domingo, 18 de agosto de 2024

Paris, a chama ainda arde


"Por cá, depois dos Jogos Olímpicos, a discussão sobre o desporto é deprimente. Em 2024, Portugal ainda se interroga sobre o básico. Que importância lhe devemos dar, que lugar deve ocupar nas prioridades de desenvolvimento do país

Um dos maiores sortilégios dos Jogos Olímpicos é a força do seu legado. Não se trata, pois, de uma simples competição desportiva, de uma parada de medalhados, de uma procura de afirmação internacional de cada país. Os Jogos têm uma estranha força que, ironicamente, mantém viva a chama que se apagara com pompa e circunstância.
Em Portugal, a discussão que se prolonga e ganha vida própria é sobre o futuro do desporto e do seu direito a um lugar sério e respeitável na sociedade nacional.
É, por si, uma discussão deprimente. Em 2024, Portugal ainda se interroga sobre o básico e o essencial. Que importância devemos dar ao desporto, que lugar ele deve ocupar nas preocupações e, vamos lá, nas prioridades do desenvolvimento do país.
O anterior governo respondeu muito objetivamente a essa questão oferecendo ao desporto, ou, melhor, ao IPDJ, 10 milhões de euros de um total de mais de 22 mil milhões do famoso PRR, o Plano de Recuperação e Resiliência. O atual governo não se compromete com nada e, por isso, não vai além de um discurso redondo, sem rasgo e, sobretudo, sem qualquer sinal de vontade de mudança estrutural na política pública do desporto.
Procurando não deixar extinguir, de vez, a chama de Paris, há quem se ocupe de, pelo menos, tentar levar a discussão para áreas concretas, como a do crescimento dos Centros de Alto Rendimento, criados no tempo de Laurentino Dias, então secretário de estado do desporto, e que comprovadamente se tornaram fábricas de fazer campeões. Foi com a criação desses centros que Portugal ganhou dimensão internacional em modalidades como a canoagem, o ténis ou o ciclismo de pista (a célebre pista de Sangalhos, agora tão falada) e ganhou um estatuto de maioridade no atletismo, com o crescimento das modalidades técnicas a substituírem-se aos antigos sucessos do fundo e do meio fundo. Porém, continua a faltar equipamentos básicos, o mais gritante, um centro de alto rendimento de ginástica, e uma visão verdadeiramente nacional para o desporto de competição, fazendo estender outros centros para o interior do país.
Alguns dirão que não vale a pena construir fábricas de campeões no desporto sem, antes, cuidar do crescimento do desporto e da atividade desportiva entre a população, alcançando índices de participação mais próximos da média europeia. Sinceramente, nunca vislumbrei qualquer tipo de incompatibilidade entre as duas áreas. Pelo contrário, o que existe é complementaridade. Mais campeões promovem mais desporto em qualquer país. Sobretudo, se os soubermos utilizar como embaixadores nas escolas e nas autarquias.
Não é preciso perdermos muito tempo a inventar o que já está inventado e devidamente comprovado. É, apenas, preciso juntar à diversa experiência internacional a capacidade de adaptação da cultura e da personalidade portuguesas.
Decididamente, é urgente meter na cabeça dos que orgulhosamente se afirmam como não desportistas e, por isso, não veem qualquer interesse no investimento na educação física e no desporto, que esse é, hoje em dia, em qualquer país civilizado e desenvolvido, um conceito que cabe numa vasta aérea de iliteracia social, económica, política, cultural. Olhem a França que, depois de dez dias de improvável felicidade na unidade estuda, hoje, como manter essa chama acesa, em nome de um melhor futuro para a França.

Dentro da área: Benfica indeciso
É a grande diferença deste início de época, entre os principais candidatos ao título: Sporting e FC Porto parecem já saber bem o que querem. O Benfica continua adiado, porque indeciso em manter o treinador, indeciso na equipa base e nuclear para avançar na competição, indeciso nos jogadores que podem sair e nos que devem entrar. Apesar de muitos milhões gastos, o Benfica é um enorme ponto de interrogação.

Fora da área: festas de verão
Não sou, nem nunca fui de festas, como também nunca fui de comícios. A multidão não me atrai. Pelo contrário, causa-me desconforto. E, no entanto, quando posso e se proporciona, gosto de visitar as festas de verão, que nascem por este país como cogumelos. Fascina-me a religiosidade pagã que encontro em quase todas elas e o espaço alegre onde, enfim, o povo fala, dança e se compreende."

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