domingo, 2 de junho de 2024

Sérgio Conceição traiu primeiro


"Sucessão de técnico no FC Porto virou uma novela que Villas-Boas terá de saber controlar

Sérgio Conceição tem todo o direito de se sentir injustiçado pelo que deu ao FC Porto em todos estes anos. Não há ninguém consensual e muito menos perfeito, todavia, e mesmo que tenha sido apanhado na corrente de umas eleições que finalmente ameaçavam o status quo, o técnico esperava certamente outro tipo de reconhecimento pelos 11 troféus conquistados em sete anos de dificuldades e debaixo da apertada vigilância do fair-play financeiro. É perfeitamente compreensível que se sinta traído.
O Sérgio sabe porém obviamente que cometeu excessos no banco e fora deste, e que, se extraiu o máximo de uma magreza de recursos evidente, também foi um pouco responsável pela mesma. Isto tendo em conta o talento que aqui e ali foi desperdiçando, por não dar qualquer hipótese a fantasistas que tinham dificuldades em cumprir uma espécie de código de compromisso que não diferencia ninguém, mas que, ao mesmo tempo, privilegia quem tem dois dedos de sangue na guelra, mesmo que não seja o mais dotado tecnicamente. Também Sérgio terá ele próprio de entender que é igualmente legítimo a quem chega querer transformar o clube a nível de imagem, de estrutura profissional e até, eventualmente, ver a equipa jogar de outra forma, mantendo o nível competitivo elevado.
Numa altura em que já se disparam acusações de traição, ainda que não a viva voz, é preciso lembrar que Conceição terá traído primeiro. Mesmo debaixo da capa de emotividade sempre presente em tudo o que faz, o treinador assumiu primeiro um lado, ao aparecer publicamente num ato de campanha, e depois ainda a este se vinculou definitivamente com um contrato que penalizará financeiramente quem assume os destinos do clube se quiser contar com um outro técnico. O que, reforce-se, é legítimo.
Ainda que se esconda debaixo de atos genuínos de amizade, Sérgio Conceição não só não se preocupou com a perspetiva de poder estar a influenciar as eleições como se impôs a quem ainda não tinha assumido uma posição oficial sobre a sua eventual continuidade. Assim, foi ele a assinar a primeira traição.
Haverá agora que escolher um novo treinador e, como já escrevi, é preciso ter atenção à identidade que o novo nome trará para a equipa. Vítor Bruno seria uma escolha de continuidade interessante, porém não deixa de ser agora protagonista principal de uma novela com demasiadas emoções à volta, como se tem visto nas últimas horas. Quem traiu quem, afinal? Sérgio, que não incluiu os adjuntos no contrato (que para mim nunca deveria ter assinado), ou o ex-auxiliar, que acenou com o Catar para poder sair de debaixo das saias do líder da equipa e agora entrar no leque de hipóteses para os dragões.
Não estando em causa a competência de Vítor Bruno, talvez seja mais útil a Villas-Boas afastar-se da viralidade e até toxicidade do assunto. Será que o novo presidente quererá lidar com mais este problema? Arriscar até ser acusado de uma cabala contra Conceição? E o treinador, ganhará algo em prolongar a discussão?"

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