terça-feira, 16 de abril de 2024

Kökçü, Araújo e Rollheiser dão sentido à revolução de Roger Schmidt


"O alemão fez oito mexidas no onze e vários dos menos utilizados deram uma boa resposta no triunfo (3-0) contra o Moreirense. O turco voltou aos golos depois da polémica entrevista, enquanto o português e o argentino estrearam-se a marcar pelo Benfica

O treinador que nunca mexe no onze mexeu — e muito — no onze. A equipa que vinha acumulando resultados magros conseguiu um triunfo por três golos de diferença. Os jogadores menos utilizados divertiram-se, houve estreias a marcar, deu para ganhar e descansar gente para Marselha. Uma noite tranquila para contrastar com períodos mais conturbados.
O Benfica bateu, por 3-0, o Moreirense, num encontro entalado entre a decisiva eliminatória contra o Marselha. Por isso, Roger Schmidt alterou radicalmente a equipa titular, na qual só se mantiveram Bah, João Neves e Neres. Entraram Samuel Soares, Morato, Tomás Araújo, Carreras, João Mário, Kökçü, Tiago Gouveia e Arthur Cabral. Estreou-se Diogo Spencer, que debutou em cima do apito final.
No serão de descanso para Di María ou Rafa, novas caras chegaram-se à frente. Talvez no início da época ninguém olhasse para Kökçü como um homem que entraria para poupar os mais utilizados, mas sim como um dos resguardados, mas a realidade trouxe-nos para aqui.
Quase um mês depois daquela entrevista, o turco atuou de início, o que não sucedia desde 10 de março. Partindo à frente da dupla de médios, com mais liberdade, rondou a área, viu-se mais solto, apontou o 1-0. Aos 18', no primeiro remate enquadrado do desafio, o médio combinou com Tiago Gouveia, num contra-ataque, para abrir o ativo.
O jogo era um programa de novas oportunidades, um exercício raro de gestão no treinador que não mexe, um encontro de calma incomum para o coletivo que tanto vive em sobressalto. O golo de Kökçü, o reforço milionário que tanto debate gerou recentemente, mostrava que o desafio era de reconciliações e pazes, uma pausa na montanha-russa emocional do 2023/24 do Benfica.
O único período de tensão deu-se a meio do primeiro tempo. O Benfica só vencera um dos anteriores cinco compromissos contra os cónegos e, entre o 1-0 e o 2-0, os visitantes fizeram questão de incomodar bastante as águias. A instabilidade começou por vir da saída de bola dos campeões nacionais, com várias hesitações e sustos nos passes que se trocavam perto da baliza. Samuel Soares e Tomás Araújo estiveram à beira de cometer pecados capitais, mas escaparam a esse castigo.
Cavalgando a intranquilidade dos mais recuados do Benfica, o Moreirense chegou-se à frente. A organizada e bem trabalhada equipa de Rui Borges, que no ano do regresso à I Liga está num muito meritório sexto lugar, esteve à beira do empate aos 34’. Num momento em que Tomás Araújo estava a ser assistido e os da casa estavam com 10, Alan espalhou a sua técnica e, à entrada da área, disparou ao poste. As consequências daquele choque sofrido por Araújo viriam a ditar a sua saída ao intervalo.
Só que o jogo não era para chamar fantasmas. Na roda-vida dos pontas-de-lança do Benfica, foi noite de Arthur Cabral. O brasileiro não marcou mas, pela primeira vez pelos lisboetas, completou a totalidade dos minutos, expressão de uma exibição de acerto técnico, esforço associativo e combatividade. Aos 38' roçou um golaço, mas acertou na barra.
O 2-0 chegaria em cima do descanso. Após canto de Neres, Tomás Araújo, à segunda, fez o primeiro golo pela equipa principal do Benfica. A diferença entre o festejo efusivo do central e a celebração tímida de Kökçü mostra que o mesmo acontecimento pode significar mundos totalmente opostos para duas pessoas diferentes.
Ao intervalo, o Benfica homenageou José Augusto, que cumpriu 87 anos. Talvez a garra e entusiasmo do bicampeão europeu sirvam para inspirar as águias em Marselha.
Para a segunda parte, o treinador que mexe sempre tarde mexeu cedo. Além do lesionado Araújo, trocado por António Silva, saíram Neves e Neres por Florentino e Rollheiser.
Outro dos futebolistas que estava debaixo de suspeita era Álvaro Carreras. O espanhol fez a melhor exibição pelo Benfica e até esteve perto de marcar, sendo travado por uma bela defesa de Kewin.
Na categoria dos reforços de inverno, Rollheiser era outro que vinha passando incógnito. O argentino só tinha 23 minutos efetuados pelos campeões nacionais, mas foram dele os melhores momentos na etapa complementar. Entre receções com bom perfume técnico, fixou o resultado final aos 79'. A assistência foi de Tiago Gouveia, outro que pediu mais minutos.
Escutado o derradeiro apito, Kökçü e Schimdt uniram-se num abraço que soou a reconciliação. Di María, que começou a época a deixar claro que não gostava de estar no banco, era todo sorrisos. As vitórias mascaram tudo. Quinta-feira, em Marselha, o Benfica joga uma carta decisiva na época."

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