domingo, 19 de maio de 2024

Há um turco trabalhador num Benfica que vai de férias sem prémio de produtividade


"O golo de Orkun Kökçü parecia servir para dar a vitória ao Benfica na última jornada do campeonato. Depois do trabalho do turco, a equipa encarnada, sem Rafa e Di María, entrou em serviços mínimos e permitiu ao Rio Ave o empate (1-1), por intermédio de Costinha, já para lá dos 90. Acabou por ser um adeus aos relvados feliz para Ukra

Nem toda a realeza tem sangue azul. Alguma chega de trator a um dos últimos treinos como jogador profissional. Ukra despediu-se dos relvados, fazendo bom proveito deles. Ao minuto 17 do encontro com o Benfica, foi substituído e beijou as franjas empinadas do terreno de jogo. Também agradeceu aos joelhos que, aos 36 anos, têm finalmente autorização para dar o berro. A munificente homenagem uniu rioavistas e encarnados em prol de um selo de autenticidade.
Após esgotar os últimos instantes de subserviência ao futebol, Ukra deixou a equipa do Rio Ave respirar de alívio. Seria menos agradável que a cortesia planeada para o adeus do atacante com passagens por clubes como FC Porto, SC Braga e Santa Clara fosse feita ao embalo de um resultado negativo. Para não arruinar o momento que por certo foi arquitetado com a sua cumplicidade, o técnico Luís Freire deu ordens para reduzir o suplemento de entusiasmo que valeu à equipa uma segunda volta do campeonato apenas tingida por uma derrota (2-1, em Famalicão).
Com a cancela repousada, situação permitida graças à manutenção garantida, mesmo assim, o Rio Ave podia ter sofrido ainda com Ukra no relvado. Casper Tengstedt foi lançado por Aursnes e Cezary Miszta, guarda-redes polaco em estreia nos vilacondenses, impediu o dinamarquês de estragar a festa. O jovem de 22 anos, numa demonstração da ductilidade do seu corpo, voltaria a negar o golo a Tengstedt.
Tal como parecia estar previamente combinado, lá saiu Ukra e entrou Joca. Aí sim, começou-se a jogar. O Benfica estava limitado a lutar por mais uma vitória, porque, a nível classificativo, à entrada para a última jornada, já estava bloqueado no segundo lugar depois de ter entregado o título ao Sporting.
A culpa ficou viúva de alguns dos seus fundadores. Rafa despediu-se do Benfica no Estádio da Luz, contra o Arouca, e não viajou para Vila do Conde. A ausência de Di María no adeus à época carece de uma justificação de igual solidez. Por outro lado, homiziados dos amargos da temporada, o guarda-redes Samuel Soares e Benjamín Rollheiser entraram no último onze de Roger Schmidt este ano. No banco, estiveram mais uns quantos inocentes: Prestianni, Diogo Spencer, João Rêgo e Gustavo Varela.
O Rio Ave alargou-se ao máximo dentro do campo, com Vrousai, na esquerda, e Costinha, na direita. O bê-á-bá do 3X5X2 dita que seria esta dupla a recuar para formar uma linha de cinco atrás em momento defensivo. Porém, a opção da equipa de Luís Freire para mostrar proatividade na tentativa de recuperar a bola em bloco médio era encaixar os alas nos laterais do Benfica. Desse modo, Vrousai foi com muita sede a Aursnes, lateral-direito dos encarnados, sem que a restante linha defensiva se reajustasse à velocidade que o grego pressionava.
Tornou-se então fácil para Casper Tengstedt atacar as distâncias avultadas entre os centrais. O dinamarquês fez Ctrl+C/ Ctrl+V ao lance do início do jogo só que, nesta circunstância, em vez de finalizar, assistiu Orkun Kökçü sedento por fazer valer o posicionamento mais adiantado face a João Neves e Florentino. E fez. O Benfica inaugurou o marcador, por intermédio de um turco, salvando as honras de uma nacionalidade cuja capacidade produtiva foi posta em causa na Assembleia da República Portuguesa. Julgar o todo pela parte tem os seus malefícios. Se o médio do Benfica for o exemplo, então a perspetiva muda. O ex-Feyenoord marcou pelo segundo jogo consecutivo e chegou ao quarto golo no último mês.
A agilidade felina de Cezary Miszta ia continuando a ser testada. Casper Tengstedt levava ao limite as experiências laboratoriais para eliminar a resistência que se lhe opunha. Foi substituído, dando lugar ao estreante Gustavo Varela, sem o fazer. João Neves chegou várias vezes a zonas de finalização na segunda parte como resultado do ascendente encarnado. A gestão pouco asfixiante sofreu um primeiro sobressalto quando Emmanuel Boateng fez o empate. A posição irregular adiou o dissabor.
Já com Prestianni em campo, Florentino interceptou com a mão, dentro da área, um cabeceamento de Aderllan. Costinha converteu a grande penalidade e empatou com o cronómetro para lá dos 90 minutos de jogo (1-1). Sobrou tempo para uma oportunidade para cada lado. Prestianni foi, de novo, travado por Cezary Miszta, e Boateng não teve forças para concluir uma arrancada no último suspiro. O Rio Ave alcança os 37 pontos e está provisoriamente no 11.º lugar, podendo ainda vir a ser ultrapassado pelo Gil Vicente."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!