sábado, 23 de novembro de 2024

Pequenos erros


"Presidente do Comité Olímpico considerou que o nadador Diogo Ribeiro, que considera ser de excelência e eleição, «tem alguns pequenos pormenores que devem ser afinados» e há um acompanhamento a ser feito. Mas até sabe que quando foi, duas vezes, campeão do mundo apenas o foi porque havia outros que estavam mais focados nos Jogos, para os quais ia para tentar chegar à final. Pelos vistos foi o único a falhar em Paris 2024. O que lhe vale é que há quem o continue a fazer.

Na passada semana, na véspera da Celebração Olímpica 2024, tradicional gala anual do Comité Olímpico de Portugal que após cada celebração de uns Jogos tem sempre outro brilho, li uma entrevista do presidente do COP Artur Lopes à Lusa. Tendo por base uma questão sobre o relatório da Missão a Paris-2024 o atual líder do COP elogiava o foco e prestação «num momento de excelência» dos ciclistas Rui Oliveira e Iúri Leitão pela conquista do primeiro título olímpico, no madison, que não vem do atletismo e com Iúri, prata no omnium, a cometer a proeza de ser o único português a ganhar duas medalhas na mesma edição. Brilhante!
Mas, antes dos elogios à dupla e ao trabalho realizado, começa por se referir ao nadador Diogo Ribeiro. «O Diogo é um caso de um atleta de excelência, de eleição, mas que, como outros atletas, tem alguns pequenos pormenores que têm de ser afinados. É um jovem — muito jovem —, pouca experiência, portanto todo esse acompanhamento vai ter de ser feito...»
«Enquanto presidente, quero que o acompanhamento a esse atleta seja feito de modo a que os pequenos erros que possam ter acontecido durante o seu trajeto em Paris sejam emendados. Se são erros dele mesmo, há que fazer-lhe ver porquê e como é que se conseguem alterar. Se são externos, há que os corrigir imediatamente», continuava.
«O caso do Diogo Ribeiro, se calhar, vai ser um dos que nos vai dar mais entendimentos. No entanto, devo dizer que Portugal tem muita mania do 8 ou 80, passamos de uma depressão completa para uma euforia, não somos bipolares, mas quase, portanto há que ter cuidado com tudo isso. O atleta em si mesmo é um atleta de excelência, mas já sabíamos quando competiu e foi campeão […] que naquela altura não estariam os melhores a competir. Havia outros ao lado que não estavam a fazer e que estavam só focados nos Jogos Olímpicos», adiantou ainda sobre o duas vezes campeão mundial.
Achei curioso que, antes dos Jogos, quando o COP fez a previsão de medalhas e lugares de honra, não tenha efetuado logo a ressalva e o tenham incluído como possível finalista, o objetivo. Opção que a federação de natação também dispensou e que A BOLA até alertou que, à partida, havia 14(!) mais rápidos do que ele na start list e era necessário, para proteção do próprio, baixar expectativas. Mas, se calhar, para Artur Lopes, o melhor era mesmo o Diogo não ter sido campeão mundial porque em Doha não estavam alguns dos melhores e era só o 15.º do mundo.
É verdade que Diogo, o tal jovem de 19 anos, que se queixou das condições da Aldeia Olímpica, o que nos dias seguintes muitos, não portugueses, também o fizeram e até se mudaram para hotéis — o relatório deve referir isso —, não soube escolher o timing da queixa dos problemas que sentira para dormir e comer em condições, entre outros.
Hoje tem noção disso, mas, no momento, a frustração de como se sentira limitado a nadar e na ambição não lhe permitiu essa perspetiva após a última prova e disparou.
Esperei que, habitualmente céleres a defender os seus, a federação, o Benfica, a Comissão dos Atletas Olímpicos reagissem à apreciação de Artur Lopes e lhe explicassem que o problema do Diogo não foi propriamente dele, mas de como chegou preparado a Paris. Falei com alguns e nem sabiam da entrevista.
Depois pensei, espera, o Artur Lopes, ex-presidente da federação de ciclismo, deve ter-se informado porque o Diogo Ribeiro só foi semifinalista aos 50 livres e na segunda metade das provas de 100 livres e mariposa quebrava. E, certamente, antes de falar sobre ele publicamente, parece que foi o único que não cumpriu objetivos, até conversaram sobre as suas naturais preocupações.
Enganei-me. Perguntei ao Diogo, que não havia lido a peça, se alguma vez falou com Artur Lopes, antes ou depois deste presidir ao COP. Respondeu-me que nem sabe quem é. «E não estou a ser mau, só sincero».
É provável que Artur Lopes, vice-presidente do COP há 24 anos e presidente desde meados de agosto, também ande ocupado com outros pequenos pormenores que tenham de ser afinados."

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