quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Obrigado, Sr. Schmidt


"No futebol português, vale de pouco ser sincero e boa pessoa quando nos referimos a treinadores. O que importa, para a maioria dos adeptos, é bater no peito com muita força (dar murros das mesas também serve), atacar os adversários, falar alto, de preferência com meias-palavras, gesticular e percorrer de forma nervosa a área técnica durante os jogos, expressar-se em português nas flash-interviews (mesmo que num português pobre e desinteressante) e, claro, ganhar. A qualquer custo...
Quando Roger Schmidt aterrou em Lisboa, para assinar pelo Sport Lisboa e Benfica, teve o azar de proferir uma frase mítica que pode muito bem lhe ter custado a permanência. O célebre 'quem ama o futebol ama o Benfica' colocou a fasquia tão alta, que nem um Campeonato e duas idas aos quartos de final das competições europeias foram suficientes. É a cultura de exigência, dizem os adeptos do alto da sua sapiência. È o que temos, infelizmente.
Da minha parte, mantenho o que disse na caminhada para o 38: Roger Schmidt poderia deixar uma marca duradoura no futebol do SL Benfica. Com os seus - e da equipa técnica - métodos de treino, honestidade na comunicação, respostas diretas perante os pelotões de fuzilamento em que se transformaram as conferências de imprensa e capacidade de relacionamento com os jogadores, o alemão era homem para estar no leme durante vários anos. Parece que os resultados ditaram a sua demissão, mas é tudo uma pescadinha de rabo na boca. O caos que foi criado em torno da equipa profissional masculina e a falta de igualdade no tratamento da realidade do Clube, quando comparado com os rivais, acelerou um processo que, agora, querem fazer cingir aos números, aos resultados. Mentira. A questão não é Roger Schmidt, nem os jogadores, nem o presidente, é o Benfica. O alvo em que o Clube se tornou devia ser alvo de estudo. Podem vir Guardiola para treinador, Florentino Pérez para presidente, 10 Mbappés para o ataque e 3 Neuers para a baliza, que a história vai repetir-se. Para muitos dos adeptos, nunca será suficiente. Eles é que sabem tudo."

Ricardo Santos, in O Benfica

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