quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Iniesta, muito depois do adeus


"Um dos melhores deste século colocou agora um ponto final na carreira, aos 40 anos, mas já há seis que nos despedimos dele. Amor ao futebol fê-lo estender este adeus ao máximo e bem longe

Se daqui a uns anos me for esquecendo do que jogava Don Andrés Iniesta, espero que o algoritmo que adivinha os meus interesses me comece a mostrar aquelas imagens do pequeno 8 rodeado de adversários por todo o lado. Eles bem tentavam: aproximavam-se, cheiravam a bola e sentiam que estavam mesmo, mesmo quase a tirá-la. Puro engano, malabarismo até, do craque que dedicou uma vida a um clube - a mais que um clube, aliás. A bola era dele.
Sou de uma geração que não se pode queixar muito: não vi Pelé e para ver Maradona como deve ser tive de puxar as cassetes atrás, mas tive a sorte de acompanhar Messi e Cristiano Ronaldo do princípio até - espero - ao fim. Nunca vi ninguém jogar como aquele Barcelona de Guardiola e, se a memória não me falhar, guardarei um espaço muito especial para Iniesta e para a forma como nos divertia.
Custa sempre despedirmo-nos dos melhores, mas este é um luto que já estava feito. O médio colocou agora um ponto final na carreira, aos 40 anos, mas foi naquela conferência de imprensa muito chorosa em Barcelona, em 2018, que nos disse adeus. De acordo com a personalidade que também mostrava em campo, Andrés retirou-se dos holofotes europeus e passou os últimos seis anos no Japão e nos Emirados de forma humilde e recatada. No vídeo que partilhou na segunda-feira, nas redes sociais, a anunciar a retirada, é Luis Enrique quem descreve esta decisão melhor do que ninguém: Iniesta era como um miúdo a jogar à bola na rua até ficar de noite e a mãe o chamar constantemente para casa. Ele esticou o futebol ao máximo, queria sempre mais um bocadinho, mas nós já não o víamos no escuro.
O debate sobre a ida para campeonatos distantes (e desinteressantes) e sobre qual o melhor momento para sair vai continuar: Kroos abandonou no pico e ainda deixou saudades no Real Madrid; Messi e Cristiano serão eternos, mesmo que provavelmente não saibam desistir. Mas Iniesta fez o que sabe tão bem: aproximou-se do fim, deixou-nos a pensar que lhe iam tirar a bola e continuou com ela até quando quis.
Agora, na hora de a passar de vez, até os rivais de Madrid lhe fazem a devida vénia. Já aqui escrevi que aprecio muito as rivalidades, mas é nestas alturas que elas podem ser ainda mais bonitas. É verdade que aquele golo na final do Mundial 2010 o tornou o único jogador que era ovacionado pelas bancadas adversárias ao sair, mas esses ventos não vêm só de Espanha: quem gosta de futebol, aplaudirá sempre Andrés Iniesta. Obrigada por tudo."

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