quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A atualidade em três pinceladas


"1. Inédito ‘pedido’ em jogo da Liga Francesa
O Lyon-Auxerre da última jornada (Ligue 1) mostrou-nos o impossível: Jubal, capitão dos forasteiros, entregou um papelinho ao árbitro onde estava plasmada a intenção de protesto da sua equipa, devido a uma decisão tomada segundos antes. Aconteceu porque é permitido. O Art. 559° do Regulamento de Competições da FFF permite ao clube alegadamente prejudicado a possibilidade de solicitar uma «Reserva Técnica», figura que permite contestação in loco, ou seja, a que é efetuada imediatamente após o lance e antes do reinício da partida. E foi exatamente o que aconteceu. Os jogadores do Auxerre alegaram que o árbitro tinha apitado bola fora antes da infração na área e recorreram a essa prerrogativa, que lhes permitiria o recurso posterior às entidades competentes. Curiosamente acabaram por empatar o jogo e por isso abdicaram de exercer esse direito. Os danos colaterais foram no entanto notórios: jogo interrompido quase dez minutos, uma expulsão (para o adjunto), amarelo para o capitão e contestação maciça em campo e nas bancadas. Caldo entornado à custa de uma inovação que, na prática, mostrou-se mais prejudicial do que justa. Não teria sido mais fácil o clube manifestar vontade em protestar após o final do encontro, nos mesmos termos que todos os outros o fazem nas outras ligas? E se tudo aquilo tivesse originado agressões ou tumultos nas bancadas? A ver se os nossos amigos franceses aprendem com o (mau) exemplo. Nem toda a novidade é boa para o jogo, ainda que bem intencionada e pensada.

2. A ausência de Vinicius Jr
Segundo a imprensa especializada, Vinícius Jr e Real Madrid decidiram boicotar a sua presença na gala de atribuição da Bola de Ouro por terem recebido a informação de que o craque brasileiro não iria receber o desejado galardão. Independentemente das razões desportivas subjacentes à opção — na minha humilde opinião, o avançado do Real Madrid merecia claramente o prémio! —, confesso que não gosto de ver a ausência deliberada de jogadores e respetivos representantes a estes eventos, só por saberem de antemão que não ganharão o troféu. A questão aqui não é apenas de coerência (o Real Madrid e os seus jogadores compareceram a todos os eventos onde foram premiados, alguns dos quais alvos de crítica dura quanto ao mérito dos respetivos vencedores), mas acima de tudo de elevação e respeito. Elevação e respeito pelos seus pares, pela indústria, pelo jogo, por vencedores e vencidos. Dar a cara apenas quando o momento é de celebração não é bonito. É poucochinho. Foi assim no passado e é assim agora, ainda que compreendendo perfeitamente a frustração pessoal e desportiva do atleta e respetivo clube. Quem é grande, é grande, sobretudo quando perde.

3. ‘Off topic’
Nem só de bola se faz a atualidade e nem só de momentos felizes se vive em sociedade. Os acontecimentos recentes que transformaram Lisboa na capital da contestação, dos protestos e das manifs, não deixaram ninguém indiferente. Mas mais do que esgrimir argumentos para um lado ou para outro — confio sinceramente que a verdade dos factos será apurada em relação à lamentável morte de um cidadão —, o que salta à vista, mais uma vez, é a tendência para se extremar opiniões. Tal como aconteceu antes com pandemias, invasão russa à Ucrânia, conflitos no Médio Oriente e, mais recentemente, com as eleições nos EUA, parece que há cada vez menos gente sensata. Há cada vez menos equilíbrio e ponderação nas opiniões, sobretudo porque essas são dadas de fora para dentro, com pouco conhecimento real do que realmente se passa ou passou. Ou somos pró-polícia ou anti-forças de segurança. Ou somos pró-emigrantes ou somos xenófobos. Não há nada ali pelo meio, que queira compreender a verdade dos factos e contextualizá-la, sem generalizar, sem defender acerrimamente ou atacar de forma feroz. O povo está saturado, exausto e revoltado com a vida, algo que infelizmente tem sido bem aproveitado por meia dúzia de pregadores no deserto que não passam de vendedores da banha da cobra. E as pessoas comem tudo aquilo, trocando o normal pelo absurdo total. Como é que é possível?!?"

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