quarta-feira, 5 de junho de 2024

A contestação


"Não sou particularmente saudosista de nenhum passado. A história é continua, vem de tempos imemoriais e resistirá a todos nós - seguindo o seu caminho, com fases melhores e outros piores, com muitos avanços e alguns recuos.
O período que vivemos tem também, naturalmente, as suas peculiaridades.
A proliferação de redes sociais permitiu democratizar a opinião (antes restrita a algumas elites), mas tornou-se igualmente caixa de ressonância das ideias mais disparatadas, potenciando-as até à náusea. E se a comunicação social tradicional já era (e é) vulnerável ao sectarismo e à manipulação, a Internet é também, além disso, permeável à dissimulação, à fraude e mesmo ao crime. Exemplos não faltam em todo o mundo.
Por outro lado, por bons motivos, temos gerações mais jovens que, ao contrário das que as antecederam e  a quem tudo era exigido - pelos pais, pela escola e pela sociedade -, se habituaram a tudo exigir - aos pais, à escola e à sociedade.
No cruzamento destas realidades sociológicas encontramos um caldo cultural muito favorável à contestação - que se exerce das mais variadas formas (legítimas ou ofensivas), pelos mais variáveis motivos (justos ou ignóbeis), amplificando e disseminando ruidosamente toda a espécie de insatisfação.
Temo que o Benfica, enquanto clube mais exposto ao mediatismo, esteja a ser particularmente penalizado por estes circunstâncias.
O nível de contestação a que temos assistido é totalmente desproporcionado. Confunde-se exigência com insulto e agressão. Ignoram-se ostensivamente as idiossincrasias do futebol moderno. E berra-se uma mania de grandezas, como se tivéssemos voado de 1962 para 2024 sem haver nada pelo meio.
Aos que, com imenso amor ao Clube, ainda conseguem manter alguma serenidade, cabe a responsabilidade maior de o defender de quem, por vezes, consciente ou inconscientemente, até parece querer trazer Alcochete para cá."

Luís Fialho, in O Benfica

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