quinta-feira, 18 de abril de 2024

Desnorte


"O mapa não está inclinado de Norte para Sul ou de Sul para Norte, a inclinação é do interior para o litoral, com tudo a desaguar no Atlântico

«Hoje é simples, fácil, e acho que querem pôr a região Norte um bocadinho fora do mapa do sucesso desportivo que a equipa tem de ter em Portugal e na Europa.»
E de repente parece que Sérgio Conceição entrou numa cápsula do tempo para recuar décadas onde este discurso da geopolítica do futebol nacional serviu de catalisador para o acordar de um clube adormecido e que nos últimos 40 anos ganhou tudo o que tinha para ganhar, cá dentro e lá fora, e que o colocou como um dos emblemas mais respeitados em todo o mundo. Só que passaram 40 anos e o que foi uma estratégia que uniu, acabou também por suster um crescimento de implementação nacional que os títulos (muito internacionais) incrementou.
Mas de que Norte está Sérgio Conceição a falar? Do Norte que tem mais de metade dos clube da Liga? Do Norte litoral ou do Norte interior? Porque esta divisão entre Norte e Sul, Lisboa e Porto nunca fez sentido sobretudo aos olhos de quem vive ou viveu no interior de Portugal… O mapa não esteve nem está inclinado de Norte para Sul ou de Sul para Norte, a inclinação é do interior para o litoral, com tudo a desaguar no Atlântico - empresas, oportunidades, pessoas.
O futebol não é exceção. Na Liga, há apenas um clube de um distrito do interior e a lutar para não sair dela - o Chaves luta, e muito complicada está a tarefa, para que o interior (neste caso o interior Norte) não fique mais uma época sem representatividade no campeonato maior.
Certamente não é deste Norte a que Sérgio Conceição se refere. E também não é ao outro Norte. E também não é uma tentativa, mesmo que décadas fora de época, de mobilizar uma região. É apenas uma desculpa para mais um insucesso numa temporada que nem a Taça de Portugal pode salvar - se o FC Porto for à final será certamente um dia de festa para os adeptos, maior se levarem o troféu para o Dragão, mas para um clube como o FC Porto saberá sempre a pouco. Porque, sim, o FC Porto é uma das grandes bandeiras da região, de Portugal na Europa, e por isso não faz já sentido diminui-lo. Em ultima instância, Sérgio Conceição, com este discurso, diminui um grande clube como é o FC Porto. E mostra o desnorte de uma temporada em que os dragões apontam o dedo acusador às arbitragens, aos adversários na corrida eleitoral, a tudo e mais um par de botas.
E a quem se refere Sérgio Conceição quando diz que «querem pôr a região Norte um bocadinho fora do mapa do sucesso desportivo»? Quem quer? Os adversários? Os jornalistas? Os árbitros? Na segunda-feira foi a notícia de o FC Porto voltar a incumprir as regras do fair-play financeiro: querem ver que é a UEFA?"

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