sexta-feira, 28 de junho de 2024

Diferenças:

Roberto Martínez deixou-se amarrar por Ronaldo


"Não havia nenhuma explicação lógica para o capitão da Seleção ser titular com a Geórgia

Confesso que não entendo. Escrevo este texto antes do Portugal-Geórgia e Ronaldo até pode ter marcado 5 golos e assinado outras tantas assistências quando o estiver a ler que pouco interessa, não muda o princípio. A explicação foi insuficiente e quase pueril. Não havia nenhuma razão que justificasse a sua terceira titularidade num jogo que interessa pouco a toda a gente menos ao próprio e à sua coleção de recordes ou, eventualmente, a uma paz podre que mantenha a maior parte mais ou menos contente, sem amuos. Mesmo a questão física de Gonçalo Ramos e Diogo Jota, apesar de clinicamente aptos de acordo com o próprio selecionador, poderia ter sido resolvida com João Félix a falso 9, o que até abriria uma vaga para outra unidade de ataque no onze. Se o técnico assim o quisesse. Não quis.
O selecionador defendeu-se com a continuidade de uma época longa a marcar e as consequências negativas de uma paragem, mas esqueceu-se que isso era válido para todos os mais utilizados neste Europeu. Que Ronaldo é especial e tenha de ser gerido de uma forma diferente não tenho dúvidas, porém ao não conseguir que descansasse num jogo quase a feijões diz bem das dificuldades que o técnico terá para se impor se precisar de fazê-lo quando for mais a sério. Dificuldades com as quais pactuou desde o dia 1. A situação de Ronaldo trará sempre a imagem de Eden Hazard a arrastar-se no Catar até finalmente o atual selecionador português acordar, já talvez tarde de mais. Mesmo que seja até algo injusto para o português, ainda assim longe dessa realidade. 
Reconheço que a ideia e a predisposição ofensiva me atrai em Martínez. A coragem que tem na colocação das pedras em campo raramente coincide com as decisões que toma fora deste. O modelo pode entusiasmar, mas depois dá tiros nos pés na forma dos compromissos que assume. E se isso, perante a Geórgia, não é muito relevante, tornar-se-á crucial e até limitativo mais à frente. Faz sentido pressionar tão alto e de forma tão agressiva com Ronaldo e Leão em campo, por exemplo?
Dito isto, o que Ronaldo retirou à equipa? A possibilidade de ver outras soluções e movimentações, outro tipo de química e testá-las num contexto competitivo. O que Martínez está a dizer ao grupo é precisamente o mesmo que Fernando Santos afirmava, embora, no seu caso, usasse palavras. Para ele, Cristiano jogava sempre. Até deixar de jogar. O espanhol não o diz, mas vai pelo mesmo caminho. Ninguém deve ser intocável e todas as posições devem estar em equação. É a competitividade que determinará quem joga. Regras que vários treinadores esquecem quando chegam a determinados contextos.
Martínez voltou a estar menos bem no elogio público a Ronaldo após a assistência para Bruno Fernandes. O que o capitão fez não é exaltação do coletivo sobre o individual, mas sim o que se ensina em todos os clubes desde os primeiros dias de formação. Num 2x0, fixas o guarda-redes e dás ao teu companheiro para finalizar. O contrário, não passar, é que seria notícia. E, aí sim, o céu abater-se-ia sobre o individualismo do finalizador nato."

Boicote...

Estamos contigo...


"Os erros do António Silva neste jogo a feijões serão mais debatidos do que o erro fatal do Diogo Costa que nos eliminou do Mundial.
É o preço que paga por ser Benfica de corpo e alma.
Estamos contigo, António Silva ❤️"

A sério?!

João Félix, o menos frágil dos azulejos


"No dia em que finalmente apareceu João Félix, não apareceu a equipa. Fica no caderno de apontamentos de Roberto Martínez a nota de que pode ser uma solução alternativa para o ataque assim realize exibições como a que teve contra a Geórgia e diminua as inconstâncias, esse vírus que o afeta.

A força gravitacional parte um retângulo de azulejo no chão. Aquilo que era um composto homogéneo transforma-se em pequenos cacos. Não é possível contá-los. Evidencia-se o caco maior, aquele que resistiu mais ao impacto da queda. O núcleo de onde todas as outras partículas fugiram que deixa perceber um pouco do recorte da pintura feita em cima do material lustroso.
Esse pedaço é uma relíquia, permite fazer a reconstituição do que valia o todo antes de estar dividido em átomos. João Félix, na pungente exibição de Portugal contra a Geórgia, foi o único artefacto que vale a pena conservar. A seleção nacional vestiu-se de camisola azul ornamentada com floreados num tom mais escuro para fazer lembrar peças de cerâmica. Como a equipa nunca funcionou como um todo, cada um dos jogadores não foi mais do que a divisão em grãos de areia de uma obra artística.
Portugal esteve bem mais perto do seu potencial máximo contra a Turquia, partida que antecedeu o duelo com os georgianos e no qual a seleção nacional conseguiu o apuramento para os oitavos de final. Acontece que os jogadores eram outros. Roberto Martínez fez oito mudanças no onze. João Félix entrou nas escolhas iniciais ao embalo da rotação do técnico espanhol.
O nível de forma volúvel do extremo tem-lhe imposto idas frequentes ao banco nos vários contextos competitivos por onde tem passado. Diz já estar habituado e manter-se disponível para ajudar no que conseguir. Cara a cara com os intensos georgianos, hábeis na tarefa de fazer os internacionais portugueses pensarem pelo menos 26 vezes antes de realizarem qualquer ação, Félix foi dos mais expeditos a largar a bola e a tentar fazer diferente, até porque se tratava de uma estratégia de autodefesa. Veja-se as vezes que as pernas de Francisco Conceição, homólogo do lado direito do ataque, não foram atropeladas pelos carrinhos dos adversários.
No pior dos cenários, porque coletivamente Portugal esteve estancado pela tijoleira defensiva da Geórgia, João Félix levantou a cabeça, olhou em redor e não viu melhor solução do que ser ele próprio a seguir em direção da baliza. Rematou, assim, de improviso, um par de vezes inconsequentes para o resultado.
Cordato na generosa tentativa de partilhar com os outros o ritmo a que ia jogando, falhou passes (daqueles em que o risco pode compensar) por estar a pensar uma dúzia de minutos à frente do ataque português. No tempo de compensação, teve quem o acompanhasse. Foi Nélson Semedo o contemplado com o brinde de ficar na cara do guarda-redes. O lateral não agradeceu com o golo.
Nesta fase, João Félix parece estar sintonizado noutra frequência. Quando o jogador corresponde, a equipa vacila. Quando o jogador vacila, a equipa corresponde. Não existirá uma relação direta entre as duas partes. É uma questão de encontrar o ponto certo para diminuir o ruído."

Falta de rigor no melhor campeonato do mundo



"Qualidade do hóquei em patins português merece muito mais

No desporto, a arbitragem é uma peça crucial para a justiça e integridade das competições. A falta de rigor e qualidade nas arbitragens pode claramente comprometer não só os resultados, mas também a qualidade do espetáculo desportivo.
Com o campeonato português de hóquei patins a terminar, aquele que muitas vezes é apontado como o melhor campeonato do mundo, importa largamente refletir sobre o caminho da arbitragem na modalidade. Como alguém que gosta da modalidade não posso deixar de notar que a qualidade da arbitragem tem diminuído grandemente nos últimos anos. Não se trata aqui de clubes protegidos ou penalizados, não se trata de uma arbitragem que inclina o campo para algum dos lados, mas sim de uma ausência de rigor constante onde ao longo do jogo se torna quase impossível perceber quais são os critérios utilizados tamanha é a discrepância entre eles. Isto não prejudica (ou pelo menos não só) uma equipa, prejudica a imagem da modalidade, a sua credibilidade e o interesse que ela desperta.
A psicologia social oferece uma lente valiosa para entender este fenómeno. A teoria da justiça sublinha que os indivíduos esperam ser tratados de maneira justa e equitativa. Quando os jogadores sentem que as decisões dos árbitros são inconsistentes, isto aumenta o sentido de injustiça, pois como qualquer ser humano tendem a atribuir mais valor às decisões que sejam mais penalizadoras para si, o que destabiliza os atletas do ponto de vista emocional. Esta perceção de injustiça, quando se deve à inconsistência e falta de rigor na arbitragem, mina a confiança nas autoridades do jogo, não apenas para uma das equipas, mas para ambas, como também aumenta a pressão psicológica sobre os atletas, afetando o seu desempenho e podendo mesmo fazer aumentar os comportamentos agressivos. Vários estudos demostram que a frustração é um precursor comum da agressividade. Quando os jogadores percebem que estão a ser prejudicados por erros de arbitragem, é natural que essa frustração se manifeste em comportamentos agressivos, tanto verbalmente como fisicamente, criando um ambiente de tensão e hostilidade, o que compromete a disciplina, o espírito desportivo e a qualidade do jogo.
A melhoria do rigor e da qualidade da arbitragem é crucial não só para a verdade desportiva, mas também para a manutenção dos níveis de qualidade da modalidade, bem como da sua capacidade de atrair público. Neste sentido, talvez seja o memento de refletir sobre a preparação técnica das equipas de arbitragem, mas também a física e principalmente a preparação mental. Mas independentemente de tudo, uma coisa é certa: a qualidade do hóquei em patins português merece muito mais rigor e qualidade do que aquela a que temos vindo a assistir."

Aumento da procura por ajuda psicológica no futebol


"O aumento da procura por ajuda psicológica entre jogadores de futebol reflecte a complexidade do cenário atual do desporto, marcado por múltiplas pressões que afectam a saúde mental dos atletas. Estudos apontam que a pressão incessante dos adeptos e dirigentes, na busca por resultados e vitórias, impõe uma carga emocional intensa sobre os jogadores, resultando frequentemente em ansiedade e stress. Além disso, a exposição constante nas redes sociais e nos meios de comunicação amplifica tanto os elogios como as críticas, criando um ambiente de julgamento permanente que pode prejudicar a autoestima dos atletas.
A vida dos jogadores torna-se cada vez mais pública, o que gera uma sensação de falta de controlo sobre a própria imagem e narrativa, aumentando a ansiedade e a insegurança. A profissionalização do futebol exige dedicação integral, muitas vezes em detrimento do lazer e da vida social, o que pode levar ao isolamento e solidão. Embora os salários elevados proporcionem benefícios financeiros, a busca por sucesso e reconhecimento pode obscurecer a paixão pelo desporto, gerando ansiedade e insatisfação.
A pandemia de COVID-19 intensificou estes desafios, exacerbando o isolamento social e a incerteza, evidenciando a importância do acompanhamento psicológico adequado. Além disso, a constante exposição e adulação podem alimentar traços narcisistas, que, apesar de úteis em alguns aspectos do desempenho, podem levar a problemas de relacionamento e crises de identidade, especialmente em casos de lesões ou aposentadoria.
A cultura do futebol, caracterizada pela extrema competitividade e necessidade de demonstrar força, contribui para um ambiente onde os jogadores relutam em expressar vulnerabilidades, agravando o estigma relacionado à saúde mental e dificultando a busca por tratamento adequado."