"Acaba o jogo de Marselha e a sensação é bem pior do que ser estranha… sentimos um misto de revolta por perdermos uma eliminatória com uma equipa acessível e uma enorme desilusão pela (muito) fraca qualidade exibicional que foi padrão nesta época. Não há como contornar a realidade: a época acabou, até porque a 5 jornadas do fim seria inadmissível perder a vantagem de 11 pontos sobre o FC Porto, e a Supertaça foi a única conquista, à laia de consolação!
Claro que faltam uns joguitos a serem disputados com a alegria própria de quem nada ganhou e tudo desperdiçou, desde a Taça da Liga em que perdemos aos penalties com o voluntarioso Estoril (!) até ontem, com idêntica derrota perante um acessível Marselha, passando pelo Campeonato que começou com uma derrota contra o Boavista quando ganhávamos 2-1 aos 89´. Não me esqueci da Taça, mas perder com o Sporting em jogos de tripla e talvez com as melhores exibições da época, não me parece que tenha sido por aí o problema.
O problema é de fundo, dado que fizemos a época com carências qualitativas no plantel em posições-chave, obrigando a sistemáticas adaptações a quebrar rotinas. Aquilo que era visível em agosto, continuou mais do que evidente até janeiro e mesmo assim, não conseguimos acertar nas aquisições. O dinheiro jorrou para adquirir, mas a relação qualidade-preço deixou sempre imenso a desejar.
Aqui surge uma das questões que a atual Administração da SAD terá de explicar: qual a razão pela qual o mercado nacional, com inúmeros valores sempre a despontar, tem sido preterido? É que nem precisam de inventar muito, bastando olhar para o sucesso das aquisições dos nossos rivais. Fazer figura de rico quando a prazo se tem de prestar contas, tem custos altamente gravosos e a fatura aí está à vista, como as Contas a 30 de junho irão demonstrar.
Mas há mais: o scouting internacional também tem de ser questionado. As compras feitas nos últimos tempos até poderão ser apostas a prazo, mas será que poderemos comprar tantos "futuros", hipotecando o presente, como se o dinheiro não fosse um bem escasso? A resposta para mim parece clara: do estrangeiro deveriam vir apenas aqueles que constituíssem inequívocas mais-valias a "pegar de estaca", concedendo eu que um ou outro fosse aposta de futuro. A realidade que vemos com a época a acabar é que predominaram "os tiros na água" e isso tem um nome: incompetência!
Já lá chegarei ao treinador, porque a estrutura de futebol tem de ser obviamente questionada. Sei que é fácil diagnosticar ou criticar, construir é muito mais difícil. Mas o adepto como eu, sentado na bancada também tem olhos para ver e o que vemos são resultados de políticas desportivas. Se ganhamos, são de sucesso, se perdemos como foi regra este ano, sempre de fracasso. Bramar não adianta, aprender com os erros deveria ser regra e teremos de perceber se alguém aprendeu alguma coisa com esta época desastrada, até porque o 2º lugar no Campeonato é o 1º dos últimos. Apura para o play-off da Champions? Verdade, mas caramba, com o nível de custos bem acima de qualquer rival, sem contrapartidas qualitativas exibicionais, temos de ter níveis de exigência bem superiores.
Chegamos então ao treinador Schmidt, homem trabalhador, alemão fanático do planeamento em solo português e que durante meses apoiei, mesmo contra a opinião quase unânime de todos aqueles com quem privo nestas coisas do futebol. Um sucesso na primeira metade da época passada, com altos níveis de rendimento e qualidade exibicional, que sofre duro revés em janeiro de 2023, ao perder muito mais do que um Enzo - perdeu quem lhe dava discernimento acelerativo na equipa. Mesmo assim, ganhou o campeonato e esta época, embalados pelo triunfo no campeonato do ano anterior, todos sonhávamos com sucessos desportivos dadas as onerosas aquisições efetuadas.
Infelizmente, não foi nada assim. A equipa raramente convenceu, cimentada em pedras inamovíveis qualquer que fosse o rendimento, parecendo que durante os jogos o treinador rivalizava com esses cansados jogadores na perda de discernimento. Se o banco "bloqueia" na tomada de decisões, que dizer do reflexo nos comandados dentro de campo que, por muito que lutassem, sentiam-se impotentes para suprir o que para todos (exceto Schmidt) era evidente?
As contas têm sempre de se fazer no final e, a não ser que algo de muito extraordinário aconteça, o balanço de quatro meias-épocas parece inequívoco: 3/4 de desilusões exibicionais, incompatíveis com a valia do plantel, pese as falhas reconhecidas em algumas posições. Há um contrato renovado há um ano, como resultado do entusiasmo inexperiente dos dirigentes, mas também há demasiada saturação nos adeptos que deixaram de acreditar neste treinador, como sendo capaz de virar positivamente esta página. A decisão a tomar neste final de época parece óbvia…
Com tantas estórias, torna-se inquestionável que a Administração da SAD terá muito que refletir, porque é impossível passar incólume a tanto ruído. As próximas eleições vêm ainda longe, mas urge inverter caminho. Temos um Presidente (Rui Costa) que tem um predicado inigualável no nosso Clube/SAD, ou seja, a nada despicienda vantagem de conhecer o futebol como poucos, dado ter sido jogador de elite a nível mundial.
Também por isto, obviamente jamais se imiscuindo no trabalho do treinador, fica incompreensível que não tenha suprido com os seus conhecimentos quaisquer eventuais lacunas. Por outras palavras, se por absurdo o treinador lhe diz que não falta um jogador para certa posição e se torna por demais evidente que falta mesmo, qualquer não-atuação torna-o superiormente responsável, por inerência de funções.
A hierarquia tem de funcionar, respondendo qualquer treinador perante o Presidente que deve exercer a liderança que no Clube/SAD os acionistas lhe conferiram. Sendo o Benfica o acionista maioritário, os Sócios elegeram Rui Costa para liderar, jamais podendo perpassar a ideia de que a Administração se deixa condicionar pelo treinador. Quando Schmidt no final do jogo de Marselha diz que "nada tem de justificar", no mínimo, está redondamente enganado – tem e muito, perante a hierarquia a quem responde: Administração e acionistas e alguém terá de lho dizer frontalmente.
O futuro começou em Marselha imediatamente a seguir à consumação da derrota por penalties e depende da capacidade da Administração liderada por Rui Costa, que tem uma oportunidade única de demonstrar ser o líder que o Benfica precisa e ele anseia. Veremos os próximos tempos."
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