sábado, 13 de abril de 2024
Grande contra-ataque...
Di María and Neres combine to score the Goal of the Week winner 🤝🦅@Heineken || #UELGOTW || #UEL pic.twitter.com/P2pKuesSrc
— UEFA Europa League (@EuropaLeague) April 12, 2024
O Caminho Faz-se Caminhando...
"Na caminhada até Dublin teremos percalços de variadíssimas facetas e adversários com diferentes graus de dificuldade. Passo a passo o SL Benfica vai fazendo o seu percurso na tentativa de alcançar a capital irlandesa.
No jogo de ontem - que ganhou, por sinal - o Benfica prestou a devida homenagem a um dos seus. Um homem de caráter, vencedor e um excelente transformador de mentalidades. Sven-Göran Eriksson recebeu a mais que merecia demonstração de admiração, veneração e respeito por parte dos adeptos benfiquistas.
No entanto, os mesmos adeptos que consagraram Eriksson, conseguiram igualmente, deixar como última imagem do Benfica ao ex-treinador das águias, uma monumental assobiadela, dirigida ao atual timoneiro, em que demonstraram assim, o manifesto descontentamento pelo que se havia passado no terreno de jogo. O tal jogo em que vencemos o Marselha.
Estranha forma de motivar os jogadores para o que ainda resta desta época... E depois queixam-se!!
Ontem, o Liverpool, líder da Premier League, sofreu uma pesada derrota, em casa, perante o sexto classificado da Liga Italiana. Imaginem só o que seria se a casa do Liverpool fosse o Estádio da Luz l, em Lisboa. Caso o Benfica passe esta eliminatória, o mais provável será enfrentar a Atalanta e aí veremos que motivação terão os nossos jogadores para levar de vencida a turma transalpina e assim chegar à tão desejada final.
Com adeptos assim, quem necessita de inimigos!?
Que Sven-Göran Eriksson nos salve, só mais desta vez!"
Vantagem na eliminatória
"Nesta edição da BNews, destaque para a vitória obtida, por 2-1, ante o Marselha na 1.ª mão dos quartos de final da Liga Europa, num jogo em que foi prestada uma emocionante homenagem a uma grande figura do Benfica, o treinador Sven-Göran Eriksson.
1. Em evidência
O golo apontado por Di María frente ao Marselha foi eleito golo da semana na Liga Europa. E Rafa está nomeado para jogador da semana na competição.
2. Um de nós
Eriksson, campeão nacional três vezes, em cinco épocas, pelo Benfica, finalista da Taça UEFA e da Taça dos Clubes Campeões Europeus, foi homenageado no intervalo da partida entre o Benfica e o Marselha. Nas bancadas da Luz, repletas de Benfiquistas, imperou a emoção e o reconhecimento a um dos mais extraordinários treinadores da história do Clube. A presença de muitos jogadores que trabalharam sob as ordens de Eriksson abrilhantou o tributo.
3. Importante vencer
Roger Schmidt destaca o triunfo e refere o objetivo da passagem da eliminatória: "É sempre importante vencer quando jogas primeiro em casa. Fizemos um bom jogo, os jogadores estiveram muito bem. Claro que podíamos ter tido um resultado melhor, mas, no final, uma vitória é uma vitória e, agora, na 2.ª mão, temos de mostrar que merecemos ir à semifinal. Sabemos que podemos acreditar em nós."
4. Em busca do apuramento
Na opinião de Di María, "o resultado é um pouco injusto". E acrescenta: "O importante é a vantagem de 2-1, um golo de diferença, e vamos para passar a eliminatória em Marselha."
Florentino alinha pelo mesmo diapasão e realça a presença de Benfiquistas em Marselha: "De certeza que teremos um resultado positivo. É sempre importante tê-los connosco, pois com eles somos mais fortes. Vamos continuar o nosso caminho e trabalhar o máximo para passar esta eliminatória."
E para Tengstedt "todas as vitórias são um bom resultado": "Esperávamos manter a nossa baliza sem sofrer golos, mas vencemos a primeira parte da eliminatória."
5. Em defesa dos adeptos
Benfica, Marselha e UEFA envidaram esforços conjuntos no sentido da permissão da presença de adeptos visitantes em ambos os jogos dos quartos de final da Liga Europa. "O futebol sem adeptos não é futebol!"
6. Resultados e agenda
O Benfica foi eliminado pelo Óquei de Barcelos nos quartos de final da WSE Champions League de hóquei em patins.
Hoje, na Luz, há jogo de futsal no feminino. Benfica e Atlético disputam a 2.ª partida dos quartos de final do playoff com início marcado para as 21h00.
Para amanhã estão agendados os seguintes jogos: A equipa B recebe o AVS, no Benfica Campus, às 15h30; os Sub-19 têm deslocação ao reduto do Famalicão (16h00); em basquetebol a equipa masculina visita o Lusitânia (20h30 locais) e a feminina atua no recinto do GDESSA (20h15); a equipa feminina de voleibol é visitada pelo Esmoriz às 19h00; no andebol, os homens têm encontro com o FC Porto no Dragão Arena (21h00) e as mulheres defrontam o Madeira SAD, a contar para as meias-finais da Taça FAP, às 15h00, em São Pedro do Sul; em râguebi, o Benfica visita o Cascais, às 15h00; no polo aquático no feminino, Benfica e CA Pacense disputam o primeiro jogo das meias-finais da Taça de Portugal em Paços de Ferreira (20h30).
7. História agora
Veja a rubrica habitual das manhãs de quinta-feira na BTV."
Como Desperdiçar a Oportunidade de Passar Já Às Meias Finais
"Benfica 2 - 1 Marselha
Antes do Jogo
> Mais do que regressar a uma meia final europeia, que é uma questão meramente simbólica, a passagem às meias finais da Liga Europa encerra em si a quase certeza do apuramento direto para a fase de grupos da Champions, que é uma questão económica relevantíssima. Vamos a isso!
> Oferecer ao homenageado da noite, Sven-Göran Eriksson, uma vitória convincente é mais uma boa razão, uma motivação extra, para o jogo com o Marselha. Criar um ambiente como o da extraordinária noite de 18 de abril de 1990 seria importantíssimo. Lembro-me - e como me poderia esquecer? - da subida de Eusébio ao relvado antes do jogo começar, incentivando os adeptos no apoio à equipa. Foi de arrepiar até o mais insensível - o estádio parecia que ia abaixo.
Durante o Jogo
> 15 min Jogo morno, sem lancs de perigo... e toma lá golo do Benfica! Normalmente isto costuma acontecer-nos a nós.
> 24 min Transmitam por favor ao Tengstedt a velha máxima do Bill Shankly: se tens a bola na área chuta à baliza, depois discutimos as outras opções.
> 29 min O Neres falha? Resolve o Neves. Este miúdo é um luxo. Defende e ataca com a mesma naturalidade e qualidade
> 44 min O Neres hoje ainda não deu uma para a caixa. Vê lá se me calas na segunda parte.
> Intervalo. Momento Eriksson. Sem palavras. Somos grandes!
> 52 min Que bela transição! As estatísticas dizem que o Di María marca muito ao Marselha? Aí está: 2-0!!!
> 57 min Estamos completamente por cima do jogo. Resolver isto hoje é que era.
> 67 min Fdx, António, uma fífia dessas para o Aubameyang? Do nada... 2-1.
> 75 min O jogo mudou. Eles cheios de moral e o Di María a perder bolas desnecessárias.
> 80 min Só sei que o Rafa está cá porque marcou o primeiro golo.
> 87 min Como nós caímos depois do golo deles. Não era de ter mexido na equipa?
> 90 min Muitos assobios na Luz. Impaciência total."
O Benfica encheu o coração de Eriksson em vida. E podia ter retirado mais vida ao Marselha
"Na noite que uniu a Luz na apoteose a Sven-Göran Eriksson, homenageado ao intervalo quando o Benfica já ganhava, o estádio acabou a despedir-se da equipa com assobios. Sem grande rasgo, os encarnados venceram (2-1), mas, quando pareciam encaminhados para um resultado mais gordo, abrandaram e do relaxamento surgiu o erro que deixou o Marselha levar um golo da 1.ª mão dos quartos de final da Liga Europa
É de louvar o Benfica, vendo o exemplo dado pelo Liverpool, ter aprontado uma homenagem a Sven-Göran Eriksson com o sueco vivo, contrariando o tão humano hábito de conceder louros, explanar elogios e recordar virtudes quando já há enlutados. Parece tarefa dificílima fazer um preito em vida, quando se pode desenhar felicidade, por mais tímida, na alma dos visados, a poeta Ana María Rabatté y Cervi escreveu “nunca visites panteões, nem enchas tumbas de flores, enche de amor corações”, esses que ainda batem, e “em vida, irmão, em vida”, quando ainda cá estão os recipientes das palavras honrosas, dos elogios sem fim.
Num caminhar mecânico e esforçado no leve coxear, o sorriso a segurar-lhe as bochechas, a feição tímida perante a ocasião, Eriksson pisou o relvado do Estádio da Luz ao intervalo, passinho em passinho, a demorar o seu tempo no meio do corredor de antigos jogadores do clube que treinou entre 1982 e 1984, depois de 1989 a 1992. Eram muitas as lendas grisalhas, cada uma vestida com a camisola do Benfica do seu tempo, todas vermelhas e ora com “Shell” ou “Fnac” estampado no tecido. Rui Águas, Shéu, Valdo, Humberto Coelho, João Alves, Carlos Manuel, Vítor Paneira e outros vários e, claro, Toni, ele e o seu bigode e os olhos empapados quando deu um abraço ao homem também de lágrimas escorridas, frágil mas feliz, de quem foi adjunto.
Estava-lhe na cara rosada e avermelhada pelo calor primaveril. “Estou a chorar. É bonito. Muitas felicidades e muito obrigado”, ouviu-se de Sven-Göran Eriksson, a lenda-maior da noite, o beneficiário do decoro mais elogiável ao Benfica fosse qual acabasse por ser o resultado do jogo aproveitado pelo clube para ter casa cheia. A sábia Ana María Rabatté y Cervi escrevera-o, “se desejas dizer: ‘Te quiero’ às pessoas de tua casa, ao amigo próximo ou longínquo, em vida, irmão, em vida” e os encarnados reservaram o intervalo com o Marselha para o sueco dos três títulos de campeão nacional e da última final da Taça dos Clubes Campeões Europeus que arrancou gritos pelo seu nome nas bancadas.
Foi o momento áureo da noite, que ainda não tinha futebol nem os preparativos para esta cerimónia e Eriksson, cheio no coração, já sorria no seu lugar do estádio.
Revolucionário no seu tempo quando os tempos eram de meter os jogadores a darem maratonas no pinhal, a correrem à volta do campo ou a subirem escadas, o sueco, visionário na década de 80 por tornar a bola protagonista no treino, pouco rasgo viu até chegar o momento que lhe tocava. Com os mesmos jogadores pelo terceiro jogo seguido pelo argumento das “boas exibições” feitas, ouvido de Roger Schmidt, no pré-jogo, o Benfica demorou a não ser pachorrento na saída de bola, pondo-se a jeito da primeira pressão feita pelo Marselha dentro da metade encarnada. A intenção era enganadora, um débil fogo de vista.
Essa alguma ousadia dos franceses, subidos no posicionamento campo mas amorfos a de facto pressionarem, não escondia a cratera de espaço aberto dos médios e atacantes para os cinco defesas, deixados à sua sorte caso um mero passe vertical entrasse em Rafa. O pequeno e barbudo exemplar de frenético futebolista esperou mais de 15 minutos até João Neves entender que estar na mesma linha de Florentino na construção das jogadas era facilitar a vida aos adversários. O médio avançou um par de metros, Florentino deu-lhe a bola e ele logo a passou a Rafa que desengatilhou o desenho com o toque subtil que desequilibrou o Marselha. Nem cinco segundos depois, o próprio estava a receber o ouro de Tengstedt na área e a marcar com o bico da chuteira (16’).
O rasgo de futebol contemporâneo para o vanguardista sueco que treinou o Benfica esteve no marcador do golo, de certa forma um microrrevolucionário do seu próprio âmago. Sem se destacar propriamente a correr com a bola à conhecida velocidade de Rafa, frenético nos sprints em que a cola ao pé direito, o português centrou-se em pincelar o meio-campo do Marselha com toques artísticos e ao de leve nas jogadas. Um ligeiro roçar do exterior da chuteira na bola para soltar João Neves depois um beijo de calcanhar que a deixou de novo no médio para ele rematar, de longe, às mãos de Pau López.
A distribuição de súbitas intervenções de Rafa nos últimos 30 metros do ataque, atraído pela bola, combinavam com as frequentes corridas de Tengstedt, sempre esforçado a ameaçar as costas dos defesas, para o Benfica, quando acelerava o ritmo dos passes, aproveitar o buraco do desorganizado Marselha. Sofrido o golo, os franceses mais desconchavados ficaram, indecisos entre tentarem manter a equipa junta ou lançarem-se na pressa da pressão que abrir buracos por todo o lado.
Reluzente na luz a findar na carreira de Pierre-Emerick Aubameyang e sem coesão possível para que Kondogbia e Veretout, médios de valor, existissem para lá das ajudas que prestavam à vigia dos jogadores que o Benfica tentava juntar por dentro, o Marselha voltou arisco do balneário. O brusco contraste foi óbvio: ainda o estádio se comovia e mãos iam aos bolsos buscar lenços que secassem as lágrimas já os franceses, com mais vontade do que plano, intensificaram o ritmo das suas ações. Queriam reagir, agindo, e saíram a pressionar a saída de bola do Benfica, expondo-se à sorte de confiarem na organização que já lhes faltava antes de arriscarem assim.
A segunda parte cedo partiu o jogo em repelões e trocas de contra-ataques. O gáudio do Benfica também prontamente se viu. Uma transição das que suga a energia que Di María, é parcimonioso a conservar à direita do ataque, cada vez mais forreta a movimentar-se para outras freguesias, convenceu o argentino a correr veloz com a bola, trocar passes com David Neres e fazer um último, à baliza, para o 2-0. Havia 52 minutos no relógio, parecia o espreguiçar de um resultado mais gordo ainda, a vincar as diferenças individuais e coletivas do Benfica para um Marselha sem tino dos três centrais a controlarem a linha defensiva, nem noção posicional nos restantes jogadores para não partirem a equipa após cada perda de bola.
A ter de coexistir com a confusão marselhesa, o Benfica teve Tengstedt a rematar sem pontaria na área, Di María ainda tentou outra das suas, mas pouco demorou a amolecer na corda bamba que abanou mais por letargia dos encarnados do propriamente pela competência imparável do adversário, mero 8.º classificado da liga francesa. Após uma disputa de bola que Florentino, é notícia, não ganhou, Aubameyang foi pronta e previsivelmente lançado a correr, intenção que António Silva anteviu sem espinhos.
Mas, corpo reto e postura descontraída, o central tentou apenas desviar a bola para sair a jogar com ela e o astuto avançado gabonês, esculpido noutra nada do futebol europeu (Milan, Borussia Dortmund, Arsenal ou Barcelona) pôs o pé direito no que remataria mais à frente, em jeito (67’), para castigar o relaxamento do português. Foi o décimo golo de Aubameyang nesta Liga Europa e o 34.º na história da prova, onde é o melhor marcador da sua história. E em noite festiva pela homenagem à lenda de Eriksson, que um cancro no pâncreas finda, os assobios que nunca hibernam e têm sono leve revisitaram a Luz. Pouco depois, de Roger Schmidt veio um sinal do banco ao trocar João Neves por João Mário, a irrequietude pela calma. A eletricidade na bola pela bola pausada no pé.
Não foi por isso, mas também com isso, que o Benfica cumpriu os minutos que restaram de volta às lides pachorrentas. Outra vez sem rasgo, a abrandar o ritmo das posses de bola, incapaz de desenhar perigo nas jogadas, os encarnados foram um corpo inerte, a contar o tempo frente a um Harit que sambava na cara deles, sem efeitos práticos, e as conduções de bola rápidas com que o marroquino Azzedine Ounahi, entrado para o meio-campo, tentou levar o Marselha para a frente. Pouco pôde o Marselha, mesmo contra um Benfica minguante com a passagem dos minutos. Ao último apito, ouviu-se um coro considerável de assobios.
Às tantas cansados por ser abril e a sucessão de jogos pesar, também não ajudados pela inatividade de Roger Schmidt a reagir à volatilidade do jogo a partir do banco, o Benfica acabou amorfo e inoperante, limitado a esperar pelo relógio. Quando o segundo golo se festejou na Luz, parecia embalado numa vantagem sem entraves para engordar. Baixou o ritmo, relaxou e acabou encolhida num resultado infiel à balança que guarda as equipas após serem pesadas as carências - e várias há - de cada uma. Ao contrário dos encarnados, que jogarão no domingo para o campeonato, o Marselha terá agora uma semana livre de jogos até à 2.ª mão para ver da sua vida até lá.
O Benfica deixou a sua bonita homenagem a Sven-Göran Eriksson em vida, com os seus a rejubilarem para quem já foi um deles. “Tu serás muito, muito feliz se aprendes a fazer felizes a todos os que conheças”, poetizou Ana María Rabatté y Cervi, insisto porque se deve insistir com as coisas bonitas e ela bem escreveu “em vida, irmão”. Na vida que o Benfica poderia ter levado, em maior dose, e vivida com outro futebol, para Marselha. E em noite de comunhão na apoteose a uma lenda, a Luz despediu-se a assobiar."
Se o City pode, todos podem
"Quem diria que abrir uma equipa ao mundo mostraria que eles são humanos como nós...
Ando a ver o documentário da Netflix sobre o triplete do Man. City na época passada. Para quem gosta de futebol, é um prazer voltar a desfrutar do que esta equipa fez (e ainda faz). O talento é visível a cada treino e toque na bola, a motivação para ganhar é trabalhada ao milésimo de segundo e as palestras de Guardiola, alternando entre o «gosto muito de vocês» e o «estou velho e já não posso estar sempre a dizer-vos o que fazer», valeriam qualquer assinatura mensal.
Mas o que realmente faz a diferença não é isso. O que podemos ver aqui e a que só muito raramente temos acesso é aos jogadores e à forma como se relacionam nos bastidores. Já sabíamos que Grealish tem ar de rei da festa, mas agora vemos como está sempre a picar Bernardo Silva, ou como, quando alguém prega uma partida no balneário, já está à espera que o culpem a si. Também já tínhamos reparado que De Bruyne é um génio, só não tínhamos noção que tem um timing de comédia de humorista (e que não tem tempo para vestir roupas à futebolista, porque tem três filhos e mais que fazer - uno di noi!).
Já tínhamos lido - em A BOLA - que Rúben Dias quer ser adjunto de Bernardo, mas agora vemos que o central já é um líder e, lá dentro, não o esconde. Já tínhamos visto que Rodri é uma máquina em campo, só não sabíamos que ele dá umas excelentes aulas de hidroginástica para jogadores milionários («O exercício da minha avó», como faz notar Bernardo) e que quer sempre ganhar (e humilhar ligeiramente os colegas) também no ping-pong e nos dilemas mais absurdos e ao mesmo tempo geniais que surgem naquelas cabeças.
A certa altura, durante uma época desgastante e em que o único momento zen é quando vão regar o bonsai de Haaland (não estava à espera desta, pois não?), surge este debate no ginásio do Man. City: quem seria mais perigoso encontrar, um hipopótamo ou um crocodilo? Sim, parece uma brincadeira, algo para descontrair, mas estes jogadores não saem do modo ultra-competitivo. Todos respondem hipopótamo, menos Rodri. De Bruyne goza-o por achar que o hipopótamo é um animal fofinho para dar um abraço, Haaland trata-o como um idiota por não conhecer todas as características deste animal. Mas Rodri não desiste, abre os braços como a boca de um crocodilo e continua convicto. Não tem problema em ser um contra todos, porque usa isso no futebol também a seu favor. E confesso que me deixou a pensar com o argumento de que um hipopótamo vemos sempre, mas um crocodilo não.
Enfim, dilemas essenciais destes à parte, quem diria que mostrar assim esta equipa nos faria gostar mais dela, hein? Os maiores talentos do mundo são humanos, têm graça, brincam, são tão profissionais quanto normais. Claro que o documentário terá tido regras e controlos, mas e se outros tentarem mostrar-se mais vão perder o quê mesmo? Se o Man. City pode, arranjem lá melhores desculpas para não se esconderem."
Levantar um cavalo ou comê-lo? Eis o dilema do Leão Russo!
"Considerado como o inventor da Luta Livre, Hackenschmidt desmentia teorias sobre o seu apetite.
Gosto das cidades do Báltico, gosto da luz das cidades do Báltico, sejam elas invernais ou estivais, gosto do ambiente geralmente tranquilo das cidades do Báltico. A mais bonita de todas elas é Estocolmo, mas Tallin tem uma aura especial que lhe vem do seu castelo altaneiro e das suas ruas estreitas e medievais que rodeiam a igreja de St. Olaf de onde se caminha pacientemente até ao parque de Kadriorg. Etimologicamente terá vindo de Taani-linna, que significa Castelo Dinamarquês, e remete para a Batalha de Lyndanisse, que teve lugar no ano de 1219 e permitiu aos dinamarqueses tomarem durante uns anos um local estratégico para o controlo da navegação no Mar Báltico. Por outro lado, os suecos, os russos e os alemães conheciam a cidade pelo nome de Reval, que vinha do antigo nome de toda a região: Rävala. Não admira portante que ao consultarmos a biografia de um tal Georg Karl Julius Hackenschmidt, surja Reval, 1 de agosto de 1878, como local e ano de nascimento. Nessa altura, toda a Rävala fazia parte do Império Russo e o jovem Hackenschmidt cresceu a interessar-se de forma muito firme e ambivalente por filosofia e por desenvolvimento físico do corpo, à moda do velho ensinamento latino que mandava ter ‘mens sana in corpore sano’. Havendo passado a maior parte da existência em Londres, há quem afirme que foi Georg Karl o inventor do que se chamava luta livre. Apesar de nem o pai, Georg Friedrich Heinrich Hackenschmidt, nem a mãe, Ida Louise Johansson, o primeiro descendente de alemães e a segunda vinda de uma família que misturava suecos com estonianos, serem particularmente altos, o garoto desatou a crescer e a alargar a olhos vistos ainda mesmo antes da puberdade. Em Londres vieram a chamar-lhe ‘The Russian Lion’. Um exagero! Afinal não conseguiu trepar para além do metro e setenta e cinco. Para compensar tinha um peito que parecia a proa de um couraçado. Na infância tinha sido exímio a jogar gorodki, uma modalidade com as suas semelhanças com o basebol mas que obriga a correr alguns quilómetros a mais. Depois, já homem, passou a ser bom em tudo: natação, corridas, saltos, levantamento de peso e, claro!, luta livre. O mamífero desenvolveu tal força de braços que espantava camaradas de taberna com o truque com muito de circense de conseguir erguer um equídeo de pequenas dimensões. Para completar a exibição, largava o pónei e, só com uma mão, levantava um bloco de cimento de 125 quilos. A alcunha de Leão Russo começava a fazer algum sentido, como se pode constatar. E também nunca tive os ingleses por estúpidos. Teimosos como muares, sim! Mas burros, não!
Uns anos antes, quando trabalhava na fábrica Lausmann, nos arredores de Tallin, como ferreiro, sofreu um acidente que lhe ia decepando a mão esquerda. O dr. Dr. Vladislav Krajewski, que fazia parte da equipa de médicos do czar, percebeu as potencialidades do bicho e levou-o consigo para São Petersburgo onde, sustentado pelo conde Georgy Ribeaupierre, começou a ser treinado para vir a ser o Homem Mais Forte do Mundo, se é que isso é título que se tenha. No verão de 1898, Hackenschmidt estava em Viena para participar nos Campeonatos da Europa de luta livre e de levantamento de peso. Daí em diante não falhou mais competições do género mas tornou-se também um membro estimadísso de qualquer corte graças à sua cultura geral e ao facto de falar corretamente sete línguas. Espancou alegremente os campeões da época como Tom Cannon, Tom Connors, Tom MacInerney, Jack Baldwin, Antonio Pieri e Ahmed Madrali, o Terrível Turco. Em pleno Royal Albert Hall, Hackenschmidt desfez o invencível campeão americano Tom Jenkins e, posto isto, desenfiou-se para a Austrália onde ganhou umas massas valentes apostando em si próprio em combates de todo o género. Amigo íntimo do mágico Harry Houdini e do escritor George Bernard Shaw, comia mais do que qualquer dos cavalos que era capaz de levantar. Constava-se que os seus almoços eram geralmente compostos por oito ou nove ovos, um bife corpulento e um queijo camembert inteiro. Antes dos combates bebia uma média de cinco litros de leite. Georg Karl reformou-se, dedicou-se a escrever livros sobre o cosmos, a mente e o aperfeiçoamento físico e, no intervalo, gastava o seu tempo a desmentir estas minudências sobre o seu apetite cavalar. Jurou que só comia vegetais, e crus, e frutos secos. De pouco lhe serviu, mesmo quando, para provar a sua teoria, aos 85 anos, saltou em público cinco vezes seguidas por cima de uma cadeira. A malta ria-se e perguntava como é que um velhote daqueles fazia tais coisas à custa de espinafres? Houve quem, na galhofa, quisesse mudar-lhe a alcunha para Popeye. Indigno para o velho Leão Russo…"