sexta-feira, 5 de abril de 2024

Ensaio sobre Inteligência


"«Conhecer os outros é inteligência; conhecer-se a si mesmo é verdadeira sabedoria». Lao Tzu

John Textor, o dono do Botafogo, do Brasil, abre uma discussão que anuncia tempos vindouros: com base na Inteligência Artificial considera-se em condições de acusar jogadores do São Paulo e Fortaleza de terem «manipulado», leia-se perdido de propósito, jogos com o Palmeiras, tendo contribuído para dois títulos consecutivos da equipa de Abel Ferreira. Por este caminho, já estivemos mais longe da realidade ficcionada de Relatório Minoritário, filme de 2002 que transporta para o ano de 2054, onde existe um sistema que permite que crimes sejam previstos com precisão, permitindo à polícia prender antes que os mesmos aconteçam.
Para já, as reações passam pela defesa da honra dos visados, a estranheza, o olhar de soslaio, até o gozo. Mas a caixa de pandora foi aberta e a discussão terá de ser feita. Absurdo? Será, mas o elefante está já no meio da sala... Novos desafios até para a Justiça, novos limites que terão de ser travados ou enquadrados. Ver para crer pode ser demasiado tarde. E crer para ver deixa-nos à mercê das boas ou más intenções.
O melhor da Inteligência Artificial é o potencial para ser a melhor ferramenta alguma vez criada para ajudar a espécie humana. O pior da Inteligência Artificial é o potencial para ser a mais eficaz ferramenta alguma vez criada contra a espécie humana. A guerra entre o bem e o mal existe desde a origem da espécie humana. A sofisticação das armas usadas é que tem evoluído. Para o melhor e para o pior.
Sonhei que a Inteligência Artificial fora incumbida de defender o planeta Terra, combater as alterações climáticas, monitorizar e defender a biodiversidade. E que fora dotada de recursos técnicos para o fazer com eficácia. O que faria a Inteligência Artificial ao perceber que o ser humano é o principal perigo à vida no planeta? E o sonho vira pesadelo.

Empate também na inteligência: Benfica-Sporting, 1-1
O dérbi de terça-feira prova que a inteligência não é o único caminho para o sucesso. Boa parte da emoção num dos melhores e mais vibrantes dérbis que me lembro resulta também da soma de decisões não inteligentes. De fragilidades que apelaram a outros instrumentos igualmente poderosos: resiliência, sacrifício, superação, fé, eficácia. Globalmente, o Benfica foi mais inteligente, e forte, no jogo. Merecia mais, mas não deve sentir-se frustrado, jogando sempre assim estará sempre muito mais perto de vencer. Já o Sporting foi mais inteligente na gestão do pós jogo. Aprender com os erros quando se ganha (neste caso, empate que soube a vitória) é mais difícil do que quando ser perde. Reconhecer que o Benfica foi melhor e saber que em Alvalade, para a Liga, terá de fazer melhor para vencer é inteligente. Já o Benfica, apontar a um erro do árbitro para justificar um desaire é análise curta e sem qualquer utilidade para o futuro.

Dragão boicota-se na gestão da inteligência emocional
O Estoril-FC Porto prova que há diversos níveis de inteligência. O dragão tem falhado na emocional. Um treinador e uma equipa que têm laivos de génio na abordagem tática e gestão estratégica de alguns jogos, em especial os mais difíceis, mas que se boicota na gestão da inteligência emocional. Uma equipa que deveria substituir a pergunta ‘tenho ou não razão?’ — mesmo que a tivesse toda — pela ‘o que ganho eu com isso?’.
Uma boa gestão da inteligência emocional leva-nos a perceber que existe uma diferença entre apenas protestar contra a injustiça e vencer apesar da injustiça. Não é preciso inventar nada. Basta absorver os ensinamentos do filósofo chinês Lao Tzu, que viveu há 2500 anos, vertidos no livro O Caminho da Virtude, considerado a Bíblia do Taoísmo: «Conhecer os outros é inteligência, conhecer-se a si próprio é verdadeira sabedoria. Controlar os outros é força, controlar-se a si próprio é verdadeiro poder.»."

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