segunda-feira, 13 de maio de 2024

Sporting como exemplo


"O segredo do Sporting esteve na forma como percebeu que errou, sem procurar culpados pelo insucesso

A duas jornadas do fim do campeonato o Sporting sagrou-se campeão. A superioridade leonina foi bem visível ao longo de toda a competição. Os números ajudam a comprovar a supremacia verde e branca. O Sporting é o melhor ataque da competição com 92 golos marcados, muito longe de toda a concorrência. Com exceção do jogo de Vila do Conde e no Dragão, os leões foram sempre superiores a todos os adversários. Numa prova de maratona, como é um campeonato, por norma, ganha quem é melhor coletivamente, quem tem mais união e quem está mais bem preparado para superar os momentos adversos que surgem sempre numa época desportiva.

Fogo nos olhos
Foi precisamente no final da época de 2022/2023 que o Sporting começou a ganhar o campeonato que agora está a chegar ao fim. Ficando num dececionante quarto lugar, a estrutura do Sporting não caiu. Pelo contrário, uniu-se mais e não perdeu tempo. Analisou o que falhou de forma a corrigir os erros cometidos e começou, imediatamente, a apontar para o futuro. A mensagem que Neto, recentemente, colocou nas redes sociais é bem demonstrativa disto que estou a referir. No último jogo da época passada os jogadores, em vez de procurarem culpados, uniram-se. Na pré-época, Rúben Amorim, de uma forma inteligente, pediu fome de ganhar, fogo nos olhos, passou confiança e lançou o tudo ou nada que tantas vezes abordou nas conferências de imprensa. Porém, há um pormenor que, neste momento, passa despercebido a muitos. O Sporting ficou em quarto lugar na época de 2022/2023, o que significa que ficou fora da Liga dos Campeões.
O melhor elogio que posso dar à estrutura, ou à cúpula diretiva do Sporting, vai para o mérito por não deixar este facto abalar o clube. Não havendo forma de dar a volta, na época passada, a estratégia passou por preparar o assalto a 2023/2024. Para poder fazê-lo, o Sporting tinha de garantir que, financeiramente, teria capacidade para atacar o mercado, ter um orçamento dentro das suas limitações e precisava de ser cirúrgico nas contratações.
Desta forma, garantiu a venda de Porro em janeiro, com a efetivação em julho (ou seja, no exercício atual) e vendeu Ugarte por um valor fantástico. Estando financeiramente estável e com o ano (financeiro) feito, apesar de não estar na Liga dos Campeões, o passo número dois foi atacar os alvos identificados. A forma como o Sporting lutou por Gyokeres, os erros cometidos na sua aquisição (como a ida de Varandas a Londres sem o negócio estar concluído) foram apenas alguns obstáculos que o clube teve de ultrapassar.
Os resultados desportivos são o reflexo do esforço, dedicação, competência e capacidade de vários departamentos. É certo e sabido que o Sporting tem um treinador que tem um conjunto de competências que fazem dele especial. Sabe motivar o grupo, valoriza todos os que compõem o plantel, demonstrando-o nas suas opções, sabe preparar os jogos estrategicamente, tem leitura de jogo ao longo dos 90 minutos e sabe comunicar muito bem. Apesar de todas estas características o segredo do Sporting esteve na forma como percebeu que errou, sem procurar culpados pelo insucesso. Isto permitiu que todos se unissem mais e criassem os alicerces para a época que o Sporting está a concretizar.

Benfica - qual a reação?
Fazendo o paralelismo do que aconteceu com o Sporting e o que está a acontecer com Benfica e Porto este ano, percebemos que a forma de atuar é completamente diferente, também devido aos contextos que cada um atravessa. No caso do Benfica a época foi negativa. A expectativa criada por Rui Costa não foi, minimamente, correspondida. Foram cometidos muitos, muitos erros. Contudo, o passado já não se consegue alterar. Então o que deveria ser feito? Olhar para a frente e começar a preparar, como fez o Sporting, o próximo ano. A duas jornadas do fim da época, o Benfica está mais focado em encontrar os culpados pelo insucesso da época do que em preparar o que aí vem.
A forma como a administração se está a afastar do treinador, as divergências internas, com os jogadores (pela voz do seu capitão) a contrariarem o discurso do seu treinador e a colocarem em causa o trabalho (ou a ausência dele) do departamento de comunicação, não são sinais positivos para o futuro. Numa altura em que o treinador, em vez de apontar o dedo, já deveria estar a motivar os atletas para o próximo ano e, simultaneamente, também a administração e o treinador já deveriam estar a tratar dos ajustes no plantel e respetivo reforço, o Benfica passa uma imagem inversa.
A incerteza em torno de quem vai ser o líder da equipa na próxima época é um entrave enorme. Financeiramente, o Benfica não se preparou. Sabe que tem de vender mais ativos (além de Gonçalo Ramos) para equilibrar as contas (que estão a ficar descontroladas) mas não criou um plano para definir quais serão esses ativos. Ao contrário do Sporting que, no último ano, definiu que Porro e Ugarte seriam os atletas a vender, para poder preparar a constituição do plantel, no Benfica é esperar para ver o que o mercado diz e depois esperar para ver o que existe no mercado para completar o plantel! As dúvidas em torno da composição do grupo, com mais uma aparente rotatividade de um grande número de jogadores, não auguram bons sinais.
De uma forma geral, ao contrário do que aconteceu com o Sporting, no fim da época de 2022/2023, o Benfica demonstra uma enorme falta de união entre as várias áreas do clube. Parece que a administração quer passar a responsabilidade para o treinador e este para os jogadores. Num momento em que se pede união, visão, compromisso e competência para dar a volta à situação, o que vemos é o oposto. De uma forma simples, parece-me que o Benfica está a perder tempo com guerras de egos internas, sem perceber que o mais importante é o clube e que as decisões têm de ser tomadas o mais rapidamente possível.

FC Porto - tempo a fugir
O caso do FC Porto é, substancialmente, diferente do do Benfica. André Villas-Boas ganhou as eleições e quer tomar conta dos destinos do clube. Pela sua experiência, sabe que uma boa preparação da época é fundamental para se obter sucesso desportivo. Apesar desta noção, está de mãos atadas. Pela frente tem uma administração que se recusa a abdicar do seu posto e que se escuda nos regulamentos.
Ao fazerem isto, Pinto da Costa e a sua equipa sabem que estão a prejudicar o Porto. Desta forma, AVB e a sua estrutura têm um trabalho muito difícil pela frente. Numa primeira fase têm de perceber a capacidade financeira do clube. Em seguida, têm de olhar para o mercado, dentro da sua realidade financeira, e procurar soluções que encaixem no perfil pretendido para o projeto de AVB. Pela forma de trabalhar metódica de AVB, acredito que muita coisa já esteja a ser feita mesmo sem ter o comando da SAD. O terceiro, e importante passo, será o de fazer com que os adeptos se unam e se transformem num catalisador positivo para a equipa de futebol no início da época.
Não tenho dúvidas que a comunicação do FC Porto vai ser forte. Internamente, a nova estrutura tem a perfeita noção que a união entre todos e que o apoio dos adeptos serão fundamentais para ajudar a ultrapassar os muitos obstáculos que existem e irão continuar a existir, neste primeiro ano de AVB."

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