Porque será?

Roman Correia                          David Carmo 
11,5 Milhões euros               20,28 Milhões de euros


"A dupla de defesa centrais titulares do FC Porto B, está avaliada em 31,78M €. Não me recordo de um único jornalista, comentador ou quem quer que seja, ter algum dia aberto a boca para falar sobre este tema.
Estamos a falar da equipa B, não esquecer!
No entanto, já viram a quantidade de vezes que os 14 Milhões de euros pagos por Jurásek foram falados nas tv's!? Dava para quase meia época de programas.
Porque será?"

Quando xinguei Zagallo


"Tinha 11 anos quando a Portuguesa foi a São José dos Campos, no Vale do Paraíba, para enfrentar o São José. Jogo válido pelo Paulistão de 1999. Oportunidade única para ver de perto um dos maiores nomes da história do futebol brasileiro: Mário Jorge Lobo Zagallo.
O único tetracampeão mundial com a seleção brasileira dirigia uma Lusa que tinha nomes conhecidos, como Pintado, Didi e Leandro Amaral, além do icônico Márcio Mixirica. A figura indiscutível, no entanto, era aquele senhor baixinho de cabelos brancos à beira do gramado.
Morador local e torcedor fanático do Corinthians, fui ao Estádio Municipal Martins Pereira para desfrutar do espetáculo, acompanhado de familiares e alguns amigos. Sentamos mesmo na arquibancada logo atrás do banco de reservas da equipe visitante.
Aos 67 anos, Zagallo era um personagem ímpar. De pé, gritava e gesticulava sem parar. Obviamente, alvo de provocações e insultos a todo instante pela torcida da casa. A juventude à flor de pele me fez prontamente participar do coro até então engraçado contra o Velho Lobo.
Passei minutos e mais minutos a xingá-lo. Conheci ali, ainda no primeiro tempo de uma partida sonolenta, os palavrões mais sujos e estúpidos que o ser humano foi capaz de produzir. Descarreguei naquele momento toda a minha raiva injustificável. Meu pai Silvio notou o comportamento, mas esperou a hora certa para agir.
Ao meio do intervalo, me puxou de canto e deu a maior repreensão pública da minha vida. Não levantou qualquer dedo para atingir o objetivo. Um sermão tamanho que provavelmente até Zagallo ouviu. Prontamente, me fechei num limbo de insignificância e pura vergonha.
Cabisbaixo, aprendi que não valia tudo para ganhar e que o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes. Acima de tudo, aprendi que um estádio tranquilamente pode ser o impulsionador do pior que temos dentro de nós.
Direta ou indiretamente, obrigado Mário Jorge Lobo Zagallo. Descanse em paz."

Querem matar o Futebol! A história e a irracionalidade sobre a regra mais importante do jogo


"“Ok temos de jogar bem. Mas o que é jogar bem ou jogar mal? Para mim, sempre foi uma questão de distância (entre jogadores)!”
(Johan Cruyff, 2014)

Será o título demasiado dramático? Acabar com o jogo de Futebol tal como o conhecemos, é de facto o que está em causa. Se preferirem uma visão um pouco mais simpática, e à imagem de um clássico filme de ficção, a mudança em causa implicaria transformá-lo numa horrível “criatura” híbrida.
A regra do fora-de-jogo é provavelmente a mais complexa, controversa e que mais debate tem suscitado no Futebol desde a sua introdução em 1863. Torna-se, em primeiro lugar, fundamental perceber todo o seu enquadramento para a podermos discutir. Tanto que o autor e antigo selecionador Brasileiro e posteriormente jornalista (João Saldanha, 1968) defendeu que a discussão do jogo, nomeadamente o seu treino, táctica e preparação dependeu de “quatro épocas marcantes:
1. Antes da primeira lei do fora-de-jogo;
2. Depois do aparecimento desta lei;
3. O surgimento da segunda lei do fora-de-jogo;
4. O surgimento da medicina desportiva e da preparação física dos jogadores”.
Antes da introdução da regra, (João Saldanha, 1968) descreve que “apenas havia jogadores que corriam ou ficavam parados dentro do campo, sem posições definidas. O futebol era feio e esteve a ponto de sucumbir como jogo ou competição porque não tinha graça. Não adiantava ser um bom jogador, que soubesse driblar e dominar a bola, porque um perna-de-pau qualquer, comodamente encostado perto a uma das balizas, esperava a bola chegar e fazia o golo que dava tanto trabalho ao outro que era bom jogador. O facto de não existir “offside” levava a que um grupinho ficasse perto de uma baliza e outro lá do outro lado também esperando a bola”. Segundo a (Wilkipédia, 2023) “o jogo ficava sem emoção, ao mesmo tempo deixando um vazio no campo”.
Assim, mesmo nesta fase da história do jogo, transparece então já existir uma sensibilidade e racionalidade sobre o mesmo e a sua evolução. Permitido pelo regulamento desse tempo dada a ausência da regra do fora-de-jogo, os jogadores encontravam oportunidades para finalizar com enorme facilidade. Jogava-se em demasiado espaço e desse modo estávamos perante um jogo diferente, “estranho” e até…. sublinhe-se… menos “emocionante”. Disputava-se portanto, um jogo caótico que provocava a anarquia e onde a sua dimensão colectiva era assoberbada pelas relações individuais ou no máximo, grupais. Dadas algumas vozes de personalidades históricas no jogo que se têm levantado nos últimos anos contra a regra do fora-de-jogo defendendo mesmo até a abolição da regra, tal cenário caótico descrito atrás resultante dessa eventual decisão foi também referido em 2017 num artigo da JornalismoPortoNet, projecto da Universidade do Porto.
Por outro lado, ao contrário do que por vezes se supõe, sendo o golo raro no Futebol ao invés da grande maioria dos outros desportos colectivos, isso torna-o mais apetecível e mais desejado. E sendo mais difícil de obter, será consequentemente resultado de uma maior necessidade de qualidade individual e colectiva das equipas para o obterem. E deste modo, e não menos importante, maior motivo de celebração e felicidade. Ou seja, traz uma maior paixão ao jogo, facto que é comprovado com a quantidade de adeptos, de sentimentos e de emoções que provoca. Comer todos os dias uma determinada iguaria tenderá a torná-la banal.
Voltando à história do jogo, perante o cenário caótico descrito, o fora-de-jogo foi criado. A (Wilkipédia, 2023) descreve que em 1863 a primeira regra do fora-de-jogo dizia “que um atacante, para não estar em posição de fora-de-jogo, teria que ter, pelo menos quatro jogadores à sua frente”. A introdução da regra provocou às equipas uma maior necessidade de organização. De acordo com o website (História do Futebol), “com essa nova lei, as equipas obrigaram-se a adoptar tácticas relacionadas com posicionamento dos jogadores em campo, visto que o jogo não podia ser mais jogado de qualquer maneira. O sistema táctico começou a ser utilizada pelas equipas ingleses Nottingham Forest e Blackburn Rovers. O sistema era o 2-3-5 e tinha as posições de avançados, médios e defensores”. Deste modo, cada posição / função foi-se também especializando e conhecido determinada nomenclatura. Por exemplo, (João Saldanha, 1968), descreve o “”back” direito, esquerdo; “half” direito, “center-half”, etc.”.
Mas rapidamente se percebeu que a regra trazia outros problemas. Neste sentido, segundo a mesma fonte, “em 1866, vem a primeira alteração: a quantidade de jogadores à frente do atacante passava de quatro para três. Em 1907, vem a segunda alteração na regra: a infração só poderia ser sinalizada se o jogador estiver na outra metade do campo”.
Ainda assim, a regra estava longe da perfeição. Naturalmente, e como sempre, as equipas exploraram ao milímetro tudo o que a lei permitiria. Quem defendia partia a equipa e definia para um dos defensores uma missão especial, ao qual os brasileiras chamaram de “beque-avança” (os defensores eram, em inglês, backs). Segundo (João Saldanha, 1968), um seria o “”beque-espera” e “beque-avança””. Este jogador, como o próprio nome indica, avançaria no momento certo para provocar o fora-de-jogo ao deixar apenas um defensor mais o guarda-redes no seu meio-campo. Por outro lado, segundo vários autores, estes dois defensores, normalmente um com maior papel de marcação e o outro como líbero, seriam suficientes para anular as outras situações ofensivas que escapavam ao fora-de-jogo. Tal é referido pelo mesmo autor ao descrever que “dois beques sabidos paravam todo o ataque adversário”. Saldanha ainda acrescenta que “o ataque tentou defender-se desta artimanha e formava em linha porque a lei também dizia que se o atacante estivesse atrás da linha da bola não estava fora-de-jogo. Foi por isto, inclusive, que os atacantes ficaram sendo chamados de jogadores da “linha”. Mas a artimanha dos beques levava a melhor e enfeiava o jogo”. Como consequência, de acordo com (Rodrigo Vergara, 2016), os jogadores “concentravam-se no meio-campo e os jogos acabavam sem finalizações, a não ser na marcação de faltas”.
O brasileiro (João Saldanha, 1968) foi então mais longe e sustentou que tal cenário era “era uma contrariedade ao que há de mais puro no futebol – e o que mais deve ser defendido: o talento. Sempre o talento, que é o que desenvolve o futebol e apaixona a multidão. Por esta imposição, a lei teve novamente de ser modificada fazendo surgir a mais importante etapa do futebol”. Assim, segundo o (História do Futebol), quem estudava o jogo compreendeu a falha e foi promovida uma alteração à regra em 1925. A partir desse momento para que um atacante recebesse a bola de forma legal no meio-campo adversário seriam necessários apenas dois defensores entre si e a baliza adversária. A (Wilkipédia, 2023) expõe que deste modo “desafogou-se o meio-campo, já que provocar o fora-de-jogo com um só jogador ficou arriscado e a defesa foi recuada. Por conta disso, os jogos acabaram ficando mais movimentados e a quantidade de golos aumentou vertiginosamente. Como exemplo, a temporada 1924 / 1925 da Football League registrou 4700 golos em 1848 partidas. A temporada seguinte (a primeira após a alteração na regra), para a mesma quantidade de partidas, foram marcados 6373 golos (aumento de 35,6%)”.
Segundo (João Saldanha, 1968), a partir desse momento, “tudo teve de ser modificado, pelo menos onde a lei foi imediatamente compreendida”. Ainda do ponto de vista táctico, o autor (Rodrigo Vergara, 2016) descreve que o meio-campo passou a “lugar de craques. É ali que, trocando passes ou driblando, os bons jogadores avançam com a bola sob controle até o destino final: um remate à distância ou penetração de um atacante por trás da defesa até ao golo. Era do que brasileiros e latino-americanos precisavam”. O autor sustenta ainda que essas culturas de jogo “sempre preferiram carregar a bola e a possibilidade de jogar dessa maneira marcou uma supremacia. Coincidência ou não, o futebol brasileiro como o conhecemos só apareceu depois de 1925. Até então, a a Selecção brasileira só havia ganho um campeonato sul-americano, em 1919. O primeiro reconhecimento mundial veio com o terceiro lugar, em 1938, na Copa da França”. Consequentemente, estruturalmente as equipas também mudaram. O website (História do Futebol) explica ainda que “houve a necessidade de três defesas pelo menos, porque a nova condição do fora-de-jogo permitia que o atacante enfrentasse até um defensor e o guarda-redes. Aumentou a emoção e as oportunidades de golo e evidenciou o talento dos jogadores. Os sistemas tácticos também foram aperfeiçoadas e surgiram outros (…): o famoso WM: o 4-2-4, o 4-3-3, o 5-2-3, etc.“. O autor (João Saldanha, 1968) acrescenta que “aqueles dois espertalhões agora tinham também saber jogar à bola. Não bastava o artifício de um deles adiantar-se. Para deter o ataque era preciso que os três beques se adiantassem ao mesmo tempo, e deixassem apenas o goleiro entre o atacante que iria receber a bola, para colocá-lo em fora-de-jogo. Mas essa era uma manobra perigosíssima. Antes era feita por um só. Agora teria de ser feita por três, numa fração de segundos. Um que ficasse parado e tudo iria água abaixo”.
Como estes factos sucederam há um século atrás, numa sociedade sempre com pressa de viver, em que o presente já se torna um passado longínquo, infelizmente torna-se natural que essa memória se tenha perdido, e que os menos conscientes para a dinâmica do jogo não consigam percepcionar e antecipar o que seria o jogo sem esta lei. Que para nós e tantos outros, se tornou fundamental para o Futebol ser o fenómeno tão amado que é hoje.
Mas a ignorância sobre a regra não conhece tempo. Segundo a (Wilkipédia, 2023), mesmo no momento da sua instituição, já se levantavam vozes contra a regra pois “atrapalharia o espectáculo do futebol”, até porque “os defesas têm justamente a função de defender o adversário na sua própria área”. Ora… noutra perspectiva, será esse o caminho que o Futebol tem percorrido? O pensamento individual a sobrepor-se ao colectivo? O pensamento atomista e mecânico sobrepondo-se ao complexo? Com excepções pontuais dada essa mesma natureza complexa do jogo, todas as variáveis que influenciam o rendimento de uma equipa e ainda o sub-rendimento dos seus adversários, se recordarmos a história das últimas décadas, foram as equipas que abordaram o jogo de forma mais colectiva e complexa que alcançaram mais sucessos e principalmente, de forma continuada. Acreditamos que essa não será só uma das chaves do sucesso no jogo, mas também numa visão mais ampla… também da espécie humana, pois como disse Valdano, “a vida é um desporto de equipa”.
Recentemente, Marco Van Basten, lendário ex-futebolista mas sem grande sucesso no cargo de treinador, foi um dos que defendeu a abolição da regra, num momento, pasme-se, em que era director para o desenvolvimento técnico da FIFA. O que podemos retirar do seu discurso é que comprovou de forma clara que uma coisa é a esfera do saber-fazer, e outra mais profunda, do saber-sobre-o-saber-fazer, tal como abordámos noutro artigo nessa altura. Agora… treinadores que tiveram mais sucesso e que estiveram durante muito tempo tecnicamente ligados ao jogo é que nos causam estranheza como não conseguem antecipar as consequências do que defendem.
É certo que Arsène Wenger (agora também diretor técnico da FIFA!) não propôs o mesmo que Van Basten, mas o que defende terá algumas consequências idênticas à total abolição da regra. A jornalista (Isabel Dantas, 2023) cita o técnico francês:
“Com o VAR a detetar infrações mínimas, beneficiar o atacante em caso de dúvida desapareceu – e isso tem uma razão de ser.”
Sim, tinha. A falibilidade do ser humano, neste caso do árbitro auxiliar. E isso deveria ser algo considerado natural por um ser humano que deveria compreender e abraçar a sua imperfeição. Contudo, numa sociedade dominada pela competitividade, individualismo e egocentrismo, apenas o outro falha. Ou pior. Falha porque vários exemplos de personagens com muito maior responsabilidade social “erram” de forma consciente e como tal, se um árbitro erra e prejudica a equipa, é “óbvio” que tal também tem de suceder de forma deliberada. Mas esta será uma profunda e longa discussão que não desejamos continuar aqui. Contudo, por outro lado, é uma posição legítima defender a abolição total do erro arbitral no jogo de Futebol. Mas não será com esta medida que tal irá suceder. Apenas será modificar as suas consequências. Para quem defende a ausência do erro, bastará ser só um bocadinho mais paciente, pois tendencialmente a tecnologia dará essa resposta no futuro.
“Queremos uma regra que seja justa. Se um jogador está três centímetros fora de jogo na construção de uma jogada e muitas coisas acontecem até ser marcado um golo, é justo anular esse golo?”
Sim… parece-nos… óbvio. Na perspectiva micro e apenas nalguns exemplos, a leitura, o último passe, escondê-lo, o seu timing, a execução perfeita de quem assiste, por outro lado e noutros exemplos, a noção do comportamento dos defensores adversários, a desmarcação, a recepção que é realizada em simultâneo com a leitura do comportamento do Guarda-Redes adversário de forma a decidir rapidamente a finalização, são tão importantes como o que Wenger refere que acontecerá antes. E se o último passe for realizado directamente pelo Guarda-Redes? É menos justo anular esse golo porque não houve “assim tanta coisa” a acontecer antes? É a quantidade de coisas que torna a situação mais ou menos justa? Já vimos, por exemplo, Ederson Moraes a conseguir tais proezas.
E só estamos a olhar para a questão do pondo de vista de quem erra e fica fora-de-jogo. Porque… quem defende, e que de forma também complexa garante comportamentos individuais, sectoriais, inter-sectoriais e colectivos como a leitura, o subir e o retirar profundidade sem perder de vista a bola, quando dar mais largura, quando concentrar, quando cobrir, quando conter e quando pressionar, a coordenação com a restante última linha, a orientação dos apoios, a decisão de quando acompanhar a desmarcação de ruptura adversária e / ou quando voltar a alinhar para procurar colocar um ou mais adversários em fora-de-jogo, apenas nalguns exemplos, não têm igualmente mérito? Se o realiza de forma eficaz, não será de forma igualmente brilhante? E fundamentalmente… isto não é também jogar… bem… futebol? Como tantas vezes se diz… defender também é uma arte. Sejamos francos. Wenger foi um extraordinário treinador que revolucionou o futebol inglês e internacional. Mas aqui fica patente as razões da sua queda, tantas vezes expressas no jogo das suas equipas. A desvalorização de sub-momentos defensivos em relação aos ofensivos.
“Se um marcador está dois centímetros fora de jogo porque tem ombros mais largos do que o adversário, teve realmente a vantagem do fora de jogo para marcar?”
Arsène, o futebol é de todos… e para todos. E esse jogador, para chegar a esse nível também terá imensas qualidades e / ou vantagens. Não existe a perfeição nem saberemos o que isso é. O que sempre sucedeu, desde o alto rendimento até à “rua”, inclusive pela “selecção natural”, é o encobrimento ou desenvolvimento das fraquezas de cada um no jogo. Individual e colectivamente. Se tem ombros mais largos terá, por exemplo, que se posicionar mais atrás e de forma óptima para atacar o espaço em profundidade, terá que conhecer melhor o jogo e antecipar mais rapidamente a situação, a intenção e o timing do companheiro que realiza o passe, terá que conhecer melhor as desmarcações circulares, por onde as realizar e ser melhor a acelerar e na velocidade de deslocamento. A própria recepção também será decisiva para não perder a vantagem obtida em relação ao adversário. Mas ombros mais largos também são uma vantagem noutras situações, como nos duelos, para proteger a bola em situação de apoio frontal, até no plano do detalhe como é o caso da integração numa barreira. Esses centímetros podem fazer a diferença. Se chegarmos à conclusão que são só desvantagens e que o treino de qualidade não está a ajudar, ou estará então na função errada, ou não terá qualidade para o nível do jogo em que se encontra. Mas este argumento não servirá também para o opositor directo que o atacante defronta nessa desmarcação? Nesse caso, ombros mais largos, característica até mais tradicional nos defesas, também poderá colocar um adversário em jogo por centímetros…
“Acho que todos concordamos que não é o caso.”
Não caro Arsène. Nem todos. E diremos até que se compreenderem, pensarem… bem… no jogo e anteciparem o que é provável que suceda e explicarem isso a quem não o consiga fazer, desconfiamos que a maioria rejeitará tal proposta.
“É por isso que estamos a testar aquilo a que chamamos ‘regra da luz do dia’ para o fora-de-jogo, o que significa que teria de haver um determinado espaço entre os jogadores para que uma posição fosse considerada fora de jogo.”
Nesta linha de pensamento, se existem problemas e discussões sobre escassos centímetros em jogo ou fora-de-jogo, mudar a regra desta forma não manterá a questão, só que em vez da zona mais adiantada do atacante, a discussão passaria para os seus segmentos corporais mais recuados? Então isso não manterá a questão sobre a precisão da avaliação e sobre o timing / frame no qual a bola sai do pé do atacante que realiza o passe?
“Isto seria também uma evolução.”
Terminamos os comentários às declarações de Wenger, refutando, para nós, a mais importante. Tal não seria uma evolução. Seria sim, regressão. Regressão táctica aos primórdios do Futebol que descrevemos no início do texto. Isto porque a possibilidade do atacante estar à frente do último defensor, mesmo que por alguns centímetros, torna-se uma enorme vantagem para o último passe, e desta forma isto traria receio aos defensores em se posicionarem mais alto e até para manterem a última linha alinhada. Estar centímetros adiantado é o suficiente para ganhar vantagem, não só espacial, como também para usar o corpo para proteger a posição ganha e impedir o defensor de recuperar para o espaço entre o atacante com bola e a sua baliza, primeira condição da contenção. E nesta situação também o dissuade de tentar alguma intercepção ou desarme, pois uma potencial falta, provavelmente dará direito a expulsão. Perante este cenário, a tendência seria os defensores baixarem e defenderem junto da sua baliza e com isto perderem também a capacidade de pressionar alto no campo e de serem “ofensivas” sem bola. E como um princípio fundamental do jogo passa por procurar “criar superioridade numérica”, a equipa sem bola, quer defendendo colectivamente (zona), quer individualmente (homem) procuraria baixar outros jogadores para esse espaço, formando-se aglomerados de jogadores pelo campo todo. Sem fora-de-jogo ou com esta nova regra do fora-de-jogo, o mais provável seria assistirmos à regressão do Futebol aos seus primórdios.
No fundo a discussão não é sobre melhorar o jogo ou as suas regras. É sobre filosofia e crenças, ainda por cima… confusas. Mais precisamente sobre a prevalência do Futebol “ofensivo” sobre o “defensivo”. Uma vez mais, defender bem (uma obrigação no jogo para quem o quer vencer) não implicará obrigatoriamente defender mais, quer isso represente mais tempo, espaço ou número. Mas, defender bem, até poderá significar atacar melhor. Tal como atacar mais, em tempo, espaço ou número, não significará que se ataque com qualidade. Ah… e Arsène: pode-se “atacar”, defendendo. Inclusive até como algumas vezes as suas equipas no Arsenal nos prensenteavam com os sufocantes pressings a que submetiam os adversários. Não era no sub-momento defensivo Impedir a construção, nomeadamente no pressing, que as suas equipas revelavam graves problemas defensivos. Portanto, considerando a relatividade de “espectáculo” e da “estética” do jogo, a alteração proposta, afinal não “acabaria por favorecer mais o futebol de ataque e, consequentemente, o espectáculo”.
Por outro lado, aqueles que, dentro do campo, sentiram a evolução do jogo e o conseguiram racionalizar tornam-se preciosos para que se perceba o que está realmente em causa. Um desses exemplos é o ex-internacional brasileiro Tostão que, citado por (Rodrigo Vergara, 2016), aponta que “o futebol perderia a graça”. Justificando, à imagem do artigo de 2017, que “no meio-campo, em vez de dribles geniais, veríamos poucos atletas disputando bolas perdidas. O futebol ficaria parecido com o basquetebol: jogadas concentradas sob os cestos e lances decididos em detalhes”. Citado pelo mesmo autor, o jornalista Armando Nogueira vai mais longe e defende mesmo que “isso mataria o futebol”.
Como (Vítor Frade, 2017) sustenta, “a regra do fora de jogo não é “uma”. É “a” lei fundamental do futebol. “Espero que a revolta dos treinadores seja suficiente para evidenciar que isto é uma aberração. Neste sentido: passa a ser outra coisa””. Deste modo, a questão à volta do fora-de-jogo não se torna apenas uma questão sobre as regras do jogo. É muito mais do que isso. É não só uma dimensão do DNA do jogo para ele ser o que hoje é, como também levanta questões mais amplas na nossa sociedade sobre a diferença entre o pensamento individualista e o pensamento colectivo. 
Quer no futebol, quer na sociedade em geral, chegamos à conclusão que, neste momento, os historiadores têm um papel “decorativo” e o seu trabalho não é valorizado. A hipótese alternativa não é melhor porque revela uma falta de inteligência absurda. A todos os níveis estamos na iminência de repetir erros do passado. Perante isto, recordamos o poema que Vítor Frade escreveu sobre o tema, já com 7 anos, mas ainda tão actual…
“Não foi Trump ser eleito
Que me trouxe dor ao peito,
Foram as condições a jeito…
Cruyff que diria
De van Basten ou até de Guardiola
Sobre os ‘devaneios-porcaria’
A infecionarem-lhe a tola?
Porquê Cruyff a medida?
Quase só ele foi ‘extraterrestre’
Como jogador E treinador,
E no entender o jogo está o teste!”
(Vítor Frade, 2017)"

Derrota em Londres...

Fulhan 3 - 1 Benfica
Spencer

Souza; Spencer, Muller, Bajrami, Kiko; Zan, Rafa Luís, Gomes; Precatado, H. Félix; Varela

Péssima entrada em campo, aos 30' estávamos a perder por 3-0...!!!

Equipa montada, com jogadores de três equipas (B, Sub-23 e Sub-19), portanto não se pode esperar muito mais... Dar ritmo, contra outro 'tipo' de futebol, a jogadores que por vários motivos, tiveram menos minutos na última semana...
Amanhã temos a 1.ª jornada, da fase final, da Liga Revelação...

Craques eternos: O King e o Kaiser


"Vi uma única vez Franz Beckenbauer jogar. Foi numa visita do Bayern ao velhinho estádio da Luz, em jogo a contar para a primeira mão dos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus.
Corria o mês de Março de 1976 e, com mais uns tantos amigos benfiquistas, apanhámos o comboio na Parede, saímos na estação de Algés e, depois, foi no 50, que tinha uma paragem na Segunda Circular mesmo em frente ao estádio, que lá chegámos. Com uma antecedência enorme, assim era na época.
O Bayern era o bicampeão europeu em título, tinha uma equipa soberba, onde pontificavam, para além de Beckenbauer, capitão de equipa, o guarda-redes Stepp Maier, os médios Uli Hoeness e Jupp Kapellmann, e os avançados Gerd Muller - o mítico "bombardeiro"! - e Karl-Heinz Rummenigge. Eusébio já não jogava no Benfica (a fotografia é de outra ocasião).
Beckenbauer personificava, como ninguém, a função de líbero, jogando recuado em relação à linha de defesa, para poder dobrar os companheiros, sendo dele, depois, a responsabilidade de sair a jogar - aliás, nunca vi, até hoje, algum defesa tratar tão bem a bola como ele, ficando na memória de todos a forma como colocava, com precisão única, a bola à distância.
Tinha um estilo muito próprio, deslocava-se sempre de cabeça levantada, com a leveza e a elegância de um príncipe. Não me recordo - e acompanhei-o muito mais vezes através da televisão - de o ver fazer uma falta rude sobre um adversário.
Na Luz, o bicampeão europeu Bayern geriu tranquilamente o jogo e regressou a Munique com um empate a zero. Lá, no estádio Olímpico, é que foi o diabo: golearam-nos por 5-1. Haveriam de renovar o título europeu, batendo nas meias-finais o Real Madrid e na final os franceses do Saint-Etiénne.
Jamais esquecerei o maior líbero da história do futebol mundial, o "Imperador" Franz Beckenbauer. Foi depois um treinador e dirigente de enorme sucesso também.
RIP FRANZ BECKENBAUER!"

Benfica em movimento


"A atividade desportiva do Benfica e o evento do Museu Benfica – Cosme Damião, "De Moçambique para o mundo", são os destaques nesta edição da BNews.

1. Vitória com golos bonitos
As Inspiradoras ganharam, por 3-0, ao Valadares Gaia. Kika Nazareth, com dois golos e uma assistência para Jéssica Silva, foi a mulher do jogo. Filipa Patão enaltece a exibição da equipa e vê margem para melhorar: "Temos de trabalhar para dominar todos os momentos do jogo, independentemente do que aconteça. A equipa está de parabéns, fez um excelente trabalho, mesmo com menos uma jogadora."

2. Triunfos no basquetebol
A equipa masculina ganhou no reduto da UD Oliveirense, por 55-77, e a feminina venceu na deslocação ao CAB Madeira, por 58-73.

3. Outros resultados 
Os Sub-17 golearam o Casa Pia, por 7-1 e, no futsal, derrota a penalizar a falta de eficácia (2-1, em Ponte de Sor, frente ao Eléctrico).

4. Coloque na agenda
A equipa B visita hoje o Fulham, às 19h00, em jogo referente à 2.ª jornada da Premier League International Cup.
Amanhã tem início a fase de apuramento do campeão da Liga Revelação, com os Sub-23 do Benfica a receberem o Torreense no Benfica Campus (11h00).
Na quarta-feira, a primeira equipa em ação é a feminina de futebol, às 17h00 no Benfica Campus, nas meias-finais da Taça da Liga frente ao Valadares Gaia. Passada uma hora, o Benfica recebe, na Luz, o Berlin Recycling Volleys em jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões de voleibol. Às 20h30, jogo de basquetebol no reduto do Galomar para a Taça Hugo dos Santos. E, às 20h45, no Estádio da Luz, Benfica-Braga a contar para a Taça de Portugal.

5. De Moçambique para o mundo
O evento do Museu Benfica – Cosme Damião, o qual celebrou e homenageou as vidas e carreiras desportivas de Eusébio da Silva Ferreira e Mário Coluna, contou com dois painéis. No primeiro, intitulado "De Moçambique para o mundo", participaram Nuno Domingues, Luís Lapão e António Pinhão Botelho. No segundo, a glória António Simões esteve acompanhado por Iolanda, Lourdes, Raquel e Regina, filhas e netas de Mário Coluna.

6. Protagonista
Agora também disponível, na íntegra, no Site Oficial, a entrevista a Alex Pinto, o treinador da equipa feminina de futsal que venceu o Futsal Women's European Champions."

Rafa, um rebelde sem causa


"Rafa é sempre o melhor em campo para os adeptos. Não há volta a dar. É um avançado, está sempre envolvido em oportunidades de golo e, nos intervalos de um ou outro momento verdeiramente inolvidável, e tem-nos pelo menos um por época, a sua velocidade deixa rasto difícil de esquecer por parte de quem assiste.
Também os treinadores se rendem às evidências: preferem ter em campo até ao limite dos limites alguém que pode decidir em qualquer jogada, mesmo que o momento não seja favorável ou a exibição não aponte para aí. Um dia vai acontecer, valerá a pena e tudo fará sentido. Não o fará é na maior parte das vezes.
Com 82 golos e 59 assistências em 301 jogos pelos encarnados, Rafa tem uma ação decisiva a cada 2,13 encontros. Não é mau, porém está longe de ser brilhante. Sobretudo, se olharmos para o que falha. E não só golos. São as assistências, o penúltimo passe e até a simples tabela. Coisas fáceis, inexplicáveis para alguém com tanta influência.
Rafa é, no futebol, um pouco o que é na vida. Um rebelde sem causa. Ninguém percebe porque decide daquela maneira ou qual a causa do seu protesto. Os colegas entendem-no e isso parece bastar-lhe no mundo em que vive. Se lhe chegará no pós-Benfica é outra questão para a qual, para já, não há resposta. Isto se, no último momento, não colocar em xeque toda a lógica e assinar um novo contrato. Porque é o Rafa e é tudo possível. Mesmo que nada o faça prever e, na realidade, seja de todo inesperado.
Rafa não estaria por cá se fizesse melhores passes, tomasse melhores decisões ou marcasse mais golos, todavia os grandes portugueses também deveriam privilegiar jogadores com um QI futebolístico diferente, que os aproxime dos maiores da Europa. Porque é aí que está a diferença: os melhores são os que falham menos. Não os que correm mais."

FC Porto, verdade ou consequência...


"Há 48 dias, em entrevista à SIC, Pinto da Costa prometeu capitais próprios positivos, ou lá perto, para dezembro de 2023. Aguardemos, pois...

A 21 de novembro de 2023, em entrevista à SIC, Jorge Nuno Pinto da Costa, ainda no rescaldo da tumultuada AG do FC Porto, ocorrida oito dias antes, fez uma fuga para a frente e definiu prioridades: «A primeira é que o barulho de redes sociais não chegue à equipa de futebol, e que ela esteja tranquila para atingir os objetivos de toda a estratégia, que passam por estar nos oitavos de final da Champions. A segunda preocupação é que em dezembro, na estratégia traçada, possamos apresentar lucro e possamos ter capitais próprios positivos. Se não forem positivos, perto de positivos. E em terceiro, a minha preocupação é a nossa Academia. Só estou preocupado com isso. Temos três metas, passar aos oitavos de final e depois ir o mais longe possível. Meter as máquinas no terreno e apresentar em dezembro capitais próprios positivos.»
Volvidos 48 dias, e cumprido o desiderato de estar na fase a eliminar da Liga dos Campeões, nada se ouviu em relação aos capitais próprios, ou perto disso, aguardando-se, a propósito, um anúncio do FC Porto. Esperemos que, num horizonte próximo, o presidente dos dragões, que mostra, a cada dia que passa, continuar na posse de todas as capacidades intelectuais e cognitivas, mantendo uma extraordinária adesão à realidade, anuncie o que projetou. E quanto à Academia, porque os tempos de escrutínio político não são os mesmos da construção do Olival, que não teve custos, assumidos pela autarquia de Gaia (e não foram trocos, estamos a falar, há mais de 20 anos, de 16 milhões de euros), para o FC Porto, há que esperar para ver quando, como e quem financiará este novo projeto apadrinhado por Pinto da Costa. Os tempos noticiosos estão cada vez mais vorazes, a tendência para o esquecimento, em função de novos factos que vão assoberbando a atualidade, é constante, mas há que ter memória para se poder jogar ao verdade ou consequência.
A cerca de três meses das eleições no FC Porto, a equipa de futebol, cujos resultados poderão ter impacto na tendência dos votos, está a mostrar dificuldade de afirmação, pelo que deveremos aguardar pelo que resta desta janela de mercado de janeiro para podermos aferir da capacidade (ou não) de resposta da SAD no reforço do plantel, reclamado por Sérgio Conceição. Como se percebe, muito se joga no reino do dragão...


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David Carmo: a sombra da própria sombra


"O (mau) rendimento do defesa do FC Porto continua a ser um enigma, como se voltou a ver, neste domingo, frente ao Paços de Ferreira na derrota do FC Porto B

Enigma é algo que não se consegue explicar ou que é difícil de entender. É o caso de David Carmo. Para quem não integra o grupo de trabalho do FC Porto, o rendimento do defesa de 24 anos é um enigma enorme. Não é o primeiro, nem será o último. Todas as épocas, em todos os clubes, são contratados flops. St. Juste não é um enigma, pois sabe-se o que está na base de não ser regular: lesões.
David Carmo deu o salto no SC Braga em janeiro de 2020 e, primeiro com Rúben Amorim e depois com Carlos Carvalhal, teve um bom primeiro ano. Sofreu fratura da tíbia e do perónio direito em fevereiro de 2021, regressou à equipa um ano depois, sendo sempre titular, ao lado de Paulo Oliveira, Diogo Leite ou Vítor Tormena, na defesa a três de Carvalhal. No início de 2022/2023, o FC Porto contratou-o ao SC Braga por 20 milhões de euros. Os dragões podiam ter optado pelo seu Diogo Leite, igualmente alto, igualmente esquerdino, igualmente de 23 anos, mas preferiram David Carmo. Sugestão de Sérgio Conceição ou opção da SAD portista, não se sabe publicamente. Diogo Leite saiu para o Union Berlim e realizou 40 jogos, enquanto David Carmo (com Pepe, Marcano e Fábio Cardoso no plantel) ficava-se pelos 18. Muito pouco para quem lutava com um quarentão, um trintão a caminho de ser quarentão e um ex-Santa Clara.
Estava a caminho de ser um enigma enorme, mas era ainda apenas um pequeno enigma. Nesta época teve sete oportunidades no onze inicial do FC Porto, primeiro numa defesa a três (com Pepe e Marcano), depois numa dupla de centrais (com Fábio Cardoso, Zé Pedro ou Pepe), devido à lesão grave de Marcano. Viu cinco cartões amarelos e uma vez o vermelho, por acumulação.
Tudo terminou após o jogo com o Sporting. Pepe esteve mal, Pepe foi expulso e, no treino seguinte, segundo se sabe, David Carmo pôs em causa as opções de Sérgio Conceição e o rendimento de Pepe. Caiu para o FC Porto B. E que aconteceu? Perdeu em casa com o Nacional (2-3) e neste domingo com o P. Ferreira (0-3): seis golos sofridos pelo FC Porto B com Carmo em campo. Culpa exclusiva dele? Claro que não. Mas continuou a ser uma sombra da própria sombra, com erros, maiores ou menores, nos três golos pacenses. Que se terá passado nestes três anos? Má avaliação dos dirigentes do FC Porto? Deslumbramento do jogador? Mal aconselhado? Psicologicamente de rastos? Tudo é possível. A solução parece óbvia: sair de Portugal. Os últimos meses no FC Porto e os sucessivos erros que tem cometido indiciam que o seu futuro, seja na equipa A do FC Porto ou na B, está perto do fim. Talvez o ideal seja fazer o que fez Eduardo Quaresma: sair e voltar mais forte."

Catão, explica!!!