sábado, 13 de abril de 2024

Levantar um cavalo ou comê-lo? Eis o dilema do Leão Russo!


"Considerado como o inventor da Luta Livre, Hackenschmidt desmentia teorias sobre o seu apetite.

Gosto das cidades do Báltico, gosto da luz das cidades do Báltico, sejam elas invernais ou estivais, gosto do ambiente geralmente tranquilo das cidades do Báltico. A mais bonita de todas elas é Estocolmo, mas Tallin tem uma aura especial que lhe vem do seu castelo altaneiro e das suas ruas estreitas e medievais que rodeiam a igreja de St. Olaf de onde se caminha pacientemente até ao parque de Kadriorg. Etimologicamente terá vindo de Taani-linna, que significa Castelo Dinamarquês, e remete para a Batalha de Lyndanisse, que teve lugar no ano de 1219 e permitiu aos dinamarqueses tomarem durante uns anos um local estratégico para o controlo da navegação no Mar Báltico. Por outro lado, os suecos, os russos e os alemães conheciam a cidade pelo nome de Reval, que vinha do antigo nome de toda a região: Rävala. Não admira portante que ao consultarmos a biografia de um tal Georg Karl Julius Hackenschmidt, surja Reval, 1 de agosto de 1878, como local e ano de nascimento. Nessa altura, toda a Rävala fazia parte do Império Russo e o jovem Hackenschmidt cresceu a interessar-se de forma muito firme e ambivalente por filosofia e por desenvolvimento físico do corpo, à moda do velho ensinamento latino que mandava ter ‘mens sana in corpore sano’. Havendo passado a maior parte da existência em Londres, há quem afirme que foi Georg Karl o inventor do que se chamava luta livre. Apesar de nem o pai, Georg Friedrich Heinrich Hackenschmidt, nem a mãe, Ida Louise Johansson, o primeiro descendente de alemães e a segunda vinda de uma família que misturava suecos com estonianos, serem particularmente altos, o garoto desatou a crescer e a alargar a olhos vistos ainda mesmo antes da puberdade. Em Londres vieram a chamar-lhe ‘The Russian Lion’. Um exagero! Afinal não conseguiu trepar para além do metro e setenta e cinco. Para compensar tinha um peito que parecia a proa de um couraçado. Na infância tinha sido exímio a jogar gorodki, uma modalidade com as suas semelhanças com o basebol mas que obriga a correr alguns quilómetros a mais. Depois, já homem, passou a ser bom em tudo: natação, corridas, saltos, levantamento de peso e, claro!, luta livre. O mamífero desenvolveu tal força de braços que espantava camaradas de taberna com o truque com muito de circense de conseguir erguer um equídeo de pequenas dimensões. Para completar a exibição, largava o pónei e, só com uma mão, levantava um bloco de cimento de 125 quilos. A alcunha de Leão Russo começava a fazer algum sentido, como se pode constatar. E também nunca tive os ingleses por estúpidos. Teimosos como muares, sim! Mas burros, não!
Uns anos antes, quando trabalhava na fábrica Lausmann, nos arredores de Tallin, como ferreiro, sofreu um acidente que lhe ia decepando a mão esquerda. O dr. Dr. Vladislav Krajewski, que fazia parte da equipa de médicos do czar, percebeu as potencialidades do bicho e levou-o consigo para São Petersburgo onde, sustentado pelo conde Georgy Ribeaupierre, começou a ser treinado para vir a ser o Homem Mais Forte do Mundo, se é que isso é título que se tenha. No verão de 1898, Hackenschmidt estava em Viena para participar nos Campeonatos da Europa de luta livre e de levantamento de peso. Daí em diante não falhou mais competições do género mas tornou-se também um membro estimadísso de qualquer corte graças à sua cultura geral e ao facto de falar corretamente sete línguas. Espancou alegremente os campeões da época como Tom Cannon, Tom Connors, Tom MacInerney, Jack Baldwin, Antonio Pieri e Ahmed Madrali, o Terrível Turco. Em pleno Royal Albert Hall, Hackenschmidt desfez o invencível campeão americano Tom Jenkins e, posto isto, desenfiou-se para a Austrália onde ganhou umas massas valentes apostando em si próprio em combates de todo o género. Amigo íntimo do mágico Harry Houdini e do escritor George Bernard Shaw, comia mais do que qualquer dos cavalos que era capaz de levantar. Constava-se que os seus almoços eram geralmente compostos por oito ou nove ovos, um bife corpulento e um queijo camembert inteiro. Antes dos combates bebia uma média de cinco litros de leite. Georg Karl reformou-se, dedicou-se a escrever livros sobre o cosmos, a mente e o aperfeiçoamento físico e, no intervalo, gastava o seu tempo a desmentir estas minudências sobre o seu apetite cavalar. Jurou que só comia vegetais, e crus, e frutos secos. De pouco lhe serviu, mesmo quando, para provar a sua teoria, aos 85 anos, saltou em público cinco vezes seguidas por cima de uma cadeira. A malta ria-se e perguntava como é que um velhote daqueles fazia tais coisas à custa de espinafres? Houve quem, na galhofa, quisesse mudar-lhe a alcunha para Popeye. Indigno para o velho Leão Russo…"

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