quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Manifestamente pouco


"1. Há franjas do futebol português que mais parecem ter-se irritado com a contratação de Di Maria pelo Benfica nesta temporada de 2023/2024. Como se os préstimos de um campeão do mundo nos relvados deste cantinho europeu ofendessem essa boa gente. Mas é natural, aliás, é mais do que natural, é óbvio que os concorrentes e os adversários diretos do Benfica não tenham achado grande graça à chegada do jogador argentino à Luz. Compreende-se perfeitamente.

2. Também é compreensível, dentro dos padrões da nossa pequenez mental (mental, não geográfica), que haja profissionais da opinião sempre prontos a descobrir em cada exibição de Di Maria uma quantidade de detalhes que só comprovam os 'problemas' que Di Maria traz à equipa. Entretêm-se com estas coisas desde que o jogador chegou, e nessa modalidade de entretimento e autossatisfação não causam dano ao Benfica nem, muito menos, ao jogador. São só risíveis.

3. Há, no entanto, outro tipo de questiúnculas com Di Maria que merece que nos detenhamos um bocadinho sobre o assunto. Os jornais contaram-nos nesta semana que a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) decidiu apresentar uma participação ao Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol em função das palavras proferidas por Ángel Di Maria após o encontro em Guimarães para a Liga. Di Maria lamentou o tempo de compensação concedido ao jogo por ser escasso em comparação com os tempos de compensação concedidos aos seus rivais diretos.

4. Terá sido um lamento ou a constatação de um facto, mas a APAF considerou que se tratou de um atentado à honorabilidade dos árbitros, fez seguir uma queixa para o Conselho de Disciplina da FPF, e o jogador pode vir a ser suspenso ou multado ou as duas coisas, provavelmente as suas coisas.

5. Desde há uns tempos, mais precisamente desde que Di Maria e o árbitro do Benfica-SC Braga, para a Taça de Portugal, andaram de cabeças encostadas num momento quente do jogo, que se vem notando um ligeiro azedume nas relações da arbitragem nacional com Di Maria. A confirmar-se, trata-se de uma reação corporativa, normalíssima, embora já comece a ganhar volume esta (chamemos-lhe assim) pequena embirração.

6. O tempo de compensação do Vitória Sport Club foi manifestamente pouco em função das peripécias do jogo, mas também foi manifestamente pouco aquilo que o Benfica colocou em campo em Guimarães, de onde saiu com um empate triste.

7. Como sabemos, campeões do mundo não faltam no Benfica. O mais recente é o nosso fabuloso nadador Diogo Ribeiro. O Benfica está orgulhoso de Diogo Ribeiro e tem motivos para isso. Que portento."

Leonor Pinhão, in O Benfica

O Grande Festival de Arte


"Um evento memorável demonstrou em toda a sua plenitude a grandeza cultural do clube

Na noite de 10 de Dezembro de 1957, com palco no Cinema Império, a Secção Cultural do Benfica organizou um grande festival de arte, tendo por mote a segunda atuação do seu Orfeão. Amplamente noticiado no jornal do Clube, o espaço foi pequeno para acolher todos os dirigentes, atletas, associados e simpatizantes que fizeram questão de marcar presença no evento.
Abriu o espectáculo a Orquestra da Emissora Nacional, regida por Frederico de Freitas, que apresentou vibrantes interpretações do Rossini, Schubert, Granados e Bizet, demordamente aplaudidos por toda a plateia. Seguiu-se Maria Barroso, mulher da cultura e de causas sociais, exímia na arte da declamação, que encheu o palco com a sua voz quente, jovem e expressiva. No seu repertório figuravam nomes maiores da poesia como Fernando Pessoa, Gabriela Mistral, Nazim Hikmet, António Nobre, Pablo Neruda e José Gomes Ferreira. A singularidade da sua interpretação e a vibrante comunicação com o público captaram toda a atenção da sala, que, no final do ato, brindou a artista com uma grande salva de palmas.
Momentos depois, foi a vez de o maestro Campos Coelho, um dedicado benfiquista, daqueles que sentem verdadeiramente o fervor clubista à flor da pele, se apresentar em palco, acompanhado por Maria João Pires e António Vitorino d'Almeida, jovens e prodigiosos pupilos que, anos mais tarde, se tornariam nomes cimeiros no panorama da música clássica. Foram interpretadas obras de Chopin, Liszt e Prokofiev, que muito agradaram a todo o público. De seguida, Campos Coelho chamou ao palco Paulino Gomes Júnior, diretor do jornal O Benfica, também ele seu antigo aluno, para torcerem o famoso Fado Burnay a dois pianos. No final da atuação, visivelmente emocionados, receberam vibrantes e calorosos aplausos de toda a plateia. Nos dias seguintes, sobre a insigne diretor de O Benfica foi escrito: 'Afinal, este homem não é apenas um grande benfiquista. É um grande artista!', afirmação que resumia na perfeição a personalidade deste eterno vulto do Clube.
A segunda parte desta grande festa ficou marcada pela brilhante atuação do recém-criado Orfeão do Benfica. Sob uma ténue luz azulada, o palco do Cinema Império recebeu um grupo de 140 figuras vestidas de branco, sobressaindo especialmente o seu naipe feminino. Sob a regência do jovem maestro Casimiro Silva, o Orfeão do Benfica interpretou obras clássicas de autores estrangeiros e do folclore português. A sua atuação exsedeu uma vez mais as expectativas, levando a sala ao rubro, que saudou efusivamente o conjunto a cada trecho com calorosas salvas de palmas.
Descubra mais históricos sobre a Secção Cultural do Benfica na área 16 - Outros Voos, do Museu Benfica - Cosme Damião."

Ricardo Ferreira, in O Benfica

Borboleta no estômago


"A tarde da passada segunda-feira não deixou ninguém indiferente. Em Doha, no Catar, Diogo Ribeiro, atleta do Sport Lisboa e Benfica em representação de Portugal, conquistou a medalha de ouro nos Campeonatos do Mundo de natação. Aos 19 anos, o astro benfiquista sagrou-se campeão do mundo na prova de 50 metros mariposa. O feito faz dele o melhor nadador português de todos os tempos. Nenhum outro homem ou mulher conseguiu, antes de Diogo, conquistar uma medalha em Mundiais - e ele já vai em duas, juntando a prata dos Mundiais de Fukuoka, no ano passado. Além disso, no currículo tem três ouros nos Campeonatos do Mundo para juniores, bem como um recorde mundial do escalão, precisamente nos 50 metros mariposa.
Estilo curioso, este, que só na década de 1930 começou a ser praticado. Surgiu como um desenvolvimento do estilo bruços, depois de alguns treinadores e nadadores perceberem que era mais eficaz e recuperação dos braços por fora de água. O movimento, semelhante ao das asas de uma borboleta, ficou logo batizado: mariposa em português, butterfly em inglês, papillon em francês. O norte-americano Henry Myers terá sido o primeiro a usá-lo numa competição de estilo bruços, provocando o espanto de colegas e árbitros. A moda pegou, mas o movimento de pernas associado (como o impulso de um golfinho) deixou dúvidas à Federação Internacional de Natação, e só em 1952 a mariposa se tornou oficialmente um estilo regulamentado, entrando para a competição olímpica em 1956 em Melbourne, na Austrália.
Nos próximos Jogos Olímpicos (a partir de 26 de Julho, em Paris, França), a atenção dos benfiquistas, e dos portugueses em geral, vai estar ainda mais focada em Diogo Ribeiro. È uma pressão suplementar, muitas vezes indesejada, mas, olhando para a força mental e para a história de vida do jovem nadador, Diogo está mais do que pronto. Obrigado, miúdo!"

Ricardo Santos, in O Benfica

Campeões da comunidade!


"Os jovens do projeto Community Champions enchem-se de orgulho! Em primeiro lugar, e sempre, porque jogam muito e bom futebol no local mais genuíno de todos, que é o bairro e o seu espaço público, na proximidade das pessoas e na atmosfera bairrista que tantas vezes se vive. Foi assim, a jogar com equipas informais, mas bem a sério e nunca a feijões, que nasceram e se deram a conhecer tantos e tantos valores do nosso futebol, que é, como bem sabemos, um dos melhores do mundo.
Enchem-se de orgulho, em segundo lugar, porque na Fundação apostamos em colocar o desporto, e o futebol em particular, ao serviço da nossa sociedade. E é exactamente isso que acontece com este projeto em que os jovens se mobilizam para melhorar os espaços públicos dos seus bairros e o dia a dia daqueles que mais precisam. Pode parecer pouco quando pensamos nas pequenas ações que estão ao alcance destes jovens, mas, se nos recordarmos, por exemplo, do que se passou durante a pandemia, essas pequenas ações agigantam-se a um nível humanitário nunca antes visto.
Foram eles que, espontaneamente, bairro a bairro, subiram escadas e bateram à porta de idosos para saber do seu bem-estar e ajudar a prover necessidades sem quebrar o isolamento nem colocar a sua vida em risco. Foram eles também que, terminada a pandemia, os convidaram para conviver no espaço público e lhes deram tantas alegrias com as suas conquistas e vitórias em nome de um bairro unido.
Por tudo isto, o nome deste projeto não podia ser melhor. 'Community Champions', sim porque estamos perante verdadeiros campeões das comunidades!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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"1
Diogo Ribeiro, aos 19 anos (o mais jovem em prova) é campeão do mundo dos 50 metros mariposa!

2
O Benfica é campeão nacional de atletismo em pista coberta no feminino pela 2ª vez;

5,82
5,82 metros é o novo recorde nacional de salto à vara estabelecido por João Pedro Buaró, uma marca que garante a presença nos Jogos Olímpicos de Paris;

12
O Benfica é campeão nacional de atletismo em pista coberta no masculino pela 12ª vez (10ª nas últimas 13 temporadas);

34
Com 197 jogos, Rafa passou a ser, a par de Grimaldo, o 34º com mais jogos de águia ao peito no Campeonato Nacional. É o 24º melhor marcador de sempre do Benfica na prova, com 59 golos, e está a 5 de integrar o top-20. Em competições oficiais é o 26º, com 86 golos, a 16 do top-20;

50
António Silva atingiu a marca dos 50 jogos no Campeonato Nacional;

100
Roger Schmidt completou 100 jogos no banco benfiquista pela equipa de honra, incluindo particulares. É o 18º treinador a atingir este registo. Em competições oficiais, são 90 partidas, com 74,44% de percentagem de vitórias, a 4ª mais elevada entre treinadores com pelo menos 15 jogos oficiais (Lajos Czeizler – 78,57%, Jimmy Hagan – 77,78% e Fernando Riera – 75,51%) – considerando vitórias ou derrotas após desempates nos “penáltis”. No Campeonato Nacional leva 44 vitórias em 55 jogos, o que equivale a 80% de aproveitamento, o que só é superado por Manuel Alexandre (84,62%, 13 jogos), Hagan (83,15%, 89 jogos) e Riera (81,36%, 59 jogos);

150
Otamendi envergou, em Guimarães, a braçadeira de capitão do Benfica pela 150ª vez, incluindo jogos particulares. É o 14º a atingir esta marca, numa lista encimada por Luisão, Coluna e Veloso.

* Não inclui o Benfica - Toulouse."

João Tomaz, in O Benfica

Vales e montanhas


"Até quando é que vamos conseguir mascarar as aparentes inconsistências deste plantel? A minha resposta é simples: até ao final da época

Já perdi a conta à quantidade de vezes que vi consócios meus questionarem as opções ou a postura de Roger Schmidt esta época, e os efeitos por ele provocados no seu plantel. Os jogos sucedem-se e as dúvidas parecem amontoar-se. «Estará o Benfica em crise?», perguntam os adeptos mais desconfiados 72 horas antes de golearmos outro adversário sem apelo nem agravo.
«Porque é que ele não apareceu na conferência de imprensa?» questionam-se os mesmos adeptos que criticam cada palavra saída da boca do treinador sempre que este fala, desiludidos com a aura de comunicador elegante que se evaporou após sucessivos confrontos com a realidade. «Que política de contratações é esta?», pergunta o adepto minutos antes de um dos novos reforços mostrar que chegou para fazer aquilo que dele era desejado, reforçar.
Admito que não é fácil. É impossível pedir a um Benfiquista para ser menos exigente. O clube não o permite. Peçam a esse adepto para ser menos crítico e ele responderá, como eu já fiz muitas vezes, que é daí que resultam as melhores soluções. Também eu me questiono acerca das decisões do treinador em alguns momentos.
Chego mesmo a vaticinar que um onze titular poderá ser o início da nossa hecatombe, mas a hecatombe teima em não chegar. Felizmente, o pessimismo é como uma enxaqueca. Mói um bocado, mas depois uma pessoa assiste a 5 golos em 45 minutos e a enxaqueca desaparece. É então que somos forçados a admitir que talvez percebamos menos do assunto do que o tipo que recebe 3 milhões de euros líquidos numa época para decidir por nós, o que, note-se, é perfeitamente normal. Nada disto invalida que alguns jogos tenham emoções mais fortes do que eu gostaria, ou que algumas vitórias sejam mais suadas do que antecipámos, mas, se a memória não me trai, já vi diferentes formações do Benfica vencerem provas de regularidade e competições a eliminar desta forma, e recordo-me mais dos festejos do que das dificuldades para lá chegar.
Esta equipa e o seu treinador são merecedores de reparos e parece-me que sabem disso, mas o facto permanece. A vida deste Benfica 2023/2024 não se faz de olés do primeiro ao nonagésimo minuto e também não se faz sem algum sofrimento pelo caminho. Talvez seja tempo de aceitarmos isso, não porque sejamos menos exigentes mas porque às vezes é assim que tem de ser. Tenho uma tese que admito ser a mais saudável para acompanhar esta época (e talvez todas as outras daqui em diante). É simples: eu irei exatamente até onde esta equipa me levar, enquanto eu a apoiar. Não estou certo de que tudo acabe com felicidade e espumante transbordantes, mas, não obstante os soluços, continuo a ter todas as razões para achar que sim. Seria estranho se dissesse tudo isto e fosse evidente alguma falta de entrega no treinador ou nos jogadores, mas nada disso aconteceu.
Acontece simplesmente que este ano é feito de vales e montanhas. É a melhor imagem que encontro para descrever este Benfica, pelo menos no que toca à parte exibicional. Até agora não nos deparamos com vales muito profundos dos quais não conseguíssemos sair pelo próprio pé. Por outro lado, os cumes estão ainda longe de serem os almejados, mas o facto é que Roger Schmidt continua a ter uma percentagem de vitórias altíssima para a história do Benfica e, para onde quer que olhe, no relvado ou no banco de suplentes, vejo quase sempre uma mão cheia de jogadores que reúnem condições para solucionar as minhas crises de fé ocasionais. Essa constatação deve trazer-nos conforto e, já agora, alguma fé em como a coisa, quando parecer complicada, tem ainda tudo para se resolver. Podia dizer-vos que é uma pessoa naturalmente otimista que escreve isto, mas é mentira. O que acontece é que o meu pessimismo tem sido derrotado quase sempre por um golo inventado pelo Di María, por um contra-ataque do Rafa, ou por outro dos abre-latas que esta equipa tem em abundância. Sim, bem sei, resta a pergunta: até quando é que vamos conseguir mascarar as aparentes inconsistências deste plantel? A minha resposta é simples: até ao final da época, de preferência num Marquês de Pombal a rebentar pelas costuras com indignação por o Aursnes ter sido campeão a jogar como lateral. Chamem-me acrítico que eu cá estarei para acomodar as críticas, de preferência a celebrar convosco dentro de poucos meses.
António, João: não vos conheço pessoalmente, mas sou como todos os outros Benfiquistas. Tenho-vos visto crescer e acompanhado com entusiasmo a vossa chegada à idade adulta em cada relvado, em cada minuto das vossas vidas que temos tido o privilégio de observar. Não consigo ficar indiferente quando dois miúdos por quem tenho tanto carinho passam pelo pior. Sei que a dor que sentem neste momento torna o futebol uma coisa menor, e infelizmente é mesmo assim que tem de ser. Lamento muito a vossa perda e envio-vos um fortíssimo abraço. Não tenho palavras de consolo que possam diminuir a vossa tristeza, mas acho que falo por todos os Benfiquistas quando vos digo que, aqui deste lado, vamos fazer o melhor que pudermos para que essa coisa menor chamada futebol possa ser uma razão para voltarem a sorrir. O slogan pertence a outro clube, mas felizmente também veste de encarnado: «You’ll never walk alone.»"

A semana em revista


"Tal como a vida, o jogo tem variáveis que não controlamos e que levam a determinado destino. Às vezes ao golo, outras à infelicidade

O título é enganoso mas a intenção é boa. É impossível passar em revista uma semana recheada de acontecimentos num artigo com espaço limitado, mas é possível focar nos aspetos que, para o autor deste texto, merecem devida nota.

1. Diogo Ribeiro
Não há muito a dizer que já não tenha sido dito. Portugal, pequeno pedaço de terra à escala mundial, continua a produzir talento de forma incomparável. Depois de dar cartas no atletismo, judo, futebol, hóquei em patins e em tantas outras modalidades, é a vez da natação produzir muito talento promissor, com o expoente máximo fixado no agora bicampeão mundial de mariposa (50m e 100m). O destaque, mais do que pelas incríveis performances na piscina, vai para a história de resiliência deste jovem de apenas dezanove anos: perder o pai aos 4 e ter um acidente grave aos 16 tornou o menino numa fera indomável. Agora não há quem o trave. Que inspiração! Diogo Ribeiro: da glória na piscina à da medalha ao peito Diogo Ribeiro: da glória na piscina à da medalha ao peito Jovem nadador português fala em «corrida dura» e agradece ao público e companheiros; são três finais mundiais e três medalhas

2. A lesão de Zaidu
Grave, pelo que se percebeu. Que recupere na totalidade, para voltar a ser feliz a fazer o que mais gosta e sabe. As lesões nos atletas são infortúnio recorrente, danos colaterais do risco que algumas modalidades encerram, embora as que têm contacto físico - como o futebol - exponenciem essa probabilidade. O lateral nigeriano magoou-se sozinho, ao travar com sucesso jogada perigosa de um adversário. A culpa não foi daquele, não foi do relvado nem foi do árbitro. Tal como a vida, o jogo tem variáveis que não controlamos e que levam a determinado destino. Às vezes ao golo, outras à infelicidade. Às vezes à vitória, outras ao hospital. Não é sorte nem azar, é como é. Podia ter sido diferente? Podia. Podia ter sido melhor mas também podia ter sido pior. Quem sabe? Um abraço apertado para ele e que regresse ainda mais forte!

3. Liga feminina com patrocínio
A Federação Portuguesa de Futebol anunciou uma parceria com a rede Visa para a liga feminina de futebol. O acordo é um passo em frente rumo ao crescimento e afirmação da modalidade, reforçando a importância estratégica que (também) tem junto de empresas que se sentem seguras em arriscar investimento estratégico na área.
Há muito que o futebol jogado por mulheres deixou de ser um passatempo sem interesse para muitos. Hoje é uma competição com qualidade, respeitada e que continua a produzir talento a vários níveis. A prova está nos resultados e na afirmação internacional de atletas e, não esqueçamos, árbitras. Mérito total da Direção da FPF, que apostou com visão e responsabilidade. Muito bem!

4. A (quase) multa em Tavira
Tavira é uma das minhas cidades preferidas. Provavelmente a que mais gosto até. Não há verão que não passe lá uns dias, em família. Toda a aquela zona é inspiradora e ainda tranquila, porque (algo) distante da azáfama turística de outros pontos a sul. Restaurantes, refúgios na natureza e, claro, as praias. Como não amar a temperatura daquelas águas?
Aqui há uns anos, numa das muitas viagens que fiz para aquelas bandas, fui mandado parar numa operação stop, por agentes de autoridade. O motivo? Deduzo que verificação de rotina (à viatura e ao condutor). Um deles, de uma simpatia e humildade contagiantes, reconheceu-me do mundo da bola e disse-o abertamente. Ficámos por ali a bater umas bolas sobre o tema. Descobri, pela sua confissão orgulhosa, que era pai de um futebolista talentoso e promissor, que jogava então nos escalões jovens de um clube grande. O brilho com que o disse era igual àquele que tenho quando me refiro aos meus filhos: incomparável. Dava gosto ver e ouvir. Soube ontem que a tragédia assolou a família, com a partida prematura da esposa/mãe. Confesso que fiquei incomodado, como se fosse alguém que conhecesse bem. Queria mandar a ambos, pai e filho, um abraço apertado e cheio de força. Sabemos que a vida um dia termina, mas custa quando o fim surge demasiado cedo e em circunstâncias que não controlamos nem merecíamos."

O efeito borboleta de Diogo Ribeiro


"“Queres aprender o estilo preferido do espetador e o mais difícil de nadar?” é a retórica pergunta e aparece escrita na legenda do primeiro vídeo devolvido pelo YouTube. A pesquisa ‘como nadar mariposa’ tem, por estes dias, nada de inocente. Pode bem ser a onda de choque colateral que provavelmente se repete, com mais afinco, na rede social dos vídeos, desde os mergulhos de Diogo Ribeiro na piscina de Doha, no Catar. Ele submergiu a ondular, os braços entrelaçados à frente, as pernas fundidas como barbatana, um esculpido corpo a contorcer-se dentro da água a tresandar de cloro no movimento mais parecido ao de um golfinho e, por isso, o menos humano.
Há razões várias para nós, em gaiatos, não aprendermos de início a nadar mariposa quando somos introduzidos à água. É um estilo difícil, exige uma síncope complicada na coordenação motora, os membros de trás unidos, os da frente a pularem sobre a superfície em simultâneo, mas foi com esse que Diogo Ribeiro ainda canalha, com 6 ou 7 anos, chantageou a então treinadora. Ou o ensinavam a deslizar na água com esse estilo, ou saía da piscina e equipava para se dedicar ao futebol em relva firme. O sobredotado da força e sincronia corporal que começara na natação aos seis meses queria ser desafiado, já se fartava da monotonia das rotinas em que se compartimentaliza a aprendizagem das crianças.
De Coimbra para o Jamor, depois Fukuoka e Doha, a história de Diogo já vai sendo sabida e quem a desconhece em breve tomará conta do percurso do miúdo, porque ele ainda o é, que colocou um país a falar de natação: em 2023 voltou com uma medalha de prata nos 50 metros mariposa dos Mundiais do Japão e agora, seis meses volvidos, dormiu com duas de ouro debaixo da almofada, literalmente, na última noite passada no Catar, onde se tornou bicampeão mundial nos 50 e 100 metros da vertente que nós, portugueses, nem traduzimos à letra a partir do que em inglês é butterfly e preferimos chamar mariposa em vez do que seria mais usual na lógica.
Mas o que se já se vê é o efeito borboleta de uma história formidável, a exibir a magnificência das consequências que um bater de asas pode ter no desenrolar da vida. Aos 4 anos, Diogo Ribeiro ficou sem o pai, desportista nato e andebolista da Académica, levado por um enfarte que o atingiu durante um jogo de futebol com os amigos, e a mãe acha que dele herdou “a garra e a competição”; apresentado às piscinas ainda um bebé, essa precocidade e a bonança dos genes fizeram-no crescer como um fenómeno que cortejava tempos olímpicos ainda imberbe; o Benfica reparou no fenómeno, os azares da vida também: em 2021, três dias após voltar prateado dos Mundiais júnior, um carro atropelou-o quando seguia de mota, acidente que lhe fatiou parte de um dedo indicador, fraturou um pé, deslocou um ombro e rasgou vários ligamentos do corpo que parou durante meses.
A estaticidade forçada foi um abre-olhos para Diogo, uma “chamada de atenção” para um puto reguila que sentiu a falta de casa quando se mudou para o Centro de Alto Rendimento do Jamor onde o treinador Alberto Silva, o biomecânico Samie Elias e o preparador físico Igor Silveira aguardavam, vindos do Brasil, por ele e outro grupo restrito de nadadores, contratados para lhes exaltarem as qualidades dentro da piscina. Guardador do maior dos potenciais, foram limando os dias de sol a sol de Diogo Ribeiro, apelando à cautela no trato dado de fora ao precoce recordista de marcas nacionais (já tem o dos 50 e 100 metros livres, além das mesmas distâncias na mariposa) que agora, inevitavelmente, atraiu sem freios possíveis. As águas das expectativas já desaguam descontroladamente à sua beira.
Esta segunda-feira, embrulhado na bandeira de Portugal e com as medalhas de ouro a reluzirem ao pescoço, Diogo Ribeiro aterrou em Lisboa, onde um cerco de jornalistas, microfones e câmaras o recebeu no Aeroporto Humberto Delgado. À quarta ou quinta pergunta surgiu a mais fácil de ser feita ao português que é fenomenal a nadar da forma mais difícil - “Já sonha com o ouro olímpico?”. E ele, rapaz de 19 anos e brinco na orelha, disse que sim, que não só o sonha mas que “começa a ser um objetivo”, com a cara mais natural do mundo enquanto escancarou o portão à invasão do que bem pode ser inevitável a qualquer desportista incrível enfrentar, embora devesse ser tratado com prudência.
Ainda Diogo não tinha regressado e falado e já tudo quanto é figura política lhe dera os parabéns, a deixa de um feito desportivo a ser logo apanhada, como de costume, por António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa e Augusto Santos Silva, as três maiores figuras do Estado, e ainda por João Paulo Correia, o secretário da Juventude e do Desporto, duas áreas personificadas em pleno pelo nadador. Foi o secretário de Estado que acabou por ser o único a embarcar no comboio que carrega de imediato a psique de quem torce e de quem nada com o peso das expectativas, ao escrever: “Grandes perspetivas rumo a Paris 2024!”. A frase, assim como as insistentes questões sobre os Jogos Olímpicos, farão parte da vida do adolescente que, brade-se aos céus, parece ter já carapaça dura para lidar com essa pressão.
Antes de explicar, com calma, que se sente mais humilde a cada conquista e de defender a ética do trabalho, Diogo Ribeiro deixou no aeroporto o “não nos podemos precipitar” que deveria ser mantra na forma de Portugal, enquanto país, lidar com o desporto. Porque lida mal e intempestivamente. Daqui por uns meses estaremos a olhar para Paris e a ouvir gente a exigir medalhas em tudo, a criticar a falta de resultados e até ridicularizar atletas que fazem pela vida na nação onde nem há um Ministério do Desporto (houve entre 2000 e 2004) e as atenções afunilam, como sempre, para o futebol. Culpa de todos, governantes e jornalistas e público e instituições/clubes, que nos deixamos levar pela nata dos dias sem ir à ausência de profundidade com que o tema, fundamental para a saúde e bem-estar, é tratada por cá.
Depositar essa exigência em Diogo Ribeiro já tão cedo, quando ele nunca sequer participou em Jogos Olímpicos, é uma pressão desnecessária, mesmo que o próprio diga que nada supera a que deposita em si mesmo. A naturalidade ao revelá-lo, inusitada em tão tenra idade, foi a mesma com que arrebatou, a final dos 100 metros destes Mundiais, o ouro contra cinco de outros sete competidores donos de um melhor tempo na distância. A cautela nas precipitações sustenta-se, também, pela falta de muitos ‘animais’ das piscinas na mariposa que não estiveram na prova, como Caeleb Dressel, recordista mundial.
Diogo Ribeiro já vai fazendo o mais difícil depois de dificultar a própria vida ao escolher a forma de nadar mais tramada, o mínimo seria devolver-lhe a gentileza da contenção no exacerbar de expectativas. Que o efeito borboleta dos seus logros seja esse, ele e a natação agradeciam, porque, apesar da tímida atenção que merece em Portugal, é, a seguir ao futebol, a modalidade que seduz o maior número de praticantes federados: eram 103.494 em 2022/23, segundo a Federação Portuguesa de Natação. Daqui por uns tempos, poderemos estar a falar de muitos mais."

Diogo Ribeiro, a nova estrela... portuguesa


"A história do Diogo é bonita de se contar, pela prova de superação, de abnegação e de coragem de alguém que tinha tudo para desistir e não o fez.

Aos 19 anos, o nadador da Seleção Portuguesa e do Benfica conseguiu um feito histórico para o nosso país. Se trazer uma medalha de ouro numa competição destas seria desde logo inédito o “miúdo” juntou aos 50m Mariposa o mais alto lugar do pódio em Doha, nos 100 metros no mesmo estilo. Esta brilhante prestação deixa-nos assim com água na boca para os próximos Jogos Olímpicos, a realizar em Paris ainda este ano. São por isso naturais as nossas esperanças para o que há-de vir. Para já, tem o mérito de colocar parte de Portugal a olhar para uma modalidade sem grande visibilidade. No que a mim me toca, fez-me andar a pesquisar, nos dias anteriores a este feito, a hora e o canal em que seria transmitida em direto a final e que durante os 51,17 segundos com que estabeleceu novo recorde nacional me fizeram vibrar no sofá, junto com alguns amigos, que deu direito a abraços e comemoração efusiva.
A história do Diogo é bonita de se contar, pela prova de superação, de abnegação e de coragem de alguém que tinha tudo para desistir e não o fez. Nem sempre foi fácil, imagino, aliás, que tenha sido um caminho bem duro e sinuoso que lhe tirou o Pai logo aos 4 anos e que um grave acidente de mota quando tinha 16 lhe amputou parte do dedo indicador direito, atirando-o para uma cama do hospital e para largos meses de recuperação e fisioterapia que quase o fizeram dizer adeus à competição. Mas em boa hora não o fez e de lá para cá foi criando o sonho nos que lhe seguiram o percurso mais de perto, de que seria possível atingir os mais altos patamares neste desporto, com os vários títulos e recordes em categorias mais jovens.
Tinha (e tem) por isso tudo para se tornar num símbolo de orgulho para todos os portugueses. Bem, quase todos, porque outro símbolo, uma estrela de David que tem tatuada ao peito em honra e memória do seu Pai, fez com que o anti-semitismo mais primário de alguns viesse à tona e que logo fizeram questão de demonstrar mal terminou a prova. É pena que algumas pessoas que tanto gostam de bradar aos céus as bandeiras contra o racismo, a xenofobia ou a homofobia não se tenham sequer dado conta da incoerência e da gravidade do que acabaram por proclamar. Mesmo que neste caso, pelo que percebi, o símbolo que usa ao peito nem tivesse tanto a ver com qualquer religião ou cultura mas mais com o significado de proteção contra todos os males.
O que espero e desejo é que esta nova estrela portuguesa, com David ou sem, seja protegida contra estas mentes pequenas e retrógradas que em tudo veem mal e que só desejam liberdade quando é para o lado que mais lhes convém. Já estamos habituados. Grande Diogo Ribeiro e que consigas trazer para casa as medalhas que todos desejamos. Deixo também o reconhecimento à Angélica André, portuguesa do Clube Fluvial Portuense, que conseguiu a medalha de bronze nos 10 quilómetros de águas abertas nos mesmos mundiais. Estão os dois de parabéns e são um orgulho para (quase) todos nós. Independentemente do género, das escolhas religiosas ou mesmo do que decidirem tatuar a seguir…."

Coletivo...

Perdões expert's!!!

Quem exige menos faltas porque na ‘Premier League é que é’ são os primeiros a criticar arbitragens quando um toque é ignorado


"Percebe-se a visão parcial motivada pela cegueira do amor à camisola, mas essa incoerência, analisa Duarte Gomes, é que torna a narrativa maior pouco credível. Enfraquece a nobreza da visão. Se queremos melhor futebol, defende o antigo árbitro, e esperamos que os árbitros arrisquem mais e só sancionem infrações claras, temos - adeptos e clubes - que estar disponíveis para aceitar os danos colaterais decorrentes dessa opção.

O número de interrupções que existem durante os jogos de futebol são o maior obstáculo à sua intensidade, qualidade e imprevisibilidade.
Quando a bola não rola, o jogo morre. Não há passes vistosos, defesas monumentais ou golos espantosos. O que há é uma maior propensão para a discussão, para a quebra de rendimento e para a interrupção daquela que é a verdadeira essência do espetáculo.
Quanto a causas, bem, já muito se disse e escreveu sobre o que pode ser feito para travar tanta paragem, imprimindo mais e maior ritmo ao jogo.
Sabemos, por exemplo, que quanto mais infrações forem assinaladas, menos se joga. Também sabemos que quanto mais se simulam lesões ou se perde tempo em substituições/bolas paradas, mais se enerva o adversário e mais se irritam os adeptos.
Em suma, estamos mais ou menos cientes do esforço que deve ser feito por todos:
- Pelos árbitros, que devem manter critério largo na análise de alguns contactos; pelos jogadores, que devem assumir conduta ética, evitando comportamentos antidesportivos; pelos treinadores, que devem impedir (e nunca incentivar) os atletas a recorrem a expedientes menores; e até pelas próprias leis de jogo, que têm que continuar a implementar regras que valorizem o jogo corrido, penalizando quem tenta travá-lo.
Mas uma das conclusões a que é impossível não chegar é a constatação de que alguns adeptos (não todos) sofrem de alguma “hipocrisia emocional”.
Todos aqueles que estoicamente exigem menos faltas porque a bola tem que rolar ou porque na Premier League é que é bom, são na verdade os primeiros a vitimizarem-se quando a bola entra na sua baliza depois do árbitro não punir um contacto atacante. São também os primeiros a criticar arbitragens quando o toque ignorado a meio-campo resultou num penálti contra ou numa lesão do seu atleta.
Percebe-se a visão parcial, motivada pela cegueira do amor à camisola, mas essa incoerência é que torna a narrativa maior pouco credível. Enfraquece a nobreza da visão.
Se queremos melhor futebol, se esperamos que os árbitros arrisquem mais e só sancionem infrações claras, temos que estar disponíveis para aceitar os danos colaterais decorrentes dessa opção. Temos que aceitar as consequências daí inerentes.
Isso vale para os tais adeptos mais apaixonados, mas também para quem, nos próprios clubes, parece defender a fluidez de jogo apenas quando dá mais jeito.
Desculpem, mas não pode ser.
Essa tendência, quase sempre inconsciente, deve ser contrariada pela via da razão, porque só assim se conseguirá um avanço cultural genuíno. Quando queremos o bem maior (no caso, o do futebol-espetáculo) não podemos nunca “condicioná-lo” à parte que nos toca.
Parece-me que ainda temos alguns passos a dar neste capítulo."

FC Porto: a revolução dos capitais próprios


"Ontem o administrador para a área financeira do FC Porto SAD fez a apresentação dos resultados financeiros relativos ao primeiro semestre do ano. Divulgou publicamente alguns números e explicou as rubricas que considera importantes. Infelizmente, até ao momento em que escrevo estas primeiras notas, o Relatório e Contas não foi divulgado, fazendo com que esta primeira análise tenha por base uma projeção dos valores identificados ontem e do padrão do último Relatório e Contas semestral.

Resultado semestral vs. anual
Como primeiro apontamento, o resultado líquido do primeiro semestre tem um impacto natural nos capitais próprios de 35M €. Assim, tal como Fernando Gomes afirmou que com a contabilização do prémio de passagem para os oitavos de final da Liga dos Campeões (9,6M€) a SAD teria capitais próprios positivos, também teria sido importante referir que se não vender nenhum jogador e mantiver os restantes custos e proveitos constantes até junho, o resultado líquido anual poderá ser negativo ou mesmo nulo. Porquê? Porque de um semestre para o outro existirão menos 40M€ de resultados operacionais (prémios de Liga dos Campeões).

Reavaliação do estádio
O segundo ponto que tornou possível a recuperação dos capitais próprios foi a reavaliação do estádio, ou melhor, a reavaliação do potencial gerador de receitas do estádio. Segundo informação fornecida por Fernando Gomes, esta avaliação teve por base e suporte duas entidades distintas. A Crowe identificou um valor de cash flows com base num modelo e estudo que desconhecemos mas que, com toda a certeza, será publicado ou estará disponível aos sócios do FC Porto. Com base neste modelo, chegou-se a uma estimativa de 167M€ de receitas que o estádio poderá gerar num determinado período de tempo. É importante referir que os valores aqui considerados são subjetivos e são projeções que podem ou não acontecer. Contudo, é importante realçar que o modelo e os respetivos pressupostos foram devidamente aceites e analisados pela segunda entidade envolvida no processo, que é o auditor, a Ernest & Young. É importante referir que esta operação não é única em Portugal. Já existiram outros casos que seguiram pressupostos semelhantes. Tendo sido apurado este valor (167M€), o auditor exigiu uma provisão de impostos (35M€) relacionada com o aumento da receita, que se irá refletir na reavaliação do estádio, fazendo com que a reavaliação tenha um impacto positivo de 132M€ (167M€ - 35M€) nos capitais próprios. Por uma questão de maior transparência teria sido importante que fossem referidas quais as receitas que estão na base desta reavaliação e se existirão algumas rubricas atuais que irão ser reduzidas em função de já estarem contabilizadas nesta projeção (ex. publicidade no estádio). Por fim, uma vez que a reavaliação do estádio foi concretizada no semestre passado, e como esta inclui as receitas relativas à sua utilização, surge a dúvida se a contabilização das receitas já se encontra descontada no semestre que passou.

Primeira conclusão
Em termos teóricos, esta reavaliação melhora a fotografia dos números da SAD azul e branca. Na prática, continua tudo como até aqui, com a FC Porto SAD com problemas e dificuldades de liquidez, com um enorme endividamento e respetivo custo associado, e com muitas receitas futuras antecipadas…"

Por gratidão, tornámo-nos reféns do futebol. No pior sentido possível


"Gratidão é uma palavra bonita, que dispõe bem, e gostamos muito de nos agarrar a ela, mais que tudo, quando o assunto é futebol. Nesse contexto, gratidão é uma espécie de camisa de forças figurativa, que nos impede de tomar decisões pragmáticas ou ter opiniões sem olhar para o passado - e como se o passado fosse o único critério de avaliação possível e aceitável. Aí, somos todos um bocadinho como aquele cãozinho amarelo do meme, sentado numa mesa a beber café enquanto as chamas bradam em volta. This is fine, diz ele, e nós também, na nossa auto-imposta cegueira.
Isto já aconteceu com todos os mais importantes clubes nacionais. E com a seleção. Gente que está longe de estar desprovida de inteligência e discernimento pode ficar algo néscia por causa de futebol, das paixões e dogmas que o futebol cria, quando se olha para ele como uma religião e não como um desporto que, nos dias bons, nos dá histórias lindíssimas para contar.
Por razões de agenda e justiça, vivemos agora a era dos reféns do FC Porto. Ou melhor, reféns de certas pessoas que andam pelo FC Porto, com maior ou menor relevância. A confirmarem-se as suspeitas das autoridades e dos tribunais, os ataques a sócios da oposição durante a Assembleia Geral de novembro foram planeados com antecedência por membros da claque do clube. Câmaras de segurança do Dragão Arena terão deixado de fazer o seu trabalho. A PSP não foi chamada ao local quando a coisa descambou. Dias depois, a residência de um dos candidatos à presidência do clube foi vandalizada e um funcionário atacado com violência. Há pessoas detidas preventivamente neste momento por envolvimento no ataque, são “os mosqueteiros”, diz um deles, assumindo uma importância e um papel que daria vontade de rir se o assunto não fosse tão sério, até porque todos nós, olhando para o lado, permitimos o crescimento destes fenómenos. Na última semana, o cabo de internet da sede de campanha de André Villas-Boas foi cortado.
A presunção de inocência não pode, naturalmente, ser esquecida e até à condenação estamos aqui a falar de suspeitas. Mas para uma considerável franja de adeptos, mesmo havendo testemunhos, gente agredida, vídeos, é tudo um conluio, de uma conspiração, uma trama. O mesmo esquema mental de quem passou pano ao ataque de Alcochete ou aos casos de polícia de Luís Filipe Vieira. É uma manigância dos rivais, dos jornalistas, enfim, gente que não aguenta ver o “clube x” a ganhar, que tem inveja do que o “clube y” já ganhou.
Não ajudará, seguramente, que o presidente do FC Porto, na apresentação da sua candidatura, tenha começado o discurso com uma piadola gaiteira sobre o adversário, por este andar acompanhado de segurança privada e ele não precisar dessas frescuras - é o que acontece a quem vê a sua casa atacada -, ou depois tenha mandado “um abraço a Fernando Madureira e à sua mulher, porque os amigos são para as ocasiões”. Os sócios agredidos, pelos vistos, não tanto assim.
Nesse mesmo dia, Pinto da Costa falou dos “capitais próprios positivos” que a SAD do FC Porto estará para apresentar, algo depois desmentido numa comunicação à CMVM. Afinal, nas próximas contas, os capitais próprios “poderão ficar próximos de um montante positivo”. Pormenores.
Exigimos a políticos, professores, médicos, jornalistas, aquilo que não exigimos ao nosso clube de futebol. Por gratidão, pelo passado, deixámos de obrigar quem está dentro destas estruturas a prestar contas. Como se o futebol fosse um mundo paralelo, onde a impunidade é tolerada."

Por Torres e Travessas: breve história das sedes de A BOLA e um compromisso inegociável


"A BOLA está nas Torres de Lisboa, 74 anos depois da ida para o n.º 23 da Travessa da Queimada. É a sétima sede/redação da história do título e o foco continua a ser o futuro

O jornal que tem entre mãos é o primeiro, desde 21 de agosto de 1950, que não foi idealizado e produzido no mítico número 23 da Travessa da Queimada, em Lisboa, Bairro Alto.
Após 17.717 publicações, o número que hoje folheia resultou do trabalho de uma redação acabadinha de mudar-se para o Edifício E das Torres de Lisboa, piso 7, na Rua Tomás da Fonseca, em São Domingos de Benfica.
Tão importantes como o jornal que pode colocar debaixo do braço — citando livremente o diretor Luís Pedro Ferreira, em editorial recente — são os conteúdos que desde a madrugada da última segunda-feira pôde consultar, ou foram ter consigo, através do site abola.pt e das nossas redes sociais. Também eles são nados e criados na nova sede e redação de A BOLA.
É muito por eles, e pela noção de que o futuro é digital, que se operam todas estas mudanças na octogenária história deste título. Muito em breve, mal se proceda aos acabamentos nos novos estúdios, a equipa de vídeo e de A BOLA TV juntar-se-nos-á nas Torres de Lisboa.
Foram praticamente 74 anos de labuta ininterrupta para lá daquela porta 23, sempre no sentido de levar aos portugueses e às comunidades a melhor, mais credível e mais relevante informação desportiva que as sucessivas gerações de jornalistas e funcionários conseguiram criar.
Sempre prontos, em cada momento da História, a celebrar o futuro, cabe a quem hoje faz A BOLA nunca esquecer o legado que nos foi passado. É uma noção que todos temos presente, intensificada numa semana de mudanças iniciada dias depois de sabermos da partida de mais um grande nome do jornalismo de A BOLA, de Portugal e do Mundo, António Florêncio.
Estamos certos de que o António gostaria de conhecer as nossas novas instalações, ele que sempre esteve um ou dois passos à frente do tempo e soube ajudar a fazer de A BOLA um nome respeitado junto das maiores instâncias do futebol e do desporto mundiais. Não foi por acaso que algumas galas da FIFA, durante as quais foram atribuídas Bolas de Ouro, se realizaram no País, nos idos da década de 90 do século passado.
Nesta que é a sétima sede/redação da vida do jornal, a tecnologia e a modernidade marcam o ritmo, como tem de ser.
Outras exigências dos respetivos tempos ter-nos-ão feito mudar da original Rua do Loreto para a Luz Soriano (ainda em 1945), daqui para a Rua dos Mouros (1946), depois de novo para a Rua do Loreto (1947), ter uma breve passagem pela Rua da Madalena (1950) e finalmente aportar à já saudosa Travessa da Queimada. Sempre acantonados no coração de Lisboa, entre o Bairro Alto e a Baixa.
Também no Porto a vida avança, e a delegação de A BOLA tem desde janeiro um novo espaço para continuar a cobertura do desporto a Norte e ajudar na continuidade territorial que faz de A BOLA uma instituição verdadeiramente nacional e representativa.
No que respeita à sede, saímos agora dessa área típica e com tantas histórias de jornais e boémia (que tantas vezes foram caminhando juntas...).
Numa zona mais recente da cidade de Lisboa, num espaço funcional, aberto e de contacto permanente entre toda a equipa, continuamos determinados a honrar o passado e a abraçar o futuro."

Aos cuidados de João Neves


"Não há palavras que confortem o coração despedaçado de um filho que acaba de perder a mãe, especialmente então de um filho que ainda tem toda uma vida - e uma carreira absurdamente promissora - pela frente.
Digo isso com conhecimento de causa. Aos 17 anos, vi minha querida Norma, com 50 anos, nos deixar praticamente da noite para o dia. Foi dormir sorridente e acabou por não despertar de um maldito sono profundo. Sem sofrimento, espero eu.
Aos 19 anos, um jovem benfiquista vê agora sua grande heroína partir. Também aos 50 anos. Também de repente. Um injusto e cruel adeus num momento chave. É atualmente a grande sensação portuguesa do Benfica. Da seleção. Do futebol nacional.
Diante do contexto tenebroso e repleto de ódio no qual estamos profundamente mergulhados - no qual há quem dê mais importância a um golo anulado do que para um ato de racismo -, a empatia precisa de prevalecer. Nem que seja por um único dia, por favor.
Hoje, aos 35 anos e ainda com uma saudade que não cabe dentro de mim, acompanhei outras perdas que arrasaram personagens únicos do meu meio. Adriano Imperador, por exemplo, nunca mais foi o mesmo depois de ficar órfão de pai.
O mundo, seja do futebol ou não, seja vermelho, verde ou azul, fica sempre mais vazio quando um filho perde a mãe. Se palavras soltas o vento leva, gestos solidários e de compaixão impregnam. Sim, somente gestos.
Espero, de coração, que João Neves seja inundado de carinho, abraços e ombros amigos. Que uma dor isolada dê espaço para, quem sabe, um momento de reflexão geral. Pois é, eu sei, acho que já estou a pedir demais..."

Melhor em campo contra o Vizela


"O CAMPEÃO (NERES) VOLTOU!!!
A primeira titularidade desde o dia 28 de outubro de 2023 foi o mote para David Neres partir a louça toda: duas assistências, dois golos, e mais o muito que fez e que não vem nas estatísticas. Um contributo decisivo, o kais decisivo, para a maior goleada do Benfica na época. Numa altura em que o calendário aperta e os jogos de maior grau de dificuldade se vão suceder, melhor notícia não podia Roger Schmidt ter recebido ontem. E nós, adeptos, que tanto gostamos dele, também.
Dou-me ao trabalho de registar num excel, jogo a jogo, as notas dos nossos - cada maluco tem a sua mania... - e posso garantir que desde o princípio da época nenhum jogador atingiu nota tão alta na média das classificações dos três desportivos, mais o Zerozero, SofaSCore e GoalPoint. João Mário, com 9.0 no jogo em casa contra o Inter - marcou três golos em 45 minutos - era quem tinha a melhor nota de um jogo até ontem.
Não sei se David Neres vai ser titular na quinta-feira em Toulouse, mas sei que veio atrapalhar, e muito, as decisões de Schmidt. São as chamadas "dores de cabeça boas".
CARREGA, NERES!"

Por dentro...


"Como tem sido a relação com Roger Schmidt?
"Para nós, é fundamental que tu tenhas um treinador com quem te identifiques, a nível de caráter e personalidade. Acho que nunca tinha tido um treinador, e isso é reconhecido por todos, que para além de um excelente treinador, é excelente pessoa. No futebol, isso nem sempre é compatível e acho que é o melhor elogio que lhe posso fazer. Gostaria que a minha parte futebolística fosse tão boa como a parte humana. E ele tem essa faceta, que não é fácil."
Ajudaram na adpatação do treinador?
"Teve sempre a humildade de perguntar aos jogadores por aspetos do campeonato, certos jogos, como era em certos campos, para nós também foi uma surpresa que um treinador chegasse ao pé de nós e tivesse a perceção, que como ele não conhecia, como nunca tinha passado por isso, pedisse ajuda. Acho que isso demonstra a pessoa que ele é. Nunca um treinador me tinha perguntado e tenho a certeza que o conseguimos ajudar um pouco. Foi surpreendente vê-lo a perguntar.""

Sim, isto passou-se...!!!

Pauleta...