quarta-feira, 19 de junho de 2024

Vamos entrar na próxima época com uma liderança muito mais frágil


"Esta terá sido das semanas mais intensas da história recente do Benfica: a demissão do CFO da SAD, Luís Mendes; a divulgação da auditoria forense; e por último duas assembleias gerais, que serviram como um verdadeiro termómetro para sentir a temperatura do mundo benfiquista.
Rui Costa foi eleito em 2021 com a maior afluência às urnas da história do clube, e das maiores do movimento associativo desportivo mundial. Venceu por uma esmagadora maioria e seria de esperar que a enorme força que lhe foi dada pelos sócios fosse aproveitada para trazer mais democracia e transparência ao clube. Diga-se em abono da verdade que houve sinais positivos que começaram ainda antes de Rui Costa ser eleito, como a abertura dos orgãos de comunicação social à lista concorrente e a realização de debates eleitorais. Outros durante o atual mandato, como o comentário do presidente a cada janela de transferências bem como a diminuição acentuada do número de transações estranhas de jogadores que era apanágio do período pré-2021.
Mas, julgando pelo que veio a público esta semana, foi curto. Muito curto. Continuam a vir noticias sobre conflitos de interesse nos contratos que o Benfica tem com fornecedores; voltaram as buscas; vários dirigentes atuais arguidos em diferentes processos, entre muitas outras coisas que foram faladas esta semana. Se a auditoria divulgada apenas diz respeito ao período que antecede a atual direção, também é verdade que as práticas escabrosas que lá estão descritas ocorreram com boa parte da estrutura atual. Pode-se argumentar que Roma e Pavia não se fizeram num dia e que a mudança demora tempo. Mas os ventos de mudança não parecem soprar na direção certa quando aquele que era o número dois da SAD e não tinha quaisquer ligações aos erros do passado se demite, deixando no ar a frustração de não conseguir efetivar a mudança desejada.
Rui Costa tem um ano para mostrar que vai conseguir entregar o que prometeu. Mas, como se viu nas AGs, a paciência começa a esgotar-se. Entre pedidos de demissão e de eleições antecipadas, vamos entrar na próxima época com uma liderança muito mais frágil, com um clube profundamente dividido, como se viu no último jogo em casa e, como se ouve por todo lado, muitas tricas internas. Rui Costa precisa de agarrar no clube, assumir a liderança e promover a mudança que prometeu: contrate alguem de mérito e currículo inquestionável para ocupar o espaço deixado vazio por Domingos Soares de Oliveira e agora por Luís Mendes; tenha um homem forte para o projeto desportivo que tenha poder sobre toda a hierarquia e consiga ser agregador; promova a transparência, produzindo uma auditoria semelhante à que foi feita a todo o universo empresarial do Sport Lisboa e Benfica.
Sem uma demonstração clara de força e liderança, dificilmente Rui Costa conseguirá unir os sócios e trazer o futuro que todos queremos para o Benfica. Está na mão do presidente o futuro próximo. Evolução ou revolução."

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