segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Benfica, qual é o teu Império Otomano?


"Kerem Aktürkoglu, a marcar na estreia, e Orkun Kökçü, a gerir todo o jogo encarnado, brilharam no regresso de Bruno Lage à Luz - e Amdouni, também com sangue turco, mostrou-se nos últimos minutos. A vitória por 4-1 frente ao Santa Clara lembrou a estreia de Lage em 2019: esta noite tal como há cinco anos, o Benfica entrou mal e a perder aos 23 segundos, para dar a volta e construir uma vitória convincente

Fossem “varinha” e “batuta” sinónimos e Kerem Aktürkoglu e Orkun Kökçü partilhavam bem mais do que a nacionalidade no passaporte. De repente, o Benfica não só tem só caras novas-velhas no banco como um Império Otomano particular, feito de um reforço já a libertar magia, e de outro futebolista que já todos bem conhecem, mas agora a aparecer na posição que lhe é devida, a conduzir o jogo dos encarnados, dando-lhe ligação e bolas para golo.
Como naquelas brincadeiras e malabarismos com que os homens dos gelados de Istambul enganam incautos turistas, os dois turcos do Benfica desataram um desastroso início da segunda era de Bruno Lage como treinador dos encarnados, tornando-o num déjà vu quase perfeito: em janeiro de 2019, no primeiro jogo de Lage, o Rio Ave começou a ganhar 2-0, com o Benfica a dar a volta, vencendo por 4-2. Cinco anos e uns meses depois, o Benfica sofreu um golo do Santa Clara logo aos 23 segundos, cortesia de mais uma abordagem disparatada de Otamendi, mas ainda na 1.ª parte conseguiu dar a volta, construindo, aos poucos - não sem erros e momentos de jogo ainda bem emperrados - uma vitória robusta, por 4-1.
A eficaz chapelada de Vinicius ainda antes do relógio bater no minuto 1 abanava Lage ainda antes do regressado treinador poder colocar os pés no chão. E o Benfica demorou a encontrar-se num jogo em que o duplo-pivô Barreiro/Florentino foi finalmente desfeito, com Kökçü a jogar mais próximo do médio defensivo português, e Rollheiser surgiu a servir de segundo homem no ataque, no apoio a Pavlidis. Aktürkoglu, depois do hat-trick marcado pela seleção, levou o excelente momento de forma que vive para uma titularidade imediata. Mas faltava fluidez, um jogo mais afoito e veloz. Somavam-se os maus passes, as bolas perdidas. Do outro lado, o Santa Clara tampouco conseguia colocar velocidade em ataques que se queriam rápidos. O jogo foi, até à sua primeira meia hora, bastante molengão, confuso.
Bruno Lage gesticulava exasperado junto à linha, num desespero prematuro. Afinal, este Benfica há meses e meses que padecia de falta de personalidade, de ligação, como se estes jogadores não se conhecessem sequer, quanto mais treinassem juntos todos os dias. Quando Kökçü, finalmente com autorização para desbravar o corredor central, decidiu pegar no jogo, o Benfica mudou a narrativa até então dominante. É do ex-Feyenoord que sai o passe picado para a área, aos 28’, com Aktürkoglu a responder com um toque tão maroto quanto pleno de oportunidade, que desviou a bola languidamente de Gabriel Batista. O extremo turco, que chegou nos últimos momentos do mercado, lutava até então contra si próprio, com vários duelos perdidos e passes mal direcionados, tentando como podia uma integração express com os novos colegas. O golo acelerou todo o processo, a varinha saiu do bolso e o antigo jogador do Galatasaray partiu então para uma exibição bem competente, até a defender.
Pouco depois, o Benfica fazia o 2-1, num canto bem engendrado, com Di María a lançar a bola para o segundo poste, onde Otamendi ofereceu o golo a Florentino. O Benfica carburava, mas o Santa Clara, antes do intervalo, ainda enviou uma bola ao ferro, por Gabriel Silva.
A 2.ª parte arrancou praticamente com António Silva a fazer de cabeça o 3-1, com mais uma assistência de Kökçü em novo canto - o Benfica tinha zero golos através de cantos esta temporada, esta noite marcou dois. Di María quis juntar-se à magia turca e pouco depois, com classe, fez o quarto golo encarnado: Bah lançou o argentino pela direita e o campeão mundial, ao ver a hesitação de Gabriel Batista, fez-lhe um chapéu perfeito. O jogo ficou ali fechado e Lage relaxou, refrescando a equipa ainda cedo.
Zeki Amdouni, outro reforço com sangue turco, foi o primeiro a receber a confiança do treinador e seguiu-se Andreas Schjelderup, que pouco ou nada contava para Schmidt. Os dois mostraram qualidade. O internacional suíço teve duas oportunidades claras para se juntar ao sucesso do Império Otomano encarnado, uma que desbaratou em frente à baliza, após jogada onde Prestianni brilhou, e depois num livre direto onde enviou a bola ao ferro. O avançado norueguês quase marcou aos 88’, isolado.
Há soluções de sobra para Lage trabalhar e, para primeira amostra, tirando a primeira meia-hora, francamente pobre, já se vê trabalho do treinador. Tal como há cinco anos, susteve a respiração antes de festejar. Agora, volta a pegar num Benfica em crise e o regresso foi sólido, em vários momentos até bem convincente. Não se lhe podia pedir mais neste primeiro jogo."

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