"Até quando é que vamos conseguir mascarar as aparentes inconsistências deste plantel? A minha resposta é simples: até ao final da época
Já perdi a conta à quantidade de vezes que vi consócios meus questionarem as opções ou a postura de Roger Schmidt esta época, e os efeitos por ele provocados no seu plantel. Os jogos sucedem-se e as dúvidas parecem amontoar-se. «Estará o Benfica em crise?», perguntam os adeptos mais desconfiados 72 horas antes de golearmos outro adversário sem apelo nem agravo.
«Porque é que ele não apareceu na conferência de imprensa?» questionam-se os mesmos adeptos que criticam cada palavra saída da boca do treinador sempre que este fala, desiludidos com a aura de comunicador elegante que se evaporou após sucessivos confrontos com a realidade. «Que política de contratações é esta?», pergunta o adepto minutos antes de um dos novos reforços mostrar que chegou para fazer aquilo que dele era desejado, reforçar.
Admito que não é fácil. É impossível pedir a um Benfiquista para ser menos exigente. O clube não o permite. Peçam a esse adepto para ser menos crítico e ele responderá, como eu já fiz muitas vezes, que é daí que resultam as melhores soluções. Também eu me questiono acerca das decisões do treinador em alguns momentos.
Chego mesmo a vaticinar que um onze titular poderá ser o início da nossa hecatombe, mas a hecatombe teima em não chegar. Felizmente, o pessimismo é como uma enxaqueca. Mói um bocado, mas depois uma pessoa assiste a 5 golos em 45 minutos e a enxaqueca desaparece. É então que somos forçados a admitir que talvez percebamos menos do assunto do que o tipo que recebe 3 milhões de euros líquidos numa época para decidir por nós, o que, note-se, é perfeitamente normal. Nada disto invalida que alguns jogos tenham emoções mais fortes do que eu gostaria, ou que algumas vitórias sejam mais suadas do que antecipámos, mas, se a memória não me trai, já vi diferentes formações do Benfica vencerem provas de regularidade e competições a eliminar desta forma, e recordo-me mais dos festejos do que das dificuldades para lá chegar.
Esta equipa e o seu treinador são merecedores de reparos e parece-me que sabem disso, mas o facto permanece. A vida deste Benfica 2023/2024 não se faz de olés do primeiro ao nonagésimo minuto e também não se faz sem algum sofrimento pelo caminho. Talvez seja tempo de aceitarmos isso, não porque sejamos menos exigentes mas porque às vezes é assim que tem de ser. Tenho uma tese que admito ser a mais saudável para acompanhar esta época (e talvez todas as outras daqui em diante). É simples: eu irei exatamente até onde esta equipa me levar, enquanto eu a apoiar. Não estou certo de que tudo acabe com felicidade e espumante transbordantes, mas, não obstante os soluços, continuo a ter todas as razões para achar que sim. Seria estranho se dissesse tudo isto e fosse evidente alguma falta de entrega no treinador ou nos jogadores, mas nada disso aconteceu.
Acontece simplesmente que este ano é feito de vales e montanhas. É a melhor imagem que encontro para descrever este Benfica, pelo menos no que toca à parte exibicional. Até agora não nos deparamos com vales muito profundos dos quais não conseguíssemos sair pelo próprio pé. Por outro lado, os cumes estão ainda longe de serem os almejados, mas o facto é que Roger Schmidt continua a ter uma percentagem de vitórias altíssima para a história do Benfica e, para onde quer que olhe, no relvado ou no banco de suplentes, vejo quase sempre uma mão cheia de jogadores que reúnem condições para solucionar as minhas crises de fé ocasionais. Essa constatação deve trazer-nos conforto e, já agora, alguma fé em como a coisa, quando parecer complicada, tem ainda tudo para se resolver. Podia dizer-vos que é uma pessoa naturalmente otimista que escreve isto, mas é mentira. O que acontece é que o meu pessimismo tem sido derrotado quase sempre por um golo inventado pelo Di María, por um contra-ataque do Rafa, ou por outro dos abre-latas que esta equipa tem em abundância. Sim, bem sei, resta a pergunta: até quando é que vamos conseguir mascarar as aparentes inconsistências deste plantel? A minha resposta é simples: até ao final da época, de preferência num Marquês de Pombal a rebentar pelas costuras com indignação por o Aursnes ter sido campeão a jogar como lateral. Chamem-me acrítico que eu cá estarei para acomodar as críticas, de preferência a celebrar convosco dentro de poucos meses.
António, João: não vos conheço pessoalmente, mas sou como todos os outros Benfiquistas. Tenho-vos visto crescer e acompanhado com entusiasmo a vossa chegada à idade adulta em cada relvado, em cada minuto das vossas vidas que temos tido o privilégio de observar. Não consigo ficar indiferente quando dois miúdos por quem tenho tanto carinho passam pelo pior. Sei que a dor que sentem neste momento torna o futebol uma coisa menor, e infelizmente é mesmo assim que tem de ser. Lamento muito a vossa perda e envio-vos um fortíssimo abraço. Não tenho palavras de consolo que possam diminuir a vossa tristeza, mas acho que falo por todos os Benfiquistas quando vos digo que, aqui deste lado, vamos fazer o melhor que pudermos para que essa coisa menor chamada futebol possa ser uma razão para voltarem a sorrir. O slogan pertence a outro clube, mas felizmente também veste de encarnado: «You’ll never walk alone.»"
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