terça-feira, 17 de setembro de 2024

As vitórias dos grandes e um Vitória em grande


"No Benfica confirma-se o óbvio: era mesmo muito fácil fazer melhor. O futebol não é tão simples como tantas vezes se apregoa, mas há coisas que não mudam: a missão fundamental de um treinador é escolher os melhores jogadores e colocá-los nas posições mais cómodas. Roger Schmidt já nem isso fazia há muito. O incrível foi ninguém em redor do alemão o ter percebido mais cedo. A tarefa de Bruno Lage está longe de ser simples, que o atraso em processo de treino/jogo é ainda maior que o que tem de pontos na tabela, mas o primeiro olhar não engana. E alguns reforços também não
A pré-época do Benfica foi estranhamente atribulada, quase caótica, mas nem tudo foram erros. Akturkoglu e Amdouni são duas ótimas aquisições de última hora e acrescentam claramente a um plantel onde faltavam, precisamente, um extremo para desequilibrar e um avançado móvel. Recuar Kokçu para organizar – e parece-me o único do plantel com essas características (não, nem Aursnes nem Renato o fazem por natureza) faz com que Lage vá ter dois excelentes reforços turcos. Um já lá estava.
O primeiro impacto de Samu Omorodion no Dragão não podia ser melhor. O robusto espanhol tem o perfil que empolga bancadas e os primeiros sinais confirmam as previsões de potencial impacto imediato: físico para os duelos, ameaça permanente de ataque à profundidade e instinto de finalizador (embora possa crescer claramente nesse aspeto). É o avançado que o FC Porto não tinha. Pode não vir ser um Gyokeres - o futuro o dirá – mas já é mais que um Marega.
O Sporting está avassalador, projeto claramente otimizado de Amorim ao quinto ano, mas vai ser testado – também na Europa – em relação às posições menos garantidas no plantel: guarda-redes e médio-centro. Se Kovacevic ainda não tinha entusiasmado, Israel ainda não se tinha afirmado. É uma nova oportunidade para o uruguaio, a atingir a maturidade, provar que o lugar pode ser dele. Os dois lugares a meio-campo são de Hjulmand e Morita, ninguém duvida. Daniel Bragança, de perfil muito diferente, é hoje a única alternativa óbvia, o que para uma época tão longa parece pouco. Claro que Pote pode recuar, mas atento o rendimento de início de época, que sentido fará desmontar o trio com Gyo e Trincão.
Não há como não assinalar o excelente arranque do Vitória de Guimarães, já difícil de atribuir a questões de calendário ou conjuntura, até porque começou a competir bem cedo. O triunfo em Braga vale pelos pontos e pelo lado simbólico de superar o rival, mas, mais que o resultado, fica a personalidade demonstrada. O Vitória foi a um dos terrenos mais difíceis (e hostis) reivindicar protagonismo e assumir domínio em muitos momentos. É verdade que poucas equipas terão, para construir e gerir jogo, de homens com a qualidade Handel, Tiago Silva, Nuno Santos, João Mendes e Kaio César (mais Samu e Telmo Arcanjo no banco), mas menos ainda teriam um treinador capaz de os colocar em campo em simultâneo. Esse é o maior e mais justo elogio que posso fazer a Rui Borges: juntou coragem à competência. É a minha mistura preferida."

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