quinta-feira, 18 de abril de 2024
Quando o bem vence...
"...as rivalidades passam para segundo plano e elevam-se valores mais importantes
É certo e sabido que uma boa polémica dá audiências. E, ao longo das temporadas, são muitas as que, aqui e ali, vão deixando marca na espuma dos dias, cá e lá. De tal modo a gritaria e os insultos reinam em horário nobre que, por vezes, atos de bondade, de comovente sensibilidade, de honra ou cavalheirismo são condenados a notas de rodapé, a papel secundário ou, até, ao esquecimento. Falemos deles então, nós que, fartos do mal, aplaudimos o bem, como todos aplaudiram a justa, merecida e arrepiante homenagem que, na Luz, o Benfica fez a Sven-Goran Eriksson.
Mas houve mais casos no maravilhoso mundo da bola a merecer destaque pela sua beleza e elegância na última semana. Como o protagonizado no Minho, onde, por instantes, uma das maiores rivalidades entre emblemas do nosso País — entre V. Guimarães e SC Braga — deu lugar à elevação, quando o técnico vimaranense enviou palavras públicas de conforto a Rui Duarte, treinador bracarense que vive o terror da perda de um filho: «Um abraço muito forte ao Rui Duarte pelo momento que está a passar.»
No meio de outra velha guerra, mas na vizinha Espanha, mais um instante bonito. Villarreal e Athletic Bilbao andam há meses de relações cortadas por conta do desvio de duas jóias da cantera amarela para os bascos (Barakaldo e Oyono). Pouco se importando com isso, o técnico do Villarreal, Marcelino Toral, em lágrimas (treinou os bascos antes), deu os parabéns ao Athletic pela vitória na Taça, 40 anos depois: «Eles sofreram muito, muito, sofremos juntos. E finalmente alcançaram o que aspiravam há tanto tempo. Por isso, quero parabenizá-los e dizer que o futebol foi justo neste momento.»
Por fim, a frase do presidente do Bayern, Herbert Heiner, após a consagração do Leverkusen como campeão alemão: «Parabéns ao Leverkusen pelo primeiro título da Bundesliga na história do clube. Um título merecido e que recompensa uma excelente temporada e um excelente futebol.» Aplausos!"
Atração pelos extremos
"Relação entre o Terceiro Anel e Roger Schmidt é reflexo de uma forma de estar que parece contagiar muito quem devia pensar de cabeça fria
Facto: dos três grandes, o Benfica é o clube que menos títulos conquistou nos últimos cinco anos. O FC Porto venceu oito (que podem passar para nove), o Sporting venceu quatro (que podem passar para seis) e as águias conquistaram três (que podem passar para quatro).
Facto: dos três grandes, o Benfica é o clube que mais vezes mudou de treinador nos últimos cinco anos: Bruno Lage-Nélson Veríssimo-Jorge Jesus-Nélson Veríssimo-Roger Schmidt; de 2019 para cá, o Sporting teve Silas-Leonel-Pontes-Rúben Amorim; o FC Porto só contou com Sérgio Conceição.
Facto: nas três últimas janelas de mercado, já com dedo de Roger Schmidt, o Benfica apresenta uma taxa de acerto baixa apenas no último período – Jurásek e Bernat não fizeram a diferença, Kokçu e Arthur Cabral estão no limbo, Marcos Leonardo, Prestianni e Rollheiser são ainda promessas.
Facto: nos anos mais recentes e de estabilidade da equipa técnica, o FC Porto teve vários flops e alguns que custaram muito caro - Saravia, Nakajima, Zé Luís, Malang Sarr, Felipe Anderson, Rúben Semedo, David Carmo ou Gabriel Verón.
Facto: já com Amorim ao comando em todos os períodos abertos do mercado de transferências foram dados vários tiros ao lado – Gonçalo Esteves, Rúben Vinagre, Bellerín, Sotiris, Tanlongo, Arthur Gomes, Rochinha (e Chermiti chegou a ser aposta para ganhar jogos).
Facto: o treinador alemão venceu dois dos últimos três títulos que o Benfica conquistou nos últimos cinco anos e foi com ele que muitos jogadores fizeram as melhores épocas ao serviço do clube: Grimaldo, Florentino, João Mário, Rafa, Gonçalo Ramos (e sim, até Chiquinho). E todos os outros que vinham de trás não fizeram pior. E foi ele a lançar, sem grandes reservas ou receios, António Silva e João Neves, ficando ligado à carreira de ambos, aconteça o que acontecer.
Facto: apesar dos erros de casting, de más apostas e de algumas teimosias normais de quem tem convicções fortes como são os casos de Conceição e Amorim, a sua credibilidade e autoridade nunca estiveram em causa e não me recordo de ver sequer um único nome como possível substituto de um ou de outro nos momentos de crise.
Facto: o Benfica pode chegar nesta quinta-feira às meias-finais de uma competição europeia, algo que o clube conseguiu pela última vez há 10 anos.
Facto: nem um ano depois de ter sido campeão e na sequência de alguns erros claros do ponto de vista da gestão, Roger Schmidt é alvo de críticas ao nível do pior que se assistiu em torno de Bruno Lage, Rui Vitória e mesmo de Jorge Jesus.
Facto (por confirmar, embora os indícios sejam muito fortes): há entre o universo benfiquista uma atração pelos extremos e por vezes parece que esse sentimento se infiltra demasiado em quem tem de decidir de cabeça fria. A euforia dos adeptos que encontraram um novo Eriksson na época passada conduziu a uma renovação contratual precipitada e a contestação do Terceiro Anel em 2023/2024 gera agora muitas incertezas na SAD.
Dica: se Schmidt ficar para uma terceira temporada, é bom que aprenda a arranhar o português. A relação conturbada com os adeptos também tem muito a ver com comunicação e relações públicas. Principalmente quando as coisas correm mal."
Desnorte
"O mapa não está inclinado de Norte para Sul ou de Sul para Norte, a inclinação é do interior para o litoral, com tudo a desaguar no Atlântico
«Hoje é simples, fácil, e acho que querem pôr a região Norte um bocadinho fora do mapa do sucesso desportivo que a equipa tem de ter em Portugal e na Europa.»
E de repente parece que Sérgio Conceição entrou numa cápsula do tempo para recuar décadas onde este discurso da geopolítica do futebol nacional serviu de catalisador para o acordar de um clube adormecido e que nos últimos 40 anos ganhou tudo o que tinha para ganhar, cá dentro e lá fora, e que o colocou como um dos emblemas mais respeitados em todo o mundo. Só que passaram 40 anos e o que foi uma estratégia que uniu, acabou também por suster um crescimento de implementação nacional que os títulos (muito internacionais) incrementou.
Mas de que Norte está Sérgio Conceição a falar? Do Norte que tem mais de metade dos clube da Liga? Do Norte litoral ou do Norte interior? Porque esta divisão entre Norte e Sul, Lisboa e Porto nunca fez sentido sobretudo aos olhos de quem vive ou viveu no interior de Portugal… O mapa não esteve nem está inclinado de Norte para Sul ou de Sul para Norte, a inclinação é do interior para o litoral, com tudo a desaguar no Atlântico - empresas, oportunidades, pessoas.
O futebol não é exceção. Na Liga, há apenas um clube de um distrito do interior e a lutar para não sair dela - o Chaves luta, e muito complicada está a tarefa, para que o interior (neste caso o interior Norte) não fique mais uma época sem representatividade no campeonato maior.
Certamente não é deste Norte a que Sérgio Conceição se refere. E também não é ao outro Norte. E também não é uma tentativa, mesmo que décadas fora de época, de mobilizar uma região. É apenas uma desculpa para mais um insucesso numa temporada que nem a Taça de Portugal pode salvar - se o FC Porto for à final será certamente um dia de festa para os adeptos, maior se levarem o troféu para o Dragão, mas para um clube como o FC Porto saberá sempre a pouco. Porque, sim, o FC Porto é uma das grandes bandeiras da região, de Portugal na Europa, e por isso não faz já sentido diminui-lo. Em ultima instância, Sérgio Conceição, com este discurso, diminui um grande clube como é o FC Porto. E mostra o desnorte de uma temporada em que os dragões apontam o dedo acusador às arbitragens, aos adversários na corrida eleitoral, a tudo e mais um par de botas.
E a quem se refere Sérgio Conceição quando diz que «querem pôr a região Norte um bocadinho fora do mapa do sucesso desportivo»? Quem quer? Os adversários? Os jornalistas? Os árbitros? Na segunda-feira foi a notícia de o FC Porto voltar a incumprir as regras do fair-play financeiro: querem ver que é a UEFA?"
Esclarecimento
"A história do Sport Lisboa e Benfica faz-se de muitos mais anos de Liberdade do que de ditadura. Veja-se que dos 120 anos do maior clube português, apenas 48 foram vividos durante o Estado Novo e que mesmo nesses anos foram vários os gestos e atitudes que demonstraram a vontade de lutar por um Portugal democrático. As comemorações previstas para os 50 anos do 25 de abril são mais uma prova que o Benfica esteve sempre pela Liberdade e é nisso que acreditaremos sempre.
Passado este preâmbulo, cabe-nos esclarecer a situação ocorrida ontem sobre o lançamento do livro “A Cartilha da Benficofobia”, no Museu do Benfica. No passado dia 28 de fevereiro, o Benfica Independente organizou um jantar de aniversário para os seus patronos e teve a oportunidade de receber várias antigas glórias do clube para um momento de celebração e partilha de muitas histórias. Além disso, tivemos a oportunidade de privar com João Malheiro, que aproveitou o momento para convidar o BI para o lançamento do livro “A Cartilha da Benficofobia”. O processo seguiu de forma normal, tendo os convites sido endereçados a integrantes do BI para que pudessem acompanhar o lançamento. Posteriormente, foi dada permissão pelo Diretor de Comunicação, Pedro Pinto, para que fossem feitas entrevistas e gravadas imagens do evento. Por isso, foi com grande surpresa que recebemos a informação na passada sexta-feira, 12 de abril, de que o convite para o Sérgio Engrácia foi recusado. Perante este cenário, e com alguma tristeza da nossa parte, foi decisão do BI não estar presente no lançamento do livro. Infelizmente, sabemos que não foi caso único e isto deixa-nos uma certeza, o trabalho do João Malheiro merecia um maior respeito da parte de algumas pessoas que trabalham no Sport Lisboa e Benfica.
Não é a primeira vez que esta situação acontece e acreditamos que não será a última, mas podemos garantir que vamos continuar o nosso trabalho de promoção e defesa do clube. Quem nos segue sabe que damos a cara quando ganhamos, empatamos ou perdemos, por muito que isso nos custe. Quem nos vê e ouve também sabe que damos visibilidade a caras reconhecidas e adeptos desconhecidos, a todos desde que venham por bem. Foi com estes valores que acompanhámos eleições, jogos de futebol, modalidades e aproximámos os nossos adeptos do clube durante a pandemia. Acima de tudo, temos a capacidade de distinguir o clube Sport Lisboa e Benfica de algumas pessoas que nele trabalham — por muito poder e intimidação que exerçam —e que mesmo sem ter sido eleitas pelos sócios nos impedem tantas vezes de fazer o nosso trabalho maior: Benficar. Tal como referimos anteriormente, o tempo saberá mostrar quem é verdadeiramente independente na história do nosso clube.
Uma última nota de agradecimento ao João Malheiro pelo convite, ao Pedro Pinto pela disponibilidade, e a todos os adeptos benfiquistas que mostraram o seu apoio.
Pelo Benfica, sempre."
Na NBA... E por cá?
"Dez clubes esgotaram todos os 41 jogos em casa e no total os pavilhões tiveram lotação de 98 por cento
Há mais de uma década, além de usarem os dados analíticos para preparar os jogos em relação aos seus jogadores, adversários e até árbitros, alguns clubes da NBA começaram também a procurar informações, estruturá-las e estudá-las relativamente aos espectadores. Queriam saber mais sobre os adeptos e o mercado para melhorar o negócio.
Numa conversa que, na altura, tive com um responsável dos Orlando Magic, fiquei a saber, por exemplo, que certos fãs que o clube pensava que só iam de vez em quando aos jogos, afinal iam sempre. Mudava era quem ficava responsável pela compra dos ingressos pagando com cartão. O clube andava enganado.
Criando aplicações que iam fornecendo dados estatísticos sobre o jogo, a partir do momento em que o adepto entrasse, oferecendo-lhe rede de internet gratuita, os Magic podiam fazer promoções e sabiam onde cada um se sentava ou movimentava no recinto ao longo da partida. Se ia às lojas de merchandising, às de comida...
Melhor, e isto, entretanto, já há clubes de futebol em Portugal que o aplicam para detentores de cativos: caso não vá ao um jogo e avise, revendem o bilhete. Só que os Magic ressarciam o dinheiro num cartão para ser usado no pavilhão — lucro extra garantido — e ficavam a conhecer onde é que essa pessoa depois o gastava.
Outro caso, se alguém habitualmente gostava de comer um gelado, eram capazes de ir ao lugar e surpreenderem oferecendo… um gelado. Também descobriam que a maioria dos season ticket holders (donos de cativos) de idade mais avançada usava mais o cartão para pagar o estacionamento ou na loja. O objetivo é que cada vez que os fãs forem ao pavilhão isso se transforme numa experiência inesquecível. Quer a equipa ganhe ou perca naquele dia ou mesmo se a temporada estiver a ser fraca.
E quem assiste às transmissões pela televisão ou já teve a oportunidade de estar num jogo da NBA sabe que é esse o ambiente que se sente e transmite. Há muito para se viver além do basquetebol. O espetáculo nunca para. Em Orlando, onde está o Disney World, 60 por cento da venda de bilhetes para um só jogo era a pessoas fora da cidade e metade dessas turistas estrangeiros. Todos à procura da tal experiência.
Podia continuar a dar exemplos, mas tudo isto vem porque, antes do play98 por cento-off começar, a Liga anunciou que foram batidos uma série de máximos de assistência nos pavilhões: público total, público médio, percentagem de capacidade de ocupação e de lotações esgotadas.
Acontece pela segunda temporada seguida. Verificaram-se 872 lotações esgotadas — em 2022/23 tinham sido 791 (63%) —, o que dá 71% e a média de público de 18.322, face aos 18.077 do ano passado. No total as arenas registaram 98 por cento da capacidade e dez clubes, estão todos agora na segunda fase, o que ajuda claro, lotaram os 41 jogos em casa. E assim será no play-off.
Esta é uma preocupação de uma liga que vende os campeonato pela televisão e internet para 212 países. Até podia não se preocupar muito com os pavilhões. E nós por cá, sobretudo no futebol, claro, continuamos a querer esvaziar ou a encher estádios?"