quinta-feira, 25 de abril de 2024

O silêncio dos presidentes


"Um falou, outro não; mas na prática ambos mantiveram silêncio sobre o que interessa

Quase 24 horas depois dos tristes acontecimentos de Faro (será sempre triste ver gente tão zangada e tão capaz de espezinhar outras pessoas), o presidente do Benfica falou. Condenou os excessos, prometeu dar a cara por aquilo que o Benfica conseguir ou não fazer até final da temporada, mas não verteu uma palavra sobre Roger Schmidt. E Roger Schmidt, convenhamos, é o assunto do momento entre a larguíssima comunidade encarnada.
É sobre o treinador alemão que os benfiquistas falam nos cafés, nos autocarros, nos comboios, nos escritórios. Até porque ele próprio perdeu a paciência e transformou o «isto é o Benfica» de há poucos dias em «espero que os adeptos que não apoiam a equipa fiquem em casa», isto numa interpretação livre do que foi dito, não vale a pena dar muita importância às aspas, neste caso.
Ou seja: Rui Costa falou, mas não disse o mais importante. Desta vez não defendeu o treinador como quando, há meses, referiu que ele ganhou tanto em pouco mais de um ano quanto o clube tinha ganho nos últimos quatro. Deixou a dúvida no ar, provavelmente porque ele próprio tem dúvidas sobre a continuidade de Schmidt.
No Sporting, por seu turno, parece confirmar-se a ideia de que mesmo quando tudo corre bem existe uma espécie de capacidade inata para introduzir elementos que podem fazer tudo correr mal.
Os leões venceram o jogo em atraso de Famalicão e mantiveram os famigerados sete pontos de avanço no campeonato. Voltaram a vencer (e desta feita a convencer largamente) frente ao Vitória de Guimarães. Começou a cheirar a título verde e branco por todo o lado, seja em Alvalade ou em casa dos rivais.
Rúben Amorim concedeu duas merecidas folgas ao plantel e no início da primeira voou até Inglaterra para tratar do seu próprio futuro.
Mal seria considerarmos, 50 anos depois do 25 de Abril, que esse direito não lhe assiste. Não pode, sequer, ser tema de discussão. Mas podemos considerar que havia formas mais discretas de o fazer (uma reunião por Teams?), sobretudo depois de o próprio ter dito que até final da época não haveria acordos nem entrevistas com quem quer que fosse.
O treinador do Sporting é das pessoas mais inteligentes que o futebol português conheceu nos últimos largos anos. Custa a crer que tenha acreditado poder ir a Londres e voltar incógnito numa altura como esta. Se calhar acreditou, apenas lhe saiu mal a decisão (o que também é um direito que lhe assiste, como a todo o ser humano).
Entornado o caldo, caberia ao Sporting, no caso a Frederico Varandas, pôr água na fervura e dizer que tinha conhecimento da viagem de Amorim. Ou não. Sócios e adeptos merecem saber mais sobre este tema. Assim, a conferência de Rúben Amorim do próximo sábado passou a ser das mais aguardadas da época.
Um falando e o outro sem falar, os presidentes da Segunda Circular fizeram silêncio sobre o que mais interessa aos seus principais ativos."

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