segunda-feira, 8 de abril de 2024

Geny escreveu um livro do início ao fim e deu ao Sporting o direito de escolher o título


"O Sporting venceu o Benfica em Alvalade (2-1) com dois golos de Geny Catamo. O moçambicano abriu o marcador no primeiro minuto e fechou o resultado aos 90. Os leões têm agora quatro pontos de vantagem em relação aos encarnados e menos um jogo realizado. O título está à distância de sete jogos

A gestão de um baralho de cartas no decorrer de um jogo é altamente pessoal e quase exclusivamente estratégica. A única segurança que se tem é que aquele Ás de trunfo pode ser usado a qualquer altura do jogo que vai valer sempre pontos. Resta saber se a jogada em que se recorre a uma arma tão valiosa é a mais indicada para, no fim, sair por cima.
O Sporting literalmente disparou foguetes antes da hora. A entrada dos jogadores em campo foi acompanhada por um chorrilho de pirotecnia. No lugar de cada adepto estavam cartolinas com imagens de todos os jogadores. Num baralho de quase 50.000 elementos, quem tinha a figura de Geny Catamo viu a sua carta ganhar valor antes do final do primeiro minuto do jogo.
Os leões deram tudo o que tinham logo ali. Pedro Gonçalves, regressado de lesão, forçou a entrada pelo lado esquerdo e fez o que conseguiu no pouco espaço que tinha. O ressalto em António Silva e o desvio pouco convicto de Trubin levaram a bola para Geny que estava em compromissos com o ócio no flanco contrário. Quando “O Mundo Sabe Que” ainda mal tinha terminado, o Sporting estava na frente.
90 minutos se passaram, até que Geny Catamo tenha voltado a ser decisivo. De novo numa simbiose perfeita com a bancada, o moçambicano ouviu o que ela lhe gritou. Chutaaa! Ele chutou e deixou as contas do título praticamente arrumadas na gaveta onde encaixou o remate do 2-1.
O cenário a que se assistiu desde o apito inicial era como o que foi prometido aos heróis n’Os Lusíadas: idílico. À entrada para a jornada 28, a equipa de Rúben Amorim liderava o campeonato com um ponto de vantagem sobre o Benfica e menos um jogo. Além disso, entrava a vencer num encontro em que até o empate chegaria para não afundar os níveis anímicos. Porém, naqueles corpos verdes e vermelhos, havia ainda a memória muscular do que se tinha feito na meia-final da Taça de Portugal quatro dias antes. O desfecho colocou o Sporting no Jamor, mas deixou o Benfica com boas sensações para o que podia fazer em Alvalade.
Os encarnados bem precisavam de, pelo menos, replicar o que haviam feito na Luz para ainda sonharem com o título. Roger Schmidt repetiu o onze convencido de que a resposta fosse a mesma. Foi até melhor. O Sporting recuou de imediato e, ao contrário do que acontece quando a equipa verde e branca quer explorar o ataque à profundidade de Gyokeres, desta vez foi uma situação imposta pelo clube da Luz.
A espaços, o Benfica até fez recordar alguns desempenhos que teve na primeira metade da época passada. De Florentino a Casper Tengstedt, um casulo de seis jogadores no espaço central conseguiu ter espaço para manobrar e levar a bola com consistência aos dois lados do campo. Em especial, o avançado dinamarquês mostrou, como poucas vezes até aqui, capacidade para cair no flanco e rodar sobre os adversários. Sofreram Inácio e Matheus Reis.
No entanto, era Di María quem transportava o jogo para outra dimensão, a todos os níveis. Do ponto de vista imaginativo, fazia o Benfica sonhar com o título. Do ponto de vista emocional, a quezília que criou com Pedro Gonçalves foi levada a peito também pelas bancadas. A zanga com os sportinguistas subiu ainda mais de intensidade com o empate conseguido no período de compensação da primeira parte. Livre lateral de Di María e Bah, que tinha acabado de ver cartão amarelo, empatou de cabeça.
Rúben Amorim renovou as ideias dos seus pupilos que passaram a ter mais bola ainda que maioritariamente no seu próprio meio-campo. Ia chegando para controlar o jogo e Gyokeres, aquele megálito de jogador, fez da barra o único motivo para não marcar neste encontro. Com espaço para transitar, o Benfica mostrou que também tinha um plano para os momentos em que não fosse tão dominante. SebastiánCoates salvou o Sporting em duas ocasiões, a mais vistosa, um corte em cima da linha após remate de Neres.
Morten Hjulmand arriscou o segundo amarelo e a consequente expulsão, o que obrigou Amorim a retirar o médio defensivo a dez minutos do fim e a lançar Koba Koindredi. A ponta final trazia de volta os fantasmas do encontro da primeira volta em que o Benfica completou a cambalhota no marcador nos instantes finais. Tentou Di María, tentou João Neves, mas foi Geny que fez o feitiço virar-se contra o feiticeiro. O Benfica viu Aursnes ser expulso, o que ajudou ainda mais o Sporting a sair do dérbi com quatro pontos de vantagem face aos encarnados e menos um jogo disputado. A caminhada para o título faz-se por cima de sete jogos."

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