quarta-feira, 3 de abril de 2024

Muitos olham mas poucos vêem


"Neste episódio de "Por águas nunca dantes navegadas" pretendo falar e prestar homenagem a um grupo de jovens guerreiros que me habituei a respeitar e a admirar. São o símbolo vivo da raça e garra lusitana. Cada um deles, individualmente e em grupo, merecem a nossa homenagem. Incluo também e por mérito nesta menção, toda a estrutura federativa o seu Presidente Miguel Laranjeiro, e tão importantes, os clubes. O FC Porto, o Sporting, o Benfica, o ABC, o Francisco de Holanda, o Belenenses o Vitória de Setubal, só para dar alguns exemplos e todos e tantos que contribuíram e contribuem para este percurso tão extraordinário desta modalidade. Falo do Andebol e da nossa selecção nacional masculina presente no recente torneio pré-Olímpico de qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024!
Importa também e com inteira justiça referir um homem que neste grupo e caso de sucesso, revolucionou o Andebol em Portugal. Paulo Jorge Pereira, formado pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, estudioso do jogo, um líder com capacidades inatas. Conseguiu as classificações históricas no Campeonato da Europa 2020 (6º), Campeonato do Mundo 2021 (10º), classificando Portugal para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
Todos nos habituamos a ver os feitos destes rapazes, louvores, homenagens, prestações memoráveis, momentos épicos. Quem não se lembra do golo do Capitão Rui Silva no último segundo com a França que possibilitou a ida aos Jogos Olímpicos de Tóquio? Vivíamos a ressaca de um grande Mundial e o país preparava-se para jogar um torneio pré-Olímpico decisivo valendo um lugar em Tóquio 2020. Vitória frente à Tunísia, derrota contra a Croácia. Tudo por decidir em França. A resposta dos jogadores foi perfeita: vitória por 29-28 graças a intervenções decisivas do guarda redes, Gustavo Capdeville, seis golos do ponta António Areia... e a jogada mais épica da história do Andebol português: intercepção do capitão Rui Silva na defesa, roubo de bola, contra-ataque perfeito e golo a cinco segundos do final! Precisamente num país extraordinariamente focado em resultados, esquecemo-nos rapidamente do trajecto destes bravos, porque muitos olham mas poucos vêem!
Recentemente envolvidos no torneio de qualificação pré-Olímpica para os Jogos Olímpicos de Paris, com os colossos Noruega, Hungria e Tunísia, bateram-se de igual para igual, e de uma forma especialmente consistente estiveram presentes no momento da decisão. Conseguir chegar a esta fase decisiva que nos deveria encher a todos de orgulho é por si só já um feito. No entanto, o que lemos e ouvimos da parte dos muitos que olham? "Selecção de Andebol FALHA qualificação..., Selecção de Andebol CAI na qualificação..., Selecção de Andebol AFASTADA do acesso aos Jogos Olímpicos, Selecção nacional ESBARRA…" e por aí fora… Já todos nós ouvimos seguramente falar do copo meio cheio ou meio vazio e nós somos um povo que culturalmente e por tendência vê o copo quase sempre meio vazio. E, apesar de estarmos a crescer no panorama desportivo internacional, temos a obstinação quase que compulsiva de querermos sempre a coroa, a medalha o Olímpo!. Porque essencialmente e mais uma vez muitos olham e poucos vêem!
Para contextualizar, esta é uma geração de ouro do Andebol nacional. 5º lugar no Campeonato europeu sub 20, 9º lugar no Campeonato do Mundo sub 21. No Campeonato da Europa 6º lugar em 2020, 10º em 2021, 7º em 2024 e no Campeonato do Mundo 10º em 2021, 13º em 2023, 7º em 2024 um percurso de elite, dos melhores entre os melhores, de consistência e trabalho estruturado, de planeamento!
Recordo que somos um país em que ainda hoje se debate ou não, a necessidade de um plano estratégico para o desporto nacional. Um país em que raramente se vê a intervenção da sociedade civil a debater os grandes temas do desporto, um pais em que a solução de todas as panaceias é o dinheiro, e a falta de financiamento a razão para todos os problemas, um pais em que a inactividade fisica ronda os 74%. Somos um país em que muitos dos que olham querem resultados de topo, em contraponto com aqueles, poucos, que vêm a imperiosa necessidade de um alinhamento estratégico para o desporto nacional, englobando a actividade fisica, o desporto escolar, o desporto de competição, o alto rendimento e, junto com a sociedade civil, a criação de uma visão e missão para o desporto nacional, para aumentar a cultura desportiva e despertar a nação.
Conheço de perto a simpatia e a força que transpira este grupo e a valia destes infantes. São daquele tipo de mais quebrar do que torcer, com amizade excelência e respeito, são uma equipa e funcionam como uma equipa. Vale a pena recordar o nome de cada um e prestar-lhes esta singela homenagem: Humberto Gomes, Gustavo Capdeville, Diogo Branquinho, António Areia, Pedro Portela, Alexandre Cavalcanti, André Gomes, Fábio Magalhães, João Ferraz, Miguel Martins, Rui Silva, Alexis Borges, Daymaro Salina, Luís Frade, Victor Iturriza, Manuel Gaspar, Leonel Fernandes, Diogo Rêma, Gilberto Duarte, Gonçalo Vieira, Martim Costa, Salvador Salvador, Francisco Costa e Joaquim Nazaré, a todos MUITO OBRIGADO! Uma mensagem final que explica a tenacidade e querer destes bravos, nas palavras do ponta Diogo Branquinho disse após este torneio pré olímpico "foi duro mas não apaga o que fizemos, havemos de voltar". E estaremos todos confiantes que sim porque, tão importante como o resultado, interessa o percurso. E que seja em Los Angeles 2028 para que aí, com uma população portuguesa inteira a apoiar, todos estejamos a olhar e todos a ver!"

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