quinta-feira, 2 de maio de 2024

Contactos no futebol: quando são legais, imprudentes, negligentes ou grosseiros?


"Regresso ao tema dos contactos físicos no futebol, por ser um assunto atual e nem sempre claro para todos.

Em termos teóricos, a questão é bastante fácil de entender:
- Há contactos legais, contactos ilegais que não justificam cartão (os imprudentes), contactos ilegais punidos com amarelo (os negligentes) e contactos ilegais punidos com vermelho (as faltas grosseiras ou a conduta violenta).
Mais complicado é avalia-los em campo, daí o ruído que tantas vezes se vê por aí.
Para tentar ajudar ao esclarecimento, ficam as seguintes dicas técnicas:

1. CONTACTOS LEGAIS
Por defeito, o futebol é um jogo que permite contacto físico. Para que seja legal, tem que ser adequado/proporcional ao movimento que os jogadores realizam, ou seja, o toque de um não pode afetar negativamente o outro.
Um contacto ombro no ombro com bola jogável é correto, tal como uma mão ou braço no corpo do adversário desde que não o empurre, agarre ou prejudique ostensivamente. São os tais aceitáveis no contexto.
Também os contactos decorrentes de abordagem correta à jogada, aqueles que são consequência inevitável de entrada legal à bola, são permitidos: o guarda-redes usa as duas mãos para desviar a bola e na sequência faz tropeçar o adversário; o defesa entra em tacle na bola (sem colocar nada "a mais" ou "acima" do necessário), tocando inevitavelmente no opositor que está à sua frente. À partida, tudo certo.
E há ainda os toques "acidentais/fortuitos", como os choques entre jogadores que procuram a mesma coisa (correndo um em direção ao outro) ou o contacto/pisão que por exemplo acontece quando um jogador tenta intercetar remate ou tentativa de afastar a bola por parte do outro.
Quem não se lembra da lesão de David Carmo, que se projetou para a frente de Luís Diaz, quando a única coisa que o avançado colombiano fez foi rematar à baliza adversária?
Não havendo disputa (ou noção que há disputa) entre jogadores, não há infração se apenas houver tentativa legal em jogar a bola. Percebido?

2. CONTACTOS IMPRUDENTES
São os que manifestam falta de atenção, precaução ou cuidado na abordagem.
Pressupõe disputa de bola entre jogadores, em que ambos estão "obrigados" a ter atenção à forma como se fazem à jogada, sob pena de magoarem o adversário.
Exemplo clássico é o do jogador que persegue o rival, sabendo que corre o risco de o fazer cair com toque ligeiro, (ainda que involuntário) na passada. Nesse caso não se pune a intenção mas o facto de quem vai atrás "pôr-se a jeito", ou seja, escolher aproximar-se demasiado, sem o cuidado necessário para impedir o contacto com quem vai à frente.
Outro: o jogador que salta à bola com o opositor tem que ter atenção na forma como usa os braços, sob pena de o atingir por descuido. Infração sim mas sem cartão desde que, lá está, a abordagem não tenha nada "a mais" ou "acima" do necessário.

3. CONTACTOS NEGLIGENTES
São punidos com cartão amarelo porque não medem o perigo ou consequência que a abordagem pode ter para o adversário. Aqui sim, o jogador põe carga, força ou intensidade acima do que precisa para a disputa, correndo o risco de lesionar o colega de profissão.
São, por exemplo, as entradas que o atingem de forma evitável e desnecessária ou o uso de braços "a mais", que acertam no corpo do opositor com algum perigo.
No fundo, as tais infrações típicas para advertência que muitas vezes são até simples de identificar.

4. FALTA GROSSEIRA/CONDUTA VIOLENTA
O nome diz tudo. As faltas grosseiras são aquelas em que é aplicada força excessiva e totalmente desproporcional (na velocidade, malícia, intensidade ou carga exercida) ou apenas aquelas que põem claramente em risco a integridade física do jogador (por exemplo, de poder partir a perna, rasgar o tendão de aquiles, magoar o joelho, atingir o rosto, etc).
Pressupõem que o jogo esteja a decorrer e que exista disputa de bola entre jogadores.
Já a conduta violenta é a agressão pura e simples. Pode ser com a bola a rolar ou com o jogo parado, pode ser sobre um adversário, colega de equipa, árbitro ou qualquer outra pessoa e pode ocorrer dentro ou fora do terreno de jogo.
É bater, ponto! Dar (ou tentar dar) uma cotovelada, um soco, uma chapada, um pontapé ou até fazer entrada disparatada e agressiva, sem a bola estar presente.
Quando são claras, ninguém tem dúvidas. O problema, claro, é quando umas estão no limite das outras:
Inevitável/fortuito/aceitável... ou imprudente?
Imprudente... ou negligente?
Negligente... ou grosseira?
Se fosse fácil, não se chamaria futebol nem seria tão apaixonante."

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