segunda-feira, 29 de julho de 2024

O (nosso) grego


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Na semana em que os Jogos Olímpicos começaram a iluminar ainda mais a Cidade Luz, na sempre tão desejada celebração mundial do desporto, uma feliz e genial ideia cujas raízes remontam à Grécia Antiga, algures por volta de 776 a. C., dois futebolistas gregos são notícia diária em Portugal.
O avançado Vangelis Pavlidis chegou, viu e marcou, para já cinco golos em quatro jogos de pré-temporada com a camisola do Benfica, nada mau para cartão de visita. Os adeptos benfiquistas, otimistas como todos nesta fase embrionária da época, já antecipam que há um novo Gyokeres na Liga. Do outro lado da Segunda Circular, agora que Paulinho foi mostrar os dentes para o México, o Sporting aposta as fichas todas na aquisição de outro ponta de lança, o também grego Fotis Ioannidis, preso pelo Panathinaikos.
Gregos há muitos, portugueses igualmente, cerca de 10, 11 milhões em ambos os casos. Mas eu tenho o privilégio de conhecer, há coisa de um quarto de século, o português que é (quase) tão helénico – palavra que imortalizou em dezenas e dezenas de textos sobre futebol… helénico – como Pavlidis ou Ioannidis. Senhoras e senhores, falo-vos do Miguel Correia, o (nosso) grego.
O Miguel trabalhou comigo aqui em A BOLA, comigo e com boa parte da nossa redação, e é raro o dia em que a malta não recorde uma expressão ou uma peripécia da carreira dele. «Logo hoje que não há nada», costumava dizer, ao início da tarde, quando preparava a edição do Internacional. Certo é que havia sempre alguma coisa, enquanto praticava o grego aprendido na infância – numa altura em que o pai, Severiano Correia, treinou o Aris de Salónica, o Proodeftiki e o Apollon Kalamarias – em colaborações pro bono com inúmeros órgãos de informação da Grécia.
Era vê-lo a debitar palavras impercetíveis sobre jogadores gregos na Liga portuguesa ou portugueses que interessavam a emblemas… helénicos – entre inúmeros temas de conversa – ao som de Demis Roussos, partida que lhe costumava pregar para que do outro lado da linha ouvissem o célebre cantor… helénico interpretar Goodbye, My Love, Goodbye.
O mais letal pé esquerdo de A BOLA – reza a lenda que rejeitou convites de Raul Águas para jogar no Chaves e de Paco Fortes para representar o Farense, diz ele e há testemunhas.
O Miguel, pontapé-canhão que chegou a deixar um ministro do Governo de Cavaco Silva meio grogue num jogo recreativo ou irritou Djalminha num episódio tão cómico como impublicável, ensinou-nos a pronunciar corretamente o nome dos clubes… helénicos. Se alguém diz AEK, por exemplo, assim mesmo, letra a letra, é porque não o conhece. É AEK, tudo numa só sílaba – e Panathinaikos ou Olympiakos, se o Miguel ainda não lhe foi apresentado, desengane-se se pensa que sabe pronunciar a preceito o nome dos gigantes de Atenas e do Pireu.
Este seria o momento em que ele nos diria «desculpa lá, mas isso não é bem assim», naquele espírito do contra que nas horas de stress irritava, decidido a convencer-nos que o Olympiakos era de Atenas porque dava mais jeito para a prosa que estava a alinhavar.
Ao fim de tantos anos nesta vida de jornalista, quando chegar o dia de fechar o computador e guardar as canetas, é deste espírito de balneário que também terei saudades. Dynatí ankaliá, Miguel!

2
Marie-José Perec e Teddy Riner acenderam a pira olímpica que subiu aos céus de Paris num grande balão, culminar de cerimónia de abertura inesquecível – como, afinal, são todas.
Das que assisti, a de Barcelona-1992 continua no topo das minhas preferências, sobretudo pela perícia do arqueiro paralímpico espanhol Antonio Rebollo e a sua flecha de fogo.

3
Otamendi ama a seleção argentina e considera que representar o país dele é prioritário. Compreensível. O Benfica autorizou a ida do defesa-central aos Jogos Olímpicos. Incompreensível."

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