terça-feira, 3 de setembro de 2024

Um Benfica e dois clubes


"O 112 é o Número Europeu de Emergência: 1 derrota, 1 empate e apenas 2 vitórias, neste inicio da Liga, parecem ter ajudado o Presidente Rui Costa a, enfim, compreender a urgência em substituir Schmidt. Segundo o Presidente, os atuais maus resultados e as dececionantes exibições justificam a decisão agora tomada.
Na liga passada, quais foram os últimos quatro resultados do Benfica? O mesmo 112: 1 derrota com o Famalicão por 2-0 (toca alguma campainha?), 1 empate 1-1 (outra campainha?) com o Rio Ave e 2 vitórias. Mas aí, antes de começar a época atual, a chamada de urgência não foi atendida, com os custos desportivos e financeiros daí decorrentes.
Os mesmos factos-mas em Maio os factos não contavam para nada, pois não? -têm agora leituras e consequências distintas. Infelizmente, o Benfica parece ser uma ótima entidade para se aprender a decidir.
Lamentavelmente, os problemas do Benfica, vão bem além da figura do treinador. O seu ponto focal situa-se na politica desportiva e financeira prosseguida. Entre outros defeitos comentados em artigos anteriores, é uma política bifurcada, em matéria de futebol profissional e modalidades.
Em 23 de maio passado, comunicando as ambições para a temporada corrente, de forma que hoje parece absolutamente risível, Rui Costa, assegurou que " tudo está a ser feito para corrigir os erros" e que o objetivo do clube é " entrar a todo o gás na nova temporada".
Efetivamente, o Benfica contratou para esta época, alguns dos melhores jogadores do mundo. No hóquei em patins, Pau Bargalló, cinco vezes MVP da liga espanhola, um símbolo do Barcelona, após 8 épocas no clube, é considerado o melhor jogador do mundo. Com ele, regressa João Rodrigues, após 6 épocas no Barça. No futsal, André Coelho, outro dos melhores jogadores do mundo, troca o mesmo Barcelona pelo Benfica. O esforço financeiro do Benfica não será pequeno. São quase desconhecidas, as situações em que, para as mesmas funções, os salários em Portugal sejam superiores aos praticados em Espanha. Aliás, o salário médio português é 21,5% inferior ao espanhol e, se subirmos nos escalões de rendimento e património para encontrar maior afinidade com a situação descrita, o número de espanhóis no escalão de topo é 7 vezes maior que o número de portugueses (versus 4,5 na população geral). Para alegria do ministro das Finanças português, que conta agora com este exemplo favorável, o declive de Portugal face à Espanha, não impediu o Benfica de escalar a montanha e ultrapassar o hiato salarial entre os dois países ibéricos. Temos assim dentro do Benfica, um clube F (futebol) e um clube M (modalidades). O clube F opera num contexto hipercompetitivo a nível nacional e, ainda mais, a nível internacional. Tem o escrutínio diário apaixonado de sócios e adeptos, bem como dos media. Uma multidão de pessoas exigentes, aspira a títulos nacionais, a uma participação europeia relevante e, no geral, a exibições motivadoras. O clube M funciona num contexto bem mais acessível. Algumas modalidades que podem oferecer títulos europeus, funcionam de forma apenas regional no velho continente. Outras, sendo competitivas na Europa, concedem a possibilidade de títulos em Portugal. O escrutínio é menor, a pressão da comunicação social é anémica e a oportunidade de luzir títulos, encher as prateleiras do museu e apresentar generosas estatísticas de vitórias é elevada. Leandro Barreiro e Pau Bargalló, são as duas faces da mesma moeda. No lado F temos um funcional médio luxemburguês; no lado M, temos o melhor avançado do mundo de hóquei em patins. Compreendemos bem a Direção do Benfica. Visivelmente, não querem que os sócios e adeptos do clube fiquem presos à solidão e vulnerabilidade do futebol e, sobretudo, ao risco traumático de novos insucessos. Uma peregrinação ao pavilhão da Luz, três golos de Pau Bargalló e a coisa está feita! Celebramos colectivamente a nossa grandeza e a derrota dos rivais. E se, como em Famalicão e em Moreira de Cónegos, e apesar da mudança de treinador, novos melodramas assolarem o futebol, haverá que multiplicar as romarias ao pavilhão. Alguém da Direção estará presente para nos acenar e celebrar as vitórias nas modalidades. Um amigo benfiquista disse-me há pouco tempo: "este ano estamos outra vez tramados". Provavelmente sim."

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