segunda-feira, 29 de abril de 2024

O Benfica e o seu contrário atiram a pressão para o Dragão


"Só a reação na 2.ª parte aos equívocos escolhidos para a 1.ª permitiu aos encarnados darem a volta ao marcador e baterem o SC Braga por 3-1. O Benfica fica agora provisoriamente a 4 pontos do Sporting, que no domingo joga com o FC Porto

Difícil compreender que se mude o que se demorou tanto tempo a afinar, quando o que estava afinado parecia finalmente funcionar. Mas frente ao SC Braga, Roger Schmidt optou por, face ao jogo de Faro, retirar um revigorado Kökçü do onze, fazendo regressar um Rafa que está a ser Rafa, naquele hábito esquisito de se travestir de estrela cadente nas retas finais dos campeonatos. Saiu também Carreras do onze, valeu-lhe de pouco a exibição nos Algarves, as ações não parecem ter necessariamente consequências neste Benfica.
E por isso o Benfica foi durante tanto tempo uma equipa sem corredor central que se apresentasse no seu próprio estádio e só apareceu verdadeiramente, vá-se lá explicar, quando Carreras substituiu um Bah em evidentes dificuldades físicas ou quando Schmidt tirou Arthur Cabral e Rafa para entrarem Marcos Leonardo e Kökçü, perante um SC Braga que, quando o jogo do Benfica se resumia ao perigo criado por Di María, aguentou bem uma vantagem que mereceu na 1.ª parte. A reviravolta aconteceu em momentos em que o Benfica foi o melhor Benfica e a pergunta que fica é porque é que o Benfica não pode ser sempre este melhor Benfica, porque às vezes, mais do que um estado de espírito, é só colocar as peças nos sítios certos.
É certo que o assédio do Benfica à área do SC Braga na 1.ª parte aconteceu, mas apenas o cabeceamento pouco ortodoxo de Arthur Cabral à barra aos 10 minutos se pode chamar de verdadeira oportunidade. A meio-campo, João Moutinho liderava sem se ver, fosse nas recuperações de bola ou nos passes, descomplicando sempre. Antes da meia-hora, Otamendi juntou mais um tracinho à contagem já inexplicável de entradas à queima fora do timing, para o comboio Djaló passar a alta velocidade e deixar a bola para Ricardo Horta rematar à entrada da área. Banza e António Silva atrapalharam Trubin, que ainda assim terá a sua culpa.
O golo que talvez não se justificasse até então, seria justificado pelo que seria o resto da 1.ª parte. Os adeptos do Benfica fizeram a sua parte, tornando o relvado num cemitério de tochas, adiando a reação da equipa da casa. Cada um com as suas ideias. No reatar, Djaló surgiu mais uma vez soltinho na direita, com Otamendi e Aursnes com a cabeça em águar. O norueguês teria a melhor chance para empatar aos 42’, mas deu mal na bola após um alívio tolo de Victor Gomez.
Escolheu recuar Rui Duarte na 2.ª parte e a tática teria resultado se Schmidt não tivesse percebido, algures, que não seria este Benfica a dar a volta a este jogo, mas sim o seu contrário. Os encarnados foram os donos da bola, mas o SC Braga fechava os espaços galhardamente, face ao perigo único chamado Di María - aos 66’, um remate em arco do argentino quase surpreendia Matheus, sempre bem a sair dos postes.
Com a entrada de Carreras, o Benfica ia mostrando mais ambição à esquerda, mas é com Marcos Leonardo e Kökçü que tudo muda. É no primeiro toque do brasileiro que surge o empate, aos 71’, rato o avançado a cheirar a oportunidade depois de um remate de João Mário que embateu num adversário, com uma bomba cruzada com a canhota.
Já com Bruma em campo, o SC Braga olhava para os contra-ataques como oportunidade, enquanto do outro lado Kökçü ia liderando a reação. Numa cavalgada em transição, o internacional português rematou quando a melhor opção talvez tivesse no passe para um colega, mas mostrou que os minhotos estavam, afinal, presentes. O golo de Neres, aos 85’, engoliria essa hipótese de renascimento.
Curioso que o segundo golo do Benfica nasça de um cruzamento de Di María a partir da esquerda, para o segundo poste onde apareceu Neres - e não serão estas as suas melhores posições? Não será o Benfica que Schmidt tem à disposição, mas não aproveita, o melhor Benfica? Talvez Marcos Leonardo também tenha dado uma ajuda na resposta, quando já nos descontos, ganhou com toda a atitude uma bola ao passivo Niakaté na área para fazer o 3-1, mais uma vez de pé esquerdo, festejando intensamente uma eficácia que havia faltado ao Benfica e que o brasileiro parece ter de sobra.
Durante alguns minutos, o Benfica deixou que a classificação virtual colocasse o Sporting a uma vitória de festejar no Porto. Tal já não acontecerá e foram os trunfos do banco que, mais uma vez, atiraram a pressão para o Dragão, onde uma derrota dos leões poderá abrir portas a um renascer da esperança."

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