terça-feira, 29 de outubro de 2024

Dos benficas ao Benfica


"“Ponto último: negociar implica cedência, abdicar de algo, para ganhar algo. Portanto, vejamos sempre mais além. Tentemos ponderar o que é melhor para o Clube Benfica. Não há Estatutos à medida de cada um.” O Manuel Serra escreveu isto ontem — logo após o término da AGE — e eu não tive de ceder um milímetro para concordar totalmente com ele. Nos estatutos ou noutros aspetos da vida democrática de um clube, a cedência por um bem comum é o único caminho possível.
Desde os tempos em que apenas tinha 1 voto, sempre acreditei que 1 sócio = 1 voto era a única equação correta, mesmo para quem é de letras. Os anos passaram — já tenho 20 votos —, e continuo a pensar o mesmo. Acredito que haja outras formas de compensar quem mais contribuiu financeiramente para o clube. Porque é disso que falamos nesta questão: dinheiro e poder. Não estamos a falar de mais ou menos amor ao clube, de mais berros no estádio ou no pavilhão, nem sequer de ser totalista nas Assembleias Gerais, estamos apenas no campo do dinheiro. Naturalmente, sei que o destino desse dinheiro é, muitas vezes, uma escolha de prioridade na vida das pessoas. Sei perfeitamente que dinheiro das quotas podia ser usado para mais comida, roupa para um familiar, uns livros, uma viagem, gasolina, etc, e mesmo assim escolhemos dá-lo ao clube — independentemente dos momentos desportivos —, mas não sinto que isso deva tornar-nos mais poderosos do que outro sócio mais recente. Esta é a minha opinião sobre este assunto e, infelizmente, acho que nunca será maioritaria. E está tudo bem com isso, a maioria é que manda — desde que respeite os direitos das minorias.
Chegamos então à ideia que me interessa: a importância da empatia. O respeito pelo outro. O objetivo comum. Só há Sport Lisboa e Benfica se formos empáticos, se respeitarmos o outro, se tivermos o objetivo comum em mente. E isto só é possível pela cedência. No clube, como nas nossas vidas pessoais, o mundo não é feito à nossa imagem — mesmo que as bolhas nas redes sociais ou comunitárias nos façam crer que sim —, somos obrigados a ceder. Não precisamos de “votar contrariados” ou “no menos mau”, mas devemos compreender que o perfeito é inimigo do bom. É melhor fazer do que ficar a pensar como seria. Soam a frases feitas e chavões? Claro, porque são verdades (quase) indiscutíveis.
Todos sentimos que o Sport Lisboa e Benfica é gigante. E, tal como outros grandes clubes, vive no paradoxo de ser o sonho coletivo de muitas visões diferentes. Diria que não há um Benfica, mas milhões de benficas e é tão complicado encontrar um denominador comum. Eu quero acreditar que o nosso Benfica sairá mais forte deste processo, mesmo que mude pouco, porque ao longo destas várias AGE vamos e estamos a reaprender a debater com os nossos. E ouvir e falar com o outro de uma forma empática é uma vitória tão importante como marcar aquele golo nos descontos.
De muitos, um."

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