. There is little point giving him anything to chase, or playing any pass to him longer than about 20 yards. If he peels to the left wing in the 53rd minute, he won’t make it back into the centre until the 55th. He misses terribly from close range. He claims another free-kick from an impossible angle, and somehow manages to hit all three players in the wall.
In a way, it’s hard not to feel resentful of him: resentful of the way this grand, galaxy-sized occasion is ultimately reduced to a function of one man’s ego. This could have been an all-time great quarter-final, and instead a part of it was stolen: stolen ball possession, stolen attention, stolen minutes from better players who actually deserve to be there, rather than a pure anachronism trotting out simply because no one has the clout to tell him not to.
Théo Hernandez scores the winning penalty, and immediately the Portuguese players instinctively flood towards the heartbroken João Félix, the only man to miss his penalty, and gather him in their arms. Mendes runs to him. João Palhinha runs to him. Nelson Semedo runs to him. Pepe sets aside his own sadness – this may well have been his last game – and runs to him. There is still a team here, and the only sadness is that we never got to see it.
One man does not run to Félix. Instead he walks in the other direction, off on his own, pursued only by the prurient gaze of the camera. It’s Cristiano Ronaldo."

A 'espanholização' do Brasileirão


"Palmeiras (três) e Flamengo (duas) ganharam cinco das últimas seis edições do Brasileirão

O futebol brasileiro sofre de muitas doenças, o calendário insano e o amadorismo de algumas direções são as mais graves, mas em dois pontos é até mais saudável do que as cinco principais ligas da Europa: na quantidade incomparável de novos talentos que produz e, acima de tudo, no número generosíssimo de clubes grandes, logo, de candidatos ao título que se apresentam a cada edição do Brasileirão.
Esse número generosíssimo, que inclui quatro gigantes de cada um dos dois principais centros, Rio de Janeiro e São Paulo, mais dois de Belo Horizonte, outros dois de Porto Alegre, fora clubes de Curitiba, de Salvador, do Recife e não só que já conquistaram títulos nacionais, é a força motriz do futebol no país no futebol, a vantagem competitiva que o aproxima do potencial económico e geográfico da NBA e dos outros desportos americanos e o distancia das citadas ligas europeias de topo.
Por isso, observadores brasileiros temem perder essa vantagem competitiva. Mas alguns, os mais pessimistas, acham que ela já está a ser perdida – chamam ao fenómeno a «espanholização do futebol brasileiro». Ou seja, acreditam que, tal como o Real Madrid e o Barcelona em Espanha, o Palmeiras e o Flamengo ameaçam usurpar as taças todas no Brasil.
De facto, Verdão (três) e Fla (duas) ganharam cinco das últimas seis edições do Brasileirão. Como em Espanha, só um Atlético, não de Madrid mas Mineiro, campeão em 2021, furou o monopólio. E este ano, as equipas de Abel Ferreira e de Tite, com ótimos plantéis e gestões profissionais, já estão a preparar uma fuga do pelotão ainda antes do fim da primeira volta.
«O Brasileirão jamais viveu uma fase de duopólio tão acentuado como experimenta agora (...) esta prevalência de dois clubes é algo que acontece pela primeira vez desde 1971», escreveu o pessimista Douglas Ceconello, no GE.
Outros observadores, mais otimistas, acham que não, que o Botafogo só não ganhou no ano passado porque faltou um bocadinho de pedalada, que o São Paulo, atual detentor da Copa do Brasil, anda na roda dos grandes, que o Atlético resiste, que o Athletico Paranaense e o Bragantino crescem sustentadamente e que o Fluminense, mesmo último no atual Brasileirão, ao vencer a Libertadores de 2023 mostrou que o sucesso está alcance de qualquer um, desde que bem treinado e bem dirigido.
«Nos últimos dez anos, cinco clubes ganharam o Brasileirão, nos últimos dez anos, sete clubes ergueram a Copa do Brasil», lembra o otimista Maurício Noriega, no site Trivela.
Aliás, a discussão começou há uma dúzia de anos, com Flamengo e Corinthians, por serem os dois clubes mais populares e por isso com fatias maiores dos direitos de TV, a fazerem o papel de Barça e de Madrid. Na altura, o Timão, de Tite, ganhava tudo e o Verdão caiu nas malhas da Série B. De repente, é o Verdão, de Abel, que ganha tudo e o Corinthians que está com medo da B."