sábado, 12 de outubro de 2024

Sou candidato… não me comprometo


"Seja ao nível da formação, uma das competências de qualquer federação, como da competição e, finalmente, do alto rendimento há muitas flores e ambições anunciadas pelos candidatos a presidente das federações, mas poucos números colocados preto no branco.

Como é habitual, o período pós-Jogos Olímpicos de verão traz um momento, mais ou menos conturbado mas sempre desejado, de novas eleições nas federações desportivas e, como salientei na passada semana, com particular interesse naquelas 33 que integram modalidades que fazem parte do programa olímpico, das quais algumas são pluridesportivas e por isso responsáveis por mais do que uma modalidade olímpica. Em certos casos, até mesmo de outras que não o são.
Com algumas dessas federações a já terem efetuado o escrutínio, há grande variedade de candidatos e candidaturas, até porque existe quem esteja a recandidatar-se, outros que foram/vão a votos sozinhos ou contra uma ou mais listas.
Primeiro, é com alguma tristeza que, em algumas listas, vi e soube de convites para pertencerem a órgãos sociais a pessoas que nunca tiveram a mínima relação com tais federações ao longo dos anos. E, nalguns casos, nem sequer terem sido praticantes de uma dessas modalidades ou, pior, nem sequer terem sido atletas ou dirigentes.
Com a facilidade que a internet e as redes sociais permitem nos dias de hoje, tive oportunidade de olhar para a base de algumas candidaturas e se daqui a quatro anos tudo continuar na mesma não me admirarei.
Para lá de pretenderem, naturalmente, fazer obra, em certos casos física, de construção de sedes e centros de treinos, raros são aqueles que avançam apresentando um planeamento objetivo que, terminado o seu mandato, possa ser analisado.
Seja ao nível da formação, uma das competências de qualquer federação, como da competição e, finalmente, do alto rendimento. Há muitas flores e ambições, mas poucos números colocados preto no branco.
Escasseia quem pretenda orientar o caminho de uma federação propondo-se a ter, dentro de quatro anos, um determinado número de praticantes entre os 10 e 14 anos, visto sabermos que, infelizmente, em muitas modalidades a pandemia varreu parte daquilo que devia ser a base da pirâmide e até a política de um país.
Escasseia quem se proponha atingir um número de praticantes e nível competitivo entre os 15 e18 anos — ainda que haja modalidades nas quais já se é sénior aos 14/15 — e se comece a alimentar e a fazer sonhar quem quer e tem capacidade de passar à alta competição e possa surgir nos grandes campeonatos dos escalões de formação. Ou, simultaneamente, manter uma estrutura para aqueles que apenas desejem continuar a prática desportiva de rendimento sem passarem a semiprofissionais ou profissionais.
E, por fim, rareiam candidatos que estabeleçam quantos atletas pretendem qualificar para as maiores competições internacionais e com que objetivos e resultados, de maneira a podermos saber, realmente, quais as metas que colocou antes de ser eleito e se as alcançou findo o quadriénio.
Isso, quase ninguém arrisca fazê-lo. É mais fácil ir empurrando no tempo e não ter de trabalhar com metas concretas num mundo onde depois, ao nível da alta competição, muitos outros, com quem queremos rivalizar, têm planeamentos, objetivos… e executam-nos."

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